Vida em Erebor escrita por Vindalf


Capítulo 24
A notícia inesperada


Notas iniciais do capítulo

Anna é informada do preço do milagre



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A notícia inesperada

Anna é informada do preço do milagre

A primavera passou e o verão avançou, célere, enquanto Anna se acostumava aos deveres de mãe, esposa e consorte sob a montanha. Ela também tinha os papéis de cunhada de Dís e tia de Kíli e Fíli. A companhia normalmente ia visitá-los, especialmente o bebê, que crescia e interagia mais. Bofur estava apaixonado por Darin, que por sua vez vivia fascinado pelas abas de seu chapéu.

Anna fazia visitas à enfermaria, às famílias de khazâd que passavam por dificuldades, à cozinha real e às lavouras, que estavam prestes a apresentar os primeiros brotos. Seu próprio jardim também começava a brotar ervas. Ela colocava Darin sentadinho no moisés, sob a supervisão de Hila, e ficava dando conta das ervas daninhas. Quando o sol ficava muito forte, Anna pedia a Hila para levar Darin para dentro da montanha.

Óin estava muito satisfeito com o progresso de Anna e o bebê. O menino tinha a saúde típica de um khuzd: forte como um touro. E Anna se recuperava bem do parto difícil. O velho curador sorriu:

— Ah, pequena, está muito bem - quase boa.

— E vou poder retomar meus deveres de esposa? Thorin e eu planejamos dar um irmão ou irmã a Darin assim que possível.

— Ah, minha rainha. — O sorriso dele caíra. — Pensei que a parteira tivesse lhe dito.

— Dito o quê?

Pesadamente, Óin respondeu, com o olhar mais triste que Anna já vira:

— Seu parto... foi muito difícil, minha senhora. Foram necessárias medidas extremas para salvar sua vida. Lamento. Não poderá mais ter filhos. Sinto muito.

Anna o encarou, chocada. Uma onda fria percorreu seu corpo, num choque gelado. Ela jamais esperava ouvir aquilo.

— Não...?

Ele abaixou a cabeça.

— Eu falhei com minha senhora. Perdão, milady.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Anna sem que ela percebesse. Ela tentou dizer:

— Oh, Óin, não pense assim. Salvou minha vida. Eu lhe sou grata por poder conhecer meu filho e estar ao lado de meu marido. Minha vida está completa e é muito preciosa para mim. Mahal sabe o que faz.

O anão estava comovido.

— Eu sinto muito, muito mesmo, minha senhora.

Anna tentou engolir as lágrimas, dizendo para Óin e para si mesma.

— Não fique assim, meu amigo. Vai dar tudo certo. Eu estou bem e estou muito feliz que Darin seja saudável. Ele é o presente que Mahal deu a mim e a Thorin, precioso e único.

Óin olhou para ela e assentiu:

— Em no máximo duas semanas já poderá retomar suas... er... atividades.

— Obrigada. — Num impulso, Anna esticou-se na ponta dos pés para beijar sua fronte. — Óin, muito obrigada por tudo que fez por mim e meu filho.

Embora por fora Anna parecesse conformada, por dentro a notícia a deixara arrasada. Ela tinha muita vontade de ter um outro filho, quem sabe uma menina. Na sua fantasia de ter uma filha caçula, Anna imaginava que Thorin se derreteria por sua princesinha, e Darin seria um irmão mais velho protetor. E os tios Bifur e Dwalin seria convidados constantes para tomar chá de mentirinha com as bonecas feitas por Bofur.

Mas agora ela sabia que nada disso se tornaria verdade. Nada de menininhas de olhos azuis para ela e Thorin.

— Madame? — A pergunta de Hila a devolveu à realidade. — Não se sente bem?

Ao ver a expressão preocupada no rosto da amiga, Anna não teve coragem de mentir.

— Acho que fiquei cansada, Hila. Vou me deitar um pouco. Incomoda-se de olhar Darin para mim um pouco?

— Claro que não, senhora. Se quiser, eu chamo o curador ou peço uma tisana.

— Obrigada, mas está tudo bem — disse Anna, sabendo perfeitamente que não estava. — Vou subir.

Anna pensava em se isolar um pouco, esconder sua dor sem que os outros percebessem. Ela devia saber que isso não ficaria despercebido muito tempo.

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— Hila, minha cunhada não está com você?

— Lady Dís, a senhora Consorte disse que ia se deitar um pouco.

— Ela está doente? Chamou Óin?

Hila respondeu:

— Lady Anna foi ver o curador Mestre Óin, e depois foi se deitar.

Dís franziu o delicado cenho. Ela não gostava do que pensava.

Resolveu tirar isso a limpo sem demora.

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Assim que chegou a seu quarto e se viu sozinha, Anna desabou em um pranto tão longo e tão sofrido quer se surpreendeu consigo mesma. Aparentemente, ela tinha subestimado o desejo de ter mais filhos, se era essa a veemência de sua dor.

Era bom poder desabafar assim sozinha. Se Thorin a visse daquele jeito, poderia se preocupar. Mas não havia nada que ninguém pudesse fazer, nem mesmo o poderoso Rei Sob a Montanha.

No mais, Anna não mentira a Óin. Ela sabia o quanto Darin era precioso, e agora ele se tornava ainda mais. Nunca o instinto de mãe se tornara tão feroz no peito de Anna.

Mas seria tão bom se as lágrimas secassem, ou quem sabe a dor parasse...

De repente, sem aviso, a porta se abriu, assustando-a, e Anna viu o cabelo comprido e escuro emoldurando uma silhueta compacta. Mas não era Thorin.

— Cunhada...! — exclamou Dís, ao vê-la em tal estado. — O que houve?

Anna estava lavada em lágrimas, tão deprimida que não conseguiu esconder ou arrumar uma desculpa. Dís ficou alarmada:

— Está sentindo dor? Quer que chame Thorin?

Finalmente Anna disse:

— Não, por favor. Não chame Thorin.

Dís se sentou na cama e pegou as mãos dela, dizendo:

— Então fale comigo. O que a deixou nesse estado, minha cunhada?

Ainda em prantos, Anna explicou o que tinha acontecido. A irmã do rei abrigou-a em seus braços, e as duas terminaram chorando e se consolando. Afinal, se esta era a vontade de Mahal, o que se poderia fazer?

Naquela noite, após o jantar, quando o casal estava a sós e Thorin indagou o motivo pelo qual Anna estava triste e retraída, ela lhe disse. A reação do marido não foi muito diferente dela própria. Ele a abraçou, dizendo:

Ghivashel, meu tesouro maior, me escute: Mahal me deu mais do que eu ousei sonhar. Não faltará amor a nosso inùdoy e ele será nossa alegria. A linhagem de Durin permanece.

Anna indagou, em voz baixa:

— E você vai me abandonar, agora que não posso mais ter filhos?

Com um olhar doce, o rei fez as costas de sua mão tocarem as faces de Anna, indagando:

— Por que pergunta isso, ghivashel? Não sabe que meu coração é só seu?

Ela baixou os olhos, chorando, numa voz miúda:

— Mas você quer ter mais filhos...

Thorin aparou as lágrimas dela em seu dedo, dizendo:

— Anna, minha pequena, escute com atenção: eu sou seu porque não poderia viver sem você. Já lhe disse que Mahal usou a bigorna e o machado para forjar você só para mim, e me forjou só para você. É a minha khebabinh, minha forjada. Ainda que não pudéssemos ter tido nem mesmo um filho, eu não poderia ser de mais ninguém a não ser você. Filhos ou não, eu nunca a deixarei.

Anna o encarou, insegura:

— Thorin... Vai ter paciência comigo? Desculpe minha fraqueza, mas eu queria tanto outro bebê...

Kurdu, você é minha esposa. Isso é suficiente para saber que eu jamais a abandonarei. Mas não deve esconder as coisas de mim. Como poderei consertar se não sei o que está errado?

Anna encarou os olhos azuis que tanto amava e deu um sorriso triste antes de acariciar a barba de seu marido, dizendo:

— Você se casou com uma mulher boba, Thorin Oakenshield. Mas sou boba de amor por você.

Pressionou seus lábios contra os dele, sentindo-o apertar seu corpo contra o dele. O beijo tornou-se ardente, e os dois estavam arfando quando Thorin desgrudou seus lábios, alertando:

— Melhor parar, ghivashel. Óin ainda não liberou nossas atividades na cama.

— Sinto sua falta, meu rei — suspirou Anna. — Meu corpo sente falta de seu dono.

— E meus braços desejam seu abraço, sua pele imberbe, suas curvas suaves — sussurrou ele. — Você acende meu desejo. Mas agora procure descansar.

Ela se aninhou, desejando que as duas semanas prometidas por Óin passassem muito rápido.

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Nem foram necessárias duas semanas. Não demorou para Óin declarar Anna liberada de seus cuidados e com saúde perfeita. Ele recomendou, porém, que ela mantivesse o uso dos unguentos e evitasse atividades que chamou de "muito vigorosas" — o que fez Anna enrubescer. Ela ansiava muito por retornar à intimidade com Thorin, e atividades "muito vigorosas" era exatamente o que ela tinha em mente.

Com um mês e meio de idade, Darin foi considerado crescido o bastante para ocupar seu próprio quarto. Lá o pequeno príncipe de Durin tinha dois berços à sua disposição: um de carvalho confeccionado por seu pai, e outro feito por Bifur, pendurado por cordas a uma viga no teto para que fosse possível balançar o berço e ninar o bebê.

Na primeira noite que Darin dormiu em seu quarto, Anna sentiu o sono leve. Tanto que, na verdade, ela acordou no meio da noite. Sentiu um vazio a seu lado.

Thorin não estava na cama.

Anna se levantou, intrigada para descobrir onde estava o marido. Contudo, seu coração de mãe já intuíra a resposta.

Dito e feito.

Ela nem precisou entrar no quarto de Darin para localizar Thorin, debruçado no bercinho, olhando o filho adormecido. Anna achou aquilo tão adorável que ficou em silêncio, observando o pai a adorar o bebê com os olhos. Depois de alguns minutos, ele cochichou, sem se virar:

— Ele dorme, mas achei que estivesse chorando, esposa.

Anna riu, mas só o que respondeu foi:

— Você está bem, marido?

— Sim, sim. Vá descansar, ghivashel.

— E você?

— Vou em seguida — disse ele. — Só mais uns minutos.

Anna aproximou-se para abraçar o marido por trás e beijar-lhe o ombro.

— Boa noite, marido.

Anna voltou para o quarto, respeitando o momento particular entre pai e filho. Mas já planejava a noite seguinte.

Ela deixou Hila encarregada de atender a Darin durante a noite, alegando que o rei não podia ser incomodado. Após o jantar com a família, Anna disse que ia tomar um banho e se recolher mais cedo. Ela lançou um olhar a Thorin, um no qual esperava ter deixado claro as suas intenções.

Quando saía do banheiro, de camisola, Anna viu que o recado tinha sido entendido. Thorin a esperava na cama, já com as roupas de baixo, indagando:

— Entendi mal suas intenções, minha esposa?

— Não, meu marido. — Anna sorriu ao juntar-se a ele, camisola transparente. — Você entendeu muito bem. Hoje Darin está aos cuidados de Hila.

Eles se abraçaram, e Thorin sussurrou, a voz rouca:

— Então Óin a liberou?

— Totalmente — confirmou ela. — Mas ele recomendou evitar er... atividades vigorosas...

Thorin afundou o rosto no pescoço dela, enchendo-o de beijos, e respondeu:

— Sem promessas... Mahal, que saudades!...

Os dois se desfrutaram em ritmo suave, embora os olhos traíssem o intenso desejo de ambas as partes. Thorin foi especialmente delicado e gentil, atendendo às necessidades da esposa, ansiosa por também satisfazer o marido. Impossível não notar a diferença. Agora eram um casal com um filho: como pais, eles faziam amor de um jeito diferente, mas não menos apaixonado. A um passo diferente, eles reencontraram a expressão física de seu amor.

E foi uma boa oportunidade, porque o dia seguinte amanheceria com muito movimento.

A família terminava seu desjejum quando um guarda entrou, espavorido. Anna estava ocupada com Darin, e só se deu conta que algo estava errado quando Thorin ordenou, abalado:

— Vá para o quarto e fique lá. Não saia de jeito nenhum.

— O que foi?

— Acidente nas minas.

Saiu, apressado, com Fíli e Kíli. Dís ergueu-se:

— Óin pode querer ajuda na enfermaria.

— Boa ideia — concordou Anna, erguendo-se. — Hila, cuide de Darin.

Dís indagou:

— Aonde está indo? Thorin disse para ficar no quarto!

— Se ele acha que eu vou ficar passiva enquanto nosso povo sofre, ele está muito enganado. Além disso, Óin vem me treinando para curar pessoas. Preciso mostrar o que aprendi.

Hila exclamou escandalizada:

— Mas ele é o rei!

— Sim, ele é. Mais ainda: ele é um ótimo rei e eu o amo mais que tudo, mas se ele pensa que manda em mim, está muito enganado.

Dís jogou a cabeça para trás e soltou uma risada, ante de dizer:

— Essa minha cunhada é ótima! Mas é melhor eu ir junto, ou meu irmão não me perdoa.

Palavras em Khuzdul

inùdoy = filho

khebabhin = forjada

kurdu = coração

ghivashel = tesouro de todos os tesouros

khazâd = anões, raça dos anões

khuzd = anão


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