Barbies não Amam escrita por FranHyuuga


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

OneShot vencedora do 2º lugar no Desafio SasuHina Fluffy, em 2010, da querida Loo-chan.



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Barbies não amam

Por FranHyuuga

Eu nunca fui a mais bonita.

E, na verdade, isso pouco importou por muito tempo.

Eu costumava brincar na chuva e me lambuzar na lama sem ligar para os meus longos cabelos completamente despenteados ou para os meus pés descalços repletos de cortes por me divertir sem nenhum cuidado.

Eu apenas sorria quando as pessoas passavam e me observavam. Eu sorria para o céu cinzento, porque ele era testemunha da minha alegria. Eu sorria mesmo ciente de que o meu sorriso talvez não fosse o mais cativante, tampouco o mais atraente. Minha alegria não via estética ou padrões, apenas o momento.

E acreditei que seria sempre assim. Somente assim. Até ele aparecer e mudar tudo.

Sabe, não pareço nem um pouco com a Barbie. Na realidade, ela é totalmente o meu oposto. Ela tem uma cintura estreita demais para qualquer mulher assemelhar-se com ela, mas eu sei que, com muito custo, uma ou outra consegue.

A Barbie tem os cabelos sedosos e tão loiros quanto raios de sol. Ela sempre mantém uma expressão simpática, seja para o Ken ou para o Bob. E sua moderna figura é invejável mesmo ao usar roupas ousadas demais em uma casinha de boneca cor-de-rosa. Um ambiente tão infantil para vestes tão indecentes... Contudo a Barbie ainda é a mais bonita das bonecas. E ela representa todos os padrões de beleza que não possuo.

Apesar disso, eu era feliz sem ser parecida com a Barbie. Era simpática quando genuinamente desejava. E não vestia roupas decotadas, simplesmente porque nunca me sentiria totalmente confortável com tanta pele exposta. Ao ver uma Barbie, apenas tinha total certeza de não atender aos exigentes ideais de beleza.

Acreditei durante muitos anos que não me importaria com isso, acreditei que a Barbie seria sempre uma boneca estúpida a exibir valores que nunca me atingiriam... Até que uma Barbie roubou de mim a única pessoa que eu queria. E notei ser a verdadeira estúpida sobre o assunto.

Quando ingênua, costumava sonhar acordada com um reino encantado. Em meus devaneios sempre havia um príncipe para cada mulher, como almas que se encontravam numa completude certeira. Ao despertar, no entanto, era triste observar que príncipes só existiam para Barbies e que as demais mulheres atuavam no papel secundário. A importância delas servia apenas para serem comparadas e revelarem como as Barbies se destacavam, como eram realmente belas diante da massa, como suas presenças deviam ser fotografadas, exibidas e celebradas. Não exigiu esforço reconhecer que sou uma das que possui um papel secundário. Não havia um príncipe para mim.

Então, confortei a mim mesma ao pensar que – apesar de sua beleza – a Barbie não existia. Ela é uma sombra modelada segundo o que os homens fantasiam. Uma figura mitológica, quase mística, constituída de maquiagem e roupas caras.

A Barbie não é humana. Ela pode ser cruel ou bondosa, sem sequer saber o que um ou outro significa. Ela não sabe chorar sem razão como uma pessoa é capaz de fazer. Como eu sou capaz de fazer! Eu sou sensível. Sou uma pessoa de carne, ossos e um coração apaixonado. Eu posso compartilhar sentimentos e acolhê-los! Mas ele prefere a Barbie.

Sasuke prefere a Ino.

E eu... bem, continuo com meu papel secundário. Eu não tenho os olhos brilhantes e azuis daquela garota. Eu sequer uso o perfume adocicado que ela exala. Eu não sei mover meus quadris como ela ou sorrir convidativa para qualquer rapaz que se aproxime.

Eu sou simples. Prefiro manter meus cabelos presos de modo prático do que os deixar soltos e suportar o incômodo. Eu prefiro andar com meu jeans surrado e sentir-me confortável a vestir calças exageradamente modeladas ao corpo que me atrapalhariam ao correr para alcançar o ônibus. E ainda que me orgulhe disso, lamentavelmente, eu sei...

Eu trocaria tudo para ser a Barbie que ele quisesse.

.

Eram 7h10 da manhã e a jovem Hinata corria ofegante pela calçada úmida da cidade. Enquanto seus tênis tocavam o solo rapidamente, as pessoas a observavam e sorriam. Hinata era diferente de quem passava pelos mesmos lugares, via os mesmos rostos e fingia ser sempre a primeira vez que estava ali.

Hinata conhecia todos com quem convivia no trajeto até o colégio e os cumprimentava com cortesia, porque também eram como ela: atuavam em seu papel secundário, passando despercebidos aos olhos dos transeuntes, mesmo que aquele espaço lhes pertencesse há muito tempo em sua rotina.

O sinal para o início das aulas soou pela última vez quando Gai, o animado inspetor, começou a fechar os portões grossos do colégio. Ao avistar Hinata correndo desenfreada, no entanto, interrompeu o gesto e observou à sua volta para que ninguém flagrasse o benefício. Ela o agradeceu adentrando os grandes portões, quase sem fôlego para cumprimentá-lo. Caminhou até sua sala ainda ofegante pela longa corrida, cessando os passos ao adentrar o último corredor e deparar-se com a única pessoa que desejava evitar: Uchiha Sasuke.

— Droga — balbuciou para si mesma, temendo que ele a visse encolhendo-se contra a parede enquanto fitava as largas costas masculinas.

Quase alcançava a porta aberta de sua sala quando a voz grave a interrompeu:

— Hinata, precisamos conversar.

Os olhos perolados da jovem alargaram-se em surpresa ao constatar que Sasuke ainda possuía o dom de fazê-la sempre desejar ouvi-lo. Voltou-se lentamente e fitou a expressão séria dele antes de deixar, enfim, que o ar escapasse de seus pulmões. Durante vários dias, Hinata desejou e temeu que este momento chegasse...

O momento em que Sasuke decidisse conversar sobre aquela noite.

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Sabe o que também me difere das Barbies?

Eu faço questão de ser quem sou. Minhas atitudes não ferem minha própria dignidade e, por isso, não preciso me esconder sob uma imagem socialmente aceitável. Meus sentimentos são honestos e minha lealdade possui valor. Sei que ele notou naquela noite, ele me conheceu de verdade.

Era sexta-feira de uma semana entediante. Estava em casa, ouvindo música em meu quarto e me questionando se devia ir à festa de aniversário de uma garota popular do colégio, que convidou mais pessoas do que realmente comparecem às aulas. Como não conhecia realmente a aniversariante, decidi não ir. Permanecer deitada em minha cama encarando o teto por longos minutos, no entanto, não era a melhor programação, o que me fez sair para um passeio. Quando estava sentada no banco de uma das várias praças da cidade, Sasuke surgiu como uma sombra ao meu lado.

— Então, é aqui que você se esconde? — perguntou encarando-me de modo desinteressado.

Não respondi. Voltei minha atenção para o lago à minha frente, repleto de carpas de cores vivas e patos caminhando suavemente na margem. Eu pensei que ele partiria com meu silêncio, mas isso não o intimidou. Com altivez, Sasuke sentou-se ao meu lado para também observar a dança colorida das carpas. Aquilo me intrigou. O que fazia ali? Ele era um dos rapazes mais populares do colégio e deveria estar na suposta “imperdível festa”. Em minhas reflexões, não percebi que o encarava até que seus olhos negros encontraram os meus e, constrangida, ponderei se devia simplesmente ir embora.

Sua voz, porém, quebrou o perturbador silêncio:

— Deve ser triste. — Entendi que se referia às carpas, pois seus olhos ainda as seguiam. — Seu limite é o pequeno lago e nada podem fazer para mudar o lugar onde estão, para onde irão e onde morrerão. 

Havia pesar em seu timbre grave e desejei intervir em sua pessimista análise:

— Elas não podem ser tristes, porque desconhecem outra forma de viver.

— E se conhecessem?

Hesitei diante da pergunta, mas respondi:

— Talvez tentassem sair do lago e morressem. — Engoli em seco. — Ainda assim, exige coragem encarar escolhas que não sabemos para onde nos levarão.

Eu sabia que já não falávamos sobre as carpas, mas sobre a vida. Sobre nossas opções. Sobre nossas limitações.

— Você realmente acha que sair do lago é uma opção? — expressou Sasuke com uma seriedade cortante.

Eu o fitei longamente, lendo a dor que não conhecia em seus olhos negros, observando-o vulnerável.

— Se estas carpas fossem incapazes de aceitar viver no lago e o achassem opressor demais, não acha que permanecerem nele é também uma forma de morrer?

Com o tenso silêncio que prosseguiu, desejei retroceder no tempo e nada ter dito. Não tinha qualquer direito de lhe oferecer perspectivas diferentes, pois partiam de minhas próprias experiências. De qualquer maneira, não devia me importar com a reação de Sasuke, porque nem o conhecia. E após aquela conversa louca, ele certamente manteria distância.

— Quer dar uma volta? — Sua voz grave soou novamente, tão decidida quanto nunca ouvira.

Senti que não devia ir, mas seus olhos negros pediram mais do que as palavras e assenti. Eu me levantei e o acompanhei a caminho de qualquer lugar que estava ansiosa para descobrir.

.

— Eu não quero conversar, Sasuke — respondeu Hinata com nervosismo. Era difícil negar qualquer pedido àquele rapaz.

— Eu não perguntei se quer — afirmou ele, resoluto, aproximando-se o suficiente para deixá-la desconfortável. — Nós precisamos conversar.

O hálito quente que lhe acariciou a face despertou em Hinata uma conhecida vontade de acariciar seus cabelos rebeldes e tomar os lábios que já conhecia o sabor. Com esforço, afastou-se alguns passos e voltou a se sentir profundamente magoada. Sasuke agora estava comprometido.

— Não temos o que conversar. — Ela foi capaz de dizer antes de obrigar-se a dar-lhe as costas.

Ignorar a única pessoa que a conquistou tão intensamente era doloroso, mas precisava recordar que esta era também a única pessoa que a fizera sofrer como ninguém mais foi capaz.

Com renovada convicção, Hinata adentrou a sala de aula e sentou-se na cadeira ao lado de Kiba, o amigo com quem sempre podia contar.

Os olhos negros de Sasuke acompanharam os movimentos femininos, tensos e contidos. Ele sabia que Hinata o estava evitando a um preço que lhe doía sequer considerar, mas pior do que vê-la partindo era notar o sorriso convidativo de Kiba ao recebê-la ao seu lado.

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Caminhar ao lado de Sasuke em uma noite de verão é algo que nunca imaginaria

Mais estranho que isso é reconhecê-lo uma pessoa interessante e uma companhia agradável. Descobri que temos muito em comum. Ele também é um apreciador de arte impressionista e odeia receber demasiada atenção. Costuma ler antes de dormir e compartilhamos o interesse pelos mesmos autores. Prefere o silêncio a qualquer barulho, o que me fez sorrir ao ouvi-lo dizer isso como se fosse um segredo, afinal, moramos em uma das cidades mais agitadas do país.

A cada minuto, Sasuke conquistava não apenas minha amizade. Eu não o conhecia profundamente, tendo-o visto apenas algumas poucas vezes andando pelos corredores do colégio, por isso fiquei surpresa com sua seriedade. Pensei que fosse como os demais rapazes do colégio, egoístas e grosseiros, mas Sasuke era diferente. Era gentil de um modo discreto, preocupado com minha segurança enquanto caminhávamos. Senti seu cuidado e admirei sua sutil sensibilidade. Não eram necessárias muitas palavras com ele, e flagrei-me feliz por alguém ser capaz de realmente compreender meu mundo.

É muito agradável quando estamos na companhia de alguém admirável. Eu me senti lisonjeada pela presença de Sasuke, que poderia estar curtindo uma grande festa, mas optou por andar pelas ruas iluminadas apenas para conversar trivialidades e salvar uma noite entediada da minha vida.

Da mesma forma, apesar de agradável, pode ser muito, muito ruim. Quando notei todas as qualidades de Sasuke, senti-me idiotamente otimista. Eu queria impressioná-lo tanto quanto seu jeito me impressionava. E foi então que deixei de ser eu mesma. Deixei de ser simples e passei a tentar ser uma Barbie, porque ele definitivamente combinava melhor com uma.

De música e leitura, passei a conversar sobre programas fúteis de televisão e fofocas do colégio. Eu contei piadas que não gosto por serem completamente inapropriadas e indiquei vitrines que nunca notaria se passasse por aquelas ruas sozinha.

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Kiba era um confiável amigo e Hinata, ao vê-lo sorrir tanto em sua companhia, sabia perfeitamente que poderia contar sempre com seu apoio.

Ele era uma pessoa animada que ampliava seu bom humor. Com gestos afetivos que a deixavam um pouco desconcertada, mas igualmente grata porque alguém se importava em acariciá-la. Hinata sentiu vagamente que ultrapassava certos limites ao flagrar Sasuke observando-a, franzindo as sobrancelhas por notá-la tão à vontade com outro. Sentindo-se vaidosa, talvez um pouco esperançosa, ela acabou por valorizar ainda mais a aproximação de seu amigo Kiba.

Se Sasuke queria brincar com seus sentimentos, ela não deixaria. E também não lutaria para que se arrependesse e lhe desse uma chance. Ofereceria atenção a quem também o fazia por ela, gratuitamente. Ela daria uma chance ao Kiba, porque conhecia com uma dolorosa intimidade o sentimento de gostar de alguém que sequer lhe concedia a oportunidade de experimentarem um relacionamento.

E foi naquela mesma segunda-feira, sob os olhos perscrutadores de Sasuke, com sentimentos confusos e determinados, que Hinata permitiu ao Kiba beijá-la. Um beijo calmo, sem a paixão ou o sabor que desejava. Era este, no entanto, o sabor ao seu alcance. Era este o príncipe disposto a lhe pertencer. E Kiba, apesar de não ser Sasuke, era ainda a melhor pessoa com quem poderia tentar ser feliz. Por que todos merecem ser felizes, não é?

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Ao fim da noite, tive vontade de chorar por tê-la tornado lamentável. Sasuke manteve-se silencioso e não parecia animado como antes. Eu o havia decepcionado, e perdido o que nem sequer me pertencia.

Então, quando chegamos ao prédio onde eu morava, olhei-o com absoluto pesar e confessei abertamente:

— Desculpe... — comecei com a voz embargada. — Eu queria apenas agradar você.

E sentindo-me ainda mais estúpida, subi os primeiros degraus da escadaria.

— Eu só me pergunto se você é a primeira ou a segunda pessoa a quem conheci esta noite — respondeu ele com um ar divertido.

Senti meu rosto aquecer em constrangimento e, contrariando meus próprios preceitos, questionei:

— Qual delas prefere?

Seria ridículo assumir que só desejava ser aceita por ele?

Sasuke não respondeu. Vi-o se aproximar de mim, subindo os poucos degraus até estar à minha frente, com a face próxima demais, com seus lábios deslizando sobre os meus. O jeito como me beijou era possessivo e intenso, como ele próprio aparentava ser. Eu agarrei seus cabelos, puxando os fios de sua nuca e atraindo-o mais para mim, porque não era o suficiente.

Então, quando nos afastamos ofegantes, sorri e sinceramente ofereci a verdadeira resposta à sua pergunta:

— Eu sou aquela que, mesmo quando tenta ser diferente, acaba sendo completamente igual.

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Os dedos entrelaçados a incomodavam. Os olhos observadores a incomodavam ainda mais.

Kiba se sentia tão feliz! Ele não se importava de caminhar ao lado de sua namorada pelos corredores do colégio. Aliás, ele fazia questão de contar a todos que ambos namoravam. E Hinata, com sua gentileza, sorria envergonhada quando questionavam se os boatos eram verdadeiros. Ela sorria tímida ao ouvir das garotas os comentários maliciosos a respeito dos caninos de Kiba e desviava o olhar ao flagrar a atenção de Sasuke sobre si.

Era difícil considerar que no mesmo dia ele exigira que conversassem. Teria sido tola em não dar ouvidos? O que ele queria lhe dizer? Bem, já era tarde para questionar. E certamente não seria nada além do que já sabia.

No decorrer dos dias, as coisas não mudaram muito, mas os sentimentos ganharam intensidade.

Kiba dizia à jovem Hinata quão feliz estava ao seu lado e como ela era perfeita. E Hinata sorria desajeitada com tantos elogios, sentindo-se estranhamente vazia ao notar que, ironicamente, a cada dia se sentia triste.

“Perfeita”, pensava. Era assim que seu namorado a considerava. Mas, para ela, perfeição – assim como a Barbie – não existia. Era apenas uma sombra de tudo o que as pessoas desejavam para si. Era isso o que ela havia se tornado? Uma sombra sem sentimentos, um material insípido?

.

Sabe qual é outra característica que possuo e a Barbie não?

Eu nunca sei o que esperar da minha vida. E a Barbie, ah... Ela é maravilhosamente segura de si mesma. Ela não teme. Ela pode ser qualquer coisa, porque ainda é uma sombra de algo indefinido e impalpável. Ela não precisa escolher em poucas opções de roupas qual delas faria o Sasuke não perder o encanto daquela noite.

O que eu mais desejava na segunda-feira era que Sasuke não se arrependesse de ter perdido a “grandiosa festa”. Mas, como nem tudo são flores, é claro que isso não aconteceu. Na segunda-feira fui ignorada pelos olhos negros que me observaram tão detalhadamente há dois dias, pois estavam voltados somente à figura esbelta de Ino — a encarnação da Barbie, o meu completo oposto.

Será que Ino também gosta do silêncio? Ou de ler ao invés de curtir uma “balada”? Eu duvido. Assim como duvido que naquela noite o Sasuke que conheci é este mesmo, passando ao meu lado como se não me visse.

Um doloroso ultraje me invadiu a cada vez que Sasuke rejeitou reconhecer a minha existência. Dias longos demais se passaram, repletos de flagrantes que apenas somavam ao meu sofrimento.

Naquela maravilhosa noite, quando nos conhecemos, revelei a mim mesma para ele. Certo, admito! Revelei a mim mesma durante a maior parte do tempo. Eu só não esperava que Sasuke não tivesse feito isso em momento algum.

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Quando tudo dá certo, dizem, esta é a perfeição.

Kiba compreendia isso muito bem. Já completavam dois meses que namorava Hinata. Há dois meses os dedos entrelaçados a incomodavam, mas ela já passava a se acostumar com isso. Hinata era perfeita! Dois meses sem nenhuma briga sequer. Sem nenhuma crise de ciúmes. Sem olhares acusadores ou ligações noturnas para interromper o sono. Sem cobranças. Sem... sem nada. Isso é perfeição, certo?

E a grande lição que Hinata aprendia agora era que “a perfeição cansa”. Sim, estava cansada de sua rotina repleta de carícias e do otimismo de Kiba. Ele era perfeitamente cavalheiro com ela. Alguém com quem as mulheres sonhavam. Alguém com quem ela própria não sonhava para si. E a cada vez que seus olhos encontravam os de Sasuke, pensava ter visto um traço de sofrimento. Só não sabia dizer se partia dele ou se refletia o sofrimento dela. Onde os dois haviam errado mesmo?

.

Eu sempre pensei que as pessoas são especiais para você quando não se esforçam para sê-lo.

Essa é a beleza daquela noite com Sasuke. Eu me senti especial quando estive ao seu lado. Foi inesquecível para mim, e tão facilmente ignorado por ele. Eu me sinto tola por notar que não é fácil observar o conteúdo dentro de um frasco atraente, porque a beleza ofusca. Ela cega e nos faz esquecer o que o frasco comporta. E não me refiro à imponente presença de Sasuke ou aos seus olhos escuros enigmáticos. Tampouco aos seus delineados lábios ou ao seu porte atlético. Refiro-me ao que ele demonstrou ser. Ao que ele afirmou acreditar. Teria sido mentira cada frase?

.

A perfeição cansa. Isso, no entanto, a jovem Hinata já descobrira. O que ela aprendia agora era uma lição mais importante e igualmente dolorosa.

Era triste reconhecer, com o passar dos dias, que se pode ser o melhor na vida de alguém e isso não tornar este alguém o melhor na sua vida. Kiba não merecia o que Hinata estava fazendo. Construindo sonhos, fortalecendo seus projetos futuros – que já a incluíam desde a primeira vez em que se viram. Kiba era um bom amigo, e não devia ter passado disso. Ela fora cruel ao tentar correspondê-lo.

Quando Hinata e Kiba romperam, houve um temporal após as aulas. Ela caminhou até o precário jardim do colégio sob a chuva torrencial desejando tornar seu coração puro de novo. Queria sentir-se renovada, porque voltaria a ser quem era realmente: a personagem secundária que perdera seu príncipe para uma Barbie.

Não se surpreendeu e tentou conter as lágrimas quando Sasuke apareceu à sua frente, analisando-a como naquela noite, como se lembrava com tanto pesar e carinho. Recuou alguns passos, mas ele igualmente se aproximava sem desviar o olhar. Sem deixá-la esquecer aquela lembrança dolorosa.

— Meu lago era limitado — disse ele, e Hinata recordou-se das carpas e de seus olhos tristes ao conversarem sobre suas escolhas. — Eu deixei minha família me pressionar a namorar Ino.

Uma expiração frustrada soou pelos lábios dele, e Hinata entendeu o que ele provavelmente diria. Não poderia correspondê-la. Seu papel secundário a impedia de ser feliz. Não era uma Barbie, não era suficiente nem importante. Nunca seria.

Hinata intencionou se afastar e proteger a si mesma da dor de ouvi-lo, mas Sasuke envolveu rosto dela entre as mãos e continuou de forma obstinada:

— Eu me enganei como você naquela noite! — Seus olhos escuros brilhavam honestos. — Achei que ser outra pessoa, ou estar com outra pessoa, era mais adequado. Era o que esperavam de mim. Mas... — Ele engoliu em seco, parecendo nervoso. — Eu saltei para fora do lago, Hinata, porque não há ninguém melhor além de você!

Hinata tentou expressar em palavras o doce choque causado pela declaração, mas foi ternamente interrompida por lábios apaixonados.

E ali, envolvida entre os braços de quem amava, ela compreendeu pela primeira vez que não devia comparar-se com uma Barbie.

Afinal, beleza nunca seria um referencial confiável para predizer a felicidade de alguém.

FIM


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Notas finais do capítulo

Obrigada, sinceramente, por ter lido!
Essa Oneshot foi um desabafo. Não, não sou a Hinata deste enredo, aliás, encontrei meu príncipe! Mas penso nas belas mulheres que têm tudo para serem deslumbrantes, mas se sentem infelizes e incompletas por se compararem com outras que consideram Barbies.

Adoraria saber o que você achou.
Beijos~