O anjo e o demonio escrita por Lu Rosa


Capítulo 25
Fechando o círculo




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David parou o carro atrás do carro de Ângela.

– Nigel, sabe o que fazer. Você e a senhora Dougherty tentam tirar os sobreviventes. Eu e o delegado vamos atrás de Ângela e de Ormonde.

– Oh, por favor, Deusa, proteja minha menina. – pediu Maggie ao sair do carro.

Eles estavam com sorte. Porque a caverna estava iluminada com várias tochas na parede. Conforme eles iam adentrando a caverna, eles começaram a perceber os corpos preso às correntes.

– Droga, Marshall. Deve haver pelo menos umas vinte pessoas aqui.

Maggie e Nigel iam sentindo os sinais vitais de cada um. Os que ainda respiravam ou que o coração ainda batia, eles marcavam o lugar. Tudo feito no maior silêncio, porque ainda existia a possibilidade de haverem outros vampiros.

– David, venha ver... – chamou Nigel.

O americano se abaixou ao lado do outro.

– Veja os pulsos deles. Não são marcas de mordidas. Isso foi feito com um punhal ou um bisturi, não consigo identificar.

– Mas o que esse cara pretendia? Continue levando-os para fora. Temos apenas que tira-los da caverna. O’ Hanlon chame ambulâncias. Mas diga a eles para ficarem afastados.

Um grito acabou com toda essa conversa.

– É a Ângela! – disse Maggie.

Todos correram para o que parecia um grande salão. Viram que Ormonde encurralava Ângela numa parte um pouco elevada da caverna

– Pare, Ormonde! – David gritou. Sua voz grave ressoando pela galeria.

Anton olhou por cima de seu ombro e viu David, Maggie e Neil. Nigel estava um pouco atrás. Ele sorriu.

– Está sem tempo, Vigilante. E logo você não terá mais tempo nenhum.

– Deixe-a ir. E podemos ajustar nossas velhas contas, Ormonde.

Aquelas palavras deixaram Ângela sufocada, como se mil mãos apertassem seu peito.

– Você não entende Vigilante. É tudo por ela. Todos esses anos foram por ela.

– Ele pensa que eu sou a reencarnação da mulher que ele amou e matou no final do século dezesseis. No reinado da rainha Elizabeth.

Os olhos de Maggie saíram de foco. Um corredor escuro. Ângela num traje de veludo azul. Ela andava apresada, mas sorria. Suas mãos sobre o abdome. Uma sombra escura a segurou junto à parede. Ela gritou, mas sua garganta era apertada. Outras pessoas apareceram no corredor. Um homem foi preso. Quando a luz incidiu sobre ele, seu rosto estava transformado numa máscara de loucura.

– É verdade, David. Ele a matou numa outra vida. Temos que salvá-la.

David apontou a arma para Ormonde.

– Isto está apontado para você, Ormonde. Deixe-a ir agora.

Rápido, Anton se moveu ao redor de Ângela, prendendo-a contra seu corpo.

– Mãe amada! Ângela! – gritou Maggie.

Anton segurou Ângela junto ao corpo, movendo sua cabeça para o lado.

– Ela me pertence! – e enterrou seus dentes no pescoço da moça.

– Não! – David e Maggie gritaram juntos.

Como se fosse numa câmera lenta, eles viram horrorizados a moça deslizar para o chão onde ela permaneceu imóvel.

Anton deu um grito de vitória saboreando o sangue de Ângela entre os lábios. Reagindo a isso, Neil começou a atirar.

– Morre seu monstro!

Mas as balas o transpassavam, sem feri-lo. Num átimo de segundo, Anton já estava junto à Neil. Ele o segurou pela roupa e o lançou contra a parede da caverna. O rapaz caiu sem sentidos.

Nigel e Maggie abaixaram-se junto ao corpo de Neil. A senhora colocou a cabeça no peito do rapaz. Ouviu-lhe as batidas do coração, ainda que fracas.

– Está vivo. Vai ficar dolorido, mas vai ficar bem.

Nesse momento, Anton voltou para onde Ângela estava e estendeu a mão para ela levantar-se.

– Veja, ela é totalmente minha Vigilante. Você e essa bruxa perderam.

David e Maggie viram que Ângela tinha o olhar parado, como se ela estivesse hipnotizada. Anton segurou a mão dela como se a conduzisse numa dança.

– Vá minha querida, eu os ofereço como presentes a você – indicou David e Maggie.

David olhou para Maggie.

– Alguma ideia, Margaret?

– David, você tem que confiar em seu coração. O amor de vocês ultrapassa as barreiras do tempo. Só você pode quebrar o encanto do veneno dele.

– Você acha que consegue pará-lo?

– Eu posso tentar. – Margaret fechou os olhos, ergueu as mãos e fez uma invocação.

– Espíritos do Ar venham a mim. Brisa, vento, furacão. Soprem num circulo sem fim. Encerrando o mal numa prisão.

Um vento forte começou a soprar, jogando Anton para trás. Ele estava imobilizado junto à parede.

– Vá, David! Liberte-a.

Ângela mantinha os olhos fixos em David como um animal selvagem observa sua presa. Cada piscar de olhos, cada respiração, cada gota de suor que escorria pelo rosto dele.

David forçou-se a desligar do ambiente, mantendo sua atenção fixa na mulher a sua frente. Qualquer desvio quebraria o contato visual, e ela o atacaria.

– Ângela, olhe para mim. Sou eu, David. Nós nos amamos, nosso amor vive através do tempo. Veja em meus olhos e sinta o meu amor. – ele se aproximou cautelosamente.

Ele se lembrou da história contada por Sophie. O rapaz que havia sido infectado por Ormonde teve forças para resistir ao veneno e não atacara o pai. Será que Ângela teria a mesma força?

Ela continuava calada. David sentiu o centro do seu peito queimar. Ele sabia que algo estava acontecendo com a sua marca de nascença. Sem tirar os olhos dela, desabotoou os primeiros botões da camisa, tocando em sua marca de nascença. Sentiu-a quente e tinha certeza que a marca nas costas de Ângela queimava igual.

– Você sente? Tenho certeza que sim.

Ela virava a cabeça como se o estudando. David se aproximou ainda mais. Seus músculos estavam tensos como a corda de um violino. A adrenalina pulsava em sua corrente sanguínea se preparando para o combate. As narinas dela fremiam ao sentir o bater mais rápido do coração dele. Mas ela permanecia imóvel.

Ele ficou ao alcance da mão dela. Margaret mantinha a concentração, mas não tirava os olhos dos dois. E nem podia imaginar o que David faria a seguir.

– Eu confio no meu amor por você. Eu confio no seu amor por mim – ele tirou uma pequena lâmina do bolso. – Eu sou David Marshall. Eu sou Shane Maguire. E eu me entrego em suas mãos, meu amor. Corpos separados, almas juntas. – então ele passou a lamina em seus lábios provocando um pequeno corte. O cheiro do sangue lançou Ângela em seus braços e David segurou seu rosto.

Os olhos dela fixaram-se nos dele, e ele a beijou. Angela provou do sangue dele, de sua essência. A magia do amor que atravessara séculos estava presente naquele beijo.

– O que você está fazendo, Vigilante? Fique longe dela! Ela é minha! Sempre foi minha! – Ormonde se contorceu tentando se livrar.

Os corpos de ambos foram envolvidos por uma luz a principio fraca, mas que foi aumentando, aumentando até se tornar mais brilhante do que o sol.

Margaret perdeu a concentração ofuscada pela luz e o feitiço rompeu-se. Anton caiu no chão.

– Pare com isso! Ela é minha! – Ormonde gritava enlouquecido. Seus olhos pareciam quer saltar das orbitas.

Maggie puxou Nigel pelo braço. Eles suspenderam Neil ainda desacordado para fora da caverna. Nigel ainda voltou para buscar Susan que tentava se levantar. Toda a caverna começou a tremer.

David e Ângela pereciam flutuar no ar. Os dois se separaram, mas permaneciam de mãos dadas. O laço que os unia agora era uma poderosa arma contra o mal que existia em Ormonde, fruto do amor insano que persistia por séculos. A força do bem afastava as trevas e ele não pôde resistir.

Ao levantar os olhos, Ormonde viu, talvez numa visão de sua loucura, David e Ângela trajados como cortesãos da Rainha Elisabeth. Os cabelos dela agora eram loiros num penteado elegante. David também era loiro e levava um chapéu com plumas nas mãos. Ele os reconheceu como o conde e a condessa de Rochester.

– Marion... – envolto em sua dor, ele não sentia que a luz que emanava deles queimava seu corpo. – eu não queria.

Ela olhou para ele serenamente.

– Assim como o círculo foi aberto com ódio, hoje ele será fechado com o perdão. Nós perdoamos você Anton Ormonde pelo mal que nos causou.

Anton sentiu que aquelas palavras eram como punhais atravessando-o. Ele levou as mãos aos olhos. Quando os reabriu novamente, a imagem em sua cabeça havia mudado.

Ângela agora usava um vestido branco tingido de vermelho assim como seu companheiro que tinha ferimentos nos braços e no peito por onde o sangue vertia. Carregava uma espada consigo. Ele tinha cabelos negros e ela tinha os cabelos flamejantes. Eram Angie Dougherty e Shane Maguire. O casal separado por ele no dia de seu casamento.

– Assim como o círculo foi aberto com ódio, hoje ele será fechado com o perdão. Nós perdoamos você Anton Ormonde pelo mal que nos causou.

As mesmas palavras. A mesma voz serena. Os mesmos punhais o rasgando em pedaços. Ele gritou de ódio e dor.

A imagem mudou e ele viu aqueles que perseguira por séculos em trajes do tempo atual. Ângela com os cabelos castanhos ondulando ao redor dela e David Marshall com uma pistola na mão. Ele chegou a apontá-la na direção de Ormonde, mas Ângela segurou-lhe a mão.

Ela olhou com amor para David e com pena para ele, Ormonde.

– Assim como o círculo foi aberto com ódio, hoje ele será fechado com o perdão. Nós perdoamos você Anton Ormonde pelo mal que nos causou.

Mas Ormonde não queria ser perdoado. Ele queria aquela que o lançara num abismo de loucura. Se ele não podia amá-la então ele a destruiria. Deformado pelas queimaduras causadas pela luz intensa, Ormonde avançou contra o casal. Uma fenda abria-se perto de onde David e Ângela estavam, mas Ormonde não a viu. David empurrou Ângela para o lado e protegendo-a com o próprio corpo, atirou com a pistola. As balas gravadas com uma cruz cravaram-se no corpo deteriorado e Ormonde lançou-se na fenda escura.

David abaixou a pistola lentamente, respirando com dificuldade. Sua cabeça pendeu para frente. Sua missão acabara. Ele sentiu uma mão em seu ombro. Ângela estava ao seu lado, tão exausta quanto ele. David a puxou para si, enquanto os soluços sacudiam o corpo da moça. Estava tudo acabado.


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