— Potter, tire os pés de cima da minha cadeira. 

 Eu sorrio, e, vagarosamente, como se para irritá-la, tiro os pés bem lentamente da poltrona vermelha que estava ao meu lado, até que ela se irrita e empurra os meus pés com certa brutalidade, fazendo-os cair do apoio em que estavam com um baque. Decido puxar assunto:

— Ei, Lily, vai a Hogsmeade esse fim de semana?

Ela só grunhe uma concordância, enquanto mastiga uma pena de açúcar, concentrada no pergaminho extenso repleto de suas anotações que tinha na mão, não me dando a mínima importância, mas eu não desisto e continuo a lhe fazer perguntas, escondendo um sorriso na voz:

— E você vai com alguém?

Ela solta o mesmo barulho de concordância e um pouco da minha empolgação se vai, mas eu não deixo nada me abalar tão fácil. Porém, antes que eu pudesse abrir a boca para fazer minha próxima pergunta, ela se adianta e fala, sem desviar os olhos do pergaminho e com a voz meio embolada por ainda estar com a pena na boca:

— Desista Potter, eu não vou sair com você. 

Um pequeno sorriso brinca em meus lábios

— Esperando um convite, Evans? Eu ia te convidar para ir em grupo comigo, Peter e Mary. Sirius também vai nos encontrar lá. Mas já que você tem companhia, deixarei você aproveitar. 

Ela estreita aqueles olhos verdes brilhantes na minha direção, como se não acreditasse em nenhuma palavra que estava saindo da minha boca, o que provavelmente era verdade, e então retorna os olhos ao pedaço de papel em suas mãos. 

— Bom, não vou negar que é surpreendente ouvir isso. Talvez eu e Sev passemos por lá dar um oi. 

Eu viro minha cabeça tão rápido para ela que meu pescoço estala alto, me fazendo soltar um gritinho fino que faz a ruiva segurar uma risada. 

— Você vai com o Ranh...Snape?

Ela finalmente tira a pena da boca e os olhos do pergaminho e olha séria para mim, com qualquer resquício de humor arrancado de sua expressão e diz, com uma firmeza excessiva na voz:

— Sim, vou com Severus. Algum problema, Potter?

Eu dei de ombros, sabendo que não podia me meter na vida dela e controlar com quem ela queria sair, como eu fazia no passado, e apenas lhe respondi, enquanto jogava a cabeça para trás, me apoiando no encosto da poltrona vermelha e brincava com alguns fios rebeldes de cabelo que caiam na minha testa:

— Só achei que vocês não conversassem mais depois dele te chamar de… Depois daquilo que aconteceu no quinto ano.

— Realmente não conversávamos mais, até que ele me enviou uma carta e me pediu desculpas, dizendo que queria reatar a nossa amizade e me chamando para conversar em Hogsmeade - Ela suspira - Não sei se fiz a escolha certa. 

Me impulsiono para cima, levantando-me da poltrona vermelha macia e erguendo os braços acima da cabeça, me espreguiçando e sentindo meus ossos estalarem. 

— Confie no seu julgamento Lily. Se você acha que não fez a escolha certa, por que você vai? 

Ela suspira pesarosamente, como se estivesse considerando minhas palavras, o que dois anos atrás seria a coisa mais absurda da face da Terra, e logo depois, dá de ombros e fala:

— Vou dar uma chance a ele, pelos anos de amizade, tomara que eu não me arrependa.

— Estaremos lá, se por acaso se arrepender. 

Ela sorri distraidamente e volta a mastigar sua pena. Eu me dirijo ao dormitório, bocejando copiosamente, e me atiro na cama, apenas arrancando a camisa e enfiando a varinha dentro da meia, pensando se Lily apareceria em Hogsmeade. 

Ontem fora a última noite de lua cheia, eu estava cansado e com alguns arranhões espalhados pelo meu corpo, já sarando por conta da habilidade extraordinária de Remus com feitiços curativos. Infelizmente, ele não conseguia curar toda aquela aflição que me corroía desde que a ruiva dissera que iria se encontrar com o Ranhoso. 

Suspiro, pensando se algum dia eu a conquistaria. 

E meu sangue maroto dizia que eu o faria, nem que fosse a última coisa que eu fizesse na vida.