O Meu Melhor Amigo escrita por MilaScorpions


Capítulo 8
O Meu Melhor Amigo é o Meu Amor.


Notas iniciais do capítulo

AGRADECIMENTOS

Antes de mais nada gostaria desejar um Feliz Ano Novo, cheio de prosperidade, amor, saúde e felicidade a todos que passaram por aqui, seja favoritando, acompanhando, comentando ou simplesmente lendo e mandando boas vibrações...

E um superobrigada aos leitores que deixaram um comentário de incentivo em alguns ou na maioria dos capítulos. E também àqueles que favoritaram e comentaram aqui e no SocialSpirit. Muito obrigada mesmo por fazer uma aspirante a escritora feliz. Vcs são o máximo!

Quero agradecer a Musha, Jenferr, delencei, LiraOtakuFujioshi, Nanda Aquarius, TitiaKinast, Orphelin e Myrho por ter deixado a opinião de vocês no capítulo anterior (senti falta de gente aqui).

E, finalmente, obrigada a querida Jenferr por aquela recomendação linda. Amei cada palavra, Flor. Ainda estou toda boba de alegria.

AVISOS:

A imagem não me pertence

Capítulo não betado.


BOA LEITURA!



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O Meu Melhor Amigo é o Meu Amor.



— Por que nos apaixonamos por uma pessoa, mesmo sabendo que ela é errada? — fiz, pela milésima vez, essa pergunta a Shion, por mais que eu já soubesse a resposta.

— Você ama quem você ama, não importa o porquê — ele respondeu enquanto me ajudava a tirar as malas de dentro do carro. Em seguida, olhou-me de modo terno. — Ah, querido, pare de se torturar desse jeito. Tenho certeza de que tudo ficará bem. Acredite na minha experiência.

Suspirei.

Eu não tinha certeza se iria ficar bem, contudo precisava seguir em frente. Foi tão doloroso ver o jeito como Aioria olhou para mim ontem pela manhã. Provavelmente, com repulsa pelo beijo. Isso partiu meu coração. Se bem que ele já estava bastante despedaçado.

É tão estranho... mas parece que, independente de muitas coisas estarem dando certo em nossas vidas, quando falta amor, nada tem graça. Talvez Shakespeare estivesse realmente certo, pois é impossível ser feliz quando você se sente desprezado pela pessoa que ama. E não importava quantas vezes Shion tentasse me animar, eu continuava, o tempo todo, repassando os detalhes e me perguntando como pude ter entendido tudo errado. Um vazio tão grande se alojava dentro do meu peito que dava a impressão de que nada o preencheria.

Nem a satisfação de ver Shaka, que era um cliente tão exigente, gostar tanto do meu projeto foi capaz de diminuir aquela sensação de oco. E veja que sou uma pessoa extremamente preocupada com o trabalho. Tanto que me dediquei bastante para produzir uma capa que estivesse à altura do seu livro — que era maravilhoso, diga-se de passagem. Devorei cada capítulo daquela narrativa e pude compreender muito bem o anjo, já que os seus sentimentos não eram tão diferentes dos meus; sua história era bem parecida com a minha. A história de um amor impossível.

Desse modo, produzi uma capa na qual mostrava apenas um homem nu da cintura para cima, com grandes asas brancas, olhando para o céu e uma expressão desolada no rosto. Tal qual estivesse se fazendo uma pergunta (a mesma que eu me fazia todos os dias). Um plano de fundo na cor azul celeste e o nome do autor em amarelo ouro para criar um contraste. Sem prévia autorização, troquei o título da obra e acrescentei um subtítulo: Fênix - O pecado que seduz.

Ainda que claramente impressionado com a minha ousadia em mexer no título, Shaka adorou o trabalho. Isso deixou o meu patrão bastante satisfeito também. Principalmente, quando o escritor sugeriu um contrato com a “Design Saint”, no qual eu ficaria responsável pela editoração de todos os seus livros de agora em diante. Depois disso, Saga saiu com o agente Ikki Amamya para resolver alguns detalhes do contrato.

Nesse intervalo em que fiquei sozinho com Shaka na sala de reuniões, ele comentou que eu estava com a feição abatida e me indagou se eu passava por algum problema. Fiquei um pouco embaraçado pela sua pergunta e acho que até que corei no momento. Apesar da empatia imediata que houve entre nós, faltava-nos intimidade. Todavia, Shaka não se deixou abalar pelo meu jeito recatado. E, sem nenhum embaraço evidente, passou as mãos pelos meus cabelos num gesto afetuoso e, parecendo ter lido a resposta em meu pensamento, disse que eu precisava de um retiro espiritual e uma boa meditação, e que, às vezes, quando dedicávamos nossa vida a ajudar no problema das outras pessoas, os nossos pareciam menores. Segundo ele, esse tipo de atitude o fazia sentir-se mais próximo de Deus.

Foi um gesto singelo e suas palavras foram tão significativas que, inevitavelmente, acabei sorrindo para ele como forma de agradecimento pelo conselho.

Shaka tinha razão. Preocupar mais com a espiritualidade seria uma ótima alternativa para me desfocar um pouco dos problemas amorosos. Mesmo que eles estivessem me causando dores em lugares no meu corpo que eu nem sabia que existiam.

Sobretudo, quando ao deixar a sala de reunião, encontrei-me com Aioria na porta e ele me olhou daquele jeito frio, tão dolorosamente frio, que saí da empresa completamente desolado.

Logo que cheguei em casa, peguei o meu celular, que estava descarregado desde a noite anterior, e coloquei para tomar carga. Notei, deslumbrado, algumas chamadas não atendidas de Aioria. Antes que eu me deixasse enganar outra vez, caí na real.

Evidentemente, ele só queria esclarecer que, entre nós, só poderia existir amizade; ou nem isso mais. Na melhor das opções, tentaria fazer alguma brincadeira para amenizar o clima e fingir que nada aconteceu. Na pior das opções (o que era mais provável visto o modo como me olhou), pedir para que eu me afastasse. Suspirei, triste com a ideia. Não estava preparado para fazer nenhuma dessas coisas agora. Sendo assim, era melhor não retornar. Optei por manter um pouco de distância a fim de refletir sobre a melhor atitude.

Havia, também, inúmeras chamadas de Aldebaran e me lembrei de que precisava conversar com ele, explicar-lhe o meu atual comportamento e o meu sumiço. Determinei que nesse mesmo dia, iria resolver a nossa situação. Pensei em ligar e marcar um encontro. Depois, desisti dessa ideia e resolvi ir aonde eu sabia que poderia encontrá-lo.

Na academia onde ele praticava luta livre.

Eu tinha jurado para mim mesmo que nunca mais assistiria a uma luta de Aldebaran desde a primeira e última que vi em Espartas. Lembro-me com detalhes daquela briga sangrenta, do misto de suor e sangue no ar e daquele alvoroço de clientes abusados gritando números e nomes, num constante vaivém, acotovelando-se para trocar dinheiro e gesticulando para se comunicar em meio a tanto barulho.

Teve uma explosão de aplausos e gritos eufóricos, assim que o apresentador gritou o nome dos lutadores: Aldebaran, o Touro, versus Máscara da Morte. Ambos, apareceram sem camisa, relaxados e confiantes caminhando a passos largos até o centro do círculo, como se estivessem se apresentando para mais um dia de trabalho, e estalaram os punhos cerrados nos nós dos dedos do oponente. Os dois se encaravam. A expressão do Máscara da Morte era assassina; Aldebaran parecia achar um pouco de graça em tudo aquilo.

Quando deu o sinal da luta, o Touro assumiu uma postura defensiva e o outro partiu para o ataque. Máscara da Morte agarrou Aldebaran com seus braços grossos e tatuados tentando jogá-lo no chão. No momento em que ele se inclinou para fazer esse movimento, Aldebaran acertou-lhe uma joelhada no rosto e o atacou repetidas vezes. Os punhos cerrados socavam o rosto ensanguentado do cara. Uma cena que eu pretendia nunca mais presenciar em minha vida.

Mesmo assim, decidi ir até aquela academia, mas só porque sabia que ele estaria apenas em treinamento.

No instante em que Aldebaran notou minha presença, parou o treino, conversou alguma coisa com o seu colega (provavelmente explicando o motivo de sair) e veio falar comigo. Ele estava alegre e, do mesmo modo, muito surpreso.

Por mais que eu estivesse desconfortável com a situação (que, convenhamos, era pra lá de embaraçosa), procurei não enrolar, pois queria ser sincero. Respirei fundo, tomei coragem e, sem delongas, confessei-lhe que não poderíamos continuar o namoro por que eu gostava de outra pessoa. Claro que não mencionei quem era essa pessoa.

Aldebaran ficou visivelmente decepcionado, porém mostrou-se bastante compreensivo. (Não me surpreendi, uma vez que já observara essa sua qualidade.) Disse que gostava muito de mim e que lamentava a situação. Acrescentou ainda que já percebera que eu nutria um sentimento a mais do que somente amizade por Aioria e que quebraria a cara do meu “amigo” se ele me fizesse sofrer. Eis o porquê de não ter mencionado nada sobre o fato de que, agora, Aioria me desprezava. Dei um beijo em sua bochecha, agradeci pela compreensão e prometemos uma ao outro que continuaríamos amigos, embora ele tenha deixado bem claro que manteria as esperanças. Saí daquela academia me sentindo muito mais leve por ter dito a verdade.

E com esses assuntos resolvidos cogitei que, talvez, uma viagem ao Tibete fosse uma ótima opção. Além de visitar os meus pais, que já fazia um bom tempo que eu os tinha visto, a distância poderia, quem sabe, ajudar-me a esquecer o meu amigo. A questão é que eu duvidava disso. Contudo precisava tentar. Era a única chance e, sem dúvida, a melhor coisa a fazer. Seria bom tanto para mim quanto para Aioria. Nossa amizade nunca mais seria a mesma. Completamente apaixonado por ele, eu não conseguiria mais fingir que sentia menos do que isso.

Em todo caso, quando acordei hoje cedo, ou melhor, quando a minha maltesa me acordou pisoteando de leve a minha barriga, decidi que iria, sim, fazer essa viagem. Uma visita rápida à minha terra natal. Ficaria no Tibete por duas ou quatro semanas. Tempo suficiente para tentar pensar um pouco no que fazer da minha vida, longe de tudo que me lembrasse Aioria. Seria uma espécie de catarse. Comprei, então, minhas passagens pela internet, e, depois de deixar Pen no pet shop, dei uma passada pelo bairro Kolonaki a procura de lembrancinhas gregas para presentear os meus pais. Por fim, fui até a casa do meu tio contar-lhe, pessoalmente, a novidade.

Claro que Shion reprovou a ideia. Entendo que ele tinha mesmo era receio de que eu acabasse voltando a morar no Tibete. De acordo com o meu tio, a Grécia é que era um lugar bom para se viver. Dessa forma, aconselhou-me a fazer conforme Shaka recomendou: ajudar no problema das outras pessoas para ocupar o meu tempo com algo solidário. E combinamos que, assim que eu voltasse, visitaríamos alguns abrigos e também alguns orfanatos. Com isso acertado, peguei as minhas malas e segui, acompanhado por Shion, em direção ao Aeroporto Internacional de Atenas.

No momento, tínhamos acabado de chegar lá e estávamos tirando as malas do carro. Eu, como de costume, lamentava a minha sorte no amor. Shion continuava a me consolar.

— É mesmo uma pena que o seu namoro com o lutador não tenha dado certo. Aldebaran parecia ser uma boa pessoa e gostava muito de você — retomou o mesmo discurso de hoje cedo.

— Por isso mesmo, Shion, ele merecia alguém que o amasse de verdade — discorri.

— Concordo com você nessa questão. Entretanto, você sabe que discordo dessa sua ida para o Tibete. Antes de tudo, acho que está se precipitando e que deveria esquecer essa bobagem — proferiu ao mesmo tempo em que nos dirigíamos ao balcão de embarque para fazer o check-in. — Ainda está em tempo.

— Você e eu sabemos que preciso esquecer Aioria. Mas com ele por perto, simplesmente, não consigo.

— O que sei é que quando amamos alguém com essa intensidade, antes de tomar qualquer atitude, devemos falar em alto e bom som para ter certeza de que a pessoa vai entender.

— Depois de tudo que te contei, você ainda diz que devo dizer em alto e bom som?! — protestei. — É evidente que Aioria sabe dos meus sentimentos agora. Ele me conhece muito bem e deve imaginar que eu não o teria agarrado caso o contrário.

— Ah... Pare com isso, você não o agarrou. — Fez um gesto de descaso com a mão e revirou os olhos. — Além do mais, acho que esse seu amigo é meio lerdo. Por que tenho para mim que Aioria também sente mais do que somente amizade. Esse ciúme todo dele está bem longe do normal para apenas amigos. Todo o empenho que teve para afastar Aldebaran de você é uma grande prova do que estou falando.

Shion era louco se achava que existia alguma chance disso ser verdade. Sério! Eu queria viver no planeta do meu tio. Ia ser tão bom se minha vida fosse do jeito ele imaginava.

— E tem mais — continuou —, vocês nem conversaram depois desse episódio do beijo, portanto você nem sabe se ele está realmente chateado.

Massageei minhas têmporas e sibilei. Shion parecia não ver a magnitude do problema.

— Sabe qual é o meu maior medo? É de que Aioria esteja pensando que menti para ele fingindo ser um amigo durante todo esse tempo. Achar que eu queria apenas me aproveitar da nossa proximidade de alguma forma. Só que isso nunca passou pela minha cabeça. Eu jamais faria algo assim. Nossa amizade sempre esteve acima de tudo.

Shion estalou a língua em desconsideração

— Chega desse discurso de autopiedade, Mu. Você não tem culpa de ter se apaixonado pelo seu amigo. E, se ele tiver o mínimo que seja de sensatez, entenderá isso. Por esse motivo, afirmo que você está sendo precipitado e que deveria ficar aqui com o propósito de terem uma conversa definitiva. Não existe nada pior do que guardar os sentimentos. E, caso ele deixe bem claro que não quer nada com você ou que reprova qualquer tipo de tentativa sua em conquistá-lo, aí sim, desistiria e expulsaria esse Aioria de vez da sua vida. O meu conselho é partir para o tudo ou nada.

— Você não viu o jeito como ele me olhou ontem pela manhã, Shion. Não quero vê-lo me olhando assim novamente. Ainda não estou preparado para isso. Sinto muito, não posso... — falei com a voz chorosa e respirei fundo, que nem sentindo dor.

— Ah, querido não fique assim! — Tornou me olhar ternamente e ajeitou uma mecha dos meus cabelos atrás da orelha. — Depois de tudo isso, demore o tempo que tenha que demorar, você vai conhecer pessoas novas que farão você se valorizar e essa época turva, esse tempo de sofrimento, tudo isso começará a se dissipar.

Tentei dar um sorriso, mas os meus olhos não acompanharam. Esperava que ele tivesse razão.

Chegou a minha vez na fila e Shion ficou me aguardando. A atendente sorria estranho para mim enquanto me entregava o cartão de embarque. (Era impressão minha ou ela estava tentando flertar comigo?) Também me avisou que o voo iria atrasar. Pouco depois de despachar as minhas malas, voltei minha atenção para Shion. Era o momento da despedida.

— Bem, acho que chegou a minha hora... — proferi.

— Lembre-se de me ligar assim que chegar em casa. Ou melhor, ligue todos os dias — Shion exigiu. — Nunca se esqueça de que o considero como um filho e, a qualquer problema, estarei sempre aqui.

— Eu sei — articulei já quase soluçando. Shion era mais que um pai para mim e a minha admiração por ele era sem tamanho. — Por favor, cuide direitinho de Pen.

Ele assentiu sorrindo.

— Prometa-me que tentará se divertir um pouco e nada de ficar entocado naquela casa. Diga a sua mãe que estou com saudade, mas filtre todos os conselhos que ela te der. — Ele começou a se emocionar e beijou minha testa, entre as pintinhas. — Eu amo você. Agora vá logo antes que eu compre uma passagem para mim.

— Também amo você — respondi igualmente emocionado e o abracei.

Shion me desejou boa viagem e foi embora.

Segui de cabeça baixa e andando lentamente rumo ao portão de embarque. Desejava estar feliz com essa viagem. Em outra situação, eu estaria. No entanto, naquela ocasião, viajar para afastar-me de Aioria era frustrante. Nesse meio tempo, pensei em seu belo rosto e em alguns momentos bons que passamos juntos.

Suspirei, cansado.

E foi, então, que percebi um tumulto na entrada da sala de embarque e ouvi algumas vozes alteradas. Achei que estava delirando quando reconheci uma delas. Olhei a fim de conferir, e o meu coração só faltou sair pela boca quando entendi o que estava acontecendo. Ah, meu Deus! O que ele está fazendo aqui?

Aioria tentava entrar, enquanto um guarda forte e grande, vestido num terno preto, o impedia.

— Ah, claro. Todas as pessoas com emergências nem precisam passar pelo detector de metais. — O homem foi sarcástico.

Aioira começou a protestar, entretanto se deteve no momento em que eu, surpreso, gritei o seu nome no impulso. Ele e várias outras pessoas que estavam por perto olharam em minha direção. Involuntariamente, passei a enrolar várias mechas do meu cabelo de forma meio descontrolada. Mas quando nossos olhos se encontraram, ele sorriu largo e aí tudo parou. Foi como se instantaneamente todas as pessoas daquele lugar tivessem desaparecido.

Ele estava mais lindo do que nunca...

Suspirei novamente, pensando que aquilo não era de verdade, que era fruto da minha imaginação. De tanto que pensei nele, acabou se materializando na minha frente. Depois, quando se aproximou, percebi que não estava sonhando porque ele segurava um capacete. Eu não costumava ter sonhos tão detalhados assim.

— Oh, graças a Deus! Você ainda está aqui. — Os seus braços fortes me prenderem num abraço apertado e desesperado. Achei que iria desmaiar ali mesmo quando peguei a hiperventilar. Em vez disso, concentrei-me em retribuir o gesto, o qual ele desfez alguns minutos depois. — Tive tanto medo de não conseguir chegar a tempo... Por que diabos resolveu ir para o Tibete?

— Por que você veio até aqui?! — Foi a única coisa que consegui pronunciar em um fio de voz. O coração vibrando em expectativa. Ansiava saber o motivo de Aioria ter ido atrás de mim.

— Fui até o seu apartamento porque queria te dizer tantas coisas, Mu... tantas, que nem sei por onde começar... — Ele estava eufórico, bem como se não conseguisse organizar os pensamentos. — Aí o namorado do seu tio me informou que você estaria aqui e que pretendia voltar a morar no Tibete. Em primeiro lugar, estou extremamente aborrecido por isso. E em segundo, gostaria de esclarecer que, se você tivesse me falado, é óbvio que eu não deixaria você fazer essa merda. Qual é, Mu? — Cruzou os braços, parecendo ultrajado, olhando-me como se eu fosse um maluco. — Somos melhores amigos e você iria embora sem falar nada comigo?! Parece que não sou ninguém para você... — Depois respirou fundo e passou as mãos pelo cabelo revolto. — Você não pode fazer isso... Não pode me deixar agora...

Não quer perder o amigo! Foi por esse motivo que ele veio. Pensei.

Em vez de contar a ele que a intenção inicial não era voltar a morar no Tibete, inspirei fundo e expirei devagar, criando coragem.

— Aioria, não sei como podemos ser amigos da forma que éramos. Sinto muito — admiti, com a minha voz quase sumindo. — Não é sua culpa... É que... não consigo fingir que nada aconteceu. Não sei como lidar com isso.

Ainda bem que daqui a pouco eu estaria bem longe.

— Você vai olhar para mim? — Senti suas mãos bronzeadas e quentes sobre o meu rosto tentando erguê-lo o suficiente para ficarmos cara a cara. — Se está falando daquele beijo... Não quero fingir que nada aconteceu, quero que saiba que desejei ter correspondido. Aquele beijo teve tanto efeito sobre mim... Tanto... que me assustei. Porque nunca tinha experimentado nada assim antes. E não parei mais de pensar nisso desde então. Até terminei com Marin.

Pisquei várias vezes, ainda incerto se tinha escutado direito o que ele dissera.

Meu coração começou a engasgar na garganta. Eu não podia acreditar que ele havia dito isso. Que não estava com raiva. Que queria ter retribuído. Que acabou com o namoro por causa daquele beijo.

— Terminei com ela, porque é você que eu quero... — ele disse, com aqueles seus olhos verdes expressivos piscando para mim. Os olhos mais lindos que já vi em toda minha vida. — Estou apaixonado por você, Mu.

De repente, minha boca ficou seca, muito seca, e eu me sentia incapaz de mover um único músculo. Ali, parado, olhando para ele, a respiração subitamente curta, os lábios entreabertos e o coração disparado, tive certeza de que devia ter entendido alguma coisa errada. Aquilo não podia estar acontecendo. Era muito perfeito para ser realidade. Ele falou que estava apaixonado por mim? Apaixonado por mim? Aioria estava apaixonado por mim...

Eu morria um pouquinho, todos os dias, esperando por isso. E, a partir daquele momento, não consegui escutar mais nada do ele falava, assim como também nem conseguia falar. Não queria. Receava dizer algo que estragasse tudo. Só fiquei ali, repassando suas palavras em minha mente. E, apenas quando o percebi me balançando e me perguntando se eu estava passando mal, é que fui trazido de volta a realidade. Olhei para ele e vi uma expressão de preocupação em seu rosto.

— Se você não vai disser algo em breve, posso ter um derrame... — falou. Como eu iria dizer ou fazer qualquer coisa quando eu precisava manter toda a minha energia para conseguir respirar? — Achei que você também gostasse de mim.

— Oh, Pelos Deus! Eu... eu gosto de você. — Respirei fundo novamente, inseguro e com o coração apertado. Comecei a senti vontade de chorar. — Sempre te amei, Aioria — declarei. Um outro largo e radiante sorriso se espalhou por seu rosto e pude notar uma súbita comoção em seus olhos. — Eu me apaixonei por você desde a primeira vez que te vi, e sofri calado todos esses anos, contentando-me apenas com a sua amizade, porque nunca tive esperanças de que um dia você fosse me ver de outra forma... E é, exatamente, por tudo isso que estou com medo.

— Medo?! Medo de quê?! — quis saber com uma expressão de espanto e pôs-se a fazer carinho em meu cabelo e colocar uma mecha atrás da minha orelha.

Reparei ao redor, e não conseguia ignorar os olhares que as pessoas lançavam sobre nós, enquanto observavam nossas atitudes. Uns, de indignação (por puro preconceito); outros, nem tanto.

Éramos homens. E Aioria nunca havia tido uma experiência homossexual antes. Seria doloroso demais caso, um dia, ele acordasse achando que cometera um grande erro, e me odiasse por causa disso. Eu não achava que poderia aguentar aquela sensação de rejeição novamente. Naquele domingo, senti-me a menor e mais insignificante das criaturas do mundo. E, por mais que eu estivesse radiante devido a sua declaração (pois isso foi o que sempre desejei), não poderia deixar de pensar nessa possibilidade. As coisas estavam ocorrendo de uma forma tão arrebatadoramente rápida, que me assombrava.

E se ele estivesse, simplesmente, confundindo as coisas, deixando-se levar imponderadamente por temor de perder o melhor amigo? Isso poderia acontecer, não poderia?

— Tenho medo de que, daqui algum tempo, você se arrependa. E se você perceber que estava enganado? Que não estará feliz comigo? — De alguma maneira, as palavras encontraram o caminho até meus lábios trêmulos.

Ele ficou me encarando como se eu estivesse falando outra língua.

— Bem, como saberei se você também estará feliz comigo? Como saber se um avião desses não vai cair? Como podemos prever qualquer coisa, Mu?! Eu não sei o que vou sentir daqui algum tempo. Sei o que sinto agora. — Ele respirou fundo, segurando meu rosto com as duas mãos. Olhou-me diretamente nos olhos, com toda a intensidade. — Eu quero tentar isso. Você e eu, quero dizer. Sinto muito por ter sido um idiota e demorado para perceber. Mas se você me der uma chance de compensar a minha estupidez, prometo que vou fazer o meu melhor para sermos felizes.

Desceu as mãos para a minha cintura, puxando-me para que chegasse ainda mais perto. Meu coração acelerou e eu não queria nada além do que envolver os braços ao redor dele e abraçá-lo mais uma vez. Só que não poderia fazer isso. Estávamos em um lugar público e aqueles olhares me constrangiam.

— É que... você sabe... não é uma coisa convencional. Eu sou um homem — murmurei com a voz engasgada rente aos lábios dele que estavam ficando cada vez mais próximos à medida que se inclinava mais para perto de mim.

— Eu sei. E, para mim, isso foi algo muito difícil de aceitar inicialmente. — Sua respiração parecia rápida e, quase como se não se contivesse, roçou os lábios contra os meus sedutoramente. Suspirei, fechando os olhos. Ele passou a língua sobre o meu lábio inferior. Com a voz rouca, continuou: — Mas é bem mais fácil do que imaginar a minha vida sem você.

E, esquecendo-se completamente de onde estávamos, ele me beijou.

Uma chama foi acesa dentro de mim no momento em que a boca dele tocou a minha. Coloquei os braços ao redor do seu pescoço e me entreguei as emoções. Era um beijo urgente, faminto, quase desesperado. O sangue corria disparado pelas minhas veias e tive a sensação de que o meu coração explodiria no peito. Era como se os meus joelhos fossem feitos de manteiga e as minhas pernas bambas não conseguiam mais me manter em pé. Ainda bem que ele me segurava no abraço.

Sonhei tanto com esse momento, que era difícil acreditar que estava, realmente, acontecendo!

E, ali, abraçados naquele aeroporto, dando nosso primeiro beijo e ignorando todo o resto a nossa volta, tal qual dois personagens em final de filmes de comédia romântica (daqueles que a gente sai do cinema jurando que vai tropeçar no amor das nossas vidas), eu me senti inteiramente completo.

Sei que isso soou tão clichê, mas o que posso fazer... como sempre digo, o amor costuma causar esse efeito nas pessoas.

Então, em algum lugar do meu cérebro que não havia se transformada numa pasta derretido, o bom senso sobreveio abruptamente. Abri os olhos e o afastei rápido.

— O que foi dessa vez, Mu?! — ele fez um muxoxo, já meio impaciente. Reprimi um sorriso.

— As pessoas estão nos olhando — arrazoei, tentando conter a excitação que os beijo dele me provocava.

— Só estou vendo você aqui. — Aioria estalou a língua com pouco-caso.

Observando novamente ao nosso redor, vi uma senhora, com aparentemente seus 50 anos, admirando-nos com um sorriso cúmplice.

— Isso é quase um atentado ao pudor — exagerei.

— Bem, levando em consideração o que está acontecendo com o meu amigo aqui — apontou, com a cabeça, para o próprio baixo-ventre e lançou uma piscadinha maliciosa — poderia mesmo ser considerado atentado ao pudor.

— Aioria! — Bati de leve na cabeça dele, que começou a rir. E, com toda certeza, eu estava muito, muito vermelho.

Ele sorriu aquele sorriso sexy dele.

— Então, vamos dar o fora daqui.

— As minhas malas! — Lembrei. Àquela altura o avião já estava seguindo seu destino. — Devem estar indo para o Tibete agora.

— Não podemos resolver isso depois? A única coisa que consigo pensar agora é ficar sozinho com você.

— Acredito que não podemos fazer muita coisa nesse momento. Vamos apenas confirmar com a balconista.

Aioria segurou em minha mão, entrelaçando nossos dedos e me conduzindo até o balcão de atendimento. Eu estava a ponto de alcançar o céu de tanto que estava flutuando.

A mocinha que me atendera anteriormente não conseguiu esconder seu desapontamento ao nos ver de mãos dadas. Ela me instrui a fazer o mesmo procedimento de quando ocorria extravio de bagagem. Com isso acertado, seguimos para a saída. Aioria, de uma hora para a outra, se pegou a atentar para os lados de modo estranho, como se procurasse por alguma coisa (ou já tivesse visto) e agilizou os passos até que chegamos ao estacionamento.

— Que moto é essa?! — estranhei.

— É uma Harley Night Rod — respondeu, empolgado, enquanto subia em uma moto preta fosca. Os seus olhos estavam brilhando. Será que ele não se cansa de ser tão lindo?

— Desde quando você tem uma moto?! — eu quis saber, realmente curioso.

— Foi a única maneira que encontrei de chegar aqui a tempo... É uma longa história, depois te conto. Sobe aí. — Ele colocou os óculos de sol e me entregou o capacete. — É melhor enrolar seus cabelos. Eles chamam muito atenção.

Estranhando o comentário, fiz o que ele pediu.

Subi na moto, envolvendo a cintura de Aioria com os meus braços. O motor da Harley rugiu ao ser ligado. Com um leve movimento de pulso, já estávamos na rua disparado feito um foguete.

De repente, o barulho da sirene de polícia pareceu afetar Aioria que seguiu costurando no trânsito, até aproximarmos da Acrópole. Ele estacionou a moto desengonçadamente e, puxando-me pela mão, subimos correndo o morro, onde nos misturamos em meio à multidão de turistas. A maioria descia em direção a saída. Já estava ficando tarde e o céu já apresentava aquela cor avermelhada. Aioria não deu nenhuma explicação, também não perguntei. Já tinha inferido que ele roubara aquela moto.

Chegamos ofegantes em frente ao Parthenon (um templo erguido no século V a.C. em homenagem à deusa Atena, e cuja estrutura, apesar do tempo, conflitos e poluição, ainda se encontrava preservada). Não havia nenhum indício de policiais. Provavelmente não deram conta de nos seguir. Também fugimos na velocidade da luz (com todo o exagero, claro. Mas foi bem rápido mesmo).

— Você roubou essa moto?! — Olhei horrorizado para ele, o coração saindo pela boca e a adrenalina a todo vapor. Escorei em uma das colunas do templo tentando recompor a respiração.

— Não! Claro que não! — enunciou. — Fiquei preso no engarrafamento e já estava desesperado achando que não conseguiria te encontrar ainda no aeroporto, até que vi a Harley. Mas o cara não quis me levar, argumentando que estava vendendo a moto e blá blá blá... Aí, eu a comprei.

— Então por que os policias estavam atrás da gente?

— É que ainda não paguei. — Ele deu de ombro e eu arregalei olhos

— Aioria...!

— O que!? Ah, não me olhe assim. Não dava para resolver toda aquela burocracia e tal... Ou então, nunca chegaria a tempo.

— E se você for preso?! — Congelei só de pensar nessa possibilidade. Aioria nunca ponderava as consequências de seus atos.

— Não se preocupe, meu amor — falou confiante — Só peguei emprestado uma coisa que será minha. Tem testemunhas de que o cara me ofereceu a moto, e também o meu carro ainda está lá. O máximo que pode acontecer comigo é ter que pagar uma fiança. Vou ligar para Aioros e ele me ajudará a resolver esses detalhes. Além disso, qualquer juiz vai entender que uma pessoa apaixonada e desesperado pode fazer coisas impensáveis. Então não fica chateado comigo... — Fez aquela carinha de cachorro sem dono que eu nunca resistia.

Como poderia resistir? Toda essa atitude transloucada de Aioria era por que ele queria ficar comigo. Era por estar apaixonado por mim... Meu sorriso imediatamente ganhou vida própria.

Ele afastou alguns fios do meu cabelo que haviam caído sobre o rosto.

— Sou capaz de fazer qualquer coisa só para ver você sorrindo assim. — Então juntou seus lábios aos meus novamente com um beijo ainda mais desejoso, colando o seu corpo contra o meu.

Eu sabia que esse tipo de intensidade apaixonada fazia parte de sua natureza. Nunca imaginei que ela poderia ser direcionada para mim, embora sonhasse com isso. Durante muito tempo, acreditei que a minha história de amor seria para sempre platônica. Mas agora, sendo presando por ele numa das colunas do templo de Atena, compreendi que aquele homem estupidamente lindo, corajoso e apaixonado também me queria. Não me importava o quanto impulsivo, ciumento ou passional ele fosse. Eu o amava com todos os seus defeitos e qualidades. Ele era o meu melhor amigo e o meu amor.

* * *


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Notas finais do capítulo

Olá, Pessoal

Gostaria de me desculpar pela demora. Tive alguns problemas de inspiração com esse capítulo, diferente dos primeiros que fluíram tão facilmente. Acho que talvez tenha sido a pressão de ser o último e queria muito que vcs gostassem. Mas como eu não queria atrasar ainda mais, e prometi para mim mesma que postava ainda esse ano, tá aí o capítulo. Espero que tenham gostado. Este mais do que qualquer outro não foi devidamente corrigido e foi o maior que já escrevi.

Então, deixando o desabafo de lado, estou feliz pela minha primeira fic concluída. E gostaria de agradecer novamente a todos vcs que me ajudaram de alguma forma nessa missão. Os comentários de vcs foram muito importantes. Inclusive, escrevi a última cena inspirada no comentário de delencei. Eu não tinha intenção de que Aioria roubasse a moto, era para o cara ter se solidarizado e o levado até lá. Hoje pela manhã, ao editar a foto capítulo, senti vontade de colocar uma cena no Parthenon, foi então que me lembrei da pergunta dela sobre o roubo da moto e pensei, por que não? Para alguém que fingiu estar doente, subornou uma criança, pegar uma “moto emprestada” (na cabeça dele) não é nada demais. Kkkk Segundo minhas pesquisas (leis brasileiras, viu gente. Vmos fazer de conta que é assim na Grécia tbm), existiam várias possibilidades para ele não fosse preso.

Então, é isso. Beijos carinhosos a todos que passaram por aqui. Feliz 2015.

Até o Epílogo.






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