Elemento escrita por Grind


Capítulo 24
Capítulo 24 - Cartas a mesa


Notas iniciais do capítulo

Cap dedicado a Luna Miarelli e Stéh por favoritarem *-* Brigada migs



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Elemento / Capítulo 24 - Cartas a mesa

– Mas fora isso você não tem nenhuma novidade meu bem? - Minha mãe ergueu a sobrancelha de forma sugestiva enquanto recolhia os pratos. Eu havia contado a ela sobre a semana de trabalho, sobre o que eu ficara responsável por fazer e que na manhã seguinte passaria no hospital pra Marcelo me tirar daquele inferno e deixar eu voltar pra rua, pra minha tão amada viatura.

Mesmo que eu não quisesse, achei que não seria mal em contar a minha mãe sobre a conversa com Marco, era a única pessoa que eu realmente considerava que poderia me julgar.

Suspirei, de qualquer maneira, eu não iria conseguir esconder dela por muito tempo.

– Liguei para Marco na sexta feira. - Houve uma troca de olhares suspeita entre os dois mas eu continuei - Eu queria saber sobre Gabrielle.

Meu pai se levantou, algo que ele só fazia quando sabia que minha mãe e eu estávamos prestes a discutir. Minha mãe me chamou com a cabeça em direção a cozinha.

– E o que ele te disse? - Soou mais tranquila do que eu esperava.

– Nada que eu realmente quisesse ouvir.

– Como assim? - Franziu a cenho enquanto abria a torneira e colocava o detergente na bucha. Eu cruzei os braços enquanto me encostava na geladeira.

– Ele veio com um papo estranho pra cima de mim. Parece que ela foi viajar, passar um tempo na casa de um irmão. Eu não sabia que ela tinha irmão.

– Você nunca perguntou, estavam sempre discutindo.

– Eu tentei ter uma conversa civilizada com ela mãe, mas ela estava sempre na defensiva.

– E quando ela abaixava guarda era você quem estava na defensiva.

– Então quer dizer que eu tenho que estar de bom humor a todo instante esperando o momento que ela me trate bem?

– Se for necessário. - Deu de ombros.

Fechei os olhos respirando fundo.

– Enfim, eu teria perguntado mais coisas mas ele veio com um papo de que, eu possuo um ego grande demais pra aceitar que eu to errado.

– E não tem?

Eu virei o rosto em sua direção abismado e ela fechou a torneira pra se explicar.

– Eu amo você querido, sabe disso. Eu te criei direito, mas infelizmente você puxou o gene de seu pai quando ele era mais novo, ele também era cabeça dura e extremamente insuportável. Eu e seu pai discutimos bastante, mas eu gosto dele assim mesmo.

Eu abaixei a cabeça, eu amava meu pai, apesar de não sermos tão próximos como eu gostaria, era fácil nos discordarmos em algo, e tínhamos um acordo silencioso em evitar discutir devido a minha mãe.

– Mas vocês não conseguiam entrar em um consenso. Se a iniciativa não partia dela, porque não de você? Então vocês poderiam ter uma conversa decente. E na próxima, seria ela a manter "a guarda abaixada" - fez aspas com as mãos suja de sabão.

Ficamos em silêncio por uns dois minutos antes dela voltar a abrir a torneira.

– O que faria Marco ter a ideia biruta de que pudéssemos estar gostando um do outro?

– E porque não estariam?

– Porque nos odiamos.

– Você tem certeza disso?

Eu olhei perplexo em sua direção pela segunda vez. Como assim ter certeza? Eu tinha certeza. Gabrielle certamente a essa altura não iria querer me ver nem pintado de ouro. Ela havia mentido quando dissera que se importara comigo no meu estado em coma porque-

Por que?

Minha mãe não olhou para mim nem uma única vez enquanto colocava os pratos no escorredor.

– Você falou com ela? - Ela se comportava como se soubesse de algo que eu não sabia.

– Uma vez pelo telefone. - Deu de ombros.

Bufei, chegamos na pior parte. Minha mãe começara com suas respostas objetivas, ela não falaria nada que não envolvesse a real questão da pergunta. Se eu perguntasse como está o céu, ela diria apenas 'nublado' ou 'tem sol' ao invés de 'acho que vai chover, está ventando um pouco leve um casaco, tive aquela cosseira no pé ontem a noite então acho que o tempo só vai abrir no final de semana'.

– Quando? - Eu apoiei as duas mãos na pia ao seu lado.

– Quando ela chegou em casa, depois que vocês discutiram.

– Por que ela ligou pra você?

Aquilo soava completamente errado. Por que raios ligaria para minha mãe? Ela não ligaria para a minha mãe para falar mal de mim, iria? E se fosse, por que não com alguma amiga, parente, ou com Marco? Por que justamente a minha mãe?

– Ela estava chateada, queria conversar.

Fechei os olhos com força. Era impressionante como ela também conseguia me tirar do sério em fração de segundos.

– Conversar - Eu falava pausadamente a essa altura, ela secava as mãos no guardanapo, os olhos me fitando com curiosidade – Sobre o que? Por que com você?

Ela demorou a responder, como se ponderasse se eu era digno de uma resposta.

– Eu prometi a ela que não te contaria. Não sei porque justamente a mim, talvez tenha sido a primeira pessoa que lhe viera a mente.

Uma informação a mais. Cerrei os punhos ao ponto de os nós de meus dedos ficarem brancos, eu inspirei fundo.

– Por que acha que ela foi viajar?

– Eu indiquei. - Deu de ombros.

Franzi o cenho.

– O quê? Por quê? - Eu girei o corpo incrédulo. Minha mente completamente embaralhada. As coisas não faziam mais sentido. Um baque inesperado me atingiu, tomou a força que sustentava meus membros. Era complicado procurar alguma noção dentro do inesperado.

Eu não tinha certeza sobre nada, como se o chão sumisse em baixo aos meus pés, o tapete de boas vindas me fora puxado e eu caíra em um completo vazio. Eu estava preocupado com Gabrielle, mesmo que não conseguisse admitir em voz alta. Eu queria saber onde ela estava, com quem estava, e o que estava fazendo. A sensação estranha de quando ela admitira ter gostado do A, que fora a mesma quando eles ficaram de sorrisinhos na porta da casa dela depois de colocar Gael pra fora, queria se apoderar de mim outra vez.

Eu não poderia considerar ciume porque não se encaixava, eu não tinha o direito de sentir ciume. Eu não tinha controle sobre as atitudes de Gabrielle assim como ela não tinha sobre as minhas, e talvez fosse esses um dos principais motivos de tanta discussão. Nós dois queríamos estar no controle.

– Achei que seria melhor para o bem estar dela - Minha mãe interrompera a minha linha de pensamento - Ela acusava a si mesma de ter alimentado esperanças demais de uma só vez. Falei que se ela se desligasse um pouco daqui a ajudaria espairecer.

Eu puxei uma cadeira para me sentar. Afundando o rosto por entre as mãos. Os pensamentos incoerentes.

– E como você ligou algumas horas depois deixando claro que não queria falar com ela eu presumi ter feito o certo. Cada um seguiria para um lado, sem brigas ou arrependimentos.

Houve um minuto de silêncio. Mas e se. E se eu tivesse me precipitado? Talvez eu pudesse ter a julgado mal, e talvez ela não estivesse mentindo pra mim. Talvez, ela realmente tivesse se importado.

E a única pessoa que poderia concordar com tudo aquilo estava ali, em pé ao meu lado me olhando com a aquela cara de 'eu te avisei'.

– Mãe? - Eu bufei quando ergui o rosto para observa-la, consciente de que tinha feito coisa errada e poderia levar um belo de um sermão ali mesmo.

– Hum.

– O que aconteceu enquanto eu estive em coma?

Ela sorriu de forma brilhante, quase como se dissesse que era a primeira pergunta realmente importante que eu tivesse feito. Ela sentou se a minha frente, os olhos brilhando enquanto colocava uma das minhas mãos por entre as suas, as pontas dos dedos enrugadas pelo tempo excedente na água.


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Notas finais do capítulo

Cap dedicado também a Aléxia, Thai, LeitorGrato, e TCC Fulano por acompanharem
^-^



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