A Sad Courtesan Story escrita por Isolde


Capítulo 4
Chinese Doll




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A noite chegou delicada, como uma flor espera para ser levada pelo vento.

Yu Mai acordou com o eufórico burburinho das moças que se arrumavam no quarto. Sua cabeça estava em desordem, principalmente por ver a realidade em que acabara de entrar.

Não podia trair seus princípios, mas por alguns segundos pode admirar a beleza das sutis cortesãs do pavilhão Qin Huai, cuja graça e suavidade puderam transformar um espaço tão rústico e pitoresco em um paraíso de joias, perfumes e maquiagem.

A princípio, sentiu-se desorientada. Será que a hora da abertura já se aproxima? , pensou. Dirigiu-se a janela para tomar um pouco de ar e a aquarela crepuscular do céu confirmou seu receio.

Virou-se novamente para o grande quarto e se sentiu tão pequena e feia, comparada aquelas belas mulheres que sentiu vontade de chorar. Por que não podia estar simplesmente de volta a sua casa, onde as mulheres eram suaves e a beleza estava nas sutis e deleitáveis feições de uma virgem? Em resposta ao seu próprio pensamento, apertou com amargura o crisântemo em seu bolso –que certamente havia posto ali por Yan Yan enquanto dormia- e voltou a chorar, como na manhã que chegara ali. Havia acontecido há apenas algumas horas, mas pareceram dias de distância para a pequena Yu Mai.

Tomou um susto quando sentiu uma mão quente tocar-lhe o ombro. Enxugou rapidamente o rosto com a manga do quimono, tentando disfarçar sem sucesso seu pranto.

– Mai? Não deve chorar... Não agora, está bem? – disse Yan Yan, com uma voz afetuosa – Não seja tão melancólica, você tem tanto para aprender! Não será tão ruim, ficaria chateada mesmo se eu lhe prometesse? – perguntou, tentando a todo custo animar a menina.

Ela não respondeu, apenas escondeu suas lágrimas por detrás de seu rosto triste. Sabia que por mais que birrasse não poderia jamais escapar daquele terrível destino.

Após alguns minutos de silêncio, Yan Yan afagou-lhe os longos cabelos soltos e apanhou sua mão, levando-a para fora do lugar.

– Venha, irei preparar-lhe para sua estreia. Yu Mai – começou ela, séria – Prometo a você que tentarei tornar isso o mais agradável o possível, sim?

Ela assentiu com a cabeça. Decidiu calar-se por todo o percurso até o pavilhão, pois sentia que se abrisse a boca, vomitaria.

Entraram novamente na cheirosa casa de banho, que já estava um pouco cheia àquelas horas.

Yan Yan trazia consigo o elegante vestido estampado com que Lin havia presenteado Mai mais cedo. Depositou-o em uma banqueta de madeira e lançou um olhar sério para a jovem.

– Espero que desta vez não faça cerimônia para tirar suas roupas, Yu Mai.

Ela nunca tinha o feito, mas naquele momento sentiu vontade de xingar Yan Yan de todas as palavras ruins que conhecia (e que não eram muitas), mas, para evitar conflitos, ergueu os braços acima da cabeça e deixou que Yan Yan a despisse.

Seu banho especial já estava pronto. Em uma pequena piscina redonda, uma água quente e laranja a aguardava. Com pétalas de jasmim e tão perfumada que chegava a dar dor de cabeça.

A garota entrou, aquecendo seu corpo e brincando tristemente com as pétalas de flor. Observou Yan Yan derramar delicada, um óleo na água que provocou bolhas e espuma.

Quando saiu, sua pele estava levemente avermelhada, porém, cheirava como uma verdadeira flor silvestre e, de certo modo, aquilo a alegrou um pouco. Se não fosse tão bonita quanto às outras, pelo menos seria cheirosa.

Com o auxilio da mulher, vestiu aquele caro pedaço de seda e então se dirigiu para a casa das cortesãs, onde de certo, Yan Yan faria seu cabelo ficar bonito e seu rosto parecer uma das pinturas da sala de chá.

Enquanto caminhava em silêncio, pensou nos benefícios que não ser a cortesã mais bonita do pavilhão poderiam lhe trazer, por exemplo, e se nenhum homem a quisesse? Mediante a possibilidade, um sorriso prazeroso se abriu em seus lábios, o que fez Yan Yan sorrir de um jeito sarcástico.

– Se está cogitando a possibilidade de algum homem não lhe querer, está terrivelmente enganada, pequena... É melhor não se iludir, sabe? Ao invés disso, pense nos artifícios que usará para conquistá-lo e fazer seu dinheiro ser bem gasto – suspirou - Lembre-se, os homens vêm aqui para se sentirem amados.

Aquele pequeno discurso afundou Yu Mai na escuridão, fazendo algumas lágrimas brotarem em seus olhos, das quais ela se livrou rapidamente balançando a cabeça de um modo enérgico.

Ao chegarem próximas ao baú de Yan Yan, a mulher o abriu, tirando um elegante estojo de maquiagem, a que tinha mostrado para a jovem mais cedo.

Olhou para Yu Mai por alguns segundos e delineou cuidadosamente sua face com seus dedos longos.

– Hmmm – murmurou.

Então, ergueu as sobrancelhas e elegantemente subiu as mangas de seu vestido azul, começando o trabalho na garota.

Mesmo que não fosse pura, ainda conservava as delicadas feições de criança, das quais teria que se livrar naquela noite, pois eram poucos os homens que gostavam de crianças. Os homens que iam ao pavilhão, preferiam belas mulheres dançarinas e boas tocadoras de música.

Yu Mai sentou-se de frente para janela, sentindo as mãos suaves de Yan Yan passearem por todo o seu cabelo.

Ao longe, pode ver pequenas cidades iluminadas por tochas vermelhas. Aquilo segurava a sensação de calor visualmente, embora o outono já se aproximasse e as brumas geladas começassem a encobrir as montanhas.

Torceu o nariz algumas vezes. Seu penteado estava sendo feito com pressa e a cortesã não mediu esforços para que a garota não sentisse dores. Puxava e repuxava seus cabelos diversas vezes com um pente de madeira. Depois, untou-o com cera quente e por fim, decorou-o com o crisântemo de prata e alguns adornos de jade próprios de seu baú.

Ainda não deixou Yu Mai ver seu reflexo. Antes, completaria sua maquiagem.

Virou-a de frente para si e sentou-se também em um banco.

Com um estranho e felpudo objeto, passou um branquíssimo pó de arroz por todo o rosto da jovem, deixando-o branco como as finas porcelanas da casa de chá.

Com um pincel, delineou suavemente suas pálpebras com um curioso e cintilante pó azul.

Ao final, com outro pincel dourado e mais fino, pintou os lábios da garota com uma mistura mais vermelha do que sangue, matando de uma vez por todas Wan Qiu e dando mais vida a nova cortesã que acabara de nascer.

Quando a virou de frente para o espelho, riu ao perceber a derrota de seu espírito virgem.

Ela também sorriu mediante a extrema beleza que enxergava agora em seu corpo.

– Viu? Voltou a ser uma flor, Yu Mai.

A garota sentiu as bochechas queimarem. Era errado se achar tão bonita? Sabia que se estivesse segura em casa, continuaria com aquele monótono rosto de criança, mas ali, no pavilhão Qin Huai, poderia ser quem quisesse. Ninguém a censuraria por falar de mais ou rir de mais. As outras cortesãs se deliciavam fumando cachimbos e só falavam de joias o dia inteiro! Na casa Wan as mulheres que falavam muito eram má vistas.

Ela suspirou, sentindo o olhar duro de Yan Yan pesar em suas costas. Com muito medo, porém, decidida, virou-se, olhando dentro dos olhos negros da mulher.

– Não pode ser tão ruim, não é? – perguntou, sentindo a voz falhar.

Yan Yan sorriu.

– Você terá muito tempo para progredir por aqui, Yu Mai – disse, com uma voz aveludada – Venha, vou te levar para o saguão principal.

O lugar como ela esperava já estava muito cheio nessa hora. Cortesãs se exibiam de diversas maneiras, sentadas elegantemente em divãs ou lançando olhares sedutores aqui e ali.

Também, havia figuras que não faziam parte daquele cenário. Homens, clientes, ricos. A cada passo que davam, ouvia-se o tilintar de moedas de prata e de ouro balançando em seus bolsos gordos.

Um cheiro forte de cereja pairava no ar e na pequena elevação do saguão, um grupo de mulheres que não eram cortesãs tocava uma animada melodia com a pipa e o guzheng.

Yan Yan pousou a palma de sua mão nas costas de Mai e a conduziu a um pequeno grupo de homens que estavam rindo a um canto.

Ela sentiu seus pés travarem e tropeçou, arrancando gargalhadas das cortesãs e dos homens da roda.

Yan Yan fingiu não perceber. Colocou em seu rosto o melhor sorriso e se transformou na flor mais suave do pavilhão.

– Senhores? – disse com uma voz doce.

Eles cumprimentaram-na, ainda se deliciando com o tropeço da pequena.

– Tenho uma novidade para vocês.

Nisso, deu um beliscão na nuca de Mai para que ela pudesse sorrir, mas o que ela fez pareceu mais como um grunhido de animal.

Alguns homens se afastaram, mas, um permaneceu.

Ele era muito alto e talvez fosse um pouco mais velho que Tai. Usava um quimono preto com desenhos brancos de nuvens e deu um sorriso divertido para Yu Mai.

– Espero que ela toque melhor do que anda! – disse, divertidamente para Yan Yan.

– Hihihi... Não se preocupe! Ela toca uma pipa como ninguém.

Ele deu um sorriso significativo para Yu Mai e disse:

– Talvez você possa tocar um pouco de pipa para mim?

Ela assentiu tímida com a cabeça. Os olhos mirando o chão.

Yan Yan sorriu, animada. Correu por aqui e ali e rapidamente voltou com uma pipa em mãos, conduzindo Yu Mai e o homem para um dos quartos vazios.

Entraram em um dos quartos com uma decoração dourada e vermelha.

Tiras de seda fina pendiam no teto e por entre a pequena casinha de dormir, dando a impressão de que fosse um caro dossel imperial.

O homem sentou-se em uma das almofadas da cama, sorrindo para Yu Mai. Por um momento, pareceu-lhe o sorriso mais sincero que havia visto por ali, mas afinal, ele só queria vê-la tocar pipa, não?

Posicionou as mãos no instrumento e fechou os olhos.

Não havia tido muito tempo para ensaiar nas últimas horas, então, tocou a mesma música com que havia impressionado Yan Yan.

O Rio Vermelho, como esperava, deixou o homem boquiaberto.

Seus olhos brilharam e as mãos se uniram em palmas enérgicas.

Ele riu ainda mais e dando gargalhadas, abriu a porta do quarto, pedindo que ali lhe fosse entregue vinho e frutas.

Yu Mai pousou o instrumento a um canto e sentou-se perto da mesinha central do quarto.

– Sabe... Yu Mai – disse ele, sentando-se próximo – Quando a vi tropeçar daquele jeito pensei que fosse uma completa desajeitada, hehehe...

Ela forçou um sorriso, fingindo estar se divertindo.

– Mas, você tocou uma das melhores músicas que já ouvi.

– O-obrigada – gaguejou, sentindo as bochechas corarem.

O homem segurou a ponta do queixo de Yu Mai e delicadamente virou-o para si.

– Você está vermelha! Que gracinha... – disse, divertido.

Yu Mai não achou engraçado. Sentiu o coração bater muito rápido. Estava nervosa e desejava correr dali, mas lembrou-se de Lin e de Yan Yan e de como poderia ser mais perigoso viver sozinha nos campos. Então, deixou-se levar, com muito medo e tremedeira.

Ele puxou-a para perto de si, sentindo sua respiração tremular ir de encontro ao seu rosto.

Iria dar-lhe um beijo? O primeiro de sua vida? Não antes do vinho, que veio por meio de uma pequena criada de vestes brancas que o deixou na porta e saiu correndo.

Ele deu um sorriso sem graça e voltou para a mesa, com a bandeja chinesa farta de frutas e com uma garrafa de porcelana.

– Você gosta de vinho, Yu Mai? – perguntou com a voz aveludada, arrancando uma uva do cacho e a oferecendo para a garota.

Ela recusou, educadamente.

– Não era eu quem deveria estar te servindo, senhor?

Ele sorriu novamente, comendo a uva.

– Não me chame de senhor, acho que podemos ter um pouco mais de intimidade, não? Pode me chamar de Huo.

Ela assentiu, tomando uma necessária coragem para olhar em seus olhos.

– Huo é algo bonito de se escrever – disse, em baixo tom.

– Você sabe escrever, Yu Mai? – perguntou Huo, surpreso.

– Eu... Eu vim de um lugar especial.

– Imagino o quão especial deve ser esse lugar, para formar a mais bela das cerejeiras – falou, derramando gentilmente o vinho nos lábios de Yu Mai.

Deixou-se tomar o cálice inteiro, ficando um pouco tonta, porém, não perdendo a razão de tudo o que estava acontecendo.

Após um silêncio constrangedor, no qual Huo passou mirando atentamente os olhos da garota, ela disse:

– Quer ouvir outra música?

Ele deu risadas. Puxou-a para perto de si e sentindo os batimentos dela aumentarem, falou:

– Não, Yu Mai. Agora eu quero o que você tem a me oferecer.

Seria muita inocência acreditar que ele só lhe pedia um beijo? Dolorosamente, Yu Mai pensou que sim e seus olhos se encheram de lágrimas.

As gotas cristalinas que desciam pelo seu rosto apenas fizeram com que sua ingenuidade sensual incitasse ainda mais os impulsos de Huo. O que poderia fazer? Era uma delicada boneca de porcelana, e que agora, pertencia a ele.

Quando sentiu as mãos pesadas dele desbravarem todo o seu corpo com força, sentiu vontade de gritar, mas sua voz falhou, como todo o mundo que girava ao seu redor.

Sentindo o medo correr por suas veias, ela escorregou para o chão, tentando engatinhar até a porta para pedir ajuda, mas Huo a puxou de volta pelo braço, virando-a para si com um sorriso malicioso.

– Shhh... Não chore Mai, não chore – disse Huo, apertando-a contra si – Eu pago bem! E pelo o que sei, você não é mais virgem, não é?

– Por favor... Huo, por favor... – suplicou Mai, a voz enrolada pelo choro que se seguia.

Ele a empurrou contra parede e encostou os lábios nos dela.

O gosto de vinho e uva deixava o beijo interessante. Um ato tão suave e inocente que quebrou toda a hostilidade do ato cruel e rude que Huo antes propusera.

Ela tomou um susto.

Eram explosões de sensações diferentes.

Nunca havia visto ninguém fazer aquilo, e estranhamente sentiu-se segura, prensada contra a parede, envolta pelos braços de Huo.

Ele dava pequenas pausas para respirar, beijando sua nuca e suas orelhas.

Quando os músculos dela relaxaram e ela caiu sentada no chão do quarto, deixou-o abrir suas pernas sem nenhuma oposição.

Sua visão estava turva, talvez, inebriada pelo vinho e pelo beijo estonteante de Huo.

Apenas fechou os olhos quando aconteceu e quando os abriu, viu apenas Huo. Prazerosamente, não lhe veio na mente à imagem assustadora do estuprador que derramou o sangue de sua virgindade.

Ela não sabia se gemia, mas sua respiração estava acelerada. Seus olhos, semiabertos.

O homem caiu cansado sobre seu corpo o que a deixou sem ar momentaneamente. Ele riu, e então a abraçou, deixando que sua cabeça ficasse apoiada em seu peito.

A noite caiu novamente para ela.

Perdida em sua embriaguez, ouviu um doce sussurro dizer ‘’Eu te amo’’, mas não tinha certeza de que realmente havia sido falado. A expectativa de algo assim fez seu coração bater acelerado novamente.

Ela abriu os olhos, sendo cegada por alguns segundos pela luz da manhã.

– Huo? – chamou.

Olhou ao redor, carente pelo o que considerava o seu primeiro homem, mas algo quebrou a sua paixão adolescente.

Alguns montes de moedas estavam postos ao pé da cama.

Nem um bilhete, ou despedida.

Era por isso que trabalhava, afinal?

Sentiu-se suja e usada.

O delicado rosto agora estava borrado e triste.

Abraçou os próprios joelhos e de cabeça baixa, chorou como uma criança.

Não se sentia como uma mulher independente, muito menos como uma cortesã, apenas como uma criança chorona e abandonada.


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