Jogos Vorazes (Hunger Games) - Recomeço escrita por MSBica


Capítulo 25
Sumiço, Bebida e Chuva




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"O quê?" retruco, perplexa, tentando processar o que a voz de Haymitch acabou de dizer.


Peeta abre a boca, provavelmente para me ajudar a entender a mensagem de Haymitch. Antes que isso aconteça, porém, uma sirene soa, estridente em nossos ouvidos.
Imediatamente me agarro a Peeta, lembrando do seu aviso agourento e de minha estadia claustrofóbica no abrigo do Treze.


"E você...no Treze...morta...pela manhã!" ecoa em meus ouvidos.
Peeta me apoia,mas está gelado. Sem dúvidas um flashback está lhe enchendo de terror. Devo deixá-lo em paz.
No instante em que tento me libertar as sirenes param. Peeta relaxa e me solta no momento em que uma voz masculina sai dos alto falantes.

Senhoras e Senhores, favor comparecer à Cidade Circular de imediato, para um pronunciamento urgente e extraordinário de nossa presidente.

Peeta faz em voz alta a pergunta que assola minha mente.
"O que Debra poderia querer falar que é tão importante para não esperar até de manhã?"


"Não sei" respondo "mas se quisermos saber é melhor nos vestirmos."


"Certo" responde Peeta.


Visto uma blusa arroxeada e uma calça preta que estavam jogadas a um canto, calço um par de botas marrons, pego a mão de Peeta e saimos.
Uma chuva grossa cai no momento em que chegamos à Cidade Circular. Meus cabelos soltos encharcam meu rosto e em pouco tempo estou molhada até os ossos. Sou novamente a garota magricela e faminta do Doze. Peeta segura minha mão com mais força, como que para me lembrar de que está ali. Ele é novamente o Garoto com o pão. Não mudamos nada.


De mãos dadas abrimos caminho entre a multidão.
Debra está na sacada da Mansão Presidencial usando um vestido rosa claro e se protegendo da tempestade com um guarda chuva em forma de coração da mesma cor.
"Obrigada" diz nossa presidente "Obrigada por comparecerem tão prontamente, apesar da chuva."
Ela dá um sorriso tão doce que me causa náuseas e continua.
"Sem mais delongas então. É com pesar que comunico o desaparecimento do Gamemaker Chefe, Haymitch Abernathy."


"O quê?" digo incrédula, mais alto do que gostaria.
Ninguém me ouve, por sorte.


"Alerto que ele está mentalmente desorientado e pode ser perigoso, caso o encontrem entreguem-no imediatamente a um Pacificador, o escondam e serão executados no ato. Suas casas serão revistadas.


"O quê?" diz uma voz pastosa ao meu lado "Hay...Haymitch...Vivo...Gamemaker...Desaparecido? Oh não...Haymitch..."


Me viro a tempo de ver Effie enxugar algumas lágrimas em um lencinho azulado.
Meu queixo cai ao perceber a reação de Effie. Tanta preocupação... tanto zelo... tanto... carinho. O que há entre eles, afinal?
"Vamos, Katniss" diz uma voz às minhas costas. Dou um pulo.


Suspiro,aliviada, ao virar e perceber que é Peeta.
"Va...vamos?" Gaguejo, confusa "Para onde?"
"Para um lugar coberto, talvez." o sorriso de Peeta é o mesmo em qualquer lugar. "Não quero te ver doente."


Arrisco um olhar para a sacada. Debra se prepara para entrar, mas percebe que a observo e faz o mais inesperado dos gestos. Sem emitir som seu lábios dizem "Me desculpe". E então ela leva os dedos indicador e anelar perto dos olhos, passando claramente a mensagem de "Estou de olho em você".


Minha perplexidade, felizmente, não fica aparente em meu rosto. Anos atuando, eu acho. Pego a mão de Peeta e, sem palavras, o guio para o primeiro lugar que me vem à mente.


"A loja da Tigris?" Peeta parece incrédulo "É seguro?"
"Não sei" admito " Mas foi o único lugar em que pensei."
Antes que qualquer um de nós pense realmente no que está fazendo eu arrombo a porta e entramos.

"Você está, você está
Vindo para a árvore
Onde eles penduraram um homem que dizem ter assassinado três"


A canção velha e proibida, numa versão mal cantada e roufenha chega aos meus ouvidos. E subitamente percebo.
" Oh" arfo "É Haymitch!"
"Haymitch?" ecoa Peeta, devagar e perplexo "Onde?"
Seguimos o som. Ele vem das paredes.
"Oh" sussurro, compreendendo.
Peeta me lança um olhar de esguelha e noto que ele também entendeu.
Juntos, movemos o painel que esconde a entrada do porão.
Subimos os degraus de pedra e a música se torna mais audível.

"Coisas estranhas aconteceram aqui
Não seria estranho
Se nos encontrássemos à meia-noite na árvore de enforcamento.
Você está, você está
Vindo para a árvore
Onde o homem morto gritou a seu amor para fugir"


Quando Peeta para desajeitadamente ao meu lado; acendo as luzes.
No meio das peles, cheirando a mofo e a, bebida um Haymitch ferido, subjugado e muito bêbado nos lança olhares bem feios.
Uh oh... Haymitch bebâdo e telessequestrado não pode ser uma boa combinação. De repente me sinto amedrontada. Os pêlos da minha nuca se eriçam e um frio inesperado corre por mim. Como o animal selvagem e ferido que é, Haymitch percebe meu temor e me dá um sorriso de escárnio.


"O que foi, lindinha?" diz, melosamente e de modo enrolado, ainda com o sorriso rídiculo no rosto "Com medo do seu velho amigo?"
Não digo nada, mas lanço-lhe um olhar feroz.
Haymitch vomita tudo o líquido vil de seu estômago, dá de ombros e levanta com dificuldade. Com os braços erguidos á frente, como um cego, ele vem em minha direção. E de repente sei o que ele vai fazer. Não. Não. Não de novo! Não vindo dele. Não. Não. Por favor, não.


O pânico é uma coisa engraçada. Nunca se sabe como você vai reagir numa situação que lhe provoque medo. Meu instinto natural é lutar. Lutar mais por aqueles que amo do que por mim. Repito para mim mesma que eu deveria ter simplesmente morrido na Arena, há tantos anos atrás. Porém contra todas as probabilidades, mesmo sem a sorte a meu favor eu sobrevivi. Sobrevivi ao impensável. Fui, e sou, a criatura que a Capital nunca quis que existisse. Por isso sou chamada de mockingjay. Ou melhor, fui. Fui chamada de mockingjay. E estou prestes a parar de cantar. Normalmente, se a antiga Katniss entrasse em pânico ela reagiria. Lutaria. Fugiria. Mas a nova Katniss quando entra em pânico...Ela trava. Trava porque a Arena acabou com ela. Trava porque a Guerra acabou com ela. E ela não pode suportar mais dor. Não mais. Não mais de nenhum deles. Mas Haymitch nunca chegou a tocar no meu pescoço.
Peeta acertou uma garrafada na cabeça do nosso antigo mentor. E então Haymitch cai, desfalecido, aos meus pés. Maravilha.
Peeta me abraça.


"O que fazemos agora?" pergunto.
"O levamos daqui, suponho." responde Peeta .
"Para on..." começo e então percebo o que ele quer dizer "Oh! Peeta, não! Você ouviu o que a Debra disse."
Peeta pensa á respeito.
"Bem...não é como se já não estivéssemos no topo da lista de suspeitos." diz, com um meio sorriso.
Ele tem razão, claro. E eu também já tinha prometido a mim mesma que tentaria resgatar Haymitch. Que devia isso a ele. Oh, o que importa. Debra me odeia de qualquer jeito.
"Ok" concedo "mas não vejo como faremos isso."
Há uma pausa em que pensamos numa solução. Nada vem á mim. Mordo o lábio em frustração.
"Venha,Katniss" diz Peeta "Vamos para o Centro de Comando"
"Para que?" respondo "Não seremos de utilidade nenhuma para as crianças lá. Esqueceu?"
"Não. Claro que não esqueci." responde Peeta "Mas tenho uma idéia."
Sorrio. Claro que ele tem um plano.


Seguimos para o Centro de Comando, caminhando de mãos dadas. Não estamos com a melhor das aparências. Molhados, sujos, desanimados. Mas sabendo que estamos fazendo todo o possível. Todo o possível para Haymitch. Todo o possível para nossos filhos. Todo o possível para que os amigos que perdemos não tenham morrido em vão. Todo o possível para que aqueles que amamos não nos destruam. Todo o possível por nós.


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