Você Me Tem escrita por Hanna Martins


Capítulo 22
Culpa


Notas iniciais do capítulo

Tenho uma notícia para vocês, "Você me tem" entrou em sua reta final. Esse é o penúltimo capítulo.



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Katniss sentiu o vento gelado no rosto. Não foi suficiente, queria mais. Acelerou ainda mais a moto. Não sabia há quanto tempo estava ali. Havia perdido a noção do tempo, algo comum nos últimos oito dias. Oito dias. Havia se passado exatamente oito dias desde o acidente. Ela saíra com alguns hematomas e pontos. Nada grave. Mas não poderia dizer o mesmo de Prim. Sua amada irmã estava em coma. Os médicos diziam que seu estado era muito grave. Estava entre a vida e a morte.

Antes, algumas pessoas diziam que seu coração era de gelo. Mas estavam todos enganados. Não, seu coração não era de gelo, era de carne e sangrava. Sangrava tanto que tentava não pensar em seu sangramento, com a esperança de que a dor acabasse.

Finamente, parou a moto. Ligou o celular para verificar a hora. Havia muitas ligações: Annie, Johanna, Rue, sua mãe, Finnick... e Peeta. Simplesmente, as ignorou, não queria falar com ninguém.

O sol já estava se pondo. Respirou fundo e ligou a moto. E novamente perdeu a noção do tempo. Só parou de pilotar porque a trilha estava muito escura para ver qualquer coisa.

Quando voltou para a loja em que ficavam as motos e os equipamentos, não foi nenhuma surpresa encontrar Peeta a esperando.

— Katniss... — ele chamou.

Ela o ignorou.

— Katniss!

Continuou andando.

— Katniss! — ele insistiu. Sua voz não era agressiva, raivosa nem nada. Era calma e assinalava que ele não iria desistir até que ela o escutasse.

Katniss parou. Contudo, sem voltar-se para ele.

— O que você quer? — disse entredentes.

— Saber como você está... — ela começou a andar novamente. Peeta a seguiu. — Você não para mais em casa... não atende mais as ligações. Katniss, estou preocupado com você! — embora ela não pudesse ver seu rosto, poderia perfeitamente saber que agora Peeta tinha uma expressão séria na face.

Nada respondeu e continuou a andar.

— Katniss! — ele continuou a insistir.

Peeta segurou seu pulso, impedindo-a de prosseguir.

— Katniss, por favor, me diga alguma coisa! — suplicou. — Estou preocupado! Todos nós estamos muito preocupados, sua mãe, Annie, suas amigas... Por favor, me diga, Katniss... — pediu com brandura, como um adulto que fala com uma criança pequena.

Ela voltou-se lentamente para ele, após se certificar que ele não iria a deixar tão cedo.

— Você quer saber o que está acontecendo? — sua voz estava cheia de raiva. — Minha irmã está em coma no hospital! — o tom não era alto, mas em compensação, era terrivelmente frio. — Ela pode... pode... morrer!

— Katniss... Gale vai pagar pelo o que aconteceu! Gale está sendo processado... Ele tem bons advogados, mas eu me certifiquei de arrumar os melhores dos melhores. Gale terá o que merece — garantiu.

Aquilo fez Katniss sorrir. Mas, não era um sorriso de conforto. Era um sorriso cheio de tristeza e desprezo.

— E eu, Peeta?

— Você o quê? — perguntou.

— Também poderei pagar pelo o que fiz com minha irmã?

— Katniss, o que você está dizendo? — Peeta parecia não acreditar no que estava ouvindo.

— Se eu não tivesse começado essa merda de aposta, Gale não teria feito o que fez com Prim. Gale é culpado, mas eu também tenho minha parcela de culpa. Uma grande parcela — sua voz era distante.

— Katniss! — Peeta havia ficado completamente desnorteado com aquela declaração. — Você não...

— Não me diga que eu não tenho culpa — seu tom começou a aumentar. — Agora me deixe! — falou tentando se livrar da mão de Peeta.

Mas ele não largou seu pulso.

— Me larga! — gritou finalmente.

Peeta negou com a cabeça. Aquilo a deixou furiosa. Se viu lançando seus olhos ferozes para Peeta. Olhos de um animal selvagem. Peeta nada disse, porém não soltou seu pulso. Não a deixou ir. Aquilo só fazia sua raiva aumentar. Os dois travaram uma batalha silenciosa. Até que ela se viu dando murros no peito de Peeta, fortes socos. No entanto, ele não reclamou e não largou seu pulso.

— Me deixa! — ela esmurrava o peito de Peeta cada vez com mais fúria. — Se minha irmã morrer vai ser minha culpa! Minha culpa! A culpa é minha...

Peeta não se mexeu um centímetro sequer.

— Minha irmã está em coma por minha causa! Minha doce irmãzinha, que amava tudo, a única pessoa no mundo que eu amava! Minha irmã, a pessoa mais bondosa que já conheci. Ela pode, ela pode... morrer!

Os socos haviam cessado. Agora, grossas lágrimas caiam pelo rosto de Katniss.

Peeta a envolveu em seus braços. A camiseta dele ficou completamente empapada com suas lágrimas.

Era a primeira vez desde o acidente que ela chorava, que não fingia que estava tudo bem, que deixava que alguém visse seus verdadeiros sentimentos.

Não soube por quanto tempo chorou. Apenas parou porque a garganta estava seca, e as lágrimas pareciam ter secado dos olhos.

Peeta a enrolou em sua jaqueta e a levou até o carro. Ele não disse nenhuma palavra. Começou a dirigir. Katniss não perguntou para onde estavam indo. Encostou a cabeça no vidro da janela e adormeceu. Nos últimos dias, mal havia dormido mais de duas horas por dia.

Acordou com a claridade em sua face. Ainda estava no carro e Peeta também estava lá. Porém, havia algo de diferente. E soube o que era ao ver o mar. Estavam na praia. Era a mesma praia que haviam visitado poucos meses atrás com o pessoal do colégio.

— Você...

— Acredito que vir aqui será bom para você. Você gosta tanto do mar — ele disse suavemente, enquanto abria a porta do carro.

Katniss também saiu do carro. Começou a andar pela praia, descalça. Peeta não a acompanhou em sua pequena jornada, apenas ficou sentado no capô do carro, que por acaso era o porsche da aposta.

Andou e andou, até seus pés ficarem cansados. Não havia ninguém na praia àquelas horas. Uma fina chuva começava a cair.

Lentamente começou a entrar no mar. A água estava tão gelada que doía até os ossos. Mas ela não se importou. Até parecia que havia perdido a capacidade de sentir algo.

Ficou apenas boiando na água por um longo tempo, até que começou a mergulhar. Era bom tem aquele monte de água de sobre ela. Houve uma vez que ficou por um longo tempo debaixo da água. Se tivesse coragem... se...

— Katniss! Katniss! — Peeta aos gritos a tirou do mar. — Você... — sua voz estava trêmula. Aliás, todo seu corpo tremia. Mas não era por causa do frio.

— Ninguém precisa de mim — afirmou.

— Eu preciso de você, Katniss! — ele a abraçou fortemente. Sentiu o calor do corpo de Peeta e o calor das lágrimas que ele derramava em seu ombro a aquecendo.

Ele a olhou e lançou seus lábios sobre ela. O beijo de Peeta era quente e lhe trazia a sensação de vida. Pela primeira vez em oito dias, se sentia viva. Não permitiu que ele se afastasse dela.

Em poucos minutos, suas roupas estavam jogadas e os dois se moviam e respiravam em um só ritmo.

Katniss deu um longo gemido, quando sentiu seu corpo explodir feito um vulcão. Peeta a abraçava e não saiu dela. Ficaram assim por um longo tempo.

— Eu preciso de você — repetiu ele em seu ouvido. Seu tom era de súplica.

Só separam, quando as gotas de chuva não eram mais finas, mas do tamanho de uma bala de revolver.

Vestiram suas roupas e caminharam até a casa de praia dos Mellark.

Katniss tomou um longo banho quente. Quando saiu do banheiro Peeta lhe apresentou um prato de sopa e certificou-se que ela engolia cada colher, até não restar mais nada de sopa. Depois, ele a puxou para seu colo e a cobriu com uma manta de lã.

Ela só foi acordar quando uma tênue escuridão cobria todo o recinto em que estava. Descobriu que estava no quarto de Peeta e nos braços dele.

Peeta abriu os olhos assim que ela despertou. Ele não estava dormindo, compreendeu. Ficara o dia todo velando o sono dela.

— Como você está? — perguntou, a analisando.

— Bem... — respondeu, se aninhando no peito dele.

— Katniss... não é sua culpa, está bem? Gale é um babaca! Você não tem culpa alguma dele ter feito aquilo — disse suavemente.

Seu tom era tão verdadeiro, que ela não poderia afirmar que aquilo era uma mentira.

— Não é sua culpa — ele repetiu, olhando-a nos olhos. — Se tem um culpado aqui é ele. Gale é o único culpado de tudo isso.

Os olhos de Peeta eram tão intensos e verdadeiros que ela sabia que eles nunca poderiam mentir.

— Sim, não é minha culpa — sua voz estava cheia de certeza.

Peeta a ajudara ver a verdade. Ela não possuía a culpa daquele incidente.

Ele sorriu para ela e depositou um delicado beijo em sua testa.

— Quer comer alguma coisa? Não há muita coisa na cozinha... mas eu posso fazer algo decente... — seu tom era um pouco divertido.

Ela assentiu.

Peeta a levou para a cozinha. Ela ficou o observando cozinhar. Como sua expressão era ao mesmo tempo séria e terna, como seus dedos, que tantas vezes lhe deram prazer, eram rápidos e delicados cortando os legumes. No final de alguns minutos, Peeta lhe servia um prato de arroz com legumes.

Os dois comeram em silêncio. Mas aquele silêncio não era ruim. Era um daqueles momentos em que as palavras eram desnecessárias.

Depois do jantar, os dois se sentaram no sofá da sala. Katniss encostou a cabeça no ombro de Peeta. Ele passou o braço pela cintura dela. E eles ficaram lá, por um longo tempo, sentindo o calor um do outro.

O celular de Peeta tocou. Sem sair da posição em que estava, atendeu ao celular.

— Katniss... sim, ela está comigo... — sua voz possuía um tom neutro, aquele tom que os médicos usavam quando querem falar de temas delicados. Katniss conhecia muito bem aquele tom, já que sua mãe o utilizava com certa frequência. — Sim, eu falo para ela...

Peeta desligou o celular e se afastou um pouco de Katniss e pegou em suas mãos.

— Era sua mãe... — falou. — Ela tem notícias de Prim... Prim...

O coração de Katniss batia tão forte quanto a chuva em uma tempestade. Como se fosse uma questão de vida ou morte. E era uma questão de vida e morte.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Será que Prim morreu?