POV MIKE

Eu simplesmente não entendia qual era a daquela garota. Num minuto ela parecia estar bem e tranquila, e no outro parecia um furacão, pronta a me destruir a qualquer momento.

Eu sabia que ela tinha o gênio difícil e tudo, mas não sabia o quanto era bipolar. Posso dizer que ela é como uma tempestade em um dia de verão, que surge do nada sem você ao menos esperar.

Depois que a patricinha de Nova Iorque foi embora do celeiro, eu continuei ali com o Pegasus. Aquele cavalo era meu único e verdadeiro amigo. Mesmo sendo um animal, ele parecia entender minhas dúvidas, e meus sentimentos. Sempre fora assim, desde que o prefeito Sullivan o achou.

Outro também que era um bom ouvinte era o Kirk, um cachorro vira-lata que eu encontrei abandonado na estrada. Eu o trouxe pra cá porque na época eu morava em um trailer e não tinha como cuidar dele, mas então ele acabou se acostumando a ficar entre os cavalos e aí, mesmo continuando a morar no trailer, eu nunca mais tive coragem de levá-lo comigo.

No final da tarde, depois de cuidar de Pegasus e Kirk eu fui até em casa, tomei um banho gelado e fui trabalhar no Taylor's.

Eu sempre preferi pegar o turno da noite, assim teria o dia livre para descansar.

Mas hoje, justamente hoje eu preferia mil vezes ter trabalhado no turno da manhã.

Eu não estava no balcão como de costume, mas sim ajeitando as coisas no depósito, e quando fui colocar o lixo pra fora me deparei com uma cena no mínimo estranha. Jason, o garoto de Ouro da cidade estava beijando ninguém menos que a cunhada.

Sempre soube que a NI tinha uma queda por ele, mas daí a beijar o namorado da irmã era demais, até mesmo pra mim.

A pergunta que martelou insistentemente na minha cabeça era se ela tinha beijado-o, ou se foi ele a tomar a iniciativa.

Simplesmente não consegui sair do lugar até que os dois se separaram, e foi somente então que eu soube que ele tinha beijado-a, pois ela o olhou assustada e logo em seguida saiu andando apressadamente na direção de casa.

Jason não havia me visto, e quando entrou novamente no Taylor's, eu dei um jeito de entrar também.

Fui até o balcão e troquei com um dos caras que trabalhavam comigo. Eu ficaria ali, enquanto ele ficaria enrolando para não trabalhar.

Eu estava pronto a descobrir o que realmente estava rolando, porque simplesmente eu não conseguia assimilar direito a cena que tinha visto, e foi quando ele entrou. Estava com um semblante confuso, como se algo tivesse acontecido.

Jason sentou-se em um dos bancos do balcão, e escondeu a cabeça entre os braços.

Peguei uma cerveja e o entreguei.

– Toma, por conta da casa. - eu disse. Ele me olhou sem entender, mas aceitou de bom grado. Bebeu praticamente tudo em uma só golada.

– Obrigado, estava mesmo precisando. - respondeu.

– Dia difícil?

– Pra falar a verdade, foi o fim de tarde que foi difícil.

– Jason, eu vou ser bem direto, até porque não sou homem de rodeios. O que ta rolando entre você e a NI? - não pude evitar a pergunta, não tinha como entrar nesse assunto sem ser dessa forma.

– Hã? Que? NI, do que você está falando? - eu tinha a mais absoluta certeza que ele estava fugindo da resposta, e isso era uma coisa que me deixava totalmente irritado.

– Não se faça de inocente, garoto de Ouro! Sabe muito bem do que estou falando. - e baixei um pouco mais, para que somente ele ouvisse. - Eu vi os dois se beijando ainda pouco.

Jason engoliu em seco. Jamais imaginou que alguém pudesse ter visto. Pareceu perder o pouco da cor que tinha no rosto.

– Não sei do que está falando!

– Ah sabe, sabe sim, e se não me contar a cidade inteira poderá saber. É só eu ir até o prefeito e contar o que vi. Tenho certeza que ele acreditará em mim.

Ele acabou cedendo. Contou praticamente toda a conversa que tiveram até o momento em que o beijo rolou. Era nojento rever essa cena na minha cabeça.

– Tá, mas e agora, como fica tudo? - perguntei.

– Eu não sei, simplesmente não sei. Eu gosto da Audrey, mas a Haley mexeu muito comigo.

– Cara como assim? Você namora a nojentinha sei lá, desde sempre, e ta gamado na irmã dela?

– Eu sei que a Audrey tem um defeito ou outro, mas ela também não é tão ruim assim.

Ter um defeito ou outro era normal em qualquer pessoa, mas aquela garota tem uma qualidade ou outra em meio a tantos defeitos, e olha que estou sendo gentil. Quanto a irmã, bem, ela é chata, brigona, temperamental, e mandona, mas apesar disso dá pra manter uma relação amigável, isso é, quando não está fazendo uma tempestade em um copo d'água.

– Sabe Jason, eu acho que você deve deixar a NI de lado, e se concentrar na sua namorada.

– Será? - perguntou confuso.

– Tenho certeza. - afirmei com uma cara debochada, tentando segurar o riso.

– Mas o beijo foi tão bom. - Eu realmente me senti desconfortável com aquilo. Não tinha necessidade de ouvir tal coisa, mas como ele já tinha falado, tive que improvisar alguma coisa.

– Olha, o dela eu não conheço, mas garanto que já tive muitos bem apetitosos, e duvido muito que o dela seja melhor.

– As vezes eu queria ser mais como você, Mike. Sabe, não se importar com o que os outros vão pensar a seu respeito, ter coragem o suficiente pra tomar suas decisões...

– Não esqueça a facilidade em lidar com a mulherada!

– Sim - ele afirmou com a cabeça. - Principalmente isso.

Peguei duas cervejas dessa vez, uma pra ele, e outra pra mim.

– Uma terceira cerveja para a dama, por favor! - Carlla disse, ao chegar no balcão.

– E onde está a dama? - perguntei sarcástico, fingindo procurar alguém com o olhar.

– Eu posso ser uma dama, meu bem. É só eu querer. – retrucou.

– Mesmo? - novamente perguntei. Ela afirmou com uma das sobrancelhas arqueadas, como se questionasse se eu estaria duvidando.

– Mesmo! - afirmou convicta.

– Pois bem, ta vendo a mesa lá no final? - mostrei-lhes uma mesa quase no fim do bar. Um rapaz já estava ali por quase duas horas.

– O que tem o carinha lá?

– Faça-o pagar uma bebida pra você! - desafiei, cruzando os braços.

Carlla tomou aquilo como uma aposta e me fez prometer ir com ela até o Kansas City no fim de semana para uma festa em comemoração ao feriado. Caso fracassasse, ela pagaria a rodada de cerveja durante todo o mês.

Com o trato feito, ela foi até a mesa, e novamente Jason e eu ficamos a sós.

Já não falávamos do episódio ocorrido há minutos atrás, mas sim sobre meu assunto favorito: mulheres.

O garoto de Outo tinha motivos pra ser chamado assim, afinal a nojentinha foi sua primeira namorada, e desde então ele nunca mais ficou com nenhuma outra garota. Sinceramente não sei como ele consegue ficar com uma só por tanto tempo e não enjoar.

Até hoje eu nunca havia duvidado da fidelidade dele, até hoje.

– Ei amigo. - o cara da mesa dos fundos chamou. Isso não era um bom sinal. Eu provavelmente havia perdido a aposta.

Caminhei até o lugar, e Carlla me olhou de uma forma tão irônica que a única coisa que consegui fazer foi retribuir o olhar.

– Pois não. - eu disse.

– Duas cervejas, por favor. – pediu educadamente.

– Ah pra mim não, querido. Eu prefiro um suco de laranja. - ela disse.

– Um suco de laranja, e uma cerveja então. – o rapaz novamente de pronunciou.

– Um minuto, eu volto já. - Jason somente ria da minha cara, enquanto eu voltava ao balcão.

Assim que o suco ficou pronto, eu fiz questão de batizá-lo com um pouco de vodka. Aquilo com certeza faria com que a dama saísse do sério.

Levei a bandeja até a mesa e os servi.

– Ah que cabeça a minha. Não apresentei vocês. Bom esse é o Brian, e Brian esse é o Michael. O Michael trabalha aqui, mas é um amigo muito querido. - explicou.

O carinha estendeu a mão para me cumprimentar, e eu retribui, mas o que eu realmente queria era vê-la perder a paciência.

Assim que bebeu o suco, Carlla teve uma crise de tosse, mas para a minha infelicidade ela continuou como uma completa dama. Ela me olhou com um jeito feroz, como se quisesse arrancar um dos meus órgãos, mas simplesmente ignorou e bebeu o suco em uma só golada.

Então era isso, eu havia perdido a aposta e teria que acompanhá-la até a tal festa.