I'm forever yours escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 19
Capítulo 18




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Pedro tocou a campainha do apartamento, impaciente. Tinham uma entrevista naquela tarde para a capa da Contigo, e ele estava ansioso, querendo revisar tudo que iria falar. Mas havia prometido à João que assim que fosse ao Rio iria visitar o amigo.

Apesar de se falarem constantemente, fazia pelo menos quatro meses que não via o melhor amigo. Ia ao Rio duas vezes por mês, pelo menos, mas eram sempre passagens rápidas para ver os pais e a irmã. Nunca se demorava muito e nunca calhava de ver o outro.

"Oi Pedro." Quem abriu a porta foi Fabi, parecendo cansada. "Entra, por favor."

"E aí, tudo beleza?" Ele sempre ficava um pouco desconfortável perto dela, já que ela era melhor amiga de Karina. "Cadê o panacão?"

"Ele tá no quarto da Julinha, ensinando ela a andar." A moça sorriu, indo para a cozinha. "É a terceira porta à esquerda, fica à vontade."

"Andar? Caraca, quanto tempo a menina tem?" A única vez que havia visto a criança havia sido há muito tempo, quando ela ainda tinha três meses. Agora, o bebê que caminhava vacilante no quarto já beirava o primeiro ano.

"Vem, Julinha, vem com o papai." O guitarrista sorriu para a silhueta do melhor amigo, sentado no chão com as pernas abertas, batendo palmas e atraindo a atenção da criancinha gorducha, que mordia a mãozinha.

"Edo." Ela apontou o rapaz na porta, fazendo o pai virar em sua direção e sorrir.

"Olha só, o tio Pedro. Você reconhece ele, filha, mas será que ele te reconhece?" O rapaz levantou, enquanto Pedro ria. "Resolveu dar as caras, é babaca?"

"Também, tem uma criatura carente me enchendo o saco no telefone todo dia, requisitando minha doce presença."

"Mas é um grosso mesmo." João negou com a cabeça, fazendo cara de deprimido. "Tá vendo, Julinha? Que tio mais grosso e insensível você tem?"

"Edo." Ela estendia as mãozinhas, nervosa.

"Ela está exigindo que você a pegue no colo." Comentou João, risonho.

"Nesse caso, não vou contrariá-la." O guitarrista caminhou até a bebê, pegando-a no colo e brincando com ela. "Caraca, bro, quanto tempo ela tá?"

"Vai fazer onze meses na semana que vem." Pedro se surpreendeu. "Infelizmente no dia da festa vocês vão estar fazendo show na Bolívia."

"Eu vi no convite." A criança ergueu os olhos para o tio, dando um sorriso. "Ela é a cara da Fabi."

"Qual é, não menospreze minha contribuição." Reclamou o pai, ofendido. "Ela tem meu nariz e o meu cabelo."

"Tua filha é linda, cara, na real." Parabenizou Pedro, sorrindo triste. "Eu fico pensando em como a minha seria."

"Tenho certeza que seria a sua cara." João abraçou o amigo pelos ombros, sentindo novamente a tristeza de mentir.

~P&K~

A verdade é que João nunca havia pensado ou cogitado a ideia de ser pai. Pelo menos, não até que Fabi veio contar que estava grávida do namorado, um acidente inesperado para o jovem casal que não tinha planos de se amarrar logo.

O rapaz passou os meses seguintes tentando assimilar a informação, enquanto observava sua vida toda mudar: a barriga que Fabi conseguira chapar com o muay thai, agora crescia com uma velocidade assustadora, assumindo a aparência de um balão; ele teve que deixar o quarto na casa de Dandara e Gael, se mudar para um apartamento novo e passar a assumir despesas; e, principalmente, descobriu uma nova dimensão do amor.

Ele era louco por Ana Clara, a afilhada era seu grande amor e xodó, o denguinho e fonte de gastos absurdos com brinquedos e presentes. Certa vez dissera a Fabi que acreditava amar a garotinha mais do que amava a namorada, e ela apenas havia rido e disse que sentia o mesmo. Tinha certeza que era impossível amar tanto alguém, até o momento em que Julia nasceu.

Foi empurrado para dentro da sala de parto, mesmo se cagando de medo. Passou quase todo o tempo encolhido ao lado da cama, assustado com os gritos e ofensas proferidas pela namorada. Quase desmaiou ao ver o tanto de sangue que saia de seu local favorito naquele corpo, cogitando seriamente sair correndo e gritando pela mãe. E foi então que ela nasceu.

Tão pequena que ele achou que o médico poderia quebrá-la, tão vermelha que parecia uma pimentinha, o peito estufando tanto com o choro alto que pensou que poderia explodir. O pranto desesperado lhe deu angústia, e assim que a enfermeira virou-se para ele, seus braços já tiravam sua filha dela.

Sua filha.

O amor que sentia por aquela criança era uma extensão do amor que sentia por Clarinha, multiplicado em um milhão de vezes. Por mais que quisesse dar o mundo inteiro para ela, também sentia a necessidade de ensiná-la como a vida era, e portanto a dor de vê-la chorar ao negar um pedido era quase gostosa.

E em meio a tudo isso, só conseguia pensar em Pedro. Agora entendia afinal o amor que ele sentia pela manezinha e não conseguia imaginar aguentar a dor que o amigo havia passado. Todas às vezes que o via sentado no chão, brincando com Julinha e sorrindo triste, queria correr até a gaveta onde Fabi escondia as fotos e pegar a imagem de Ana Clara, entregar para o guitarrista e dizer "essa é a sua filha".

Mas havia feito uma promessa à irmã, e sabia que isso não lhe dizia respeito. Um dia as coisas dariam um jeito de se ajeitar.

E foi então que descobriu a doença. Leucemia. Com boas chances de recuperação, mas ainda assim, grave.

Precisaria de dois ou três meses de quimioterapia, e se tudo desse certo, um longo período de tratamento. Perderia os cabelos, provavelmente ficaria acamado por um tempo, teria que se afastar do emprego na Ribalta.

E então, Fabi descobriu que estava grávida de novo. E João chorou como nunca havia chorado na vida, de medo, de dor, de angustia. Porque amava Julia e aquela criança, e a ideia de não estar perto delas ao longo da vida lhe doía no coração.

Lembrou-se de Pedro e foi aí que decidiu: se fosse para ir, de algum jeito primeiro arrumaria as coisas entre os melhores amigos.

~P&K~

Pedro estacionou a caminhonete em frente ao prédio de João, suspirando cansado. Enfrentara um voo longo, passara no apartamento apenas para deixar as malas e pegar o próprio carro, antes de dirigir até a casa do amigo.

Chegou no início da tarde, ainda sofrendo os efeitos do fuso-horário. Seus olhos pesavam, mas ele não queria e não conseguiria esperar até o outro dia.

"Mamãe, é o tio Pedo." Ouviu Julinha gritando de dentro do apartamento logo que tocou a campainha. Não demorou para a porta ser aberta, e Fabi e a criança apareceram. "Tio Pedo."

"Oi minha gatinha." O rapaz a ergueu no colo, surpreso com seu tamanho. "Caramba, você cresceu."

"Faz uns seis meses que você não vê ela, Pedro, claro que ela cresceu." Ele observou Fabi, que parecia exausta. A barriga de quatro meses já era visível dentro da camiseta que ela usava e seu peito se apertou pela criança que ela esperava.

"Tio, abia que meu papai tá dodói?" Julinha fez um biquinho fofo, demonstrando sua tristeza. Pedro sorriu triste, afagando sua bochecha.

"Sabia, gatinha. Por isso que o tio veio, para ver seu papai e ver se ajuda ele a melhorar um pouquinho." Os olhinhos castanhos brilharam.

"Ele tá no quato." Avisou a criança. "Vai lá com ele, que eu to vendo desenho, tá bom?"

"Tá bom, gatinha. Fica vendo seu desenho." Os adultos riram enquanto ela voltava para o chão, correndo para o sofá. Pedro se virou para Fabi. "Posso?"

"Ele já deve estar se perguntando por que você ainda não foi lá." A mulher assentiu, começando a ir para a cozinha. "Fica à vontade, tá Pedro?"

Ele caminhou para o quarto, pensando no que iria encontrar. Havia visto apenas uma pessoa com câncer na vida, e já estava em estágio terminal. Era um fã da banda que fora a um show, ansioso em conhecê-los. O rapaz também tinha leucemia e perdeu a luta poucas semanas depois.

"Hey Johnny." Abriu a porta do quarto devagar, colocando a cabeça aos poucos.

"Fala, seu mané." Suspirou aliviado ao constatar que a aparência do amigo ainda era minimamente sadia. Os cabelos estavam raspados, estava bem magro e abatido, mas ainda distante do rapaz à beira da morte.

Talvez isso fosse um bom sinal.

"Como tá?"

"Doente." Os dois riram, enquanto Pedro sentava na beirada da cama. "Cansado... Fiz a primeira sessão de quimio ontem, e to só o pó."

"E o cabelo?"

"Já raspei, para ir acostumando a Julinha. Se eu aparecer carecão do nada, ela vai assustar." O guitarrista assentiu. "E os shows lá nos States? Vocês tinham mais alguns, não é?"

"O Gil Porto vai me substituir, eu precisava vir para cá."

" largou a turnê?" João ficou surpreso com o que ouviu. Nunca imaginou que algo faria Pedro largar uma turnê da banda, ainda mais algo como sua doença.

"Brother, tu é meu melhor amigo da vida toda. Eu to em falta com você, eu to ligado. E agora, mais do que nunca, vai precisar que eu esteja do seu lado. E eu vou estar." Os dois se encaravam emocionados. João sentou melhor na cama, de modo que conseguisse abraçar o melhor amigo.

"Eu acho que não mereço um amigo que nem você."

"Eu que tenho que falar isso. ficou do meu lado no momento mais difícil da minha vida, agora é minha vez de fazer o mesmo por você." Pedro sorriu para ele. "Eu to de férias por um tempo, agora que a Sol tá grávida. Vamos começar a trabalhar no novo álbum, fazer uns shows de final de semana, mas eu to aqui pro que você precisar: cuidar da Julinha, te levar no hospital..."

João não disse mais nada, porque nesse momento Julinha entrou no quarto, passando a exigir a atenção do pai e do tio de maneira integral. Os dois, é claro, não se chatearam com isso, dedicando toda a atenção à criança.

~P&K~

Gael chegou ao Rio na hora do almoço, com Clarinha inquieta no banco traseiro. Haviam voltado com o carro de Karina, que viria de ônibus na sexta-feira.

"Que horas a gente vai ver o padrinho, vovô?"

"Mais tarde, pequena. Agora a vovó tá dando aula, e depois que ela sair, nós vamos direto para a casa do padrinho." Prometeu Gael, enquanto ajudava Bete com as malas. "Enquanto isso, por que você vai falar oi para a tia Bianca? Ela e o Alan estão em casa na hora do almoço."

"Posso?" O avô assentiu, enquanto ela saia correndo sobre seu olhar atento. Assim que ela bateu à porta da tia e a mesma apareceu, ele voltou sua atenção para as malas.

"Bete, eu aluguei um apartamento para a Karina, aqui do lado da fábrica." Ele avisou, surpreendendo a empregada. "Tá na hora da minha filha e da minha neta voltarem para o Rio."

"Mas, seu Gael, a Karina..."

"Eu sei os motivos dela melhor do que ninguém. Mas o João está doente, bem doente, e a nossa família precisa ficar unida. Ela vai ficar em São Paulo, mas morrendo de preocupação com o irmão aqui no Rio." O mestre parou à porta do prédio. "A Fabi precisa dela, o João precisa dela, todos nós precisamos ficar juntos agora. E ela vai vir para cá de volta, por bem ou por mal."


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Notas finais do capítulo

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