POV Jane

Encarei-o de volta, sem me intimidar, ele não poderia fazer nada contra mim. Seus olhos cintilavam de raiva, sabia que ele iria tentar me atacar se fosse necessário.

Estávamos reunidos atrás do prédio do colégio. Na primeira aula, havia recebido um bilhete em anônimo dizendo que alguém queria se encontrar comigo no final da aula. Por pura curiosidade, decidi ir, quem sabe poderia me divertir um pouquinho. Desde que eu e Alec havíamos chegado a Londres, tentamos manter a descrição, já bastava os assassinatos que aconteciam diariamente pelas mãos dos humanos. Porém, isso tem me deixado muito entediada.  Até tinha pensado em ir para uma outra cidade para brincar um pouco, mas com o estado que meu irmão tem estado esses dias, ele está um caco completo, tive de adiar essa ideia. Só que hoje não deu, precisa disso e muito.

O lugar onde estávamos era sujo e nojento, cheio de garrafas e tocos de cigarros de alunos que decidiram ficarem doidões na escola. E depois dizem que o ser humano não é burro, ele mata o próprio corpo e ainda reclama quando descobrem que os vampiros os matam para se alimentar.  Hipócritas. O garoto, se me lembro bem, seu nome era Ben ou Benjamin, tanto faz, me encarava sério. Tenho que admitir que fiquei surpresa quando descobri que um mestiço estudava naquela escola e que ainda era filho de um de nossos procurados, Hard Johnson. E mais ainda quando descobri que sua mãe era uma vampira descontrolada que tinha de ser trancada em casa para não atacar o filho mestiço e a filha humana, só podendo sair de vez em quando, em pequenos testes para ver o quão grande era seu autocontrole. Porém, nada me surpreendeu mais do que o fato de Heloisa, a humana idiota pelo qual meu irmão mais idiota ainda era apaixonado, sabia de tudo isso e aceitava bem o fato. De onde aquela menina havia saído? Com um dos dons mais poderosos do mundo, sabe da existência de vampiros e até mesmo convive com eles! Idiota. Ben parecia que iria me atacar, porém quando um rosnado saiu por seus lábios, não aguentei e soltei uma risada.

- Acha mesmo que pode me machucar, criança? Mesmo se fosse um vampiro completo, ainda iria perder.

- Sei que sim Volturi, não sou idiota tão idiota a ponto de te desafiar. Mas isso não quer dizer que eu não tenha coragem de falar com você, de te provocar um pouco – Disse ele chegando mais perto. 

- Não converso com seres inferiores como você, a não ser que eu for matá-lo – Sorri – E acho que você não quer morrer, não é?

- Claro que não. Não sou e nunca fui suicida.

- Então, porque me chamou?- Eu disse. Ele respirou fundo algumas vezes antes de responder.  Bufei irritada, eu não tinha o dia todo!

- Eu sei o porquê de você, seu irmãozinho emo e a Vampira Barbie estarem aqui. E seu objetivo não será cumprido, Volturi, não vou deixar que levem minha amiga para aquele castelo e a transformem em um monstro sanguinário e assassino. Heloisa é doce, gentil, inocente demais! Não posso nem imaginar o ela será capaz de fazer a si mesma se alguém a transformá-la em um monstro.

- E acha mesmo que seu discursinho fraco irá nos impedir de seguir nossas ordens, criança?

- Não, sei que os cachorros sempre têm de seguir as ordens de seu dono – Um sorriso de escárnio surgiu em seu rosto, rosnei brava. Ele não se deixou intimidar, continuou - Mas não custa nada tentar avisar vocês: Ela nunca será controlada se for transformada a força, irá causar a própria morte só para mostrar seu ponto.

- Nem mesmo ela, sendo burra como é, iria cometer tal ato, só por rebeldia – Falei soltando um risinho – Ninguém seria tão...

- Teimoso? – Completou o mestiço – Sim, alguém seria e esse alguém é ela. Tome cuidado Jane, Heloisa é como minha mãe: não aceita que alguém empunha sua vontade na frente da dela.

 Dizendo isso, saiu correndo, deixando-me sozinha embaixo da chuva.

***

Deitei-me em minha cama, sem me importar em molhá-la toda, alguns dos empregados do hotel viria arrumá-la mais tarde. E senão viesse, dane-se, eu não iria dormir ali mesmo. Sabia que vampiros não podiam ter dores de cabeça, mas podia jurar que minhas têmporas estavam começando a latejar. Fechei os olhos por alguns segundos, querendo poder dormir, só para poder dar um tempo aos problemas. Há alguns minutos, havia recebido uma ligação urgente de Alec, pedindo para que eu o ajudasse a esconder um corpo. Aparentemente, ele havia perdido o controle e matado um aluno da escola. De contra gosto, o ajudei, afinal, talvez eu precisasse de sua ajuda mais tarde. O pior de tudo é que a humanazinha havia visto tudo e ainda por cima conhecia o cara. Alec não podia ser mais azarado. Depois de ele acalmá-la (leia-se usar seu dom para que ela parasse de chorar feito um bebê mimado) e deixa-la em casa em segurança (eu sugeri que a deixássemos no meio da floresta, mas Alec não gostou muito da ideia, dizendo que já tínhamos problemas o suficiente) enterramos o corpo em um lugar mais afastado, onde ninguém nunca irá encontra-lo.

Pobre garoto, até que era bem bonitinho para um humano.

Suspirei cansada.

De repente, meu celular começou a tocar Boulevard Of Broken Dreams do Green Day. Atendi, sem olhar para ver quem era.

- Alô?

Ninguém respondeu.

- Oi?

Nada.

- Tem alguém aí?

Nada de novo.

-Olha, muito engraçado, mas não estou com humor para brincadeiras!

- Ah Jane, sempre tão alegre! Sinti tanta falta de seu humor negro.

Não acreditei quando ouvi a voz, não a ouvia há muitos anos, desde que era humana. Arfei, sentindo medo, um medo tão antigo quanto minha própria existência.

- Gustavo.

- Olá Jane.