Vida em Erebor escrita por Vindalf


Capítulo 5
Volta para casa


Notas iniciais do capítulo

Anna mal pode esperar para ficar com Thorin



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5.

Volta para casa

Anna mal pode esperar para ficar com Thorin

No dia seguinte, para surpresa de Anna, Dwalin se juntou à comitiva. Na verdade, por ordem de Thorin, ele chegara na madrugada para obter um relatório completo e reforçar a escolta. Apesar de Anna achar a medida um exagero de Thorin, ela se sentiu confortada.

Então, após as despedidas formais ao rei Bard e seu enviado especial Andoras, a comitiva de Erebor começou a viagem de volta. Não antes, contudo, de Anna procurar Madame Hila e despedir-se dela pessoalmente, combinando uma ida da costureira a Erebor assim que fosse possível. Afinal, com a confusão, todas as encomendas das costuras e do enxoval do bebê tinham ficado pela metade. Anna sentiu uma profunda empatia pela anã com quem dividira momentos de desespero.

A viagem pareceu demorar ainda mais para Anna, ansiosa por chegar em casa: sua montanha. A moça sentia uma inquietação interna. Ela não sabia explicar, só sentia que queria chegar logo para junto de Thorin.

Mal o grupo chegara ao campo esturricado de fogo de dragão conhecido como Desolação de Smaug, um cavaleiro solitário veio na direção deles. Os olhos de arqueiro de Kíli foram os primeiros a detectá-lo:

— Alguém se aproxima!

Anna ficou tensa. Dwalin imediatamente pôs-se a despachar ordens em Khuzdul:

— [Em formação! Protejam a rainha! Kíli, comigo!]

Os guardas se puseram cada um a cada lado de Anna. Glóin ficou à frente dela e Dori tomou a retaguarda, tomando os pôneis de carga. Dwalin e Kíli dispararam na frente.

Anna estava tensa, já checando mentalmente se pusera as facas no cano da bota. Mas então ela reconheceu o cavaleiro:

— É Thorin!

Glóin também reconheceu:

— É o rei! Abram alas para o rei!

Anna sentiu o coração se acelerar ao ver o marido chegando a galope. Os guardas abriram caminho e Thorin desceu do cavalo, apressado.

Ghivashel! — Ele a ajudou a apear, abraçando-a com fervor. — Como está? Oh, como senti sua falta!...

Anna não parava de sorrir, agarrada a seu marido.

— Estou melhor, agora que está aqui, meu rei.

— Você vem comigo até Erebor — disse ele, de maneira decisiva. — Queria buscá-la assim que soube do que aconteceu, mas Balin me impediu de ir até Valle.

Anna comentou:

— Sábio Balin.

— Vamos, eu a ajudo a subir.

Os dois se ajeitaram no pônei de Thorin, e Anna ia na frente de seu marido, sentindo o calor do corpo dele às suas costas. Era uma sensação ótima.

— Óin quer examinar você imediatamente — adiantou Thorin. — Ele fará isso assim que chegarmos, enquanto eu reúno o Conselho para examinarmos os frutos da missão.

Anna ficou decepcionada, pois queria passar tempo com seu marido, mas apenas respondeu:

— Eu estou bem, marido. Não quer que eu esteja nessa reunião para dar meu relatório?

Ele se aproximou do ouvido dela e disse, sensualmente:

— Glóin pode dar o relatório. Quero que me espere em nosso quarto, de onde provavelmente não sairemos antes de uns dois dias ou mais.

Um arrepio de desejo percorreu o corpo de Anna com as palavras dele. Ela suspirou:

— Vou esperar ansiosamente...

O pônei acelerou o passo na direção da montanha.

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Depois de responder com paciência às perguntas de Óin ("Sim, eu descansei", "Não, não sei o que tinha na tisana do médico de homens", "Não passei por dores"), Anna já não estava tão paciente para aguardar Thorin, como combinado. Na verdade, ela se sentia angustiada, e não entendia o motivo de tal aflição.

Para se ocupar até Thorin se desvencilhar da reunião, Anna decidiu desfazer as malas. Estava quase terminando quando ouviu uma batida à porta e a voz de Dori:

— Milady, é Dori.

— Pode entrar!

Ele obedeceu, trazendo uma bandeja grande com frutas, pão, queijo e vinho. Ele pôs na mesa de centro:

— Óin disse que deveria comer alguma coisa. Diz que é bom para o bebê.

— Não tenho fome, mas talvez eu faça um sanduíche de queijo mais tarde.

Dori insistiu:

— Óin insistiu para que comesse. E vai fazer um quê de queijo?

— Sanduíche — repetiu Anna. — Sabe, colocar uma fatia de queijo entre duas fatias de pão. Nunca fez isso?

— Não. Incomoda-se de fazer uma demonstração do preparo?

— Mas é tão simples. Olhe só.

Admirada, Anna cortou duas fatias de pão e uma de queijo e montou o sanduíche.

— Depois, é só comer. Prove.

Ele obedeceu e abriu num sorriso, admirado.

— Que ideia fantástica, milady!

Anna se riu:

— Isso é tão comum na minha terra que estou espantada por não ter mencionado antes.

— Oh, é comida do futuro, então?

— E bem prática — acrescentou Anna. — Porque a gente pode usar todo tipo de ingrediente no sanduíche: queijo, presunto, carne, ovo, legumes, até frutas! E também pode colocar outros ingredientes nas fatias de pão, como manteigas, pastas, cremes e geleias.

Dori disse, animado:

— Pequena, precisa ensinar isso a Bombur!

Uma voz diferente chamou a atenção dos dois:

— Ensinar o quê a Bombur?

Dori fez uma mesura antes de responder, animado:

— Comida do futuro, Majestade! Sadiches!

Anna cortou o sanduíche ao meio:

— O nome é sanduíche, Thorin. Quer provar?

Ela pôs um pedaço na boca dele, que assentiu:

— Nada má, essa comida do futuro. Mas aposto como a orientação de Óin era para que você comesse.

— Verdade, Majestade. Devo deixá-los agora. — Dori fez outra mesura. — Se precisarem de alguma coisa, é só chamar.

— Obrigada por tudo, Mestre Dori.

O anão deixou o casal a sós e Anna perguntou:

— Correu tudo bem na reunião do Conselho?

Thorin aproximou-se de sua mulher, abraçando-a:

— Apenas mais uma reunião. Eu só pensava em você, ghivashel.

Anna se deixou abraçar, sentindo seu marido envolvê-la, suspirando:

— Meu amor... Eu estava com muita saudade. Foram noites bem solitárias.

Thorin a encarou, preocupado:

— E você está bem, não está? Óin a examinou?

— Sim, estamos bem. Nosso filho é forte: mostra ter puxado ao pai.

— Espero que ele puxe à mãe também — Thorin beijou a cabeça de Anna. — Oh, minha pequena. Agora você está em casa e eu estou tranquilo.

Abraçada ao marido, Anna deixou uma sensação de alívio passar por seu corpo, trazendo um bálsamo de paz. Ela disse, com sinceridade:

— Estou muito feliz por estar em casa.

Thorin usou um dedo para erguer o rosto dela e encarou-a. Anna olhou os olhos azuis profundos, apaixonando-se ainda mais. Ele acariciou o rosto dela com as costas da mão, sussurrando:

— Deixe-me mostrar como estou feliz... Quero me entregar a você e me perder em seus braços... Você jamais me deixará ficar perdido, pois é o meu norte e o meu futuro.

Anna respondeu, emocionada:

Ukruduh...

Thorin investiu contra ela num beijo apaixonado, ao qual Anna respondeu de maneira igualmente fervorosa. Num movimento impetuoso, ele a ergueu em seus braços para depositá-la com carinho na cama, murmurando:

Ghivashel...

— Meu rei...

Seus lábios se encontraram novamente, sequiosos um pelo outro. Logo o casal entregou-se à paixão, absortos um pelo outro. A atividade consumiu-os durante horas, sanduíches e frutas esquecidos.

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Thorin Oakenshield podia ter o sono leve, quando queria. Mas não quando estava dormindo em seu quarto, com sua esposa, dentro da montanha que era uma fortaleza. Por isso, nessas circunstâncias, um barulho capaz de acordá-lo precisaria ser bem alto ou bem próximo.

Uma combinação dos dois era garantia de sono interrompido.

Quando Anna começou a se debater, Thorin ainda não estava totalmente acordado. Mas quando ela pôs-se a gritar, ele pulou da cama num reflexo, já indo pegar sua espada. Anna gritava sem parar e demorou alguns segundos até Thorin perceber que ela estava presa em algum tipo de pesadelo.

— Anna! Acorde!

Quando ele encostou nela, ela passou a gritar ainda mais alto e a se debater, lutando contra ele. O barulho atraiu Fíli, que entrou no quarto com duas facas em punho.

— Thorin!

Anna continuava agitada, e Thorin gritou:

— Fíli, traga Óin! Ela não quer acordar!

O rapaz saiu correndo, e Thorin continuou a abraçá-la:

— Anna, por favor, meu amor! Ouça! Sou eu, ghivasha. É só um pesadelo!

Anna chorava, descontrolada:

— Tanto sangue! Oh, tanto sangue!

— Olhe para mim! — Ele pedia, desesperado. — Olhe para mim, Anna!

Finalmente, os olhos assombrados pareceram ter uma faísca de consciência, e ela se agarrou a ele:

— T-Thorin...?

— Sou eu, meu amor, sou eu. — Ele a acariciava, notava a pele fria e suarenta. — Pode me ver?

Ela o agarrou, caindo em prantos:

— Oh, Thorin...!

Ele a abrigou em seus braços, notando o quanto ela tremia. Nesse momento, Fíli voltou com Óin. Anna não registrou a entrada deles, agarrada a Thorin e alheia ao mundo lá fora. O curador indagou:

— O que houve, meu rei?

— Pesadelo, muito ruim. Ela está gelada! — respondeu. — Óin, o que pode fazer?

O curador pediu a Fíli:

— Preciso de água quente para um chá, meu jovem. Rápido! — Fíli saiu e Óin sentou-se na cama. — Por favor, Majestade, eu preciso de espaço.

Embora relutante, Thorin tentou se desvencilhar dos braços de Anna:

— Meu amor, veja: Óin está aqui. Ele quer ver você.

Anna se agarrou a ele ainda mais:

— Não! Não me deixe!

Thorin teve que tirar os braços dela:

— Está tudo bem. Eu ficarei aqui. Óin só quer vê-la um pouco.

— Thorin, não saia, por favor!

— Estou aqui. Não vou sair.

Óin a encarou e disse, com determinação:

— Preste atenção, pequena. Está muito nervosa, e isso não faz bem à criança. Está me ouvindo?

Anna soluçava, agarrando a mão de Thorin.

— Sim...

— Ótimo — disse o curador. — Quero que respire fundo, o mais fundo que puder. Vamos, respire — Esperou que ela obedecesse. — Isso, muito bem. Agora continue enquanto eu lhe digo o que deve fazer. Você vai tomar um chá quente, com ervas, e depois vai deitar. Precisa descansar e se alimentar bem. Também é fundamental manter-se aquecida.

Concentrada em respirar, Anna parara de chorar e soluçava de vez em quando. Fíli voltou com a água e Óin colocou algumas ervas na água, instruindo:

— Estará bom para beber em uns minutos. Beba tudo e fique deitada. Cubra-se bem. — Ele se virou. — Majestade, confio que vá cuidar para que ela descanse e não se agite.

— É claro. Agradeço por tudo, Óin.

— Chame se precisar.

Ele fez uma reverência e saiu, Fíli também. Thorin acariciou Anna.

— Melhor?

— Sim. Desculpe por isso. Não sei o que me deu.

— Não tem do que se desculpar. Kíli me disse que também teve pesadelos na cidade de Valle.

— É verdade.

— Ele também disse que não quis falar sobre eles. Eu ia sugerir que falasse a esse respeito, mas prometi a Óin que não a deixaria agitada. — Anna não sabia o que dizer, mas Thorin lembrou: — O chá já deve estar bom.

Preparou o chá e serviu a esposa. Ela tomou um gole, sorrindo:

— Obrigada por tomar conta de mim.

Thorin deu um daqueles sorrisos com os olhos:

— Não quero arriscar desapontar Óin. Mas agora estou num dilema.

Anna tomava seu chá e repetiu:

— Um dilema?

— O que devemos fazer para passar o tempo? Você não deve sair da cama, e eu tenho algumas ideias de coisas que poderíamos fazer. — Anna enrubesceu, e Thorin achou aquilo adorável. — Mas Óin foi claro ao dizer que você não deve se agitar, e aí minhas ideias todas ruíram!

Anna riu alto, censurando:

— Thorin, seu devasso...!

Ele deu de ombros:

— É que eu preciso acompanhar minha rainha insaciável.

Os dois se riram e Anna terminou seu chá, comentando:

— Nossas opções parecem mesmo ser limitadas. Que infelicidade!

Thorin lembrou:

— Há uma coisa que não fazemos desde que a nossa noite de núpcias. Espere.

Thorin foi remexer num dos baús, enquanto Anna confessava:

— Mas eu pensei que nossas opções excluíssem as coisas que fizemos na noite de núpcias.

— Nem tudo — garantiu ele. — Aqui está.

Para surpresa de Anna, Thorin mostrou a harpa dourada. Ele tocara para ela durante os momentos de intimidade na noite de núpcias, uma memória que Anna carregaria para o resto de sua vida. Agora ela sorria, feliz.

— Sim! Música! Vamos, sente-se aqui perto de mim.

— Então deite-se, como Óin recomendou.

Anna obedeceu, animada como uma garotinha. Thorin ajeitou-se perto dela, e sons melodiosos encheram o quarto. Ele cantou a Canção da Montanha Solitária, e Anna sentiu seu coração ficar leve, enquanto o chá fazia efeito.

Não demorou para ela mergulhar num sono profundo. Thorin pôs a harpa de lado e ajeitou-se junto a ela, seu coração pesado.

Palavras em Khuzdul

ghivasha = tesouro

ghivashel = tesouro de todos os tesouros

ukurduh = meu coração


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