O anjo e o demonio escrita por Lu Rosa


Capítulo 23
Impulsos




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Ângela estava terminando o homem aranha no rostinho de Dave Sullivan, quando sentiu que alguém a observava. Ela olhou ao redor e avistou David encostado ao tronco de uma árvore a comer pacientemente um pedaço de torta de morango. E a cada pedaço ele a encarava atrevidamente.

Ela corou ao perceber a mensagem sublinhar que ele lhe transmitia. “Atrevido! Descarado!”, pensou ela. Era como se ele a estivesse seduzindo na frente de todas àquelas pessoas. Ela sentiu um calor subindo por seu estômago até atingir suas faces colorindo-as de vermelho.

Ele trajava uma calça escura e uma camiseta verde com gola em V. A camiseta amoldava-se perfeitamente ao peito largo e as mangas curtas pareciam abraçar os músculos do braço. Ele era tão irresistivelmente másculo que as outras mulheres arriscavam olhares apreciativos em sua direção. Às vezes abertamente.

David terminou a torta, limpando a boca com o guardanapo e o jogando num lixo próximo. Calmamente, com as mãos nos bolsos, ele começou a andar em direção ao pequeno espaço onde estavam algumas crianças sentadinhas ao redor de Ângela. Ele se sentou ao lado de uma loirinha que parecia uma bonequinha. O sol fraquinho da tarde fazia com que suas bochechas estivessem rosadas. A boca e o queixo estavam cobertos pelo que parecia uma cobertura de chocolate.

Um garotinho saía de perto de Ângela exibindo o rosto pintado uma espécie de máscara do homem aranha para os demais.

– Então quem é o próximo?

Um menino levantou-se.

– Sou eu senhorita.

– Qual é o seu nome, querido?

– É Marcus.

– E qual desenho você quer, Marcus?

– Um vampiro, senhorita.

Ela olhou para David sufocando a vontade de rir da expressão mortificada dele.

– Um vampiro, Marcus? – ela colocou o pincel que usara dentro de um pote com água. – Como é um vampiro? Será que alguém aqui sabe? – ela olhou maliciosamente para David.

Ele revirou os olhos para o alto.

– Então alguém sabe? Quem sabe o cavalheiro ali...

Uma dezena de olhinhos virou na direção de David.

– Er... Um vampiro? – ele perguntou.

– É. O senhor já viu um vampiro? Sabe como ele é? – diante do silêncio de David ela virou-se para as crianças. – Como um vampiro seria, crianças? – Ângela chamou Marcus. – Vamos ver. Todo mundo já viu um vampiro na TV ou em desenhos. Ou no cinema... Será que o Marcus daria um vampiro como o Robert Pattinson? – ela riu começando a passar um pó branco no rosto do menino. Então a jovem começou a traçar linhas escuras ao redor dos olhos do menino. Algumas gotinhas de vermelho no canto dos lábios para o toque final.

– E então galerinha? O que acharam do nosso vampirinho?

As crianças começaram a fazer uma algazarra aclamando o modelo e a artista.

Então nuvens escuras começaram a surgir tampando o sol. Ângela olhou ao redor. Alguns pais já começavam a arrumar as coisas e se dirigiram aos carros estacionados. Algumas crianças eram levadas pelos pais completamente adormecidas. Os pais das crianças que estavam com Ângela começaram a vir buscá-los quando os primeiros pingos de chuva caíram. Logo todos estavam correndo da chuva.

Rapidamente ela começou a juntar suas coisas com a ajuda de David.

– Você está de carro? – perguntou ela.

– Estou. – em seguida ele estapeou a testa. – Essa não! Eu deixei Nigel levar o meu carro para levar Sophie em casa.

– Então eu te dou uma carona. Minha mãe e Maggie já foram embora com os meninos.

Eles correram até o carro, mas a chuva já estava muito forte. Logo a roupa dos dois estava colada em seus corpos. Eles chegaram completamente ensopados onde o carro estava. David riu quando olhou para Ângela que tinha os longos cabelos grudados em seu rosto como uma máscara. Mas o sorriso foi morrendo a medida que ele percorreu com os olhos o caminho que eles faziam em linha reta desde o alto da cabeça, passando pelo rosto e colando-se nos seios cobertos pela blusa fina e nas costas como uma segunda pele.

Ele percebeu o seu erro no momento em que ela ajeitava o cabelo tirando-o do rosto e o jogando para trás. Seu corpo reagiu à visão da roupa colada no corpo dela, e sua garganta parecia tão seca quanto o deserto de Nevada. David engoliu em seco.

Ângela terminou de torcer o cabelo e então virou para ele. Grande mancada! Porque ela prestou atenção em cada curva, em cada saliência e reentrância que a camisa colada ao corpo dele fazia. Ela arfou quando levantou os olhos para ele e o mesmo desejo se refletia nos brilhantes olhos azuis dele. Tudo isso aconteceu em segundos, mas para os dois parecia em câmera lenta.

No final nenhum dos dois soube de quem foi o primeiro passo, mas no segundo seguinte estava entregues a um abraço enlouquecedor. O beijo que veio depois foi recebido quase com alívio pelos dois. As bocas tocavam-se com volúpia. As línguas encenando uma dança erótica, lançando-se sem reservas numa luta onde os dois eram vencedores. As mãos percorriam os braços, ombros e costas, o corpo queimando através do tecido molhado.

David a colocou contra a porta do carro pressionando-a com o seu corpo, ela suspirou contra os lábios dele ao sentir a força de sua masculinidade. Ele a queria, a queria tanto quanto ela a ele. Ele a acariciava de todas as formas possíveis, com as mãos, com a boca, com as pernas. Era como se ele quisesse se tornar parte dela.

A chuva continuava a cair, mas nenhum dos dois a sentia. Em algum momento David sabia que havia escutado um relâmpago ressoar. Estavam cientes somente de seus corpos um contra o outro, completando-se. Mas um alerta acendeu no fundo da mente obscurecida de David. Ele a queria, ele precisava dela, mas tinha uma missão a cumprir. Forçou-se a diminuir o ritmo, acalmando sua respiração. Até que os beijos enlouquecedores tornaram-se apenas beijos ternos.

Ângela resistiu quando ele diminuiu o ritmo. Seu corpo estava em chamas por ele, mas em algum lugar de seu cérebro a razão prevaleceu lhe dizendo que ali não era um lugar propício. Alguém poderia passar e... Não, não podia ser dessa forma.

– Eu amo você. – ele disse contra seus lábios. – Eu quero você para sempre, ao meu lado. Acordando toda manhã. Ser a mãe dos meus filhos. Mas há algo que eu tenho que fazer.

O jeito com que ele falou fez com que a garganta dela se apertasse e Ângela abraçou David.

– Não me diga mais nada. Se for sobre seu trabalho eu não quero saber. Eu não consigo ver o que você vê. – ela o soltou – Só me diga que vai voltar. Que vai voltar para mim.

– Eu vou, meu amor. Não tema. Eu sempre volto. Nem que seja numa outra vida. – ele sorriu.

Se a intenção dele era fazê-la sorrir, não foi bem sucedido.

– Não fale assim. Parece que essas palavras estão gravadas em minha mente. Faça o que tiver que fazer. Mas não me deixe. Não me deixe. – Seu coração sangrava.

David a abraçou apertando-a contra seu peito.

– Sim meu amor. Suas palavras estão gravadas a ferro em mim. E agora, acho bom nós tirarmos essas roupas molhadas antes que peguemos um resfriado.

– Isso é muito sugestivo, não acha? – ela disse abrindo a porta do carro para ele.

– Mulher, não coloque esses pensamentos da minha cabeça, senão eu não respondo por mim.

Ela riu dando a partida no carro.

***

Depois de ter deixado David no hotel, Ângela seguiu para sua casa. Tomou um banho relaxante, sentindo seu corpo estremecer ao lembrar-se dos momentos sob a chuva. Ela balançou a cabeça, incrédula. Que poder aquele homem tinha para que ela, Ângela Dougherty, a certinha Ângela Dougherty quisesse fazer amor sob a chuva, num parque em plena luz do dia.

Enrolada numa toalha e com outra nos cabelos, Ângela começou a se preparar para o baile daquela noite. Secou os cabelos, escovando-os ate que caíssem como um manto escuro sobre seus ombros. Maquiou-se com esmero. Pela primeira vez desde que começara a frequentar o baile do feriado, ela queria ser a mais bela. Não pelos outros homens. Nunca lhe interessaram antes e não a interessavam agora. Ela só teria olhos para David, mas ela vira a atenção que ele chamara no parque. Queria estar bonita para ele, só para ele. Ela o amava com toda a força de sua alma. Seu coração cantava essa frase como se fosse um mantra de proteção que pudesse envolvê-lo.

A jovem abriu seu armário pegando uma caixa prateada. Ela o abriu e tirou o vestido que estava dentro. Aquele vestido havia sido um presente de sua avó, mas ela nunca o usara por achar ele rico demais para um mero baile de feriado. Para desespero de sua mãe e sua avó, ela sempre ia ao baile de calça e blusa.

Mas agora não. Ela estendeu o vestido sobre a cama, vendo pela primeira vez o quanto ele era macio. De pura seda, ele tinha um corte meio medieval, bem ao gosto da sua avó. Mas diferente dos vestidos medievais, ele não varria o chão. Seu cumprimento era até o final das pernas. As mangas eram justas terminando no pulso. Um cinto de pedrarias completava o conjunto.

Ângela o vestiu, rodopiando feliz em frente ao espelho. Mal podia esperar para que David a visse. Ela calçou os sapatos e saiu do quarto.

Ao passar pelo quarto dos meninos Collins, ela escutou barulhos e resolver dar uma olhadinha nos meninos.

Abriu a porta e viu Matthew junto com o irmão Sean. Matthew tinha as mãos sobre os ombros do irmão enquanto o pequenino desenhava furiosamente.

– Olá querido. O que aconteceu?

– Sean teve um pesadelo, tia Ângela. Quando isso acontece, a mamãe nos ensinou a desenhar o que nos assusta e rasgar. Assim perdemos o medo daquilo.

– É um bom ensinamento, Matthew. – ela olhou por cima do ombro do menino. – E o que ele está desenhando?

– Ele disse que é onde a mamãe está.

Ângela arrepiou-se ao ouvir isso. Ela abaixou-se perto do menor e procurou conversar com ele.

– Sean, querido. É onde sua mãe está?

O garotinho balançou a cabeça afirmando.

– Tia Ângela, a mamãe está num lugar escuro, cheio de pedras e está machucada. Ela tem medo do homem mal. Ela disse pra nós que tudo vai ficar bem. Para que nós sejamos corajosos e cuidemos um do outro. – revelou Sean.

– Tenho certeza que sua mãe vai cuidar de você por muitos anos ainda, querido. Deixe-me ver esse desenho. – ela tirou o desenho de cima da mesa, olhando-o atentamente. Ângela tinha a impressão de reconhecer o desenho.

– Parece uma caverna tia Ângela... – comentou Matthew.

Era isso! A caverna Béal an diabhal. Era uma pista importantíssima.

– Sean, eu vou ficar com o seu desenho por enquanto.

– A senhora vai salvar a mamãe do homem mal, tia Ângela?

– Vamos querido. Vamos sim. – ele deu um beijo no alto da cabeça dos dois e fez um sinal para que eles fossem para a cama

Ângela correu de volta para o seu quarto para pegar o celular. Mas descobriu que ele estava com a bateria baixa. Trocou os sapatos de salto alto por outro baixo. Ela desceu as escadas num ritmo frenético. Qualquer minuto era importante.

– Mamãe! Mamãe! – ela gritou terminando de descer as escadas.

Elinor e Maggie apareceram vindas da cozinha.

– O que foi Ângela? – perguntou Maggie – O que aconteceu?

– Liguem para o Neil. Descobri uma pista importante sobre a Susan. – ela pegou as chaves do carro.

– Filha não é melhor esperar por ele? – Elinor correu atrás dela.

– Não! – gritou ela da porta – Cada minuto é importante. Diga a ele que eu fui para as cavernas.

Maggie já estava com o telefone na mão.

– Neil? É Margaret Dougherty. Por favor, vá atrás de minha neta. Ela foi para as cavernas. Disse que encontrou uma pista sobre Susan Collins. Ah, Neil... Não se esqueça de passar aqui para me pegar. Que deixe com a polícia, o quê menino! Ângela precisa de mim. Se você não vier eu vou sozinha. Nem que seja em cima de uma vassoura, entendeu?


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