Elemento escrita por Grind


Capítulo 15
Capítulo 15 - Conflitos




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Elemento / Capítulo 15 – Conflitos

Marco me deixou em casa e eu não tive noticias de D o resto da semana, eu queria não me importar, mas tinha a sensação de que algo estava errado. Na quinta feira a tarde, pouco antes de eu começar a me preparar para a faculdade alguém bateu na porta e eu nunca corri tão esperançosa. Eu estava de chinelo, uma camiseta regata branca e uma calça de moletom cinza, eu quase escancarei a porta ao abrir, mas meu sorriso se desfez tão rápido quanto surgiu quando A sorriu de forma charmosa a me ver.

– Oi – Se pronunciou de forma calma.

Eu estiquei um pouco a cabeça pra fora olhando a sua volta.

– O Gordo não veio com você?

Ele meio que riu pelo nariz, como se eu fosse uma pessoa realmente engraçada.

– Não, posso entrar?

Voltei a atenção ao seu rosto que apresentava uma expressão sugestiva, segurei um suspiro tentando ser educada e abri passagem, ele entrou de forma neutra, sem pressa e eu bati a porta depois que passou por ela. Ele olhou em volta julgando o ambiente, revirei os olhos e ele se jogou no sofá.

Suspirei, caminhando a passos lentos e sentando na poltrona ao seu lado.

– Você não deu mais noticias essa semana.

Eu estava pensando seriamente em me mudar e fugir de tudo aquilo. O que ele queria dizer com dar noticias? Nós havíamos conversado o que? Duas ou três vezes? Que raios de noticias eram essas que ele exigia?

–Não me senti na obrigação de notificar o que acontece na minha vida – Sorri falsamente e ele correspondeu rindo outra vez.

– Sempre delicada, imagino que você deve ter andado bem preocupada ultimamente.

Por que preocupada? Pensei e ele prosseguiu.

– Todos estamos, mas eu andei pensando e acho melhor você sair um pouco, você fica muito tempo trancada em casa, vai ser melhor.

– O que quer dizer? – Franzi o cenho.

– Vamos sair, beber alguma coisa, assistir um filme.

Eu tive uma sensação estranha na boca do estomago.

– Eu não sei, estou esperando noticias do D.

– Eu também – Ele olhou para os pés suspirando.

– Você tem o visto? – Perguntei de súbito e ele negou.

– Às vezes eu penso, que a culpa pode ter sido minha.

Voltei a franzir o cenho confusa.

– A culpa não é sua.

– De certa forma sim, se eu a tivesse convidado nada disso teria acontecido.

Aonde é que ele queria chegar com esse assunto agora? A briga foi entre mim e o Elemento, e era eu quem estava esperando que ele ligasse.

– Tá certo – Respondi suspirando completamente confusa, já querendo o colocar para fora - Você quer marcar o dia então?

Ele sorriu de orelha a orelha.

– O dia que você achar melhor.

Eu fechei os olhos. Uma parte de mim realmente queria sair com o A, mas ainda tinha algua coisa estranha.

– Nós estamos falando da mesma coisa?

Ele franziu o cenho.

– Eu te convidei pra sair.

– Não isso, quanto ao D. Eu estou falando da minha discussão com ele, no churrasco.

– Vocês discutiram? – Ele virou mais o corpo na minha direção subitamente mais interessado.

Eu respirei fundo irritada.

– Foi. Quando você diz “A culpa foi minha” você se refere a quê?

– Ao acidente. – Deu de ombros em um sentido obvio.

Eu me coloquei de pé confusa.

– O quê? – Perguntei sentindo minhas mãos começarem a tremer.

Ele se colocou em posição suspeita, como se já se preparasse para me escândalo.

– Domingo – Falou pausadamente – Ele saiu do churrasco nervoso, quase soltando fogo por onde passava, mas parece que ele perdeu o controle sobre o volante e bateu o carro em outro quando entrou na contra mão.

Senti meu coração ficar apertado, como se alguém o tivesse tirado do meu peito, e agora apertasse com força enquanto segurava, eu fiquei muda, não conseguia produzir nenhum som.

Sentindo o nervosismo tomar conta de mim, minhas pernas ficaram bambas, e minhas mãos tremiam. Não conseguia responder nada, toda vez que eu abri a boca pra falar, minha voz falhava.

A me observou atento, e quando se colocou de pé pra me ajudar, eu senti minhas pernas perderem a força e eu cai de joelhos sobre o tapete, levei as mãos a boca horrorizada e fechei os olhos com força.

“Acorda, acorda, é tudo um pesadelo, eu tenho que acordar” uma onda de angustia e medo passou por mim, e a minha voz falhou outra vez. A ajoelhou ao meu lado, rodeou meus ombros com um dos braços, puxando meu corpo na sua direção. Meus olhos já estavam marejados, e não consegui evitar que as lagrimas caíssem. Ele levou a outra mão a minha cabeça, e ficou em silêncio enquanto eu fungava baixinho.

Maldito seja, eu não podia acreditar, eu o alerte, já tinha brigado com ele por isso e ele tinha a capacidade de fazer isso comigo? Disse que dirigia como um idiota e que ia acabar se matando, ele não tinha que comprovar que eu estava certa.

– A culpa é minha – Eu consegui deixar escapar, minha voz tremula, fraca – Se ele morrer vai ser minha culpa.

– Não, não – A se moveu de forma exasperada fazendo com que eu olhasse em sua direção, meus olhos sem conseguir segurar as lagrimas colocou as mãos em meu rosto molhado – Não foi culpa sua, foi um acidente, aconteceu, ele não vai morrer. – Ele passou a mão de forma delicada secando minhas lagrimas – Não vai esta me ouvindo?

Eu voltei a fechar os olhos, respirando fundo tentando me recompor, mas ainda sim eu estava em desespero e não podia escapar daquele terrível sentimento de culpa que me sufocava, tomava-me o ar me fazia perder a noção de tudo. Aos braços do A, me senti suja, e nem meus prantos limpariam minha alma.

– Tenho que ir... – Levantei com dificuldades, aos tropeços. - Eu preciso saber como.

–Aonde vai? – Ele se surpreendeu. Sua resposta atmosfera acolhedora sumiu no instante que terminei minha fala.

– Preciso vê-lo... Tenho que ver o...

– Não! – Fui interrompida. Alessandro segurou meu braço com agressividade. Doía, e uma face cheia de raiva se desenhou em seu rosto por alguns segundos. Eu percebi e tentei recuar, pois o medo que sentia gritava pela minha própria segurança.

– Me solta Alessandro! – Puxei meu braço com força o suficiente para e soltar de sua mão, minha fúria por ele pareceu crescer. Como ele tinha a audácia de me convidar pra sair sabendo de tudo isso?

– Eu... – Ele tentou se recompor, gaguejando com a voz tremula – Te dou carona.

– Não precisa, eu sei andar sozinha.

Alessandro se calou e abaixou a cabeça, envergonhado.

–...Ele está no Santa Tereza.

– Certo. Estou indo pra lá.

– Mas como? – Indagou, como se aguardasse por uma resposta mal criada.

– Apenas vá!

– Me desculpa tá? Eu extrapolei, vocês nunca foram amigos, e eu não gosto dessa súbita proximidade, eu só queria saber o que ele viu em você pra mudar em tão pouco tempo

–E o que você tem a ver com isso? Quem resolveu se afastar foi você! Quem virou as costas pra mim e Marco foi você! Eramos amigos e no dia seguinte você se quer olhava na nossa cara!

Ele fechou os olhos bufando.

– Deixa eu te levar até lá tá bom? Você vai chegar mais rápido. Juro que não vou fazer nada.

Eu recuei um passo e ele se manteve firme.

– Alessandro, por favor – Passei a mão pelo meu pulso dolorido, e ele rangeu os dentes.

– Está bem – Caminhou até a porta a passos lentos – Se precisar, é só ligar.

– Ótimo – Eu se quer me dei ao trabalho de olhar em sua direção. Ele bateu a porta ao sair e eu corri ao telefone, digitando de forma desengonçada os números da casa de Marco. Tocou uma, duas, três vezes e antes que ele terminasse de dizer “Alô” eu já estava resmungando. Pedi para que viesse rápido com o carro, contei vagamente sobre onde Elemento estava e sobre o que havia acontecido e desliguei. Assim que eu estava pronta escutei ele buzinar.

– O que aconteceu?! – Perguntou Marco, o desespero era visível em sua face.

– Apenas vá para o Santa Tereza! – Brande, secando o rosto encharcado de suor.

– Mas o que aconteceu? – Perguntou ainda confuso.

– Nós não temos tempo pra detalhes, apenas dirija!

Marco revirou os olhos e pisou com tudo no acelerador, em poucos minutos estávamos estacionados do outro lado da calçada, ambos olhando para o hospital, que felizmente não estava tão movimentado como era de costume.

– Espere aqui está bom? – Minha voz saiu em um quase sussurro.

– Está bem.

Eu desci do carro e atravessei a rua temerosa, eu quase poderia escutar meu coração batendo acelerado em meu peito se não fosse o vai e vem de pessoas. As portas abriram com o sensor de movimento e eu desacelerei o passo, o suor frio escorrendo pela minha testa, e eu tinha certeza de que estava pálida, os olhos fundos devido ao choro, mas eu não conseguia pensar na possibilidade de me recompor, minha cabeça estava a mil, eu parei diante de uma das moças da recepção e ela me observou com um olhar curioso.

– Bom dia – Sua voz saiu serena – A senhora está a procura do atendimento?

– Não, eu... – Engoli duro – Estou procurando uma pessoa.

– Oh! – Ela pegou ma pasta azul em meio a papelada – Nome por favor.

– Elemen... – Eu fechei os olhos.

Calma Gabrielle, vai dar tudo certo, não há nada com que se preocupar, ela só quer saber o nome dele.

– Se importa se eu der uma olhada?

– Bom isso seria contra o regulamento e...

– Gabrielle?

Eu me virei assustada, vi Angela com um copo d’água na mão, suspirei de alivio.

– Obrigada - Olhei uma ultima vez para a recepcionista antes de correr na direção de Angela dando-lhe um abraço apertado. – Onde ele está?

Perguntei depois que a soltei.

– Bom ele... – Ela viu o desespero em meus olhos e suspirou puxando me pela mão. – Venha comigo.

Viramos uma serie de corredores, tanto que acho que cheguei a me perder, paramos diante de uma porta que abriu logo que paramos. Juan passou por ela, um olhar cansado, ele se assustou a nos ver, mas se dirigiu a Angela primeiro.

– Você não disse que iria beber água?

– Eu ia, mas encontrei Gabi no caminho e ela queria vê-lo.

Ele olhou para mim.

– Que bom que está aqui Gabrielle, o médico disse que a presença de pessoas de quem ele gosta, às vezes podem fazer com que ele tente acordar.

Eu abaixei a cabeça, a cor voltando ao meu rosto de forma violenta, visivelmente envergonhada.

– Pode entrar lá, eu e Angela vamos sair para comer alguma coisa.

– Mas...

– Vamos Angela – Ele puxou a esposa a contra gosto.

Eu respirei fundo, meu coração voltando a bater normalmente, e girei a maçaneta de forma lenta, e fiquei pensando quanto Juan e Angela estavam pagando pelo quarto privado.

Minha garganta travou e eu apertei com força a alça da minha bolsa.

D estava péssimo, certamente roupa hospitalar não combinava com ele, estava pálido como se não como se a dias, o rosto sereno, em um sono profundo. O olho direito estava levemente inchado, um corte na bochecha esquerda., felizmente pelo que me pareceu ele não possuía mais ferimentos no corpo, o que era realmente preocupante era a cabeça, enfaixada e com um forte vermelhidão do lado esquerdo onde provavelmente batera com força. Um dos aparelhos se prendia ao seu dedo indicador, mostrando as batidas cardíacas.

Cai sentada na poltrona azul bebê ao seu lado. A luz forte do sol, invadindo pela janela parecia iluminar todo o ambiente, levantei mesmo assim para fecha-la, deixando apenas as cortinas abertas, liguei o ventilador e o ambiente pareceu ficar mais fresco.

Voltei a me sentar suspirando, meus olhos focados no D.

–Você está horrível – Balbuciei, eu queria chorar outra vez – O que tinha na cabeça? Por que insistiu em dirigir se sabia que não estava em condições? Por que você tem que ser tão teimoso?

Não houve resposta. E eu fechei os olhos irritada, contei até cinco mentalmente procurando me acalmar, respirei fundo umas três ou quatro vezes antes de abrir os olhos e inclinar a cabeça em sua direção, mantendo o corpo junto a poltrona,

– Eu tive um dia bem agitado hoje. A foi meu ver, me convidou pra sair, na cara de pau, sabendo que você estava aqui.

Eu só escutava o som da minha voz e maquina apitando.

– De inicio eu aceitei, mas depois ele veio cheio de brutalidade e eu estou pensando seriamente em esquecer que ele existe, ele deixou meu pulso vermelho e ainda está dolorido, e imagina de quem é a culpa?

Vazio.

–Sua é claro, ele ficou todo nervosinho quando eu perguntei de você.

Mentalmente eu sabia que ele estaria sorrindo. Voltamos ao silêncio matador, suspirei jogando a cabeça para trás.

–Eu sei que você pode me ouvir – Resmunguei – E não sei até quando vamos jogar esse negócio de Branca de Neve, mas eu só queria dizer que... – Minha voz falhou por um instante – Você tem que acordar tá? Quem é que vai me fazer passar nervoso?

Fechei o punho com força, entrelaçando minha outra mão na sua. Elemento estava gelado, respirava devagar e seus olhos descansavam aquilo era momentâneo, tinha que ser!

Mas eu me assustei, o aparelho começou a fazer um som fora do normal e dois homens e uma mulher entraram em questão de segundos no quarto, eu me coloquei de pé e quando perguntei o que estava acontecendo todos olharam para mim.

– Coloquem-na para fora – A mulher me analisou de cima a baixo de forma rápida, antes de se agachar em frente ao criado mudo e tirar o desfibrilador às pressas. Meu coração disparou outra vez, e quando tentei avançar um passo, os caras já seguravam meus braços, a ideia de estar presa me fez perder a cabeça.

Outras duas pessoas entraram no quarto enquanto eu era retirada a força e fecharam a porta me impedindo de ver qualquer coisa. Eu me debati, procurando me soltar, mas estava em desvantagem, eu estava cada vez mais irada, e gritava a todos os pulmões, histérica, eu queria estar lá dentro, saber o que estava acontecendo. Uma mulher loira se aproximou, a seringa em mãos, eu me debati outra vez, mas me seguraram com mais força e ela acertou o meu braço.

A xinguei de todos os possíveis nomes, mas meu corpo foi amolecendo e um sono fora do comum tomou conta de mim, meus olhos ficaram cansados, e a cada segundo parecia mais difícil mantê-los abertos, minhas pálpebras estavam pesadas, senti a força que me segurava se afastar e eu cai no sono.


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