Diamante Bruto escrita por Natsumin


Capítulo 37
Capítulo Trinta e seis - A História de Kim e Dajan


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura! ♥



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Dois meses e meio atrás...
        — Acho melhor você voltar a brincar de boneca, Ambre. — Uma voz feminina ligeiramente aveludada falava com aspereza. — Você pensa que sim, mas não me engana.
        Dajan passava a toalha branca pelo rosto quando ouviu a voz da menina. Havia acabado de sair do treino de basquete para a abertura dos clubes no dia seguinte. Duas meninas estavam no pátio e ele estava passando por elas naquele exato momento. O rapaz diminuiu a velocidade dos passos e passou a prestar atenção.
        — Eu não fiz nada! — a loira, Ambre, dizia, sua face estava começando a ficar vermelha de raiva. — Não dessa vez!
        — Então quem fez, sua Barbie de camelô? Quem disse à Peggy que eu gostava de Dajan?
        — Eu não sei! — Ambre insistia, tentando retirar o pulso da mão de Peggy, que o apertava com força. — Pergunte a ela!
        Kim soltou o pulso de Ambre não valia a pena insistir.     
        Isso havia acontecido há mais ou menos dois meses e meio atrás, quando Natsumin ainda estava em seu primeiro dia de aula. Foi também nesse dia que ela ficou trancada com Castiel na sala proibida.
        Ambre saiu, enfurecida, em direção ao corredor principal. Kim observou-a sair, passando a mão pelo cabelo preto e colocando a outra na cintura. Aquilo não podia ser possível. Ela sequer conhecia Dajan. O garoto havia entrado em Sweet Amoris na metade do ano passado, mas Kim nunca fez questão de falar com ele. Na verdade, ela nunca fazia questão de falar com ninguém. As pessoas que deveriam falar. Ela não tinha o dever de correr atrás de ninguém.
         Mas isso não importava. Havia alguém espalhando boatos mentirosos pelo colégio. Ela não gostava de Dajan! Nem pensar! Tudo bem que o rapaz tinha belíssimos olhos cor de mel, belíssimo sorriso e... Ah! Que Droga! Aquilo não importava, ninguém tinha que se meter na vida dela!               
         Kim dissipou a distração quando ouviu passos pisando em um galho.
         Ela imediatamente irou o rosto para trás. Dajan. Ela sentiu um aperto no peito, mas virou o rosto para frente novamente, fingindo que não o havia visto.
          — Desculpe, eu...     
          Dajan estava preso nas palavras. Aquilo nunca havia acontecido com ele, não sabia o que falar, como agir. Ele sabia da personalidade forte de Kim, da atitude dela, podia muito bem ver isso nela. Mas, o que ninguém sabia era que ele tinha um encanto especial por ela. Se sentia atraído por aquela bravura, aquela independência e personalidade forte. Ele não a conhecia antes. Não de verdade, seria como se eles estivessem se conhecendo hoje. Ele nunca falou com ela. Embora quisesse, não podia. Sabia que seria irresistível uma única conversa com ela e ele não poderia se apaixonar. Tinha que se fixar nos treinos, sabia desde o início que sua estadia em Sweet Amoris seria limitada. Não queria, não podia largar tudo por causa de Kim. Ele pensou em recuar, mas, olhando para aqueles olhos verdes cintilantes, estava difícil dizer uma palavra, ou sequer se mover.
          Quando Kim virou o rosto de volta para frente, ele pensou em recuar. Mas, sabia que não podia. Já havia começado a falar. E, com o que havia acabado de ouvir, a possibilidade de Kim estar gostando dele o deixava ainda mais animado. Ainda mais motivado a se aproximar.
          — Meu nome é Dajan. Entrei aqui no ano...
          — Passado. Eu sei. — Kim completou, virando-se finalmente para ele. — Eu sou Kim e tudo o que você ouviu é ment...
          — Não ouvi nada. — Dajan dissimulou, não querendo estragar o momento. — Prazer em... conhece-la? — ele indagou, soltando um sorriso. — Não sei se posso dizer depois de te olhar durante seis meses e nunca falar com você...
          Kim arregalou os olhos. — O que você falou?
          — Não! Não nesse sentido! — Dajan sorriu, sem graça e se sentiu ruborizar um pouco. Sabia que Kim havia interpretado errado esse “olhar”;
          — Era só isso que você queria falar? — Kim indagou, um pouco nervosa. — Tenho que fazer umas coisas por aqui. — ela queria fugir o mais rápido dali. Pelo nervosismo, já sabia que não ia conseguir se mascarar por muito tempo. A proximidade de Dajan a deixava... Irracional.
          — Para falar a verdade, não... — Dajan pronunciou, soltando um sorriso em meio a um suspiro. — Acho que... A gente podia sair, é legal para mim ficar pelo menos um minuto sem o basquete e...
          — Foi mal, Dajan. Deixa pra próxima — Kim rapidamente pronunciou, dando de ombros. Ele havia ouvido tudo, só podia ser isso. Como ele ia falar com ela do nada?
          — Não, não me interprete mal. — Dajan disfarçou a decepção e segurou o pulso dela, impedindo-a de partir. — Eu digo como... Amigos, sabe? Seria legal ter uma amiga tão legal quanto você.
           — Me acha legal? — Kim indagou, sentindo-se uma idiota. — Parabéns, você é o primeiro.
           — Claro! — Dajan sorriu e Kim reparou que quando ele sorria, formavam-se covinhas no canto de sua boca e ele fechava os olhos. — E... te vendo agora, aposto que gosta muito música, estou certo?
           — É. Não está tão errado. — ela soltou um sorriso baixo começando a ceder, deixando os fones de ouvido caírem sobre os ombros. Era a primeira vez que sorria daquela maneira. — De vez em quando arrisco como DJ
           — DJ? — ele indagou, surpreso.
           — É, por que, algum problema? — ela indagou, arqueando as sobrancelhas. Kim era uma garota durona, tinha-se que admitir. Mesmo quando sentia algo por Dajan.
           — Não, nenhum! Eu acho demais! — ele sorriu, seus olhos cor de mel brilhavam.
           — Legal. — A expressão dela era séria.   
           Dajan sorriu. Sentia-se bem por estar na companhia dela. Kim era linda. Ela quase explodiu de alegria quando Kim deu um sorriso de canto de boca.
           Eles continuaram a conversar durante a tarde inteira. Dajan olhou o relógio e reparou que já eram três e meia. As aulas já tinham acabado e ele deveria ir treinar um pouco sozinho. Ele sempre fazia isso depois de treinar com o professor Boris.
           — Kim, preciso treinar um pouco. Sozinho. Mas... — ele hesitou, ao olhar nos belos olhos verdes dela. — Eu gostaria que você fosse me ver. É agora, no ginásio, rapidinho.
           — Tenho que fazer algo antes de ir embora. Então.... Não. — Kim mentiu, não querendo ficar tão próxima dele. Sabia muito bem como fingir o que não sentia, mas Dajan a fazia ficar diferente. E ela odiava aquilo. Precisa ser bruta, marrenta. Para que ninguém a machucasse nunca.
           — Tudo bem. — ele soltou um sorriso fraco, decepcionado. — A gente se vê por aí?
           — Pode ser. — Kim fingiu que não ligou, em seguida piscou um dos olhos e deu de ombros.   
                                            ***
           Dajan estava quase terminando seu treino. Não conseguia parar de pensar em Kim em cada lance que fazia. Parecia que pensar nela o dava coragem para enfrentar marcações, arremessar com força e habilidade, enfim, ser o melhor no que fazia.   
           Kim o observava treinar sozinho pela janela do ginásio. Era loucura fazer aquilo, mas o colégio estava vazio mesmo. Ela havia acabado de sair da sala da diretora. Suas notas estavam péssimas, principalmente em português. Ela sabia que iria precisar de ajuda nas provas finais. Mas, ela não queria que muitos ficassem sabendo disso.
           Quando viu que Dajan estava terminando, ela agachou-se, a fim de não deixa-lo vê-la, em seguida, deslocou-se para a entrada do ginásio, por onde ele estaria saindo.
           — Oi. — Dajan pronunciou, ao vê-la entrar enquanto ele saía.
           — Já acabou. — Kim pronunciou. Ela praguejava por dentro, a diretora havia demorado demais, explicando-a mil e uma coisas sobre como melhorar a nota e blá blá blá e Kim não pôde chegar a tempo para vê-lo. Já havia rejeitado três convites dele só hoje. Ela era uma idiota!
           — É, eu... — Dajan perdeu as palavras quando a viu.
           — Não foi uma pergunta. — Kim respondeu de pronto.
           — Mas, se quiser, posso voltar. — Dajan não sabia o que falar.
           — Não precisa. — ela deu de ombros, sentindo raiva de si mesma.               
           — Espera. — Dajan segurou o pulso dela, forçando-a a se virar para ele. Ele abaixou o rosto na direção dela, pousando os lábios na pele macia de seu rosto, deixando-os sobre sua bochecha por um tempo. Ele sentiu a pele de Kim ficar mais quente com o beijo. — Eu gostaria muito que você torcesse por mim amanhã. — ele sorriu, passando a mão por trás do pescoço, nervoso.
           — Eu ia torcer de qualquer modo. — Kim piscou, em seguida partiu.
           Dajan sorriu, observando-a partir. Agora, sabia que havia entrado em um caminho sem volta.
                                                                  ***         
           — Tá me achando com cara de conselheiro amoroso? — Castiel perguntava em um tom rude. Mas, Dajan sabia muito bem que sua aspereza já era natural, então não levou o ruivo a mal.           
           — Mas você sabe como falar com uma garota. — Dajan pronunciou.
           — E quem não sabe? — Castiel estava impaciente naquele dia. Havia acabado de ter uma discussão com Natsumin no ginásio. Quem era ela para se meter na vida dele? Só a conheceu a um dia e ela já se achava no direito de confrontá-lo!? Se ele havia bebido ou não, aquilo era problema dele. E Natsumin ainda havia pensado que ele ia beijá-la. Como ele beijaria uma tábua como ela? Aquilo estava fora de questão. Se bem que... Naquele momento, um beijo não poderá ser descartado. Não se ela deixasse. As sobrancelhas do ruivo estavam arqueadas e sua expressão estava séria demais.
           — Vamos lá, Castiel. — Dajan insistiu. — Eu a ouvi conversando com a loira. Acho que ela gosta de mim.
           — O que você quer que eu fale? — Castiel indagou, ainda com raiva de Natsumin. — Que você deve ir atrás dela e viver feliz pra sempre? Esse tipo de coisa não existe!     
           Dajan sorriu e sentou-se no banco do vestiário, amarrando os tênis vermelhos e brancos. Não iria insistir mais. Castiel estava certo. Ele não era um conselheiro amoroso e, além do amis, Kim não havia confirmado nada. Não havia dito que gostava dele. Não poderia ter essa certeza.
                                                          ***
           — Vaaaai, Dajaaaaaan!!!   
           Faltava muito pouco para o jogo começar. Dajan já estava no centro da quadra quando ouviu o grito de Kim. Como ela não gostava dele? Ele nunca a havia visto sorrir da maneira que sorriu ontem e como estava sorrindo para ele agora. Não importava o que pudesse acontecer, ele falaria com ela hoje. Teria que se declarar. Se ela o aceitasse, ele largaria tudo por ela. A oferta de jogar fora, a oportunidade, a bolsa de estudos... Ele largaria tudo. Tudo por ela.
           Feliz, Dajan virou-se para trás e a observou acenar com a boina branca enquanto sorria para ele. Ele sorriu também e acenou, logo após prender o cabelo crespo em um rabo de cavalo baixo. Seria hoje, ele tinha certeza. Não podia esconder essa paixão por mais tempo. Até porque, tudo o que ele não tinha, era tempo.
           — Dajan, o olheiro está na arquibancada. Faça o seu melhor. — O treinador Boris pronunciou assim que reuniu o grupo dos meninos antes do jogo começar. Nada de brigas, ouviu, Castiel? — Boris assinalou para o ruivo, que apenas franziu o cenho. — Se tudo correr bem, em dois meses Dajan estará disputando no melhor clube de basquete do país. Parabéns, rapaz. — ele apertou o ombro de Dajan, que assentiu com a cabeça. — Agora vamos, vamos!
           Boris se direcionou ao centro da quadra e segurou a bola de basquete no alto, que seria disputada por Dajan e Viktor. Ele a jogou para o alto e apitou e Dajan foi mais rápido, dando um tapa na bola e iniciando a jogada. Ele passou para Castiel que, veloz como sempre o devolveu.
           — Vaaaai, Dajaaaaaan!!! — Kim sorria novamente e Dajan respondeu com um outro sorriso, arremessando, motivado. Cesta de três pontos.
                                                        ***                                         
           — Kim? — Dajan viu a silhueta da menina encostada à parede da saída do vestiário.
           — Você foi ótimo. — ela deu um tapa de leve no ombro dele. — Parabéns.
           — Obrigado. — Dajan sorriu, mostrando as covinhas e esfregou levemente a mão sobre a nuca, nervoso. — Queria falar com você.
            — Fala. — ela disse, fria.
            — Eu gosto de você Kim. — Dajan sentiu-se ruborizar um pouco. — Mais do que o normal.
            Kim não tinha o que falar. Não ia dizer para ele que também gostava dele. Dajan talvez apenas estivesse fazendo aquilo por saber que ela gostava dele. E ela não podia confirmar os boatos.
            — Você vai embora? — ela indagou e Dajan franziu o cenho, não entendendo aonde ela queria chegar. — Você vai. — ela concluiu, sozinha. — Não me venha contar esse tipo de mentira, Dajan. — Kim começou a contestá-lo, ela sabia que esse “amor” dele só podia ser mentira. Como ele ia se confessar no dia seguinte após saber que ela gostava dele? Aquilo era fachada para conquista-la. Kim havia conhecido muitos carinhas como ele. Não se deixaria ser enganada. Sempre havia se protegido desse tipo de coisa.   
            — O que? — Dajan não conseguia entender. — Não, Kim, é verdade, eu juro!
            — Claro que não é! — ela era durona demais para voltar atrás.
            — É sim! — ele puxou-a pelo pulso e ia encostar os lábios nos dela, quando Kim o empurrou para trás.
            — Idiota!
            — Kim, eu largo tud... 
             — Cala a boca! Nunca mais fale comigo!
            Ela deu de ombros e saiu, furiosa.
            Depois desse dia, eles não se falaram mais.                             
                                                  ***
            Presente.
            — Preparado? — Boris indagou, olhando nos olhos cor de mel de Dajan. — Vai aceitar?
            Dajan suspirou. Já fazia Dois meses e meio que ele não falava com Kim. Mas não conseguia parar de pensar nela desde aquele dia. Queria conversar com ela, explicar tudo. Ele não havia tido nem tempo de explica-la que largaria tudo por ela. Seja lá quem foi que disse aquilo para Kim, Dajan jurava que nunca a perdoaria.
            — Sim. — ele respondeu. Seus olhos estavam pesados, ele não conseguiu dormir desde a noite anterior, quando o olheiro o ligou, pedindo sua resposta para hoje. A única pessoa que poderia impedi-lo de ir era Kim. Mas, ela não queria sequer olhar na cara dele. Dajan agora não queria mais tanto ir embora. Mas, precisava. Precisava seguir em frente, esquecer tudo. Tentaria esquecê-la.
            O olheiro abriu a porta da diretoria de Sweet Amoris. Boris abriu um sorriso largo. Dajan abaixou os olhos e preparou-se para fingir estar feliz.
            Na porta, Peggy arquejou, escrevendo rapidamente em seu bloquinho de notas. Estava aí a notícia que precisava.


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Notas finais do capítulo

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