Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 32
Ela




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/544355/chapter/32

Acordo de sobressalto, confiro o relógio que marca 4:42 AM e uma onda de alívio percorre o meu corpo. Sento na cama com alguma dificuldade, meu braço está preso por uma tipoia, a dor parece ter dado uma trégua, mas tenho a impressão que a minha cabeça é um balão de gás, tanto que levo um certo tempo para me dar conta de que não estou no meu dormitório. As paredes que circundam o pequeno quadrado em que me encontro são divisórias de metal e tecido, ou plástico talvez, está um pouco difícil de identificar com a baixa luminosidade do local.

Próximo a cama em que me encontro há uma poltrona vazia, e ao lado da minha cabeceira, um monitor que produz um bipe regular irritante. No meu braço livre há um cateter ligado a uma bolsa cheia de um líquido transparente, não o identifico a princípio, pois o meu raciocínio está lento, os pensamentos somem na mesma velocidade com que aprecem, mas então me recordo de quando acordei no meu dormitório pela primeira vez, haviam duas bolsas conectadas ao meu braço por cateteres, soro fisiológico e sedativos. Sedativos é tudo que eu não preciso neste momento, estar drogada durante os meus exames será o meu fim como aspirante a piloto e militar.

O braço preso dificulta, mas ainda assim arranco o cateter e um pouco de sangue regurgita da minha veia. Há também uma espécie de grampo de plástico no meu dedo indicador, imagino que deva ser esse objeto que me liga a esse monitor e ao removê-lo o bipe deixa de ser apenas um bipe a intervalos irregulares e passa a ser um som ininterrupto e ainda mais irritante do que o anterior, o que me faz cogitar a possibilidade de colocá-lo de volta.

_ Beatrice, o que você pensa que está fazendo?!

Nossa nem percebi a chegada de Wes, meus sentidos estão muito afetados.

_ Estou drogada! Você me drogou! Eu tenho meus exames para fazer em menos de três horas! - Eu digo e soa mais como um choramingo do que como palavras carregas de irritação e reprovação como eu esperaria. Minha capacidade de fala também está prejudicada. Mas que droga!

_ Calma! Beatrice, você deslocou feio esse ombro, foi anestesiada para que eu pudesse colocá-lo no lugar sem que você desmaiasse de dor. - Ele retruca.

_ Eu já passei por dores piores, garanto que eu aguentaria sem ser nocauteada por anestésicos,ou seja lá o que você me deu! - Continuo tentando imprimir toda indignação que estou sentindo na minha voz, mas acho que não estou tento muito sucesso se o que sai da minha boca é exatamente o que estou ouvindo.

_ Beatrice, o efeito deve passar em uma hora. Você acordou antes do previsto porque deve estar ansiosa, mas se estivesse dormindo quietinha como deveria, com certeza acordaria em tempo dos seus exames sem efeitos colaterais.

_ Você garante que estarei em condições de fazer os exames? - Preciso da confirmação.

_ Você é destra? - Ele pergunta.

_ Que tipo de pergunta é essa? - Estou confusa, eu quero uma confirmação de que recobrarei o meu juízo perfeito e necessário para fazer os meus exames.

_ Simples, se você for destra poderá fazer os tais exames sem problemas, e com todas as suas faculdades mentais em pleno funcionamento. Já se você não for, vai complicar um pouco, pois você não conseguirá movimentar o braço esquerdo, não sem sofrer dores horríveis e prejudicar seriamente seu tratamento.

_ Sou destra, e mesmo que não fosse daria um jeito. O que importa é se estarei conseguindo raciocinar com clareza. - Respondo.

_ Sim, estará. Agora, deite que vou chamar uma enfermeira para substituir seu cateter.

_ Wes, você promete que se eu deitar agora estarei de pé e lúcida para fazer os exames?

_ Eu prometo. Confie em mim. Eu mesmo levo você até lá.

Então eu obedeço e afundo na cama. Meu corpo ainda está um pouco dormente e permito a cada músculo o aclamado relaxamento. Então uma moça que não deve ter mais do que 20 anos surge no meu campo de visão. Ela tem o cabelo claro num tom pálido de laranja com algumas mechas mais avermelhadas, os olhos são grandes e azuis, o pequeno nariz é adornado por sardas, as bochechas são coradas e redondas e boca pequena e delicada. Ela me lembra as bonecas de porcelana que nunca pude ter quando criança. Ela sorri para mim. Há uma pequena placa dourada presa ao seu uniforme verde claro, mas não consigo identificar o seu nome, pois as letras insistem em embaralha-se diante dos meus olhos. Então Wes toma o lugar da moça ao meu lado e acaricia meus cabelos, a sessação é boa. O mais parecido com segurança, carinho e compaixão que pude experimentar nos últimos meses. É quase como estar de volta a abnegação, ao meu quarto nas noites de tempestade quando os trovões acordavam-me aterrorizada em plena madrugada e lá estava ela, minha mãe parada junto a porta do meu quarto, antecipando qualquer medo ou pavor. Então ela sentava-se ao meu lado e acariciava meus cabelos até que o sono absorvia a minha consciência e por fim eu adormecia na mais absoluta paz, exatamente como estou fazendo agora.

********

Desperta e lúcida confiro as horas no meu relógio de pulso, 6:40 AM estou sentada na cama ainda usando roupas de hospital, quando Wes adentra o pequeno cubículo no qual me encontro empurrando um carrinho que contém uma bandeja coberta, com o que imagino ser meu café da manhã. Meu estômago responde ao estímulo ruidosamente. Eu não tinha me dado conta de que ontem nem sequer almocei ou jantei.

_ Beatrice, trouxe seu café.

_ Obrigada Wes!

Vou me levantando e indo em direção a comida, a única dificuldade agora é a tipoia, já que o soro deve ter sido retirado enquanto eu dormia, pois no local onde estava o cateter há apenas um curativo. De pé ao lado da bandeja devoro um croissant de queijo, uma banana, cinco biscoitos com geleia, entorno um copo de iogurte de morango e para finalizar um copo de suco de laranja. Dispenso apenas o café com leite porque definitivamente não cabe mais nada no meu estômago.

_ Beatrice! Seria bom você mastigar os alimentos antes de engolir. - Wes repreende.

_ Não tenho tempo Wes! Preciso escovar os dentes e trocar de roupas e para isso terei que passar no dormitório. - Digo enquanto limpo a boca com o guardanapo e olho de soslaio para o meu relógio. Poxa vida! 6:45 AM! Não posso me atrasar!

_ Aqui está, um kit higiene, roupas limpas e tênis. - Wes me alcança uma sacola.

_ Obrigada, obrigada e obrigada! - Agradeço efusivamente.

_ Certo. Vou esperar no corredor enquanto você se veste. Vai precisar de um banheiro, então, saindo da sua baia, olhe para o lado esquerdo e verá uma porta no final do salão, o banheiro é lá.

_ Ok.

_ Precisa de ajuda por causa da tipoia, vou chamar uma enfermeira.

_ Hum, acho que eu posso me virar.

_ Não, não pode não. Você vai levar o dobro do tempo se insistir em fazer tudo sozinha. - Wes me persuadiu fácil.

_ Tudo bem!

Wes sai por um momento e de repente a moça ruiva que substituiu meu cateter retorna para me auxiliar.

_ Olá, Beatrice, como se sente? Ela pergunta enquanto desabotoa a tipoia deixando o meu braço livre que pende como se pesasse pelo menos uns 30 quilos.

Olho a plaquinha dourada presa ao seu uniforme, descubro que o nome que está gravado nela é Melanie.

_ Estou melhor obrigada. - Respondo.

_ Ótimo! - Melanie balbucia enquanto segura o meu braço dobrado na altura do abdome e retira a camisola de hospital e depois passa habilidosamente a camiseta pela minha cabeça e pelos meus braços e coloca a tipoia de volta no lugar.

Antes que eu possa fazer menção de pegar as calças de moletom que estão na sacola, ela já o fez, e está agachada para ajudar-me a vesti-la. E o mesmo acontece com as meias e o tênis. É constrangedor, mas dadas as circunstâncias eu não reclamo, pois graças a Melanie e sua habilidade em vestir que chegarei em tempo para o exame.

Wes está no corredor me aguardado com uma cadeira de rodas. Fala sério!

_ Não me olhe assim, precisamos convencer o General Sparks de que você está debilitada.

_ Tudo bem! Vamos lá, mas seja rápido!

_ Sente na cadeira e fique tranquila, as 7:00 AM em ponto estaremos no centro de comando.

_ Sala 228 Wes.

_ Ok. Relaxe e aproveite o passeio.

Estamos parados junto a porta sinalizada pelo pequeno número 228 gravado em preto na pequena placa de metal presa no topo da porta. No exato momento em que 6:59AM transforma-se em 7:00AM no visor do meu relógio, fecho a mão direita em punho e me preparo para bater levemente na porta. Mas sou interrompida pelo próprio Capitão Cameron que parece ter antecipado o meu movimento e abrindo a porta. Ele está parado bem à nossa frente. E num primeiro momento ele parece ter visto somente Wes, sua expressão é de surpresa e então ele abaixa os olhos e me vê sentada na cadeira de rodas.

_ Srtª Prior! Estava aqui apenas para cumprir tabela, não esperava que de fato aparecesse... Dados os acontecimentos de ontem a tarde.

_ Pois aqui estou Capitão Cameron, pronta para fazer os exames. - Respondo, a confiança emanando de cada palavra.

_ Recebi informações de que há uma ordem de detenção em nome da Senhorita. - O Capitão Cameron reforça o motivo pelo qual ele duvidava que eu pudesse comparecer.

Estou me preparando para responder quando Wes argumenta:

_ Na verdade ela não recebeu alta médica. Beatrice teve uma importante lesão no ombro esquerdo, de modo que estou aqui na qualidade de médico para garantir que ela fará apenas e tão somente esses exames para que possa ser levada de volta ao hospital onde ficará em repouso e sob a supervisão de uma enfermeira para que ela e nem ninguém desobedeçam as minhas prescrições.

Capitão Cameron não responde de imediato o que começa a me deixar um pouco nervosa, então Wes como se pudesse de fato perceber o desespero que começa a crescer em mim, pressiona meu ombro bom, levemente com a mão direita, num gesto de carinho e conforto. Depois de um longo tempo, pelo menos essa é a impressão que tenho, ele por fim diz:

_ Bom, já que estamos todos aqui, Dr. Wes e Srtª Prior, entrem.

Ele abre caminho para que possamos entrar, enquanto Wes me conduz a uma das carteiras, ele prossegue com seu raciocínio:

_ Não posso garantir que o General Sparks vá liberá-la para assistir as aulas, caso a senhorita seja bem sucedida, mas de qualquer forma, vou aplicar os exames em consideração a sua determinação e a sua coragem, ou imprudência... ainda não decidi. - Capitão Cameron conclui, a seu modo, seco e impassível, mas ainda assim consigo reconhecer um elogio, talvez até uma certa admiração.

Uma onda de alívio mais uma vez vem para apaziguar meu desespero.

_ Eu agradeço muito essa oportunidade. - Respondo com um enorme sorriso estampado no rosto.

A sala branca possui cinco fileiras com seis carteiras estudantis em cada uma delas, aquelas que possuem apenas um descanso para cadernos no lado direito ou esquerdo. Um quadro negro antiquado preso a parede de fronte as classes, está repleto de frases, desenhos e fórmulas escritas com giz que por sinal foram mal apagadas, formando sombras de um passado aparentemente recente, em que muitos outros estiveram nesse local ocupando esses lugares.

No lado esquerdo, oposto à porta pela qual entramos, está a mesa do professor, confeccionada em moguino, lisa sem nenhum adorno ou detalhes, junto a ela está uma cadeira de qualidade superior as das carteiras, porém ambas são estofadas e cobertas por couro num tom de verde que lembra muito os uniformes militares daqui. A mobília, feita de cores fortes e escuras, assim como o quadro negro provocam um contraste impressionante com as paredes, o teto e o chão que são de um branco imaculadamente impecável.

Estou sentada, acima da minha carteira há um lápis, uma borracha e uma caneta simples, azul de tubo transparente que me possibilita ver a sua carga. Material este, cortesia do próprio Capitão Cameron. A ansiedade começa se esgueirar e sinto as palmas das mãos transpirando, então esfrego a mão direita nas calças do meu abrigo na intenção de secá-la, repito o movimento por muito mais vezes do que necessário, manter as mãos, no caso, a mão boa ocupada, me distrai um pouco.

Wes sentou-se na última carteira da última fileira do lado direito, o mais distante possível de mim. Imagino que sua intenção foi diminuir o meu nervosismo e apesar da sua boa intensão não surtiu efeito algum.

Finalmente o Capitão Cameron abriu a gaveta da sua mesa, o que identifico apenas pelo ruído, já que de fato não posso vê-la, e de lá retira dois envelopes lacrados e os deposita em cima da sua mesa, antes de fechar a gaveta ele retira uma caixa de madeira com um apagador encaixado sobre ela e também um extrator de grampos. Não posso evitar acompanhar cada movimento seu. Ele usa o extrator para abrir um dos envelopes, retira dele uma série de folhas presas por um grampo, se dirige à mim e deposita as folhas em cima da minha carteira, confere o relógio e diz:

_ Srtª Prior, esse exame tem 40 questões objetivas e apenas uma questão dissertativa. Pode conferir por favor, se nessas folhas contém questões numeradas do 1 ao 40?

_ Sim, senhor. - Confiro folha por folha, e vejo que todas elas estão lá, na ordem que deveriam estar e a última folha contém uma pergunta com aproximadamente 30 linhas para resposta.

_ Está tudo aqui Capitão. - Respondo.

_ Ótimo, então a partir de agora, você terá 75 minutos para resolver essas questões, vou escrever o horário no quadro negro para que possamos acompanhar. - Ele diz enquanto abre a caixa que contém o giz, tira uma pequena barra branca e rabisca no quadro com a sua caligrafia desleixadamente masculina : 7:13 AM.

_ Pode iniciar! - Ele diz.

Eu abaixo a cabeça e tento me concentrar nas questões, mas parece que me deu um branco, estou atônita olhando a primeira folha que tem 10 questões, cada uma dela com um enunciado gigantesco e cinco alternativas para assinalar.

Preciso me concentrar, estudei a semana toda, impossível que as respostas não estejam perdidas em algum lugar do meu cérebro. Concentração Beatrice, concentração!

A primeira questão é o ponto de partida, literalmente.... Vamos lá!

1) O desenvolvimento do Jato atualmente utilizado por esta base militar começou no século XIX , quando uma equipe da fabricante excursionou pelos menores países da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e da SEATO (Organização do Tratado do Sudeste Asiático) para examinar as necessidades de defesa desses países. Dos estudos resultantes dessas visitas, a companhia identificou uma nítida necessidade de um aparelho multifuncional de baixo custo. Mediante a essa necessidade a fabricante desenvolveu o modelo mais utilizado em combate durante a Segunda e a Terceira Guerra Mundial, bem como a frota disponível a serviço dos Estados Unidos da America foi decisiva para que o Governo pudesse tomar o controle do que restou da população após a Guerra da Pureza. Qual é o modelo atualmente operado pela Base dos Estados Unidos da América, situada em New York? Analise a questão anterior e assinale a alternativa correta.

A - ( ) F-5E Tiger II

B ( ) Lockheed T-33

C ( ) N-156F

D ( ) T-38 Talon

E ( ) CF-116

Essa não foi tão ruim assim. Na capa da apostila que estudei durante toda a semana que passou havia em caixa alta e negrito: Manual de Pilotagem Northrop F-5E Tiger II. De modo que contabilizo um acerto, já na largada. Mas tem algo nessa questão, mais especificamente no seu enunciado que me deixa intrigada, o tempo é datado, haviam outros países, haviam tratados, houveram três grandes guerras... A palavra tratado me remete a conciliação, acordo... E as tais guerras, que dizimaram o mundo, qual foi o estopim? Terei acesso a essas informações? Onde estariam guardados esses registros? São perguntas as quais só terei as respostas quando estiver infiltrada como integrante desta base e para isso preciso sobreviver a esse teste.

Passando para a segunda questão, que depois de um enredo gigantesco aborda exatamente o que falamos Enrico e eu, ontem pouco antes do episódio com Alejandra.

As questões seguintes são complexas, mas tenho a impressão de ter acertado, o que me faz pensar que talvez eu possa ter errado tudo, já que sempre que tive certeza de ter ido bem nas provas da escola eu acabava me dando mal, mas esse é um tempo distante, muito diferente da minha atual realidade, quando eu ainda nem imaginava o que estava por vir, sentada em carteiras muito diferentes dessas na nossa antiga escola em Chicago.

Passaram-se 50 minutos, terminei de resolver as 40 questões objetivas e só por via das dúvidas revisei novamente cada uma delas e estou tentando afastar aquele sensação de que fiz tudo certo para não dar mau agouro.

A última questão pelo que pude perceber, discorre quase que uma página inteira, e na rápida passada de olho que dei na última frase, vejo que envolve meu ponto de vista a respeito do regime governamental do nosso país. Me pergunto: Será que eles imaginam que eu possa em algum momento do meu relato imprimir algum traço de sinceridade?

Eis a questão:

41) Questão dissertativa, analise a sentença abaixo.

No início do século XX o planeta foi divido em duas frentes, ambas com pensamentos ideológicos divergentes e lideranças extremistas. Na linha de tenção que cortava o planeta ao meio, ficavam de um lado os extremistas religiosos que atribuíam as suas atitudes hostis e violentas aos ensinamentos tirados de um livro sagrado inspirado pelo seu Deus e do outro lado estavam os países que acreditavam na democracia capitalista que transformavam tudo e todos em mercadoria, tudo estava à venda e tudo podia ser comprado. Essas lideranças extremistas levaram o planeta ao colapso e com a guerra declarada boa parte da raça humana foi extinta. Inclusive as lideranças foram derrubadas simultaneamente por misseis de longo alcance. Então uma nova ordem foi criada com o intuito de estabelecer a paz e eliminar toda e qualquer coisa que indicasse um risco iminente à paz. Estudos comprovaram que os genes humanos possuem características peculiares, alguns instigam a violência e outras mazelas do caráter humano e outros carregam as qualidades que cada indivíduo possui. Numa tentativa de extinguir os genes que responsáveis pela mazelas do caráter humano, um grande desequilíbrio surgiu e mais uma vez o planeta esteve divido em duas partes, as pessoas com dano genético ocasionado pelo experimento e as pessoas com os genes puros. Uma rebelião ocorreu entre os GDs (Genes Danificados) com ela veio a guerra da pureza e em consequência o sistema de facções. Dadas as informações, qual a sua opinião sobre o atual governo e quais mudanças você faria caso fosse governante dessa nação?

Fala sério! Fora a riquíssima fonte histórica, que com certeza terei que verificar sua veracidade, que pergunta é essa? Será que alguém já respondeu: Eu acho esse governo opressor, omisso e ditatorial. E a minha sugestão é que as pessoas tenham a oportunidade de escolher suas lideranças.

Não, acho que ninguém em sã consciência responderia essa questão desta forma.

Levanto os olhos e vejo que o Capitão Cameron está batendo com o dedo indicador no visor do seu relógio de pulso, e então rabisca no quadro negro: 8:13 AM # 10MIN. E eu compreendo que tenho 10 minutos para responder essa questão, caso contrário serei desclassificada, imagino eu.

Vamos Beatrice, pense, pense... O que será que eles querem que eu escreva, o que esperam que seja considerada uma resposta correta?

O tempo está correndo, de modo que preciso começar de alguma forma. Então lembro mais uma vez dos meus tempos remotos de estudante, que numa prova quando eu não sabia ao certo a resposta da questão eu construía o meus texto usando muitos dos termos contidos no enunciado e geralmente funcionava, afinal quem da erudição ou deste governo que não é tão vaidoso a ponto de considerar perfeita uma resposta que se assemelhe ao seu próprio ponto de vista?

Lá vou eu...

Dadas as circunstâncias em que nosso planeta se encontrava, penso que o caminho escolhido pelo nosso atual governo foi o mais assertivo, pois todo esforço e trabalho tem sido destinado a manter a ordem, a paz e preservar a raça humana. Eu não teria feito nada diferente, exceto pela experiência com os genes destrutivos, mas de qualquer forma nessa área não posso dar uma opinião exata, haja visto que não tenho muitos conhecimentos na área científica.

E essa foi a minha resposta. Espero ter convencido.

Viro a prova e deposito a caneta sobre ela. O Capitão Cameron destaca a última folha com a pergunta dissertativa e a deposita num envelope que põe dentro de sua gaveta, as demais folhas ficam em cima de sua mesa. E Então ele abre o lacre do outro envelope e tira de dentro dele duas folhas presas, o que imagino ser o exame sobre treinamento militar.

_ Srtª Prior, este é o exame sobre o treinamento militar. São 20 questões objetivas e o tempo para conclusão do mesmo é 35 minutos. - O Capitão Cameron fala enquanto indica com a mão esquerda as folhas que estão em sua mão direita.

_ Ok. - Respondo e dou uma olhada para trás para ver se Wes continua ali, já que não ouvi som nenhum vindo da sua direção e vejo que ele continua atendo e me lança um olhar interrogativo e eu aseno com a cabeça para que ele entenda que estou bem.

Então volto a minha atenção para o Capitão Cameron, ao que ele pergunta:

_ Srtª Prior, se precisar ir ao banheiro, tomar água, o momento é agora.

_ Não, estou bem. Obrigada. - Respondo.

Ele me entrega as folhas de papel, retorna ao quadro negro, confere o relógio e rabisca: 8:28 AM.

Antes mesmo que ele possa me autorizar, já estou concentrada lendo o primeiro enunciado. Eu li diversas vezes o manual/polígrafo que o Enrico me deu, e as questões não me surpreendem nem um pouco. Tudo, mas absolutamente tudo trata de subserviência ao governo, submissão, o país frente a tudo e no final algumas questões sobre atitudes esperadas de um soldado na linha de frente de combate.

Acabei concluindo o exame em 10 minutos, de modo que revisei umas 5 vezes para ver se não tinha esquecido de nada. Por pus a folha do avesso em cima da classe, reuni a caneta, o lápis e a borracha, estes dois últimos sem serventia alguma. O Capitão Cameron está sentado na sua cadeira, distraído girando a pulseira de ouro que tem no pulso direito, ele passa o dedo indicador da mão esquerda por dentro da corrente, gira 180 graus, num círculo vicioso ele repete esses movimentos umas 20 vezes seguidas até que resolvo chamar a sua atenção pigarreando.

Ele levanta os olhos, confere no seu relógio e diz:

_ Maravilha, concluiu o exame em 12 minutos! Vou recolher os exames e submeter a correção. Até quarta feira já teremos um resultado.

_ Ótimo! Como ficarei sabendo? Devo vir até aqui? - Pergunto.

_ Não, a Senhorita deverá ser notificada no seu endereço. - Ele responde.

_ Mas eu não tenho endereço!

_ A resposta será encaminhada para o endereço que na sua ficha. - Ele conclui já abrindo a porta para sairmos.

_ Mas que ficha? - Estou confusa.

_ Não se preocupe Beatrice, na sua fixa consta que você é interna. Vão entregar no seu dormitório. - Wes me tranquiliza enquanto me ajuda a sentar na cadeira de rodas.

_ Certo! Obrigada Capitão Cameron! - Digo e vejo que ele e Wes trocam apenas um aseno de cabeça.

Quando já estamos no corredor Wes pergunta:

_ Como você está?

_ Estou bem, apenas um pouco cansada. Será que ao invés de voltar para o Hospital eu não poderia ficar no meu dormitório? - Peço.

_ Tudo bem, de qualquer forma ficarei por lá com você para o caso dos soldados aparecerem para te recolher para a detenção.

_ Isso não atrapalha você? - Pergunto

_ Não, reservei os próximos dias para cuidar de você, já que percebi a sua grande aptidão para meter-se em confusão sempre que não estou por perto. - Ele retruca em tom zombeteiro e eu acabo rindo com ele.

Chegamos ao meu dormitório, Wes abre a porta então Enrico surge no meu campo de visão.

_ Poxa Tris! Eu tava preocupado! Procurei por você no Hospital e ninguém confirmou que você estava lá, fui até a detenção e os guardas disseram que você não estava lá! Corri até o centro de comando e a idiota da recepcionista disse que havia trocado de turno a pouco e não sabia informar se você estava lá.

_ Estou bem. Estive fazendo as provas. Wes me acompanhou.

_ Então como se saiu? - Enrico quis saber.

_ Não sei, quarta sai o resultado.

_ Ah mas você deve ter uma ideia de como se saiu, se questões eram fáceis... - Ele insiste.

_ Enrico, não sei se você percebeu, mas a Beatrice teve uma importante lesão no ombro e precisa de repouso. - Wes o repreende. Não sei porque ele tem essa mania de achar que o Enrico me influencia. Isso de certa forma me deixa chateada.

_ O que você faz nessa cadeira de rodas se o problema é no ombro? - Enrico está intrigado.

_ Boa observação! - Eu digo num tom divertido.

_ Repouso envolve o mínimo de esforço possível! - Wes responde num tom seco.

Antes que eu possa defender o pobre Enrico a porta se abre e por ela passam quatro soldados e seguido deles o General Sparks em pessoa. Todos estão estupefatos, inclusive eu.

_ Srt.ª Prior, soube que a senhorita esteve disposta o suficiente para fazer seus exames hoje. Desta forma vim pessoalmente garantir que a sua detenção. - Ele diz de forma rude e altiva.

_ Que honra! Não tinha ideia do quão sou importante neste local! Veja só Wes, o General Sparks em pessoa está de pé no meu dormitório para conduzir-me a detenção.! - Sei que vou me meter em confusão, mas não posso evitar as palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse pensar a respeito.

Wes me lança um olhar de reprovação e diz.

_ General Sparks, com todo o respeito, ela não está em condições de ser mantida em uma cela. Os ligamentos do ombro romperam na queda, o braço deve ficar imobilizado e ela não poderá fazer nenhum esforço ou movimento brusco.

_ Tenho certeza de que ela ficará quietinha na cela. - O General responde enquanto dois guardas afastam Wes brutalmente de trás da cadeira. Um outro assuma o controle da cadeira enquanto o quarto soldado está parado bem na frente de Enrico, com a arma em punho para impedir qualquer investida sua.

_ General Sparks, creio que deva me deter também, pois eu fui o motivo real da briga! - Enrico fala e fico imaginando o tamanho da confusão em que está se metendo e de graça.

_ Um réu confesso! Leve o garoto também.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Convergente II" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.