Não havia mais volta, estava tudo acabado entre nós. Mike ficou furioso por eu não ter contado sobre os meus planos para o futuro, e de certa forma eu acabei me ligando no motivo pelo qual ele havia ficado com tanta raiva. Provavelmente se sentiu traído, e o pior é que foi tudo por minha culpa.

Alguém bateu à porta cerca de uma hora depois, e eu corri na intenção de ser Mike, mas para minha surpresa era Nathalie.

– O que quer aqui? - Perguntei curiosa, porém direta. Ela apenas me observava como se estivesse me estudando. - Vai me dizer, ou terei que descobrir sozinha?

– Sabe, eu realmente queria saber o que o meu Mike viu em alguém tão sem graça como você. Precisava ver com meus próprios olhos, mas não, não tem nenhum tipo de atrativo, a menos que, ele tenha perdido o jeito com as mulheres, porque mesmo longe eu soube da fama que ele adquiriu depois que eu fui embora.

– Já acabou, querida? - Seus olhos orientais pareciam faiscar como uma forte labareda a procura de uma brecha para queimar por completo.

– Não sei o que fez com ele, mas eu voltei para ficar, e te digo com toda a certeza que esse homem será meu novamente, e não medirei esforços para que isso aconteça o mais rápido possível.

– Não vai machucá-lo!

– E você vai fazer o que se isso acontecer, puxar meu cabelo e quebrar a minha unha? - Indagou debochada como se duvidasse que eu realmente pudesse fazer alguma coisa.

Um enorme sentimento de fúria se apoderou de mim e eu me aproximei o suficiente para tornar-me ameaçadora.

– Experimente pensar em magoá-lo e eu acabo com a tua raça.

– Devo sentir medo? Se enxerga garota. O Mike nunca levaria alguém como você a sério.

– Ah claro, ele só leva as vagabundas a sério. - O sorriso vitorioso que Nathalie tinha nos lábios foi murchando aos poucos, dando lugar a um semblante mais sério. - Olha, me faça um favor, vai embora.

– Ainda não acabou! - Ela disse antes de ir.

Fechei a porta com força e fui me deitar. Aquela foi uma noite difícil, e eu não conseguia de jeito nenhum pegar no sono. Virava de um lado ao outro na esperança de relaxar o corpo, mas tudo o que vinha na minha mente era o fato de ter magoado o Mike por um motivo tão idiota.

Na manhã seguinte fui até o Taylor's na esperança de pelo menos me desculpar, e percebi que muitos na cidade me acompanhavam com o olhar. Uns pareciam ter pena, outros apenas balançavam a cabeça negativamente, já as garotas riam disfarçadamente. Mike não estava lá e um dos garçons disse que muito provavelmente ele teria ido para o celeiro. Antes de sair completamente do lugar, recebi uma mensagem de Carlla pedindo que eu a encontrasse na praça da cidade. Lucca James estava com ela, e haviam algumas malas em volta de ambas.

Carlla me deu um abraço tão forte que chegou a doer as costelas, e logo em seguida anunciou que estava indo embora de Ellsworth sem previsão de volta.

– Mas e o seu avô?

– Isa ficará com ele por uns dias até a minha mãe ajeitar a casa.

– Mas e você, vai ficar aonde?

– Ela vem comigo, Haley. Eu demorei muito pra perceber que a pessoa que eu queria ao meu lado na verdade sequer ligava para o que eu sentia, e quando conheci Carlla eu percebi que eu posso ser feliz com alguém que goste de mim de verdade. - Eu poderia jurar que os olhos da minha única amiga estavam marejados, mas ela era durona demais para se deixar derreter.

– Muchacha, eu preciso lhe dizer uma coisa... - Carlla começou, limpando a garganta para afugentar a voz embargada. - Mas quero que me prometa que vai pensar antes de agir.

– Assim você me assusta.

– Apenas Prometa! - Foi firme.

– Ta, ta bom, eu prometo.

– O Mike ontem estava muito mal com tudo o que aconteceu entre vocês...

– Estou mesmo a procura dele, preciso me desculpar.

– Eu não acabei de falar, apressadinha. - Ela disse me interrompendo. - Bom, aconteceu uma coisa que você não vai gostar de saber.

– Fala logo, estou ficando nervosa! - Enquanto Carlla tentava achar as palavras certas, Lucca ia colocando as malas no táxi que havia acabado de chegar.

– Serei direta. Ele estava mal, bebeu uma garrafa inteira de tequila e acabou saindo de lá com a Nathalie.

– O quê? - Grunhi, talvez alto demais para meu tom normal de voz.

– Nada de escândalos, você prometeu pensar antes de agir, então nada de sair por ai como uma louca. - Carlla advertiu-me e em seguida nos despedimos. Ela ainda me fez prometer que manteríamos contato diariamente, mesmo estando longe uma da outra.

Fiquei por volta de uns cinco minutos sentada em um dos banquinhos da praça pensando no que faria, e pela primeira vez eu estava assumindo para mim mesma que estava com ciúmes daquele idiota, mas apesar de saber que ele esteve com outra na noite anterior eu continuei o caminho até o celeiro.

Sua camisa xadrez azul estava jogada em cima de um amarrado de palha e Pegasus não estava em seu lugar. Mike provavelmente devia estar cavalgando. Eu esperei alguns minutos e então ele finalmente apareceu.

Assim que me viu seu semblante mudou, ficou mais sério e foi diminuindo a velocidade do cavalo selvagem até chegar onde eu estava.

– O que quer aqui? - Perguntou seco.

– Vim falar com você. - Sem olhar diretamente para mim, Mike amarrou as rédeas de Pegasus em um pedaço de tronco de árvore e em seguida cruzou os braços esperando que eu falasse. Ele estava suado, o suficiente para a camisa ficar colada ao corpo, e os cabelos que naquele momento eram maiores que o normal estavam desgrenhados. Era realmente desconcertante vê-lo daquela maneira e não poder me jogar em seus braços.

– Então, vai me dizer o que veio fazer aqui, ou não?

– Eu vim... Vim me desculpar por não ter feito a coisa certa. Eu sei que devia ter contado tudo, mas simplesmente não consegui, sinto muito mesmo.

– Tudo bem, já disse o que tinha pra dizer. – Ele falou sem esboçar nenhum tipo de reação.

– Não vai dizer nada?

– E o que quer que eu diga Haley? Que está tudo bem, que a raiva passou que vamos voltar a ser um casal? Desculpe-me, mas isso não vai acontecer. – Era nítido que ele ainda estava magoado, só não sabia era em tanta intensidade.

– Eu só queria que ficasse tudo bem.

– Está tudo bem, você pode ir para a faculdade tranquilamente e eu continuarei a minha vida aqui onde é o meu lugar.

– Pelo visto você já deu continuidade, não é mesmo? Fiquei sabendo que saiu do Taylor's acompanhado da Nathalie na noite passada. - Por mais que eu tentasse, também não escondia a mágoa que havia dentro de mim. Mike pareceu endurecer ainda mais e simplesmente respondeu que não era mais da minha conta o que ele fazia com a vida dele.

– Pense o que quiser, não lhe devo satisfações.

Não tentei mais argumentar com ele. Mike estava magoado e faria o máximo que pudesse para não deixar transparecer que não estava bem com toda aquela situação.

– Tudo bem. Adeus Mike. - Aquelas foram as últimas palavras que trocamos. Eu fui embora para casa com o coração partido e transbordando de culpa. Não queria que tivesse acabado daquela forma, na verdade não queria que tivesse acabado, mas meus atos imprudentes acabaram resultando nisso, e não havia mais nada que eu pudesse fazer para melhorar a situação.

[...]

Depois de alguns dias de muita correria, eu finalmente estava pronta. As malas já estavam no carro, e um pequeno grupo de pessoas me esperava do lado de fora a minha espera. Alanis foi a primeira a me cumprimentar.

– Faça uma boa viagem, cunhadinha. Eu queria poder te acompanhar, mas preciso ir para a loja do meu pai.

– Tudo bem, só me prometa que vai cuidar bem do meu irmãozinho caçula.

– Quanto a isso não tenha dúvidas. - Ela respondeu alegremente.

– Apesar do nosso início meio conturbado, eu gostei muito de conhecer você. - Foi a vez de Isa se despedir.

– É verdade, você achava que eu era afim do Dennys, logo do Dennys!

– Ei, é de mim que as moças estão falando. - Dennys defendeu-se como se estivéssemos falando mal dele.

– Eu sei disso, queridinho. E ai daquela que tacar o olho no meu macho!

– Não posso fazer nada se as mulheres me acham um gato! - Ele respondeu maroto, mas logo precisou se defender dos tapas que Isa depositou em seus braços.

– Minha menina, vou sentir tantas saudades. Se alimente direitinho, de três em três horas. - Anna disse, me dando um enorme abraço em seguida.

– Pode deixar, Anna. Vou me cuidar direitinho e prometo sempre vir nos fins de semana.

– Hay temos que ir, está na hora. - Johnny disse, com uma das mãos apoiadas no meu ombro.

Abracei a todos novamente, e tive que me segurar para não chorar, porque apesar de não gostar de Ellsworth, eu gostava das pessoas que havia conhecido. Ali eu tive a oportunidade de começar novamente a minha vida, eu tive uma nova chance e agora estava na hora de seguir em frente.

Abri a porta carro pronta para encarar o que vinha pela frente. Me permiti pelo menos por alguns segundos olhar em direção ao trailer, e ele estava lá, ao longe, olhando em minha direção. Eu gostaria que Mike estivesse comigo, mas sei que do jeito como estava na última vez que nos falamos ele não apareceria, então respirei fundo e entrei no carro. Papai e Johnny me acompanhariam até Lawrence, a cidade que eu moraria a partir daquele momento.