Elemento escrita por Grind


Capítulo 27
Capítulo 27 - Sentimentos




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Elemento / Capítulo 27 – Sentimentos

– Eu odeio ele, odeio tudo nele, odeio a raça medíocre de pessoas da qual ele pertence...

– Então me explica como foi que você se apa-

– Eu não sei está bem! Eu não sei – Bati as mãos sobre a mesa frustrada – Nós brigávamos, depois brigávamos de novo e brigávamos mais. Logo, sempre que estamos perto um do outro é para discutir e eu comecei a gosta daquilo, achar aquilo engraçado, divertido.

– E quando você não acha as coisas engraçadas – Ele fez sua típica cara de pouco caso.

– Cala a boca.

– Então não faz sentido você ir, já que não vai dar a ele outra chance. - Gabriel deu de ombros.

– Não faço isso por ele, faço isso por Angela. Enquanto aquele idiota orgulhoso estava internado nós nos tornamos próximas, e eu estou com saudades.

– E eu tenho que ir porquê...

– Porque eu preciso que você banque o papel do irmão chato e ciumento para que não tenha momentos só nós.

– Você e Angela? – Escutei a ironia na sua voz.

– Eu e Elemento – Resmunguei entre dentes, e ele sorriu.

– Tem medo de ficar sozinha com ele irmãzinha? Pensei que seria mais facil resistir aos encantos dele

– Tenho medo de qual de nós dois vai parar no hospital primeiro irmãozinho.

– Está bem – Ele ficou de pé, mas não me virei para vê-lo – Vou me arrumar, você pretende terminar o bolo antes?

– Sim, quero levar para não chegar de mãos vazias.

– Está bem, vou tomar banho.

Era muito fácil eu dizer pra mim mesma que não queria ver Elemento nem pintado de ouro, mas conseguir passar por ele de cabeça erguida, ignorando completamente a sua existência era outra história. Me pareceu fácil pensar que repugnaria para todo sempre aquele ser, e o tempo fora até ajudou em desfazer esse laço platônico que eu tinha criado mentalmente entre a gente. Eu coloquei a massa no forno, me jogando em uma das cadeiras em volta da mesa da cozinha.

As coisas eram muito mais simples antes dele aparecer, pensei. Muito mais simples. Talvez ele estivesse realmente arrependido quando me parou no outro dia, mas a acusação de mentirosa voltava a me perturbar e meu ódio crescia outra vez. Eu sempre aguentei ser acusada de várias coisas, talvez até concordasse com algumas, mas mentira sempre fora pra mim a pior delas.

Talvez porque minha irmã fizesse isso com frequência quando éramos pequenas, e em todas eu ficava chateada. A sensação de alguém realmente próximo de você, um irmão, mentindo, era de destruir o coração, se você não pode contar com alguém que morou sobre o mesmo teto que você metade da sua vida, e presenciou todos os seus momentos altos e baixos, em quem você confiaria?

Ela tinha puxado esse fator horrível de meu pai com certeza - mesmo que ela nunca fosse admitir – que diminuía contato entre nós para não ter que apelar para mentira, porque talvez até mesmo no julgamento dele, mentir para as próprias filhas fosse demais.

Mentir pra mim, era desconfiança, não confiar na pessoa que escuta, não confiar em si mesmo ao contar, não há confiança em ninguém quando se mente, pois quando contamos a verdade, enfrentamos de frente as consequências, enfrentamos o medo para converte-lo em algo bom. Então talvez, pra ele não fosse algo tão preocupante, talvez ele fosse como a maioria das pessoas, que achava falsidade algo mais grave. Eu também odiava falsidade claro que odiava, mas se a pessoa não percebe que ela prejudica mais a ela mesma do que ninguém com esse tipo de atitudes, já não é um problema meu, quem nunca poderá ter amigos de verdade será ela, é não eu. Cada um colhe o que planta.

Eu ainda estava de pijama, nem se quer conseguira decidir sobre o que eu usaria, minha mente divagava sobre mil maneiras de evitar Elemento ou se ele se importaria com o que eu estava vestindo, então eu me repreendia e resolvia fazer alguma outra coisa. Quando eu senti o cheiro do bolo quente, pronto, apaguei o fogo e comecei a procurar pelo guardanapo, até ser interrompida pelo barulho de alguém batendo na porta.

– Eu ainda não estou vestido – Gabriel gritou de algum lugar rindo.

Eu me apressei a procura da chave, e quando destranquei a porta fiquei aliviada por ser Marco.

– Volta de viagem e não passa nem para me dar um ‘olá’ descente?

Eu fechei os olhos suspirando, enquanto abria espaço pra que ele entrasse.

– Aliás, porque anda está de pijama? Eu sei que é sábado é tudo mais, mas pretende ficar trancada em casa por toda eternidade?

– Eu já ia me arrumar – Eu acelerei o passo em direção ao meu quarto enquanto ele se acomodava na sala.

– Estava brincando – Atrapalhou minha fuga – Onde vai sábado em horário de almoço? Não vai me dizer que Ísis finalmente convidou você pra almoçar com ela-

– Não, o almoço é na casa de Angela.

– O que? – Ele se levantou com a expressão perplexa – Pensei que isso já tinha passado.

– Eu também – Gabriel gritou de algum lugar.

Bufei.

– Quem é esse? – Marco franziu o cenho.

– Meu irmão, vai passar um tempo aqui comigo, vou levar ele comigo.

Marco fez sua tão adorada expressão de nojo.

– Medo de ser agarrada por aquele traste no meio da família dele?

Escutei Gabriel gargalhar alto.

Eu fechei os olhos, contando mentalmente até três.

– Estou indo por Angela, afinal, foi ela quem me recomendou a passar uns tempos fora, seria o minimo eu passar pra dar um olá.

Marco soltou uma risada cínica brevemente se jogando na poltrona.

– Você tenta esquecer um cara, viaja para esquecer um cara, e quando volta, você tenta manter distância para ter certeza frequentando eventos onde ele está?

– Sabe, eu acho que tudo isso é uma grande desculpa para eles darem uns pegas quando dona Angela não estiver olhando – Gabriel surgiu de sabe Deus onde, de jeans, e uma camisa polo vermelha.

Eles se cumprimentaram e Gabriel se espreguiçou no outro sofá.

– Que tipo de idiota vocês acham que eu sou?

– Do tipo que gosta de sofrer por amor – Gabriel respondeu prontamente, a resposta na ponta da língua.

Marco balançou a cabeça em afirmativo, concordando.

Eu fechei o punho com força, minha vontade de bater com a cabeça dos dois na parede.

– Eu não amo ele – Disse cerrando os dentes.

– Claro que não, sempre que as pessoas que me odeiam, e que eu também odeio, se acidentam eu as visito regularmente no hospital para ver se estão melhores, choro por elas, me culpo por causa delas, porque se elas morrerem, quem vai me odiar de volta? – Marco fazia uma bela interpretação dos fatos, enquanto gesticulava e fazia caras e bocas olhando para Gabriel como se apenas os dois conversassem e fossem muito íntimos;

Gabriel riu em concordância. E sentaram frente a frente, como se conversassem de algo realmente muito interessante.

– Gosto da parte em que ‘não há alguém pra me odiar de volta’, porque seria uma forma de dizer que ele também ama ela – Gabriel sorriu de forma sincera.

– Mas eu duvido muito sabe? – Marco coçou a nuca – Talvez ele goste de vê-la sofrer, uma maneira de se vingar por causa da carta.

– Como alguém pode ser tão rancoroso a esse ponto?! – Gabriel exclamou surpreendido.

Marco abriu a boca para responder mas eu esbravejei.

– Eu já entendi tá bom? É uma coisa que eu estou fazendo por mim, eu quero ir lá, quero olhar na cara dele e dizer que não sobrou mais nada, dizer que não importa o quando ele insista, sempre acabamos em briga, eu não posso fugir, não posso fazer esse tipo de coisa o resto da vida, sabem por quê? - Eles estavam mudos. – Porque eu não consigo! Pra vocês garotos deve ser muito fácil terminar um relacionamento e dar as costas a elas como se nada tivesse acontecido, mas pra mim não, eu quero ter certeza de que não sinto mais nada antes de fazer qualquer outra coisa.

Eu passei as mãos tremulas pelo cabelo.

– Não é isso que me preocupa Gabrielle – Gabriel ficou de pé, uma mão em cada ombro – O que me preocupa, é você não conseguir fazer isso. É você descobrir que continua gostando dele e ficar chateada por seu orgulho ser maior do que a vontade de perdoa-lo.

– Se você soubesse-

– Eu não preciso saber, não quero ter que voltar de lá com uma Gabrielle chorosa, porque se isso acontecer, vou ser obrigado a socar a cara dele.

Eu lancei um sorriso fraco e ele me abraçou.

– Eu estou convidado a ir? Angela tem um tempero ótimo. – Marco comentou e eu murmurei um ‘sem problema’.

(...)

É claro que chegamos um pouco atrasados, e de certo modo fiquei feliz por já ter várias pessoas. Eu estava com o bolo, já cortado, dentro de um tupperware, Marco e Gabriel caminhavam distraidamente atrás de mim.

Quando Angela me viu entrar, seus olhos brilharam e ela soltou um sorriso largo, largando o que estava fazendo e limpando apressadamente as mãos no avental amarrado na cintura ela me abraçou apertado, e eu correspondi meio sem jeito.

– Fico feliz que tenha resolvido aparecer – Sussurrou para que apenas eu escutasse e aquilo me fez sorrir. Quando nos soltamos ela voltou a falar.

– E quem você trouxe com você? – Ela colocou uma expressão divertida no rosto.

Eu me virei.

– Marco você já conhece, e esse é meu irmão, Gabriel.

– Prazer em conhece-lo – Ela abraçou a ambos – Fiquem a vontade! – Ela indicou a casa e as mesas postas repletas de comida. Quando eu me virei para olhar a volta Elemento já tinha me visto, já tinha se aproximado, e conseguido me assustar com a aproximação repentina.

– Céus, quase me mata do coração – Eu coloquei a mão no peito. – Enlouqueceu? Quem te deu direito de chegar assim de cautela, eu poderia estar armada. – Eu tentei olhar para alguma coisa atrás dele.

Ele sorriu muito brevemente.

– Não achei que viria.

Aquilo me fez olha-lo nos olhos.

– Também não.

– Ah, coitadinha! Eu esqueci completamente! Muito obrigada pelo bolo meu bem – Ela tirou o pote de minhas mãos e nós dois olhamos pra ela, que mantinha o sorriso convicto e os olhos brilhando.

Eu não me lembrava de ter comentado sobre o bolo.

– Foi Gabriel quem disse – Piscou como se lê-se meus pensamentos – Foi você quem fez?

– Foi – Ele respondeu antes de mim – Ela sempre gostou de mimar os amigos no colégio com os bolos que ela fazia.

Angela o fuzilou rapidamente antes de agradecer maneando a cabeça e se afastando.

– Não tinha nada que responder, ela perguntou pra mim.

– Eu não a ouvi dizer seu nome – Cruzou os braços sobre o peito, o cinismo presente na conversa outra vez, mas tão rápido quando disse ele recompôs a postura. – Desculpe, fui grosseiro.

– Quando você não for é que eu vou me surpreender. – Resmunguei.

Gabriel surgiu das cinzas jogando um dos braços sobre meus ombros.

– Então maninha, onde vamos primeiro? – Ele ignorou completamente a existência de D a minha frente.

Ainda mantendo o contato visual, Elemento maneou a cabeça para o lado devidamente incomodado, deixando claro seu desagrado.

– Na direção contrária de onde estou olhando agora.

Gabriel riu e me puxou pelo braço.

(...)

Eu levei um tempo para conseguir isolar o irmão de Gabrielle, e Marco estava ocupado demais com a comida, quando eu a peguei sozinha, já com um copo na mão, presa na mesa do ponche.

– Quando eu fiz o convite, esperava que aceitasse vir comigo. - Suspirei, levemente desapontado.

– Você fez o convite, não me lembro de nenhuma clausula na qual eu deveria, necessariamente, vir com você. Angela me convidaria de qualquer maneira quando soubesse que eu cheguei.

– E por que trouxe seu irmão? Pra provocar? Sinto que ele não vai nem um pouco com a minha cara.

Ela bateu com o copo na mesa.

– Não fale de Gabriel. – Cerrou os dentes.

– Quero que pare de beber - Eu indiquei o o infeliz copo que ela apertava com força. Ela riu e o encheu outra vez

– Você não manda em mim. – Olhou com descaso para mim e depois para o nada.

– Você não vai fazer escândalo na casa da minha mãe. -Adverti

– Não sou tão louca assim – Ela levou o copo aos lábios. – Ainda me resta um pouco de dignidade.

– Eu quero conversar com você.

– Eu não quero, mas ainda estou ouvindo.

Eu fechei os olhos.

– Lá dentro seria melhor, tem menos barulho.

– Se quiser falar vai ter que ser aqui. - Resmungou

– Tem medo de que eu a agarre lá dentro? – Perguntei irônico – Longe de seus protetores? Será que eu sou tão perigoso ao ponto de precisar de dois?

Ela revirou os olhos.

– Tenho escutado tantas vezes isso hoje que estou quase acreditando – Ela murmurou colocando o copo na mesa e caminhando na minha frente. Felizmente Gabriel não nos viu, mas fui parado por Marco.

– Onde vão? – Gabrielle não nos notara e já entrava na casa.

– Acho que isso não é da sua conta não é mesmo? - Eu estava ansioso demais para ouvir seja lá o que ele tivesse pra falar.

– Vai devagar.

Eu dei outro passo mas ele voltou a me parar.

– Estou falando sério, vá devagar.

Eu suspirei e ele se afastou.

Quando cheguei na sala, Gabrielle já estava de braços cruzados, impaciente.

– Estava verificando se ninguém nos viu? – Eu podia sentir o desprezo em sua voz. Eu me virei para começar a falar, tinha planejado o que dizer, mas nada realmente coerente me veio à mente.

– Eu quero saber o que tenho que fazer pra você me perdoar.

– Você não pode estar falando sério.

– Você me parece ter um sério problema com mentiras, então, acho que é a primeira coisa que eu tenho que consertar.

– O que te faz pensar que as coisas são tão simples assim?

– Sei que não são Gabrielle – Bufei – Por isso eu estou te perguntando.

– Não precisa do meu perdão.

– Querer e precisar são coisas distintas. – Eu olhei em seus olhos e ela desviou.

– Você não quer nada. – Resmungou – Nada além do mundo girando a sua volta.

– E se eu dei um jeito nisso? Você se quer me deu a oportunidade-

– E desde quando isso ajudaria em alguma coisa? Ser arrogante é uma coisa que você sempre foi! E você não tem motivos para querer mudar do nada! – Ela começou a berrar e agradeci mentalmente por estarmos ali e não do lado de fora.

– Por que é tão difícil para você aceitar isso? - Franzi o cenho, também de certa forma, indignado - Eu não posso simplesmente ter me arrependido e querer começar de novo? Não posso mudar por você? Tem que ser necessariamente por mim?

Ela colocou as mãos atrás do corpo, olhando desesperadamente para o chão.

– Porque esse não é você... – Disse, e soou mais como um sussurro. Eu avancei um passo.

– Eu já pedi desculpa, estou tentando ser gentil pra evitar discussões, é você quem não está colaborando.

– Eu não quero colaborar – Ela virou o rosto, evitando olhar pra mim – Não quero ter que passar pelo que passei de novo, do dia pra noite você se tornou o pior dos meus problemas!

– Não vai – Eu sussurrei de volta – É por isso que eu estou tentando fazer dar certo.

– E se não for pra ser? – Ela olhou para mim, os olhos brilhando em expectativa – E se... Tudo não foi um mero acaso? Tivemos um encontro inesperado depois de alguns anos, e alguns outros depois desse, e então... Tudo acaba. A gente pode ter se confundido na hora de descrever o que estávamos sentindo - Abriu os braços como se fosse a melhor explicação - Nos enganamos no meio do caminho e isso desandou tudo, foi só isso.

Nós ficamos nos encarando, eu processando o que ela disse e ela aguardando pacientemente uma resposta.

– Me diga então se foi um engano Gabrielle, o que você pensou que era?

Eu vi seu rosto corar, ela abriu a boca pra responder mas nenhum som saiu, tentou outras duas vezes, nada.

– Eu não estou enganado, da minha parte não foi um mero acaso.

Eu a vi entreabrir os lábios, suspirou, mas nada disse. Eu dei outro passo, e ela virou o rosto, ciente das minhas intenções.

– Gabrielle, olha pra mim. - Ela não o fez - Eu não queria magoa-la tá bom? Eu sei que fiz acusações graves e que normalmente você não perdoaria, mas eu estou te pedindo, por favor - Ela vacilou - Me desculpe, eu juro pra você, que eu nunca mais vou pensar que você está mentindo.

– Promessas são coisas muito importantes - Virou o rosto para me encarar, os olhos rasos - É outra coisa que não se pode fazer sem ter certeza de que pode cumprir.

– Eu posso cumprir, eu vou cumprir.

Ela arfou. Eu me aproximei sem cerimonias, ansioso por seu toque, os efeitos que ela me causava, minhas mãos logo trouxeram-a para mais perto e nossas línguas entraram em uma dança gostosa.

Ela levantou os braços devagar, tão lentamente, que sabia que ela estava em uma batalha interna. Entre me empurrar com todas as forças que ela possuía, ou simplesmente se deixar levar.

Felizmente ela não o fez, as duas mãos pararam na minha nuca de forma tão gentil que me causou arrepios, eu impulsionei meu corpo outra vez com o seu a erguendo, ela levou cada perna de um lado do meu corpo e outra vez eu caminhei até que eu a prensasse contra a parede.

Gabrielle era enlouquecedora, seu sabor, parecia se dissolver em meus lábios, seu gosto, seu cheiro, seu calor era uma tentação da qual eu não podia resistir, não queria resistir. O sentimento que gritava mais alto no meu peito não queria deixa-la ir, não queria deixar ela sair dos meus braços, só queria leva-la pra longe dali, longe de qualquer pessoa que resolvesse nos atrapalhar.

Não me importava, se havia mais alguém entrando ou saindo, ou se quer se nos visse, as coisas estavam agindo de tamanha naturalidade que eu queria congelar o tempo.

Minhas mãos desceram na direção de suas coxas, a pele sedosa passando por debaixo dos meus dedos, me fazendo odiar todo e qualquer pedaço de roupa que havia entre nós. Ela arfou contra minha bochecha, os lábios entre abertos, os olhos escuros pelo desejo conforme eu descia os beijos e carícias pelo seu queixo e pescoço.

Elemento... Espere um minuto – murmurou

– Nós não temos um minuto - Eu lhe sussurrei de volta, mordendo-lhe o lóbulo da orelha escutando-a arfar outra vez. Nós nos beijamos outra vez, completamente desesperados, ansiosos para cada toque, alucinados pelo desejo. Ela me parou, cobrindo minha boca com uma das mãos, me impedindo de continuar, de forma singela. Com as testas coladas ficamos ambos em silêncio, as respirações sendo o único som audível.

– Isto não está certo - Ela permanecia com os olhos fechados, mas suas mãos não me soltaram. Eu lhe beijei os dedos carinhosamente.

– Por que diz isso? - Pude senti-la se arrepiar.

Ela abriu os olhos vagarosamente, vidrados em minha boca eles subiram ao encontro dos meus olhos com certa dificuldade. Ela abriu a boca para responder mas nada disse, a confusão lhe afligia os olhos. Eu lhe acariciei o rosto, ela tirou a mão da frente de minha boca eu a beijei na ponta do nariz.

– Porque uma parte de mim diz isso

– Não se precipite - Eu lhe acariciei o rosto - Desde que a resposta seja sim pra mim - Eu não pude evitar sorrir - Leve o tempo que quiser

Ela riu muito brevemente.

Beijei-lhe o canto da boca e ela piscou lentamente.

– É uma maneira muito egoísta de se pensar. – Murmurou.

– Não posso evitar sempre.

– Gabrielle? – Escutamos a voz do irmão dela, certamente alterada.

Ela me empurrou com força, desprevenido, eu dei com as costas no sofá depois de ter cambaleado quatro ou cinco passos, enquanto ela voltava ao chão de forma desengonçada e tornava a realidade.

Gabriel apareceu e lançou olhar atentos a nós dois.

– Está tudo bem aqui? Vocês dois sumiram já tem um tempo.

Houve um silêncio constrangedor.

Mantínhamos o olhar fixo um no outro. Gabrielle passou as mãos pelo cabelo tentando se recompor, o rosto afogueado. Podia sentir Gabriel me fuzilar com os olhos.

– Eu quero pensar.

– O quê? – Ele perguntou sem entender, mas eu sabia que era pra mim.

– Não. – Eu respondi.

– Não é uma escolha sua – Ela ficou ereta – Não vou abrir os braços e fingir que nada aconteceu, eu vou pensar.

– Gabrielle depois do que-

– Do que nada! Isso não foi nada, você me pegou desprevenida, não tinha esse direito!

– Você não pareceu não ter gostado – Ralhei avançando um passo, pouco me importando com a presença do irmão dela.

– Quem é você para dizer do que eu gosto e do que não gosto – Encheu sua expressão de desprezo – Você não me conhece!

– Eu sei de quem você gosta, e esse alguém sou eu.

O tapa dela estalou no meu rosto e Gabriel se retesou onde estava.

– Você não sabe de nada. Não sabe quem sou, do que gosto ou deixo de gostar, não sabe o que eu passei por sua causa. – Ela cerrou os dentes – Então dobre a língua antes de insinuar qualquer porcaria!

– Não estou insinuando - Voltei olhar para ela, que com a raiva, e a nossa proximidade, mantinha o rosto vermelho. – Disso, eu tenho certeza, porque eu tenho certeza do que eu sinto por você.

Ela recuou um passo, abalada, mas eu me mantive sério.

– Muito bem, acabou a lavação de roupa suja – Gabriel a abraçou de lado protetor, mas ela mantinha o olhar preso a mim – Vamos que Angela está procurando por você, ela quer saber a receita do bolo...

Foi só quando ele a forçou a avançar um passo, que ela voltou a realidade. Como se acordasse pra vida, ela ergueu a cabeça e os dois saíram.


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