Jogos Vorazes (Hunger Games) - Recomeço escrita por MSBica


Capítulo 10
Treino,Emoção e Proteção




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"Então...quem você acha que é o Gamemaker Chefe,este ano?" pergunta Peeta, quando entramos no elevador "Quer dizer, todos pensamos que era Plutarch, não é?"

"Não faço idéia de quem seja" digo "Mas seja quem for não gosta de mim"

Peeta fica calado diante da obviedade do que eu disse. E, claro, ele percebe sem que eu acrescente isso na conversa que se o Gamemaker Chefe não gosta de mim isso significa que infernizará Lira e Klaus na arena.

Chegamos no Centro de Treinamento pouco antes de Atala terminar o discurso inicial. Um avox nos mostra uma pequena escada para se chegar ao estrado dos Gamemakers. Não posso evitar esvoaçar os olhos entre as capas roxas, procurando quem estivesse usando a de pêlo curto, mas não há ninguém. Apenas vinte robes roxos berrantes. Simples e sem pêlos. Isso é estranho. O Gamemaker Chefe nunca deixa de comparecer aos treinos.

Peeta e eu sentamos num dos cantos mais afastados e observamos.

Vários tributos, principalmente os Carreiristas nos lançam olhares feios, como se estivéssemos desafiando a autoridade dos mentores que não tiveram a liberdade de comparecer. Como se nos considerássemos acima dos outros. E de repente não sei se vir assistir os treinos foi a escolha certa.

Estou prestes a compartilhar minha indecisão com Peeta, mas assim que abro a boca ele me cutuca e aponta para um lado do ginásio. É Lira, com um arco e flechas.

Ela acerta alvos móveis e estáticos com uma precisão que somente seria possível se já tivesse nascido com ela. E, estranhamente penso que talvez tenha nascido. Olho para o lado e vejo vários Gamemakers, inclusive Plutarch observando-a com atenção.

"Pensei que ela iria guardar o arqueirismo para as sessões particulares" sussurra Peeta no meu ouvido.

"Não" digo "Eu disse para surpreendê-los, com certeza ela pensou que seria muito clichê usar a mesma habilidade da mãe."

"Então o que será que ela vai mostrar?" pergunta Peeta, em dúvida.

"Não sei" digo, olhando para o alto "Mas ela não vai poder usar os Gamemakers como alvo, sem dúvida"

"Porq..." começa Peeta "Oh, sim"

Ele segue meu olhar e percebe o que quero dizer.Uma fenda na armadura. Um campo de força.

Ficamos calados e observamos Klaus praticar nós, Lira trocar arco e flecha por camuflagem e a pequena tributo do 11 ter suas primeiras lições com uma faca. Percebo que nossos filhos são mais parecidos conosco do que eu imaginava. Não sei até que ponto isso lhes dará alguma vantagem.

Não demora mais que uma hora para os Carreiristas tentarem recrutar as crianças para o bando deles. Noto que nossos filhos recusam veementemente.

"Hey" pergunto, receosa para Peeta pouco antes do almoço "Você acha que devíamos ter mandado que eles fizessem aliados?"

"Nah" diz Peeta "eles já vão estar no topo da lista de matança mesmo, ter aliados é pedir uma facada nas costas. Eles estarão melhor sozinhos."

Aceno e calo.Se é o que Peeta acha, melhor não discutir, afinal de nós dois ele foi o único que já esteve com os Carreiristas antes.

Os próximos dias passam rapidamente, com Lira e Klaus indo de estação em estação e aprendendo habilidades valiosas de luta e sobrevivência.

No segundo dia Peeta e eu almoçamos no apartamento e me empanturro com pães de queijo, sopas, rosbife e batatas fritas. Effie está estranhamente ausente.

Estamos quase saindo para voltar ao Centro de Treinamento quando Effie chega, sua peruca prateada reluzindo.

"Katniss! Katniss! Você tem visita!" gorjeia ela, dando pulinhos excitados.

Troco um olhar perplexo com Peeta antes de responder.

"O quê?" digo, atônita "Pensei que o Centro de Treinamento fosse uma espécie de prisão, e que não pudéssemos receber visitas!"

"Geralmente é assim mesmo, Katniss" retruca Effie "Mas este caso é especial, é..."

Ela não termina a frase. Atrás dela vejo uma mulher franzina, de cabelos loiros e olhos azuis. Minha mãe.

"Katniss" ela arfa e corre e para mim. Nos abraçamos tão forte que dói.

Não a vejo desde o nascimento de Klaus, e, de repente ela aparece e estamos as duas unidas como se ainda morássemos juntas. Unidas pela dor.

Minha mãe estica um braço para Peeta, logo ficamos os três unidos pelo mesmo abraço, pela mesma dor, pelo mesmo medo. É então que começa o choro. Um choro sentido, doído, imenso, que abarca tudo que passamos para que este momento nunca chegasse.

Não era disso que eu tinha mais medo? Que meus filhos fossem forçados à arena? Não é isso que está acontecendo agora? Mesmo depois de tudo que lutei, tudo que sofri para livrá-los do sofrimento? Eu choro mais e mais alto. Eu choro como se nunca tivesse chorado antes. Effie permanece muda e estática durante tudo isso.

E então como veio,o choro se vai e resta apenas a leveza de que o possível foi feito. Resta agora fazer o impossível. Peeta afaga meu cabelo e minha mãe enxuga as minhas lágrimas com um lencinho rendado.

"Porque está aqui, mãe?" pergunto ainda fungando " não há nada que possamos fazer"

"Eu sei" diz ela, seus olhos azuis brilhando como topázios "mas é que...é que...não podia suportar ficar em casa...sem falar nada...sem fazer nada...não é justo...com você."

Não tenho palavras para responder. Sei que não é justo, nem comigo nem com ninguém, mas é simplesmente inútil vir aqui, chorar e falar sobre injustiça. E subitamente começo a sentir muita raiva. De tudo e de todos.

"É injusto sim" digo, tentando parecer controlada "mas não sei como uma visita pode resolver as coisas."

Peeta me olha, incrédulo. Sei que terei que dar-lhe explicações depois, mas agora tudo o que quero é ficar sozinha.

Effie passa o dia mostrando a Capital para minha mãe. Peeta vai ver os treinos das crianças. Felizmente fico sozinha. Eu sei que devo explicar o motivo do meu estouro depois, mas dadas as circunstâncias acho que mereço um pouco de indulgência.

No fim da tarde dois vultos vestindo camisetas negras como carvão, calças marrons e sapatos brancos se atiram em cima da minha cama.

"Mãe!" diz Lira excitada "Você viu? Vovó está aqui!"

"Eu sei" digo rouca

"Porque está assim, mãe?" pergunta Klaus, afagando minha trança "não gosta que a vovó venha nos visitar?"

"Não é isso" digo "

"Então o que é?" perguntam em uníssono.

"Não é nada" digo "não se preocupem, ficarei bem, agora vão tomar banho antes do jantar."

É automático. Dar uma desculpa e fechar meus filhos dos problemas, como eu fazia com Prim e minha mãe. Penso sobre como não há volta desde quando decidi tornar a proteção da minha família o meu fardo.

Só não sei até quando conseguirei protegê-los desta vez.


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