Elemento escrita por Grind


Capítulo 22
Capítulo 22 - Lembranças




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Elemento / Capítulo 22 - Lembranças

– É muito bom te ver te volta a ativa Cabo - Da Silva me deu tapas camaradas nas costas enquanto eu fechava o armário. Eu respondi com um sorriso de canto, eu não me sentia nem um pouco animado.

Minha cabeça doía, apesar de ter dormido a noite toda eu me sentia exausto. Da Silva saiu e eu fiquei sozinho no alojamento, eu já havia me trocado, mas não estava em meu costumeiro entusiasmo.

Eu me sentei no banco desconfortável de madeira em frente ao meu armário. Balançando a perna de forma ansiosa enquanto esfregava uma mão na outra, o frio dominando o lugar.

Havia pouco mais de duas semanas que eu tinha cortado 'relações' com Gabrielle, e de certa forma, nenhum de nós dois ter se manifestado me perturbava. Fechei os olhos, respirando fundo, tinha prometido a mim mesmo a tirar Gabrielle da cabeça.

Batendo a porta do armário com força e girando o cadeado eu sai o mais rápido que pude, quanto mais rápido eu trabalhasse, melhor seria para tirar esses pensamentos da cabeça.

(...)

– Você fica responsável por protocolar os documentos. P1, P2, P3, P4, P5, 1º e 2º cia. Os documentos chegam, e você os classifica, depois alguém vem buscar os documentos do próprio setor.

Suspirei.

– Ótimo.

De uma coisa eu sabia, todos os caras que eu conhecia que trabalhavam sobre restrição diziam que aquilo era um porre. Ficar trancafiado dentro do batalhão, organizando documentos ou atendendo telefone era enlouquecedor.

Felizmente, para um 'primeiro dia' os documentos chegavam aos poucos, e era fácil separar. As vezes, alguém aparecia, abria a gaveta da seção onde estava, pegava a papelada e ia embora.

Sem nada para fazer, eu começava a ficar desassossegado. Eu me peguei forçando a memória, lembrando vagamente sobre momentos antes do acidente, para ocupara a cabeça com alguma coisa. O que havia acontecido naquele dia? Eu me lembrava do carro, das luzes fortes do farol de outro me cegando e bloqueando a minha visão da pista, tudo muito vago, como se pulasse partes importantes. Porém, repassando o dia, eu podia me lembrar perfeitamente.

Eu levantara cedo, mais cedo do que o comum, porque tinha que passar na casa de Gabrielle para devolver-lhe as chaves. Eu pegara o carro e felizmente não passara pelo stress do transito. Foi um alivio finalmente estacionar, era um pouco antes das nove da manhã.

A luz invadiu a casa junto comigo, fechando a porta com cuidado para não fazer barulho, eu me surpreendi ao encontra-la parada em pleno corredor em um estado quase deplorável. Ela não estava com o pijama azul que eu quase morrera de curiosidade de vê-la usando por inteiro que eu espiara escapando em seu roupão no outro dia.

Era apenas uma camisa cinza comprida, que deveria ser dois números maiores do que as roupas que ela usaria e uma calça de moletom folgada. A mão apoiada na parede e a cabeleira bagunçada, lhe escondendo uma parte do rosto, os pés para dentro, o corpo levemente inclinado, e os olhos estreitos, de uma forma terrivelmente sensual.

Eu não consegui conter um sorriso, e quando sua voz soou rouca ao me responder eu senti meu coração bater mais forte, não tinha certeza se aquilo era algo bom. Eu me encaminhei até a cozinha, com ela naquele estado ela não iria conseguir se virar sozinha. As coisas iriam bem, se Marco não chegasse com seu jeito explosivo, me enfrentasse na sala, depois na cozinha, e eu fosse praticamente expulso do que resolvera fazer.

Quando me sentei na poltrona perto do sofá onde Gabrielle estava praticamente largada, eu vidrei meus olhos nela. O braço cobrindo os olhos, querendo fugir da luminosidade do dia que atravessava a janela. A respiração calma, seu peito subia de forma rítmica, eu sabia que a cabeça dela deveria estar explodindo, mas a julgar as bobagens que ela estava para fazer na noite passada era o mínimo.

Ai, ela tinha que ter revelado ter tido uma queda pelo Alessandro quando mais nova, pra eu sentir meu peito encher com uma sensação estranha, aquilo não soando nem um pouco agradável aos ouvidos, era como se acido me descesse a garganta. Marco surgiu outra vez, para querer discutir e no final acabar sendo 'colocado para fora'.

Quando ficou apenas nós dois naquela sala, eu senti o clima pesado diminuir, e foi uma sensação boa, de certa forma até reconfortante. Eu voltei a olhar para ela, agora um pouco mais relaxado. Podia ver que ela não estava contente por ter se desentendido com Marco, a luz a incomodava e a dor de cabeça não parecia querer passar tão cedo.

Eu desejei poder fazer alguma coisa, e quando percebi isso, eu havia surpreendido a mim mesmo. Querer algo de bom para Gabrielle sem sentir ódio por ela era um coisa completamente nova. Eu estendi a mão, em um ato quase involuntário, acariciando-lhe o coro cabeludo, ela pareceu gelar por um segundo antes de ceder, o corpo relaxando completamente sobre o sofá.

Algo se contorceu dentro de mim, meu coração batendo forte contra meu peito pela segunda vez. Ela suspirou, e eu temi que aquilo fosse um aviso para que eu parasse. Depois de um 'não' que soou mais como um grunhido a minha respiração se tornou descompassada, a distância entre nossos corpos parecendo imensamente grande. Eu senti o calor me subir as pernas.

Nós conversamos, e a levei até a casa de minha mãe, discutimos em frente aos meus pais, discutimos quando meus pais se afastaram, discutimos em plena calçada antes de eu puxa-la junto a mim. Eu queria poder senti-la de novo.

Desta vez, por inteiro, obediente, sua costumeira teimosia esvaiando-se enquanto ela delirava sob meu comando. O pensamento me atingiu como um balde de água fria, eu estava trabalhando, não tinha tempo para essas sensações. Cada um seguiu para um lado, de bem, fui para o churrasco de Alessandro, eu a convidei, ela foi, a sensação estranha de horas atrás me assumiu quando Alessandro falava dela, e mais tarde enquanto conversavam.

Nós discutimos, ela deixou claro que eu não era nada nem ninguém pra ela, e foi quase como levar um tiro no peito, um não, talvez vários. Eu a deixei ir, e quando soube que havia saído da festa em si, a raiva tomou conta de mim outra vez. Por que o fizera? Para me provocar? Queria que eu me sentisse mal? Saíra mais cedo pra me mandar a indireta de que não ficaria ali porque eu estava presente?

Ele não iria, não poderia, eu iria colocar tudo as claras. Deixaria claro que havia me afeiçoado a ela, que tinha me apegado ao seu jeito escandaloso, que eu queria doma-la como se fosse um cavalo selvagem.

Mas agora ali sentado, em frente as gavetas de protocolo, as coisas pareciam muito distantes, eu estava confuso porque, pra mim, em um dia ela dizia que eu não era ninguém, e no outro, ela estava preocupada se eu chegaria bem em casa, minha cabeça parecia girar em torno de tudo aquilo, e eu não gostava nem um pouco.


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Notas finais do capítulo

*-*



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