Love or not Love? escrita por EuSemideus


Capítulo 26
XXv


Notas iniciais do capítulo

Ei gente, to atrasada, eu sei, mas eh q... Explico lá em baixo, ok?
Bem, ta aí o cap. Espero q... Gostem (?)



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XXV

Annabeth


Annabeth acordou com duas pequenas mãos em seu braço e uma voz a chamando de "mamãe". Por um momento pensou que estava, finalmente, sonhando. Mas ao abrir os olhos e encontrar Melany pequena, notou que não passava da mais pura realidade.

Percy estava de plantão naquela noite, o que não agradava nenhum dos três. O moreno não descansava e chegava em casa, no dia seguinte, completamente esgotado, tanto física quanto emocionalmente; Melany reclamava constantemente de saudades do pai e Annabeth não conseguia dormir bem, acordando de hora em hora, só para ver que ele não estava ali.

Porém aquele dia estava sendo especialmente difícil. Mel acordara com o nariz escorrendo e fraquinha. Percy, que só vira a filha pela manhã, pedira que Annabeth desse vitamina C e mais algumas outras a menina, para que o provável resfriado não progredisse. A loirinha havia melhorado significativamente depois disso, tal que até fora para a escola, saltitando como sempre. Contudo a pequena não voltara da mesma maneira. Os olhos caídos e o semblante abatido mostravam o cansaço incomum, tal que a fizera dormir duas horas antes do normal, fato que só preocupou ainda mais sua mãe.

Então, lá estava Melany a sua frente, o rosto vermelho, olhos cobertos de lágrimas e uma expressão de choro. Annabeth sentou-se na cama e puxou a filha para seu colo, sussurrando no ouvido da menina que tudo ficaria bem. Assim que seu corpo chocou-se com o da pequena, sentiu o calor irradiando do mesmo.

– Eu não to bem, mamãe - choramingou Mel.

Annabeth tirou algumas mexas de cabelos do rosto da filha, fitando-a com ternura.

– Vou resolver isso, tudo bem? - ela disse - Só precisa confiar na mamãe.

A pequena assentiu e recostou-se em seu peito. Annabeth acendeu o abajur e abriu a gaveta do criado mudo ao seu lado, vasculhando-a rapidamente. Logo estava com um termômetro em sua mão. Balançou-o um pouco, para que o mercúrio descesse, e colocou-o em uma das axilas de sua filha.

– Tá gelado, mamãe! - reclamou a pequena - Eu to com frio!

Annabeth puxou o cobertor, abrigando a filha debaixo dele.

– Eu sei, meu amor, mas é necessário - garantiu.

Abraçou a pequena novamente com um dos braços, segurando o telefone na mão livre e pressionando-o contra sua orelha. Seria inútil ligar para Percy alguns meses antes. O rapaz tinha o costume de desligar o aparelho durante o trabalho. Mas depois que passara a morar com Annabeth, principalmente nas proximidades da morte do tio da loira e depois da chegada de Melany, passara a deixa-lo no modo "vibrar".

Annie, meu amor, está tudo bem?– atendeu Percy, claramente preocupado.

Annabeth sorriu levemente ao ouvir aquele "meu amor", sentindo seu coração se aquecer. Percy começara a chama-la frequentemente por aquela expressão naquele mês que postergava sua quase declaração. Depois de alguns dias, se tornara algo tão automático, que a loira tinha certeza de que ele mal notava quando dizia, mas aquilo nunca deixava de balançar a garota.

– Na verdade não - admitiu por fim - Mel me acordou passando mal e ela está com - retirou o termômetro do braço de sua filha e colocou-o contra a luz do abajur - 38,7ºC de temperatura.

Annabeth pode ouvir o moreno prender a respiração do outro lado da linha e silenciar-se por alguns segundos.

Certo, vou mandar entregar o remédio aí em casa – ele começou, seu tom era sério e profissional, mas Annabeth podia sentir uma ponta de preocupação - A dosagem eu ligo daqui a pouco para dizer, preciso confirmar com um colega.

Percy respirou fundo novamente e Annabeth quase pode vê-lo passar uma das mãos pelos cabelos.

De qualquer maneira, precisamos baixar esse temperatura antes que ela chegue a 39ºC– completou.

– Banho? - sugeriu a loira.

Sim, banho– confirmou Percy - Vá esfriando a água aos poucos para que ela não tenha um choque térmico, tudo bem? Deus, como eu queria estar aí.

Annabeth sorriu levemente.

– Vamos ficar bem, Percy, não se preocupe - ela pediu - Olha, vou colocar no viva-voz para que possa falar com a Mel.

Annabeth afastou o telefone na orelha e tocou a tela.

– Filha, da um oi para o papai - pediu a loira.

– Oi, papai - disse Melany com voz fraca.

Oi, meu amor– ele respondeu, escondendo a preocupação - Como está se sentindo?

– Mal - admitiu a pequena - Mas a mamãe já disse que vai cuidar de mim, então não tem problema.

Papai já mandou entregar o seu remédio, daqui a pouco ele chega – garantiu ele - Sei que sua mãe vai cuidar bem de você.

Mel remexeu-se no colo da mãe, acomodando-se melhor contra seu peito.

– Ta bom, papai - ela respondeu - Beijo, te amo.

Também amo você, princesa– disse o rapaz - Qualquer coisa me liguem. Eu já mando uma mensagem com a dosagem do remédio, querida. Um beijo, meus amores.

– Beijo - despediu-se Annabeth, desligando o telefone.

Deixou o aparelho em cima do criado-mudo, junto do termômetro, que ainda estava em sua mão. Sentiu as mãos se Mel agarrarem a sua blusa. Annabeth suspirou e segurou a filha em seus braços, levantando-se da cama. Levou-a até o banheiro, colocando a pequena de pé sobre o tapete.

– Vamos tirar a roupa, meu amor - avisou Annabeth - Precisa tomar banho.

Mel a abraçou e choramingou.

– Não, mamãe. Eu to com frio - ela implorou.

Annabeth sentiu seu coração apertar e acariciou os cabelos da menina.

– Eu sei, meu anjo, mas é necessário - explicou a mais velha - Sua temperatura está muito alto, precisamos abaixa-la. Vamos, vou entrar com você.

A pequena assentiu, soltando a mãe. Annabeth pode ver duas lágrimas descerem por seu delicado rosto, mas preferiu ignorar para não sofrer mais. Despiu Mel, assim como a si mesma, e prendeu os cabelos dela e os seus, ambos em um coque no alto da cabeça.

Logo que abriu a água do chuveiro, ela ainda estava quente. Fez com que a filha molhasse primeiro os pulsos, então a nuca, costas, peito... Quando a pequena já estava encharcada, começou a diminuir a temperatura, porém quando esta estava somente fresca, Melany começou a tremer e bater os dentes. Aquilo foi o bastante para Annabeth decidir que já bastava, fechando o registro e enrolando a loirinha em sua toalha.

Minutos depois as duas estavam deitadas na cama do casal, abraçadas. A televisão ligada em um canal de desenhos qualquer, que Mel pouco dava atenção. O som da campainha, baixo por conta da distância em que estava, quase não foi ouvido por Annabeth, que levantou-se rapidamente, vestindo um robe e pegando sua bolsa. Ao abrir a porta encontrou o porteiro na noite, Edward, se não lhe falhava a memória.

– Entrega da farmácia, Sra. Jackson - ele disse estendendo-lhe uma sacola de papel.

A loira estava tão concentrada que nem se deu ao trabalho de corrigir o homem. Não tinha aquele tempo para ser gasto na situação em que estava.

– Obrigada - agradeceu pegando a pacote - Sabe me dizer quanto foi?

Edward sorriu de forma terna, como se soubesse o que se passava dentro do apartamento e sentisse por ela.

– Já está pago - avisou ele.

Percy, foi o primeiro nome que veio em sua mente. Sorriu levemente e agradeceu. Fechando a porta e voltando para o quarto. Checou em seu telefone a mensagem do namorado, que dizia a dosagem do remédio, despejando-o no copo de medidas. Melany torceu o nariz ao ver o medicamento, alegando que o gosto deveria ser ruim, porém Annabeth já havia pensando nisso. Ofereceu um copo de leite com chocolate para filha, tal que ela bebeu metade antes de tomar o remédio e a outra depois.

Não se passaram vinte minutos, a menina já dormia. Aos poucos o suor começou a se fazer presente e o termômetro passou a marcar 37ºC de temperatura. Annabeth mandou uma mensagem para Percy, avisando da melhora da menina, e deitou-se ao lado dela, tentando, em vão, adormecer.

–------------/--------------/-------------

Annabeth tamborilou os dedos sobre a coxa, aguardando sua vez. Estava no Ômega com Melany, para uma consulta. De acordo com os colegas de Percy, Dra. Willians era a melhor pediatra da cidade.

Percy insistira para que levasse Melany até a médica, tanto que conseguira um lugar privilegiado para elas na fila. O rapaz recusava-se veementemente a dar qualquer diagnóstico. "Uma criança não é um adulto pequeno" dizia ele "Não vou arriscar a vida de minha filha por negligência".

Annabeth olhou para a pequena. Seu rosto estava mais corado e o aspecto físico visivelmente melhor, principalmente por conta da vitaminas que havia tomado. Mal parecia a menina que tinha feito a loira virar a noite em claro de pura preocupação. Concentrada, Mel tentava resolver um cubo mágico, presente de sua avó, tal que outrora fora de sua mãe. A mulher não contara a filha que sabia como decifra-lo, deixando-a tentar mais de uma semana por si própria.

Melany bufou.

– Isso é impossível! - ela reclamou - Não da!

Annabeth riu, passando a mão pelos cabelos da filha.

– É claro que da - rebateu ela - Isso é um jogo, você só precisa saber das regras para ganhar.

Melany cruzou os braços, brava.

– Ninguém sabe essas regras.

Annabeth sorriu divertidamente.

– Ah é? - indagou, vendo a filha assentir. Pegou o cubo das mãos da menina e olhou o relógio na parede a sua frente - Veja.

Assim que o ponteiro chegou ao doze, ela começou, puxando da memória as sequência. Cruz branca. Face branca. Seus dedos se moviam junto as engrenagens do cubo, fazendo-o mexer-se freneticamente. Meios. Cruz amarela. Face amarela. Annabeth sorriu, além de estar terminando, aquela era a parte mais divertida para ela. Quinas. Meios. (N/a: sim, eu sei resolver um desses. Meu record é 1min e 14s! Amo!)

A loira bateu o cubo resolvido na perna, olhando para o relógio. Dois minutos e quinze. Fez uma careta.

– Já fui melhor nisso - lamentou.

Olhou para sua filha, que simplesmente a olhava de boca aberta, como se não acreditasse no que estava vendo. Annabeth riu, mostrando a brinquedo para a menina.

– Eu disse que dava - gabou-se.

Melany agarrou o cubo, conferindo cada face, como se procurando algum erro. Olhou a mãe impressionada e sorriu animada.

– Ensina! - pediu bagunçando o cubo.

Annabeth riu e pegou-o. Inclinou-se para mais perto da filha, ajeitando o brinquedo em sua mão.

– Primeiro você faz uma cruz... - começou, porém logo foi interrompida.

Melany Chase – chamou uma voz nos auto-falantes.

– Depois eu explico - garantiu Annabeth, jogando o cubo na bolsa e levantando-se, segurando a mão de Mel.

Seguiu para a sala indicada. À porta estava uma mulher que devia ter sua idade. Seus cabelos eram ruivos, bem alaranjados, e cacheados. Os olhos verde-claros e a pele branca, com algumas sardas. Ela sorria abertamente e usava um jaleco branco, com algumas flores bordadas ao redor de seu nome.

– Olá, sou a Dra. Willians, mas podem me chamar de Rachel - apresentou-se ela - Entrem!

Annabeth sorriu e adentrou, junto de Melany, ouvindo a porta ser fechada. Rachel. Aquele nome não lhe era estranho. Seria ela a... Não. Quais eram as possibilidades?

Logo as três já estavam sentadas e devidamente acomodadas.

– Bem, você deve ser a Melany - disse a médica - E você a mamãe...

– Annabeth - a loira completou - Muito prazer.

Rachel sorriu amigavelmente.

– É todo meu - garantiu ela - Agora vamos lá. O que tem acontecido com essa mocinha?

Annabeth contou detalhadamente os acontecimentos do dia anterior, enquanto Mel escutava tudo em silêncio.

– Bom, antes de qualquer coisa, vamos olhar a garganta e os ouvidos - disse Rachel - Só para saber se tem alguma inflamação ou irritação.

Mel se encolheu, segurando a mão da mãe.

– Doí? - perguntou ela, insegura.

Rachel sorriu.

– Não, é só uma lanterninha especial que eu vou pegar para iluminar - explicou ela - Pode sentar naquela cama ali?

Mel assentiu e subiu/escalou a pequena escada com rapidez, sentado-se na maca. Ela parecia um tanto relaxada, sem medo algum do que estava por vir. Annabeth sorriu. Sua garota.

– Olha só, Melany, vou precisar que você abra bastante a boca para mim - contou a médica.

A pequena assentiu e o fez. A ruiva ligou o otoscópio e usou uma paleta para abaixar a língua da menina.

– Bem, não tem nada, agora vamos aos ouvidos - disse Rachel, limpando o otoscópio e adaptando-o - Então, sua mãe disse que seu pai é médico. Ele trabalha aqui?

Mel negou com a cabeça.

– Não, ele trabalha no Alfa - explicou a pequena entrando na conversa da médica, claramente para distraí-la - Ele é cardi... Cardio... Ah, ele cuida do coração das pessoas.

Rachel se aproximou, colocando o otoscópio um uma das orelhas de Melany.

– Ah, então ele é cardiologista - esclareceu a ruiva - Eu tive um... Grande amigo que era cardiologista.

A médica passou para o outro ouvido.

– O tio Nico, melhor amigo do papai, também é cardi... Cardio... - a pequena fechou os olhos e respirou fundo - Car-di-o-lo-gis-ta.

Rachel se afastou e fitou-a confusa. Annabeth subitamente passou a prestar muita atenção na conversa, sabendo que dali sairia algo.

– Nicholas Di Ângelo? - ela indagou.

Melany assentiu.

– É, o tio Nico.

Rachel franziu as sobrancelhas.

– Qual é o nome do seu pai?

– Perseu Jackson - disse a menina, calmamente.

Annabeth viu a médica empalidecer por um momento e fita-la de olhos arregalados. A loira engoliu em seco. Ela deveria ser a rainha das conscidências.

– Você não tem o sobre nome dele - disse a ruiva, ainda em choque, claramente sem raciocinar no que falava.

Mel abaixou a cabeça.

– É que eles me adotaram, sabe - explicou a pequena.

Annabeth resolveu interferir. Respirou fundo e levantou-se, aproximando-se das duas. Passou um dos braços pelo corpo da filha, trazendo-a para junto de si, e olhou para a mulher a sua frente.

– Então você é a Rachel - disse simplesmente - Achei que seu sobrenome fosse Dare.

A médica sorriu levemente.

– Willians é de meu marido - contou ela - Octavian Willians (N/a: esse não é o sobrenome dele no livro, mas eu me recuso a colocar Augusto César).

Annabeth assentiu, entendendo.

– Como está Percy? - perguntou Rachel, curiosa.

Annaneth sorriu ao lembrar do rapaz.

– Ele está bem - garantiu ela - E feliz. Nunca o vi tão feliz.

A garota não estava se gabando, ou coisa do tipo, somente refletindo. Ele sorria verdadeiramente, até nos dias mais cansativos. Seu nada frequente mau humor durava pouquíssimo, sendo quebrado por um simples abraço de Mel, ou um cafuné da própria Annabeth. Percy parecia realmente gostar da vida que passara a levar.

Rachel sorriu abertamente.

– Isso é muito bom - afirmou ela - Percy é um bom rapaz, merece ser feliz. Ele é tão bom, que eu nem tenho medo do que ele disse a você sobre mim.

Annabeth sorriu, entendendo o que ela queria dizer. Percy não seria capaz de falar mal de alguém que já fora tão próximo dele.

Rachel rapidamente mudou de assunto, voltando a falar da saúde de Melany. Annabeth prestou atenção em cada palavra, tentando entender o que se passava com a filha. A loira não sabia muito bem o que pensar da médica, porém não sentia-se ameaçada por ela. Confiava plenamente no amor de Percy, de modo que sabia, do fundo de seu coração, que ele nunca a substituiria. E aquilo era recíproco.

–-------------/-----------/---------------

Annabeth encostou-se na parede de seu quarto, olhando pela janela aberta. O sol iluminava todo cômodo lindamente, dando vida ao ambiente. A loira fechou os olhos, sentindo aquela energia invadir-lhe. Paz. Harmonia. E... Amor. Quem diria?

Abriu os olhos e suspirou. Seu quarto já não era mais só seu, mas de Percy também. O closet estava dividido em dois. Haviam duas toalhas no banheiro. Sem falar do cheiro... Aquele aroma natural do moreno que parecia nunca abandonar aquele cômodo da casa.

Annaneth sorriu levemente, ouvindo sua filha gargalhar de qualquer coisa que via na televisão. Era tão bom vê-la saudável depois de uma virose de quatro dias. Mas aquilo já passara tinha mais de uma semana, tudo estava bem.

Bem não, nada podia estar melhor! Estava trabalhando no que gostava. Tinha casa própria. Sua melhor amiga estava grávida e prestes a se casar com o homem de sua vida. Dormia todos os dias ao lado de um lindo moreno que a amava incondicionalmente e ela, inesperadamente, retribuía tal sentimento. Além de que, era mãe. Tinha uma filha maravilhosa que amava imita-la. Sem falar de sua família.

Notou, surpresa, que nunca sentira-se tão bem e realizada na vida. Achava-se mais bela a cada elogio repentino de Percy. Sorria a todo momento, só de ver o rosto delicado e travesso de sua filha. Seu coração enchia toda vez que lembrava que Thalia escolhera-a para ser madrinha de seu filho. Sentia-se amada por um homem, coisa a muito julgou impossível acontecer. Como estava enganada. Muitas vezes nem mesmo era necessário uma palavra ou ação, só um olhar de Percy podia fazer-lhe suspirar apaixonada.

Sentiu algo em suas pernas e olhou para baixo, encontrando Blackjack. O Labrador negro tinha a cabeça entre as patas, orelhas abaixadas, olhar pidão e o rabo batendo levemente contra a piso de maneira. Annabeth colocou o pé descalço sobre sua cabeça, fazendo carinho, vendo-o colocar a lingua para fora, fechar os olhos e bater mais forte a cauda.

Como pudera se esquecer de seu cachorro? O guarda constante de sua menina? O brincalhão que que trazia ainda mais alegria aquela casa? O símbolo de seu namoro com Percy? Sim, Blackjack não podia ser esquecido em seu mundo perfeito.

Annabeth voltou a fitar a paisagem lá fora, ainda acariciando a cabeça do cachorro. Talvez perfeito fosse uma palavra muito forte, alguns anos antes, para ela descrever qualquer coisa. Porém a loira passara a entender o significado prático daquele adjetivo. Quando algo é perfeito, não quer dizer que não existam falhas ou erros, mas que eles fazem parte do conjunto de forma tão homogênea, que colaboram para a perfeição de tal coisa. E assim estava sua vida naquele momento.

Annabeth ouviu o telefone tocar no bolso de seu seu short. Pegou-o rapidamente, esperando que fosse Percy, já que ele já estava atrasado para chegar em casa, mas para sua decepção, e surpresa, era um número desconhecido. Acabou dando de ombros e atendendo o telefonema.

– Alô?

Olá, minha flor.

Annabeth sentiu seu sangue gelar. A boca secou e o estômago revirou-se. De repente, toda a alegria e leveza que estavam dentro de si pareceram dar lugar a medo e desespero.

– Como me achou? - perguntou fria.

Tenho meus contatos, flor - disse a voz do outro lado da linha - Mas, não sentiu minha falta? Faz tempo que me jogou nesse inferno. Uns 6 ou 7 anos, talvez.

Annabeth estremeceu, vendo as lembranças voltarem a sua mente. Fechou os olhos e obrigou-se a refrea-las. Precisava manter a calma.

– Deixe-me em paz, Luke - ela pediu - Já está tudo acabado.

Pode ouvir uma gargalhada do outro lado da linha.

É aí que você se engana, está só começando – ele contou - Não sei se já ouviu falar em "responder em liberdade".

Não... Aquilo não podia estar acontecendo... Não!

– Não... - ela deixou escapar.

Luke riu.

Sim, e acho que devo te agradecer também– disse ele - Fiquei sabendo que está cuidando de minha filha, ou vai dizer que não desconfiou que ela era minha?

Aquela voz. Sempre doce e calma, melodiosa. Por isso ele era tão perigoso. Luke parecia o príncipe encantado aos olhos da maioria das pessoas. Bonito, educado, romântico, inteligente... Mal sabiam elas que ele estava mais para monstro.

Quanto a Mel... Aquilo fora uma possibilidade desde o início. Mas Annabeth simplesmente amava a menina demais para se importar com de onde tinha vindo seu código genético.

– Ela tem pai, Luke, e não é você - disse Annabeth, séria.

Oh, sim. Seu novo namoradinho– comentou ele - Como é mesmo o nome? Peter... Não! Percy Jackson! Médico, não é? Família morando em Nova York, 26 anos, alto, moreno, olhos verdes... Mudou bastante a preferência, minha flor.

Como ele sabia tanto sobre Percy? O nome tudo bem, mais idade, aparência, profissão?!

– Como sabe tudo isso? - perguntou, tentando esconder a preocupação na voz.

Já disse, tenho meus contatos – disse Luke. A voz do loiro mudou, tornando-se mais grossa e assustadora, digna dele - Eu vou acabar com ele, Annabeth. Você é minha, e não pode amar mais ninguém além de mim. Sendo assim, esse tal Percy não pode existir.

Annabeth sentiu como se um rolo compressor estivesse passando por cima de seu coração. Temia pela vida de Percy, pois sabia do que Luke era capaz. Não podia perde-lo. Perseu não podia morrer por sua causa. Ela precisava fazer algo, e rápido.

Colocou sua mente para funcionar, procurando uma saída. Lá estava ela, na sua frente, destrancada e sombria. Odiava mentir, mas se aquela fosse a única maneira, o faria.

– Não seja idiota, Luke. Sabe que eu não sou capaz de amar - mentiu, usando sua voz mais fria - Não amo Perseu, só estou com ele por comodismo. Não posso ficar sozinha para sempre.

Uma risada de Luke foi ouvida. Annaneth sentia seu coração doer, mas precisava proteger sua família, seu amor.

Bom saber– ele disse, maldoso - Agora tenho que ir, flor. Nos veremos em breve.

Tudo que Annabeth ouviu em seguida foi o barulho de que a chamada havia sido finalizada. Seu coração estava disparado. Um enjoo crescia cada vez mais dentro de si, como se quisesse colocar todos seus medos para fora.

Ouviu um latido de Blackjack, ao seu lado, e virou-se de costas. Seu mundo caiu e o coração falhou algumas batidas. Não... Não...

Percy estava de pé na porta. Não tinha expressão alguma no rosto. Somente algumas lágrimas descendo pelas bochechas. Annabeth sentiu um choro iniciar-se sem sua concessão. Não... Não!

A loira deu um passo a frente, mas o rapaz pediu que ela parasse com a mão. Percy caminhou calmamente até ela, parando bem a sua frente.

– Percy, deixe-me... - ela começou, mal logo foi interrompida.

– Shiii - ele pediu, tocando seu rosto de leve. Annabeth sentia as lágrimas caírem cada vez com mais força e ouviu um soluço sair - Não tem problema, eu já deveria saber. Só não entendo... Por que mentiu? Por quê?

Annabeth soluçou novamente. A tristeza e decepção eram claras nos olhos de Percy. Aquilo era horrível.

– Eu não... - soluçou - Eu não...

Não adiantava, não conseguia dizer mais nada. Estava completamente desesperada.

Percy suspirou e assentiu.

– Tudo bem, eu entendendo - ele disse por fim - Desculpe-me, Annabeth, mas não posso ser alguém para só te fazer companhia. Preciso de mais, você entende? Não se preocupe, não abandonarei Melany. Ela sempre será minha filha.

Oh, não... Ele estava... Terminando? Despedindo-se? Indo embora? Não! Não!

– Percy, por fa-a-vor - ela começou, mas não conseguiu continuar, pois ele beijou sua testa. O choro aumentou ainda mais.

– Adeus, Annabeth - ele disse calmamente.

A loira colocou as mãos na nuca antes que ele se virasse para ir, na intenção de devolver-lhe o colar.

– Não, fique com ele - pediu Percy - Ele é um símbolo. A mulher que o tem é, e sempre será, o amor de minha vida.

Com isso o rapaz se virou e foi, para talvez nunca mais voltar.

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Percy

Percy parou o carro no sinal vermelho e encostou a cabeça no volante, sentindo as lágrimas descerem. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Como tudo desmoronara tão rapidamente? Da maneira que faria um castelo de cartas atingido por um simples sopro?

Pensara que um fantasma de seu passado, como Rachel, pudesse abalar a relação deles. Porém Annabeth mostrara-se segura e madura. Tão... Ela. Tão a mulher que ele amava.

Ela mentira. Mentira ao dizer que o amava. Por que falara aquilo se não sentia? Ele não a pressionara, ou pressionara? Aquela Annabeth falsa não parecia sua Annabeth. Bem, talvez esta nem mesmo existisse no fim das contas.

Fora enganado. Deixado de lado mais uma vez. Qual era o problema com ele? Por que não podia ser feliz? Encontrar alguém que pudesse corresponder aquele sentimento tão grande que... Bom, que ele achava não ser mais capaz de apagar. Amaria Annabeth para sempre.

Jogou as costas contra o banco do carro e suspirou. Nunca se veria livre daquele sentimento não correspondido. Não poderia esquece-la. Seguir em frente. Annabeth sempre estaria ali, lembrando-lhe do quanto fora idiota.

Buzinas anunciaram que o sinal já estava aberto, fazendo com o rapaz acelerasse. Ligou o rádio, na intenção de distrair-se, porém quase riu quando ouviu na música que tocava. Grenade, do Bruno Mars. Chegava a ser irônico que fosse aquela. A música que fizera sua aposta com Annabeth começar e que, no fim das contas, acabava combinando bastante com sua situação atual.

A verdade era que a raiva subira-lhe a cabeça na primeiro momento. Quisera tanto gritar, xingar, colocar para fora toda sua frustração... Mas então lembrou-se de uma música que sua mãe costuma cantar.

When you talk to her, talk to her
Like was somebody talking to your mama
[...]
She's somebody's baby, she's somebody's sister, she's somebody's mama


Sim ela era o bebê de alguém - Frederick e Atena -, a irmã de alguém - Connor - e a mãe de alguém. Sua filha. Deus, ela era mãe de sua filha!

Percy passou a mão pelos cabelos. O faria de sua vida? Para onde iria? Como continuaria?

Parou o carro em um congestionamento e respirou fundo, tendo uma única imagem em sua mente. Talvez só ela pudesse conforta-lo naquele momento. Sua mãe.


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Notas finais do capítulo

O cap ta um pouco menor q os últimos mas eu n consegui continuar... Sabe, nós autores n temos coração de pedra. Nos apegamos aos personagens, tbm. Somos só as primeiras pessoas para quem eles contam sua histórias, só reproduzimos... Tive uma crise de criatividade nesse fim, por isso a demora...
Queria agradecer a Miss Cor de Rosa e a Apaixonada por livros, pelas lindas recomendações!
Bem, de qualquer maneira, digam o q acharam, pf.
Bjs, até!
EuSemideus