POV Mike

Depois que a NI foi embora eu continuei ali, deitado, pensando na vida, e no porque ela havia feito tudo aquilo por mim. Não havia um motivo, já que ela me detestava, e além do mais, era também estranho.

Peguei o celular em cima da TV e disquei o último número.

– Olá morena! Está ocupada no momento? - perguntei, desejando que ela estivesse livre, pois precisava de alguém para conversar, ou então surtaria ali sozinho.

"Não, pode falar, Mike" disse ela do outro lado da linha, e um grande alívio tomou conta do meu peito.

Pedi que viesse até o trailer, e ela concordou de imediato. Fiquei ali, observando o corte na minha barriga e foi inevitável não lembrar de como Haley foi atenciosa comigo.

"Haley" é estranho me referir a ela pelo nome, já que estou tão acostumado a chamá-la pelo apelido, e mais estranho ainda é perceber que estou sorrindo ao pensar nela. Não, definitivamente não posso fazer isso.

Enquanto espero, tento me esvair dos pensamentos, mas parece impossível, aquela garota não sai da minha cabeça.

Dou graças a Deus quando ouço o barulho do carro do lado de fora. Não esperei que batessem na porta, simplesmente levantei e fui até lá.

– Prontinho muchacho, cheguei. - Carlla disse divertida assim que desceu do veículo.

– Finalmente. Pensei que teria que buscá-la em algum botequim. - respondi sarcástico.

– Muito engraçado, mas você sabe que não temos botequins em Ellsworth, ou seja, só posso me embebedar no Taylor's. - retrucou de forma irônica, elevando uma das sobrancelhas.

– Você estava lá? - ela afirmou com a cabeça e ainda disse que ficou esperando por horas que a NI aparecesse, mas que havia levado um bolo.

Não sei se cheguei a fazer alguma cara diferente do normal, mas Carlla sacou de imediato que o sumiço dela não foi por mero acaso.

– Tá, pode me dizer o que ta rolando!

Dei caminho para que ela entrasse no trailer. Sentei-me de frente a ela e lhe mostrei o corte.

– Nossa, isso está bem feio. Você tem que ir ao médico. - eu afirmei com a cabeça e lhe expliquei o porque Haley não havia aparecido no Taylor's. Ela simplesmente estava ali, cuidando de mim.

Carlla parecia escolher as palavras que queria usar.

– Ta me dizendo que ela me largou lá pra vir cuidar de você? - Perguntou e eu confirmei. - Isso ta mais sério do que eu pensava!

– O que está mais sério do que você pensava?

– Não, nada, deixa pra lá. - ela disse. Eu achei estranho, mas não insisti no assunto e dei de ombros.

Depois de um pouco, quer dizer, muito enrolar, eu não consegui mais aguentar o bolo que estava em minha garganta e me abri com ela. Nem mesmo eu entendia o motivo, mas Carlla era a única pessoa no mundo em que eu confiaria uma conversa desse tipo. Ela ouviu atentamente caada palavra, e não se pronunciou em nenhum momento até que eu terminasse de falar.

– Olha Mike vou ser bem direta. - Disse ela, dando uma pausa e continuando. - Enquanto for esse cabeça dura que é, você nunca vai aceitar os fatos. Você simplesmente está apaixonado pela Haley.

– Quê? Carllinha meu amor, acho que você está um pouco enganada.

– Ai credo! Detesto apelidos com meu nome. Mas não, não estou. Não acredito que vou dizer isso de novo, mas você só está em negação.

– Não estou! Não estou apaixonado nem por ela, nem por nenhuma outra mulher. Mike Matson não é tão fraco a esse ponto.

Ela simplesmente riu do comentário que eu havia feito, então mudamos de assunto. Carlla me contou tudo que havia acontecido durante o tempo em que eu estava ausente, e quando já era tarde o suficiente ela foi embora.

Pela primeira vez em cinco dias eu dormi sem febre. O sono não foi interrompido nenhuma vez. Uma noite inteira, calma e tranquila.

Acordei as sete e meia da manhã com alguém batendo insistentemente na porta. Antes de levantar olhei o corte e vi que estava bem menos inchado e vermelho. Arrastei o lençol para o lado e fui atender a porta.

– O que faz aqui a essa hora da manhã, NI? - Perguntei entre um bocejo e outro.

Notei que ela havia ficado envergonhada quando me viu, e só então percebi que estava de cueca.

– Apreciando a paisagem? - Tornei a perguntar, porém agora sarcasticamente.

Ela balançou a cabeça em negativa, como se quisesse afastar os pensamentos.

– Vim apenas me certificar de como está o corte, mas como já vi que está melhor, vou embora.

E ela realmente estava indo a passos largos, quando algo dentro de mim gritou em protesto. Andei até ela, segurando seu braço suavemente. Ela não esperava por aquele gesto e acabou levando um susto. Haley me olhou profundamente, como se quisesse me dizer algo.

– Desculpe, não quis assustá-la.

– O que quer Mike? - Perguntou brutamente.

– Quero apenas dizer obrigado...sabe, por tudo o que fez por mim.

Notei que seus olhos acinzentados mostravam um brilho diferente do habitual.

– Não foi nada. - Ela disse e eu discordei.

– Na verdade foi sim. Você se preocupou por eu estar sumido, e não sossegou até que tivesse cuidado de mim. Quero lhe propor o seguinte... - Ela me olhou curiosa, com uma das sobrancelhas arqueadas.

Limpei a garganta e lhe estendi a mão.

– Quero lhe propor uma trégua. Vamos parar de brigar e trocar farpas um com o outro, e vamos ser amigos.

– Pensei que já fôssemos amigos. - ela respondeu com a cabeça pendada de lado.

– Não, não. Eu nunca teria beijado uma amiga. - Haley baixou os olhos, e vi que havia ficado corada com o comentário. Não que seu beijo tenha sido ruim, muito pelo contrário, Jason tinha razão quando disse ter sido o melhor que já havia experimentado, mas não podia me deixar levar por sentimentos inconclusivos.

NI pareceu pensar no que diria, mas acabou aceitando a proposta e então trocamos um sincero aperto de mãos, pela primeira vez.