I'm forever yours escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 29
Capítulo 28




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Na sorveteira, alguns quarteirões distantes da Fábrica, Pedro e Clarinha tinham uma divertida conversa, enquanto se melecavam de sorvete.

“Qual seu doce favorito?” Perguntou Clarinha.

“Chocolate, obviamente.” Respondeu o mais velho. “Minha vez... Animal favorito?”

“Cavalinhos, eles são tão lindos. Qual o seu animal favorito?”

“Cachorro. Sempre quis ter um leão para chamar de Simba, mas como não dava, decidi chamar o cachorro. E quando eu era mais novo, pedia um cachorro pros meus pais, aquele Golden, sabe? Eu ia chamar ele de Simba, mas a minha irmã tinha alergia.” Tinha que tomar cuidado de não citar Marcelo, Delma e Tomtom como membros de sua família.

“Eu queria um cachorro, mas no nosso apartamento não podia.” Clarinha fez um bico fofo, melecado de chocolate. Pedro riu, enquanto pegava um guardanapo e limpava a boquinha dela. “Qual seu desenho favorito?”

“Bob Esponja.” Ela ficou confusa com a resposta. “Ah, acho que esse desenho não existe mais...”

“Eu gosto da Dora, ela é aventureira. A mamãe disse que é um desenho velho, mas sempre fazem episódios novos. Eu fico assistindo os velhos no Netquics.

“Netflix.” Corrigiu Pedro, risonho. “Minha vez... Qual sorvete você mais gosta?”

“Chocolate.” Ela gritou, mostrando os dentinhos sujos de sorvete marrom, enquanto sua colher fazia voar longe alguns bocados do sorvete. Ela acertou a cabeça de uma senhora, que se virou irritada, arrancando um pedido de desculpa de Pedro e uma risada sapeca de Ana Clara.

“Você é terrível mesmo, viu baixinha? Teve a quem puxar.” Comentou despreocupadamente, logo percebendo o que havia dito.

“Eu sei, a mamãe me diz que ela era terrível. E a vovó Delma diz que meu papai era bem arteiro também. E que eu puxei o pior dos dois.” Ela contou risonha, continuando a comer seu sorvete.

“Imagino...” Ele sorriu para ela. “E o que mais a vovó te contou sobre seu pai?”

“Que ele é muito bonito e muito legal. Que ele gostava de música, de pizza, de fazer bagunça, de brincar com a tia Tomtom... E que ele ama muito eu e a mamãe, não importa onde esteja.” Ela fechou os olhinhos em uma careta pensativa, tentando lembrar de tudo. “Às vezes eu acho que ele morreu, sabia, Pedro?”

“Por que você acha isso, grãozinho?”

“Ah, ele nunca apareceu, mesmo depois de todo esse tempo. E a mamãe e a vovó ficam tão tristes de falar dele...” Ela fez uma carinha sofrida. “O que você acha?”

“Eu acho que seu pai está mais perto do que você imagina, viu Clarinha?” Ele segurou a mãozinha delicada, dando um beijinho.

“E por que ele não aparece então?”

“Deve ser... Espera, uma mensagem.” Ele apanhou o celular do bolso, lendo depressa. “É da sua mãe... O neném da Jade está nascendo.”

“Jura?” Ele assentiu. “Então vamos lá no hospital. Eu quero ver.”

“Acho que você não vai poder ver, viu grãozinho?” Ele explicou risonho, se levantando com ela. “Mas podemos estar lá sim.”

~P&K~

Karina não se lembrava de ter visto um parto tão hilário, nem em filmes de comédia. Para começar, o pai desmaiou no meio da sala. Estatelado que nem um cadáver, como disse Jade.

“Machinho, mete uma bicuda nele para ver se acorda.” Rosnou a parturiente, em meio às contrações e empurrões.

“O quê? Já fui trazida para a sala de parto a força, ainda tenho que sair dando porrada?” Ela ria da cena, olhando de um para outro. “Ricardo, honra suas calças e acorda, pelo amor de Deus.”

Foi preciso mais alguns empurrões e gritos de Jade, mas por fim Cobra retomou a consciência, correndo até a esposa e a amparando nos momentos finais do parto. Regado a ofensas e palavras baixíssimas, o choro de Anabelle preencheu a sala e os ouvidos dos presentes.

A menina era tão pequena e delicada quanto uma boneca de porcelana, sua pele clara parecendo com isso. Seus olhos grandes e escuros corriam curiosos, enquanto os poucos cabelos negros estavam bagunçados após a enfermeira limpá-la. Ela foi colocada nos braços do pai, que chorava sem pudor.

“Minha filha...” Ele sussurrou, beijando a mãozinha pequena e virando para a esposa. “Nossa filha.”

Ele caminhou até ela, diante dos olhos marejados de Karina, e deitou a criança junto da mãe, os dois selando os lábios em um beijo, antes de voltarem suas atenções para Anabelle.

“Oi filha, oi meu amor...” Sussurrava a dançarina, e Karina achou melhor deixá-los a sós e sair em silêncio, enquanto os médicos terminavam o que precisavam fazer.

Não havia ninguém esperando por notícias, ninguém ansioso na sala de espera. A família de Cobra vivia muito longe, e eles quase não tinham contato, haviam sabido da gravidez só recentemente. E desde que se casara com Cobra, Jade e Lucrécia não se falavam mais. O mais próximo que a jovem tinha era Edgard, mas ele estava em Londres.

Por esse motivo Karina havia aceitado acompanhá-los, tanto ao hospital, quanto à sala de parto. Eram eles três contra o mundo, e naquele momento de ansiedade e expectativa, era bom ter um ombro amigo no qual se apoiar.

Foi seguindo para o berçário, distraída, quando sentiu algo trombar com suas pernas. Riu ao encontrar o rosto da filha, todo sujo de sorvete, assim como sua roupa de balé.

“Cadê ela? Cadê a Anabelle?” Perguntou depressa, enquanto Karina a içava no colo.

“Acabou de nascer, princesa. Está com o tio Cobra e a tia Jade.” Explicou, vendo Pedro se aproximar.

“E eu posso ver ela?”

“Só quando ela vier para cá.” A loira apontou a janela do berçário.

Sem pestanejar a criança saltou do colo da mãe, correndo e grudando o rostinho no vidro, ficando na ponta dos pés para isso. Os pais riram, a observando com o típico olhar babão.

“Está tudo bem com a bebê?” Perguntou Pedro, e Karina assentiu.

“Parece uma bonequinha de porcelana. Se fosse loirinha dos olhos azuis, ela e a Clarinha podiam ser irmãs.” O guitarrista assentiu. “Achei que você ia deixar ela no meu pai.”

“Ela ficou louca para vir para cá.” Desculpou-se, mas Karina deu de ombros. “E a família deles?”

“Estou fazendo esse papel.” Ela explicou, os dois ainda observando a filha. “Ela e Lucrécia não se falam desde que os dois decidiram se casar; a família do Cobra é de muito longe... São eles três contra o mundo.”

“Deve ser osso.”

“Que nada, eles vão se sair bem.” Ela garantiu. “Eles não estão sozinhos, apesar de tudo. Eu, a Bianca, a Mari, todas nós estamos aqui. É meio que um acordo mútuo entre pais, sabe? Se ajudar e apoiar nos momentos complicados com os filhos.”

“Elas te ajudaram com a Clarinha?” A lutadora assentiu.

“Quem mais me ajudou, na verdade, foi o João.” Pedro se surpreendeu, enquanto Karina ria. “Quando eu estava aqui no Rio, ele virava as noites de cólica da Clarinha com ela. Quando ele ia para São Paulo, dava banho, trocava fralda... Quando a Julinha nasceu, ele já era quase expert.”

“Não sei se consigo imaginar isso.” Admitiu o rapaz.

“Ele queria compensar o fato de você não estar lá.” Ela suspirou, e o ex-namorado assentiu. “Ele sempre se esforçou muito.”

“O João tem o jeito torto dele de resolver as coisas.” Concordou Pedro, enquanto viam a filha se movimentar. “O que foi, grãozinho?”

“O tio Cobra.” Ela apontou, e os pais se aproximaram. Cobra vinha por um corredor esterilizado, trazendo um pacotinho nos braços. Clarinha começou a pular para ver melhor, e Pedro a apanhou no colo, a ajudando nisso. “Ela parece uma bonequinha.”

O lutador virou a filha na direção do trio, sorrindo orgulhoso da cria. Clarinha babava e arfava no vidro, tamanha animação e felicidade de ver a nova priminha. Uma enfermeira chamou Cobra, que piscou para Karina e beijou a testa da filha, saindo atrás da mulher. A lutadora suspirou, encarando Pedro e Ana Clara.

“Filha, a gente precisa conversar.” Avisou, atraindo a atenção dela. Diante da expressão séria da mãe, a criança se preocupou.

“Aconteceu alguma coisa, mamãe?”

“Não, querida. Ou melhor, sim... Mas não é ruim, eu prometo.” Pedro colocou Clarinha no chão, enquanto Karina ia guiando-a até os sofás da sala de espera. Sentou-a em um, assumindo o assento ao lado. “É sobre... É sobre o seu pai.”

“O que tem ele, mamãe? Ele tá bem?” Os olhinhos azuis se arregalaram em ansiedade e expectativa, enquanto Pedro sentia o estômago revirando.

“Sim, Clarinha, ele está. É que... A mamãe mentiu, princesa. Seu papai não foi viajar quando você era pequenininha.”

“Não?” Ela se surpreendeu com a notícia, ao mesmo tempo que se entristecia, porque a mãe havia mentido. “E por que você mentiu para mim?”

“Quando a mamãe estava grávida, seu pai fez uma coisa feia, Clarinha, bem feia.” Tentou ser o mais sincera e delicada possível. “E quando ele fez isso, eu e seus avós conversamos, e achamos que era melhor deixar ele de castigo por um tempo, até ele entender que ele estava errado. E por isso, eu fui embora com você, e seu pai ficou aqui.”

“Mas o que ele fez? E por que eu fiquei de castigo também?” Os questionamentos seriam infinitos, Karina sabia. Mas tentaria contorná-los depressa, especialmente ao ver a expressão de Pedro.

“Ele fez uma coisa errada, mas que só os adultos entendem. E não foi só você que ficou de castigo, meu amor. Todos nós acabamos ficando de castigo com essa decisão, porque todos nós ficamos tristes e sofremos com ela. Mas, Clarinha, por favor entenda que, em momento nenhum, eu quis te magoar, meu anjo. O que eu fiz foi o que eu achava melhor.” Ela acariciou o rostinho delicado. “Você confia na mamãe, quando eu digo que fiz o que achava melhor para nós duas?”

“Confio...” Ela não parecia certa, mas não queria magoar a mãe. Via no rosto dela o quanto estava triste, e não queria deixá-la ainda mais, desconfiando dela. “Mas então onde está o meu papai?”

“Aqui.” Quem respondeu foi Pedro, com a voz rouca. “Eu sou o seu pai, Clarinha.”


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Notas finais do capítulo

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