Vida em Erebor escrita por Vindalf


Capítulo 7
Nas minas do rei Thorin


Notas iniciais do capítulo

Anna conhece as forjas



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Nas minas do rei Thorin

Anna conhece as forjas

O pequeno grupo começou a descer por caminhos que Anna nem suspeitava que existissem. Era um verdadeiro labirinto de caminhos sinuosos entre as rochas, totalmente diferente da cidade na montanha. Havia iluminação, mas era um lugar escuro até Anna observar a imensa caldeira que beneficiava metal líquido incandescente.

Um anão veio correndo até eles, e então fez uma mesura:

— Rei Thorin, bem-vindo. Sou Gildail, mestre da Liga dos Ferreiros.

— Um bom dia, Mestre Gildail — respondeu Thorin. — Vim mostrar as minas à minha Consorte, Anna. Ela nunca esteve numa mina antes.

O chefe da liga curvou-se:

— Bem-vinda, minha senhora. Espero que aprecie nosso trabalho.

Anna respondeu ao cumprimento:

— Até uma pessoa leiga como eu já ouviu as lendas sobre o extraordinário talento dos anões. E dentre os reinos dos anões, Erebor sempre foi considerado o mais talentoso.

— E voltará a ser, com as bênçãos de Mahal. — Ele se dirigiu a Thorin. — Por onde Sua Majestade gostaria de começar?

— Pelas forjas — respondeu Thorin. — Elas já estão funcionando a contento?

— Apenas três, das cinco originais, Majestade — respondeu o Mestre da Liga. — Mas já estão produzindo, e é questão de dias até estarmos em força total.

— Excelente. Agora prossiga, por favor.

O que veio a seguir foi uma enxurrada de explicações sobre ourivesaria e metalurgia que deixou Anna tonta. Ela ainda tinha dificuldade de absorver o cenário à sua volta. O ambiente era bem arejado graças à imensidão dos salões, mas as forjas deixaram-na boquiaberta. Eram mais altas do que um Airbus, e certamente geravam tanto calor quanto um — ou dois. Ela ficou arrepiada ao ver o metal líquido incandescente escorrer por canaletas compridas antes de ser moldado pelos instrumentos de hábeis artesões.

Andaram por outros salões e o Mestre da Liga explicava que nem todos os setores estavam recuperados do estrago do dragão. As marcas de Smaug ainda perdurariam por anos.

— Aqui ficarão os ourives e polidores, assim que os mineiros de pedras estiverem instalados — continuava o anão, animadamente. — Todos nas Colinas de Ferro já ouviram falar dos veios ricos e das pedras magníficas de Erebor.

Anna comentou:

— E não vai demorar para isso voltar a acontecer, tenho certeza. Erebor voltará a ser o grande reino de antes em breve.

— Mahal a ouça, senhora.

Thorin indagou:

— Está cansada, minha pequena? Acho melhor encerrarmos a visita.

Anna concordou:

— Tem razão, marido. Já atrapalhamos demais o trabalho de Mestre Gildair. Mas eu quero voltar outras vezes e ver o progresso da recuperação das minas.

— Não faltará ocasião — garantiu Thorin. — Ao menos até seu confinamento.

Mestre Gildair desejou:

— Que Suas Majestades possam ser abençoadas com um lindo príncipe para a linhagem de Durin. A visita do Casal Real muito nos honra.

Anna o cumprimentou:

— Obrigada por sua paciência comigo. Estou maravilhada com tudo que vi e encantada com seu trabalho.

Ele fez uma reverência:

— Minha senhora é muito gentil. Que as bênçãos de Mahal se derramem sobre toda a família real!

O grupo subiu de volta à ala real. Mas Anna ainda não estava pronta a voltar para seus aposentos.

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— Sente-se melhor, milady?

Anna sorriu:

— Graças a seus cuidados, Mestre Óin! Fico muito agradecida.

— Precisa se cuidar, minha rainha. Deve comer bem e descansar, para o bem de nosso principezinho.

— Na verdade, vim apenas saber se recebeu os suprimentos que comprei na feira em Valle.

— Oh, sim, é claro. Chegaram bem.

— E vão servir? São de boa qualidade?

— Claro que não se comparam às ervas que os elfos nos deram, mas vão servir.

— Fico imaginando se também não deveríamos plantar estas ervas — especialmente esta erva do rei. Ela parece ser muito útil.

Thorin observou:

— Parece gostar de plantar na terra, minha pequena.

— É engraçado, porque não faço ideia de como se planta. Mas acho que um canteiro de ervas medicinais pode ser muito útil, especialmente com um bebê novo, não acha?

Óin admitiu:

— A ideia faz sentido, milord. Mas onde poderia plantar tais ervas na montanha?

Thorin respondeu:

— Minha avó cultivava um jardim de flores num terraço na face sul. Meu irmão Frerin era proibido de entrar lá pelo estrago que fazia às plantas.

Anna notou o ar melancólico de Thorin ao falar de Frerin, mas resolveu não desviar o assunto:

— Acha que o terraço ainda existe?

— Quando ela morreu, o rei meu avô mandou fechar os terraços e toda aquela ala. Podemos ver o que sobrou do lugar. Mas eu não teria esperanças.

— Vamos deixar para desistir só depois de ver o lugar, não é melhor?

— É claro, minha esposa.

Fíli se ofereceu:

— Posso tentar olhar isso agora mesmo, Anna. Lembra onde ficavam os terraços, Thorin?

— Ao lado do quarto da rainha, na face leste — respondeu o rei. — Está fechado.

— Não por muito tempo — garantiu Kíli, animado. — Vou com você, irmão.

Os dois saíram correndo, animados feito crianças. Anna virou-se para Óin:

— E como estão nossos pacientes? Estão melhores?

O curador abriu um grande sorriso:

— Todos estão bem, mas sentem sua falta, pequena. Acostumaram-se às suas visitas.

— Oh, eu gostaria de vê-los. — Ela se virou para Thorin, indagando: — Importa-se, esposo, que eu faça essa visita aos doentes?

— Claro que não. Vamos lá.

Houve grande comoção entre os acamados ao verem o rei e a consorte. Thorin observou a reação dos doentes ao ver Anna. Muitos se dirigiram a ele, abençoando os dois e fazendo votos de um principezinho saudável e corajoso para o povo de Durin. Anna indagava pela saúde de cada um, satisfeita pelos poucos que receberam alta. Thorin notou o conforto que os doentes sentiam, e Anna parecia estar sempre disposta a sorrir e ajudar, perguntando pela família dos guerreiros e seu estado.

Ao fim do dia, Anna se despediu e o casal subiu para a ala da família real. Só então Anna notou a movimentação pelos corredores.

— O que está acontecendo ali?

Thorin respondeu, entrando no quarto:

— Estamos fazendo uma readequação por toda a ala. Espero que não se incomode com as obras.

— Mas readequar por quê?

— Dori reparou que quando você tiver uma criada, precisará de um quarto de vestir. Também o quarto do bebê precisava estar mais próximo das criadas.

Anna indagou:

— Criadas? Mais de uma?

— Bom, você terá uma e certamente Dís terá outra.

— Oh, claro. E também há o quarto de Dís a preparar.

— Além disso, suspeito que Fíli e Kíli já começaram a mexer no seu terraço.

Anna se deu conta:

— Ai, meu Deus, Thorin, o bebê!... Não temos nada para o quartinho dele!

Ele sorriu e beijou a testa dela:

— Sossegue, ghivashel. Já tenho dois especialistas trabalhando nisso.

— Especialistas?

— Bifur e Bofur estão encarregados de criar móveis para o herdeiro de Durin. Menos o berço.

— Por que não o berço?

— Eu faço questão de fazer o berço de meu filho com minhas próprias mãos.

Anna se derreteu:

— Oh, Thorin...

— Espero que um dia ele possa passar o berço para seu filho, e que ele possa passá-lo para o filho de seu filho.

— Isso é lindo, meu amor.

— Amanhã mesmo vou à floresta. Dwalin falou de um carvalho que pode servir.

— Você sabe trabalhar em madeira também?

Ele deu de ombros:

— Fui obrigado a aprender muitas coisas durante os anos de exílio. Mas hoje me servem bem.

— Por um momento tive a ideia de que faria o berço de nosso filho todo em ouro e pedras, uma coisa assim.

— Preferiria um berço de ouro?

— Não, em absoluto. Seria muita ostentação. Só imaginei se era tradição para os filhos de Durin.

— Não é. Mas mesmo se fosse, não seria possível até a montanha voltar ao que era.

— Isso vai ser mais cedo que pensa, tenho certeza.

Ele a abraçou:

— Graças a você.

Anna plantou um beijo nos lábios dele antes de indagar alegremente:

— Vamos comer? Estou ficando com fome.

Ele abriu um sorriso.

— Vou ter que contar isso a Óin. Ele vai adorar saber.

Depois da refeição, os dois permaneceram na cama, fazendo planos para o futuro, desfrutando um do outro num raro momento de tranquilidade. Anna valorizava muito esses momentos, sabendo que a vida deles tomaria outro ritmo com a chegada do bebê.

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Os pesadelos de Anna foram se tornando mais espaçados e menos assustadores graças à presença e o apoio constante de seu marido. Após alguns dias, a rotina de Anna foi interrompida pela chegada de Andoras, enviado de Valle para ajudar nos futuros campos de cultivo de Erebor.

Andoras não viera sozinho: um fazendeiro e dois ajudantes o acompanhavam para avaliar o estado do solo e possibilidades de cultivo. Oficialmente, Dori era o encarregado da negociação, mas Anna fez questão de estar presente, e aí Thorin concordou em acompanhar as tratativas.

O local escolhido para os campos ficava na face sul da montanha: era plano, ensolarado, e uma vegetação rasteira tímida tentava se insinuar em meio à desolação de Smaug. Um braço do rio corria ali perto, caudaloso, antes de desembocar no mar.

— Não será difícil irrigar a lavoura — observou Andoras. — O terreno parece bom. A grama é um bom sinal.

Dori observou:

— É plano e parece ter sofrido menos com o dragão.

O fazendeiro indagou:

— Posso verificar o solo?

Thorin aquiesceu e ele levou uma pá até o local. Cavou um pouco, viu que havia gelo, e voltou. Fez um diagnóstico rápido:

— Não será necessário tanto adubo, ao menos na primeira colheita, Lord Andoras.

— E as culturas?

— Parece ser indicado para plantar raízes e grãos.

Anna se animou:

— Isso é bom! Raízes e grãos normalmente têm alto valor nutritivo.

Andoras a encarou:

— Isso é relevante?

— Essas culturas evitam doenças, pois deixam as pessoas saudáveis — explicou Anna. — Um povo saudável e bem-nutrido produz mais e é até mais feliz. Grãos fortes como trigo, aveia e centeio são muito bons. Milho é outro. Mas há raízes boas, como batata e cenoura.

O fazendeiro disse:

— A senhora consorte tem razão. Mas a terra vai precisar de adubo.

Andoras disse:

— Para isso vamos precisar de uma criação. Pode ser pequena, a princípio, mas será muito útil. E poderá nos fornecer o adubo, além de ovos, leite e carne.

Anna sorriu, entusiasmada.

— Excelente!

Dori indagou:

— Que quer dizer com criação?

— Animais, Mestre Anão — respondeu Andoras. — Cabras, vacas, porcos, galinhas.

Anna virou-se para o marido.

— O que acha, Thorin?

Ele respondeu:

— Soa bom, mas não sabemos ainda se há homens interessados.

Andoras respondeu:

— Tivemos algumas respostas positivas. Há interessados, sim.

Anna ressaltou:

— Seria melhor que fossem famílias. Nada combina mais com fazenda do que famílias.

O fazendeiro observou:

— O lugar parece ter espaço suficiente para assentar mais de meia dúzia de famílias e sua criação. Se houver interesse em uma plantação grande, será necessário realocar para um local mais espaçoso.

Thorin ressaltou:

— Antes de pensarmos em expandir, vamos ver como esta experiência vai resultar.

Andoras olhou em volta e sorriu pela primeira vez:

— Acho que vai valer a pena. Madame consorte não exagerou: aqui pode haver vantagem tanto para Valle quanto para Erebor.

Anna também sorriu, esperançosa. Thorin respondeu com outro sorriso. A primeira visita de uma autoridade estrangeira para Anna tinha aparentemente tinha sido um sucesso.

E é claro que o banquete com canto e dança tinha ajudado.


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