Elemento escrita por Grind


Capítulo 29
Capítulo 29 - Final alternativo um




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Elemento / Capítulo 29 – Final Alternativo um

*-*

Eu respirei fundo algumas porções de vezes, que eu estava nervosa não poderia negar Os comentários de Gabriel, Marco, e até mesmo dona Angela assombravam a minha mente e eu fazia de tudo para ignora-los, queria fazer uma escolha por mim mesma.

Angela que me passara o endereço. E agora eu estava em frente ao oitavo batalhão da policia militar, criando coragem para passar pelo policial da guarita, entrar na sala da telefonista e pedir para falar com o Sgt. Elemento D.

Eu fechei os olhos, pareciam milênios desde a última vez que entrei em um batalhão de policia. Minha mãe era policial, assim como meus tios, e o pai dela, assim como meu pai. Quando eles se separaram quando eu era pequena era difícil para ela conciliar trabalho e duas filhas pequenas, logo, o batalhão em que ela trabalhava virou uma espécie de ‘segunda casa’. Eu passava as noites no alojamento feminino com a minha irmã, brincando com o menor barulho possível, o capitão dela não gostava de crianças. Os amigos dela nos mimavam, levavam algumas coisas para comermos e umas folhas de B.O com erros e canetas para desenharmos.

Mas sempre tinha alguém para reclamar, como o fato de que ‘a Cabo traz as filhas dela pra cá e elas ocupam a beliche que seria das outras policiais descansarem em seu intervalo’ então minha mãe era transferida pra outro setor e lá íamos nós.

Eu teria dado tudo para ter crescido mais rápido naquela fase, só para causar menos problemas. Depois que ela faleceu, a única vez que entrei em um departamento da policia fora para devolver as fardas, cassetete, arma e munição.

Eu conferi meu cabelo no reflexo do celular, estava tudo em ordem, logo, entrei.

Barrada na entrada como já era de se esperar, disse meu nome e com quem eu precisava falar, indicou a direção da sala da telefonista e lá estava eu, sendo obrigada a atravessar o pátio das viaturas. Eu respirei fundo outra vez, mia dúzia de recrutas estavam entre um dos carros e uma das motos, em uma conversa animada que me fez torcer para que eu não chamasse atenção demais.

Quando voltei a olhar para frente Elemento tinha acabado de descer uns três ou quatro degraus do outro lado do pato, vindo da direção da enfermaria, conversando cheio de sorrisos com uma papafox – policial feminina.

Eu parei onde estava, estreitando os olhos, talvez fosse coisa da minha cabeça.

Não, não era.

E Elemento não sorria com frequência.

Eu abri a boca para chama-lo, mas minha voz sumiu. Uma sensação estranha me subia o peito, e era como se eu tivesse engolido algum tipo de acido. Eu não podia gritar ‘Elemento’, eu não podia gritar ‘D’, as pessoas que trabalhavam com ele estavam ali e eu não poderia chegar o chamando por um apelido intimo, acabaria com a moral que tinha – se ele tivesse uma – e ele provavelmente já se aproximaria preparado para discutir. Eu engoli duro, desgraçado.

Eu me endireitei, respirei fundo outra vez.

– Davi! – A minha voz ecoou firme pelo pátio, o grupo mais atrás diminuiu o tom de voz até que tudo ficou em completo silêncio, a meia dúzia de olhares se compenetrando na minha nuca. Eu não queria parecer nervosa.

Elemento pareceu gelar, assim como empalideceu de uma hora pra outra. Talvez ninguém o chamasse pelo primeiro nome, mas pelo nome de guerra. Quis revirar os olhos.

O sorriso dele sumiu quando ergueu a cabeça para ver quem tinha cometido o erro, um brilho ameaçador nos olhos que fez minhas pernas bambearem, não sabia se ele estava triste ou feliz em me ver.

Eu cruzei os braços, ele disse alguma coisa para a mulher na frente dele que se afastou as pressas, como se fosse buscar algo realmente importante. A expressão dele permaneceu dura conforme se aproximava e eu quis sair correndo, talvez não tivesse sido uma boa ideia.

Ele hesitou em chegar muito perto.

– O que – O tom de voz dele era baixo, firme, ameaçador – O que você – Balançou a cabeça confuso.

– Olá.

Ele pareceu ficar brevemente sem jeito.

– Oi.

– Nós tínhamos – Eu respirei fundo mais uma vez – Temos que conversar.

Ele ainda estava um tanto atordoado.

– Sobre o que?

Eu lancei um olhar rápido ao grupo, que se mantinha quieto e atento, provavelmente aguçando o máximo possível os ouvidos para nos ouvir.

– Sobre... Nós.

Ele levou mais de um minuto para processar, e como se uma lâmpada se acendesse sobre sua cabeça, ele avançou dois passos. Meu Deus, ele estava perto demais.

– Você veio até aqui pra conversar?

Eu o encarei meio amedrontada, quando foi que ele começou a exalar poder? O grupo parecia ter parado de respirar.

– Será que não poderíamos-

– Não.

Eu fechei os olhos.

– É, esclarecer algumas coisas.

Ele franziu o cenho.

– Esclarecer? Eu pensei ter deixado bem claro-

– Eu vou esclarecer as coisas aqui – Retruquei entre dentes. Por que ele tinha essa mania de querer estar no controle sempre? O brilho do ego ferido passou pelos olhos dele.

– É melhor que tenha vindo com boas noticias, eu estou no meu ambiente de trabalho e-

– Da pra você calar a boca? – Minha voz soou um tom a mais, algo me disse que o grupo ouviu e eles se remexeram inquietos. Como se pudesse ler meus pensamentos ele lançou um breve olhar na direção deles antes de voltar sua atenção a mim.

– Vamos conversar em-

– Não – Eu passei a mão pelo cabelo – Eu vim só pra te dizer não.

A expressão dele voltou a se tornar confusa, e quando abriu a boca para falar eu continuei.

– Eu não posso continuar com isso está bem? Essa não sou eu, eu tenho limites e você surpreendentemente conseguiu ultrapassar todos eles, e eu te odeio por isso.

Ele passou a mão pelo rosto, insatisfeito deu meia volta como se tentasse processar o que eu falava.

– Você não sabe o que está falando.

– Eu sei, sei porque pensei muito, talvez até demais. Você precisa ver também que isso não vai dar certo. Qual é? – Eu joguei as mãos para o alto em desistência – Estudamos uns oito anos juntos, e tudo o que tínhamos era repulsa um do outro.

– Éramos jovens – Retrucou com firmeza – Você cresceu, eu cresci, e pelo que sei – Ele voltou a ficar de frente pra mim – As pessoas crescem e amadurecem, nos odiávamos por coisas idiotas, e se levamos isso adiante é porque somos mesquinhos e rancorosos, não tem sentido continuarmos a nos tratar mal depois de anos por uma guerrinha ridícula de infância.

– Pode até ser Davi, mas mesmo que esse ódio não tenha fundamento, essa paixonite também não – Ele pareceu ofendido – Meia dúzia de provocações trocadas, e toda vez eu resolvia baixar a guarda você era um grosso.

– Porque eu não queria aceitar – Ele voltou a ficar perto demais, e eu sabia que o grupo já tinha escutado boa parte – Não queria aceitar a ideia de gostar de você porque eu estava sendo idiota, eu tentava influenciar minha cabeça com acontecimentos de sabe se lá quantos anos atrás pra tentar te odiar, tentava encontrar falhas no seu modo de se comportar, eu estava com esse mesmo pensamento ridículo sobre você. Então quando eu resolvia tentar era você quem se tornava a grossa.

– Eu me tornava grossa? – Eu leve a mão ao peito – Você me ofende, critica minhas amizades, acha que tem o direito de meter o dedo na minha vida e espere que eu fique calada? Conhece-me o suficiente pra saber que eu não baixaria a cabeça pra você, principalmente por você ser você!

Ele revirou os olhos.

– Muito bem, eu me comportei mal, talvez eu ainda me comporte mal, eu já pedi desculpas pelas acusações que te fiz, porque eu realmente me arrependi delas e praticamente me humilhei pra você, eu abri meu coração pra você, e tudo o que me fez foi me dar um tapa na cara e virar as costas!

– Saber pedir desculpas não é nenhum ato de humilhação, é saber assumir seus erros! Um ato de maturidade! – Esbravejei – Eu estava pra fazer o mesmo antes de você mostrar o idiota que sempre foi – Eu cerrei o maxilar – Sempre ignorante, querendo julgar as pessoas sem ao menos deixa-las terminar de falar.

Ele bufou.

– O que você quer de mim Gabrielle? – Ele desabotoou os primeiros botões da farda perfeitamente alinhada, desesperado por ar – Por tudo que é mais sagrado, diga-me de uma vez pra que a gente possa tentar outra vez.

Eu vi minha visão ficar embaçada, não era pra ser daquele jeito, não, não assim.

– Não tem outra vez Davi, só passei pra deixar isso claro. Não precisamos parar de olhar um na cara do outro, se der certo até pode ser que viremos amigos, mas não vou levar isso adiante. Eu não sou do tipo que gosta de sofrer por homem, ou que fica sentada em casa suspirando. Cheguei a tentar, mas talvez nem eu seja tão romântica assim!

Ele passou as duas mãos pelo rosto, sem me responder.

– Davi?

– pare – Negou com a cabeça, as mãos geladas seguraram meus pulsos levando minhas mãos para seu rosto, ele permanecia de olhos fechados, nossos corpos quase colados – Pelo amor de Deus pare de dizer meu nome, pare de falar. Por que escolheu justo esse horário pra passar por aqui? Não podia esperar meu horário de almoço ou quando o expediente acabasse.

– Porque seria mais fácil, falar e virar as costas sabendo que você não poderia vir atrás de mim por estar preso ao horário de trabalho – A minha voz soo mais como um sussurro de uma garotinha assustada.

Ele suspirou abrindo os olhos para me encarar.

– Gosta de me ver sofrer não é?

Aquilo me fez sorrir.

– Um pouco – Eu mudei o peso de um pé para o outro.

–Talvez eu me arrependa eternamente por isso, mas você tem certeza, porque eu não vou voltar atrás – Ele estava sério, sério como nunca.

Eu pisquei algumas vezes, tinha repassado aquele momento umas dez mil vezes na cabeça.

– Tenho.

Ele voltou a fechar os olhos com um ar derrotado, beijou a palma da minha ao e as desceu devagar ainda sem solta-las.

– Se me perguntarem, eu vou negar até a morte.

– Por que você não consegue lidar com um fora?

Ele abafou um riso.

– Vou fingir que não escutei seu ultimo comentário, vai se melhor para sua saúde.

– Isso é uma ameaça?

Ele então me soltou, um sorriso bobo nos lábios.

– De maneira alguma – Deu de ombros, seu típico ar de superioridade voltou a rodea-lo. Revirei os olhos – Só estou um pouco chocado demais, é meu jeito de deixar de pensar pra pensar em tudo isso depois.

– Vai sofrer se ficar adiando.

Ele bufou.

– É o meu jeito de lidar com as coisas.

– Deixar acumular tudo?

Ele ficou em silêncio por um minuto.

– É melhor que a gente não se veja tão cedo Irritadinha.

– Você é um babaca.


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