PoV - May:

A primeira coisa que percebi quando acordei foi que Drew não estava do meu lado, algo que devido ao que aconteceu ontem estava fora do lugar. Comecei a me perguntar se aquilo realmente tinha acontecido, até que notei a porta do banheiro fechada e a luz dele acessa. Então ele está ali, pensei.

Levantei-me e comecei a procurar roupa que usava ontem a noite e minha bolsa para checar se havia notificações no meu celular. As roupas estavam espalhadas na cama, a bolsa na mesinha do lado dela. Depois de me vestir, tratei de pegar o meu celular e quase pulei de susto ao ver as horas no visor do aparelho.

– Bom dia - Disse uma voz atrás de mim.

Virei-me para encarar Drew, que já estava vestido e sorrindo.

– Bom dia? Já são 15 e meia! - Exclamei - A minha balsa chega às 16!

Não dei tempo de Drew demonstrar alguma reação, já fui pegando a minha bolsa e indo em direção da porta.

– Preciso arrumar as minhas coisas logo - Eu disse - Vou para o meu quarto.

– Você já está nele – Drew riu.

Me senti uma idiota ao perceber que era verdade.

– Acordamos muito tarde e eu estou quase atrasada – Disse como uma desculpa apara a minha burrice - Acho que nem vai dar tempo de me despedir dos outros – Suspirei.

– Hum... – Murmurou Drew em tom provocativo - "Dos outros"? Então está querendo dizer que vai dar um jeito de se despedir pelo menos de mim? - Perguntou ele.

Deixei escapar um sorriso. Era incrível como Drew estava pouco se importando para a balsa que eu poderia perder, como se ele quisesse que eu a perdesse.

– Vou te acompanhar até o porto – Disse ele – Mas antes preciso ir ao meu quarto trocar de roupa.

– Tudo bem – Falei – A gente se encontra no saguão então.

*****

Assim que Drew saiu do meu quarto vi que ele não estava tão bagunçado como eu esperava e lembrei-me de já ter arrumado todas as minhas coisas ontem. Ótimo! Eu demoraria demais se começasse a arrumar tudo agora.

Fui até a minha mala para ver se realmente tinha guardado tudo, aproveitei e escolhi uma roupa para trocar depois que eu tomasse um banho rápido.

Tomei o banho, mudei de roupa, peguei a mala. Olhei as horas no meu celular e vi que faltavam 10 minutos para a balsa chegar.

Saí do quarto e corri para chamar o elevador. Realmente não teria tempo de me despedir de todos. Mas não tem problema, até porque Solidad vai pegar uma balsa comigo, então pelo menos a verei. Pelas mensagens que recebi, ela já deve estar me esperando no saguão de hotel, assim como Drew.

Um pensamento me surgiu. Como eu contaria sobre ontem a noite para Solidad? No caso dela desconfiar de alguma coisa, é claro. É claro que ela notou que eu acordei tarde e Drew também. O elevador chegou e acabei deixando isso de lado por enquanto.

*****

Eu, Drew, Solidad e Robert (que veio nos acompanhar também) chegamos ao porto e logo descobrimos que a balsa ia atrasar 10 minutos. A notícia deixou os garotos bastante felizes, pois teriam um pouco mais de tempo comigo e Solidad. Robert aproveitou e foi até uma loja de lembranças perto do porto com Solidad, deixando Drew e eu a sós.

– Então... - Começou ele - Você vai para Sinnoh daqui a dois meses, e durante esse tempo que ainda estiver aqui em Hoenn, vamos combinar de nos encontrar.

Seu tom de voz deixava claro que aquilo era uma afirmação.

– Você pode ir na minha casa, como eu disse ontem. Não se preocupe com o meu tio e com a Stella - Acrescentou.

– Você também pode me visitar - Eu disse um pouco envergonhada.

Tenho certeza de que corei assim que disse isso. Não posso continuar agindo desse jeito perto de Drew, até porque estamos praticamente juntos. Depois do que aconteceu ontem, não somos nem de longe o que éramos antes.

Drew continuava sorrindo, até parecer se lembrar de algo. Enfiou a mão esquerda no bolso e pegou minha mão esquerda com sua mão livre. Do bolso retirou algo que colocou em cima da minha mão. Uma pokébola.

– Agora o Flareon e a Glaceon vão poder ficar juntos por um tempo - Disse ele.

Segurei a pokébola com firmeza.

– Tem certeza que está tudo bem eu ficar com ele durante dois meses? - Perguntei.

– Eu já disse que não tem problema - Respondeu Drew.

Ficamos em silêncio durante o tempo que faltava para a balsa chegar. Lado a lado, Drew mantendo um dos braços em volta da minha cintura, eu com a cabeça apoiada em seu ombro.

Solidad e Robert voltaram, também em silêncio, assim que a balsa chegou. Me afastei gentilmente de Drew e agarrei a alça de minha mala.

– Acho que é hora de ir - Eu disse a ele.

Ele se pôs a minha frente e me beijou, como eu já esperava que fizesse. Retribuía ao ato sem a menor dificuldade, como se Solidad e Robert não estivessem ali nos observando. Nos abraçamos logo em seguida. Solidad e Robert sorriam divertidos com a cena.

Depois de nos afastarmos, peguei novamente na alça de minha mala e esperei Solidad fazer o mesmo. Nos despedimos uma última vez de Drew e Robert, depois fomos em direção da balsa.

*****

Eu e Solidad já estávamos na balsa. Observávamos o porto de Sootopolis se afastando e uma onda de saudade começou a me invadir. Tantas coisas aconteceram enquanto estivemos aqui! Os treinos, as novas amizades, minhas aproximação com Drew... Tudo isso e mais em tão pouco tempo!

– Você dormiu bastante hoje - Solidad quebrou o silêncio entre nós.

– É... - Foi tudo o que consegui dizer sobre o assunto.

Embora em continuasse a olhar para frente a linda vista do mar, percebi que Solidad havia se virado para mim.

– O Drew também dormiu bastante - Continuou ela - Só o vi quando vi você.

Fiquei paralisada, tentando não reagir de maneira suspeita. Torci para não corar, mas é bem provável que isso tenha acontecido.

– Também notei que ontem vocês dois foram embora da festa juntos - Disse ela - Já entendi o que aconteceu. Não precisava ficar com vergonha - Terminou com um tom divertido na voz.

A última frase confirmou que eu realmente estava corada. Olhei para baixo na esperança de esconder isso.

– Tudo bem, não vou mais falar sobre isso - Solidad deu uma risada - Mas sem sair do assunto Drew, fico feliz que vocês estejam juntos.

– Não é oficial ainda - Eu disse.

– Depois do beijo no meio do porto não é oficial? - Perguntou Solidad deixando escapar outra risada.

Não pude deixar de sorrir.

– Eu e ele queremos nos encontrar durantes os próximos dois meses - Contei - Antes de eu ir para Sinnoh. Drew até me convidou pra ir a casa dele.

– O quê? – Perguntou Solidad bastante surpresa – Mesmo com o tio dele lá? Pelo o que soube dele, pode não gostar de te ver com o Drew.

Aquela afirmação me fez lembrar de que Stella tinha dito a mesma coisa, fazendo de tudo para eu desistir de Drew. E pensar que eu caí nessa, mesmo que por um curto tempo... Me faz sentir tão estúpida!

– O Drew disse que o tio dele vai ficar furioso – Contei – Mas não impediria nada.

– A Stella vai pirar – Solidad disse rindo.

E eu com toda certeza ficarei feliz em vê-la assim. Quando ela me ver com o primo, se sentirá derrotada, e eu terei ganhado, mostrado a ela que nem tudo é do jeito que deseja. Sorri para mim mesma só de imaginar a reação de Stella.

– Fico feliz por você ter desistido da ideia de não avançar nesse relacionamento – Disse Solidad um tempo depois – Mesmo vocês sendo de mundos bem diferentes, não quer dizer quer não possa dar certo. Que bom que você entendeu isso.

– O que importa é que eu esteja feliz com o Drew - Complementei - E eu já estou. Só quero que essa felicidade dure, é tudo o que eu desejo.

Depois fizemos uma retrospectiva da série de coisas que aconteceram desde a nossa chegada em Sootopolis. Rimos relembrando minha reação e a de Drew quando nos vimos em Slateport, de quando Solidad ficou bêbada por causa de Robert e Stella (esse assunto nem a incomodava mais), e em geral, a viagem de volta para Slateport foi tranquila.

*****

Quando chegamos em Slateport o dia já estava escurecendo. A balsa não fazia paradas como o cruzeiro que viajamos para chegar em Sootopolis, por isso essa viagem de volta foi mais rápida.

Despedi-me de Solidad e peguei um taxi para Petalburg – Mais uma longa viagem. Quando cheguei em casa já eram quase oito e meia da noite.

Fui recebida muito bem por meus pais, que estavam me aguardando com uma maravilhosa janta: lasanha! A primeira coisa que fiz depois de receber os elogios de meus pais (eles viram no jornal os resultados do evento) fui direto para a mesa comer.

Depois de jantar, passei alguns minutos me gabando para Max, que ainda não conseguia acreditar que eu fiquei em primeiro lugar como Coordenadora. Em seguida, fui para o meu quarto descansar da viagem.

Deixei a mala jogada, decidida a desarruma-la apenas amanhã. Atirei-me na cama com o celular em mãos, pronta para responder as mensagens que Drew havia me enviado.

Dois dias depois eu e ele não parávamos de mandar mensagens um para o outro. Drew tocou várias vezes no assunto de eu ir para sua casa, mas não respondia com muita certeza porque eu ainda não havia falado com os meus pais. Mais um dia se passou e eu decidi falar.

Eu estava nervosa porque nunca disse aos meus pais que iria visitar um garoto antes. Não faço ideia de como eles vão reagir, ainda mais quando souberem que o garoto é o famoso Top Coordenador Andrew John.

Na hora do almoço, aproveitando que os dois estavam presentes, iniciei a conversa.

– Acho que semana que vem irei passar uns dias em LaRousse – Comecei.

Papai foi o primeiro a questionar.

– LaRousse? – Perguntou ele – Por que está querendo ir para um lugar tão longe?

Ele e mamãe me encaravam. Até o Max deixou o seu almoço de lado. Droga, desse jeito não vou conseguir!, pensei. Achei que seria mais simples, porém com todos esses olhos me encarando, não conseguia abrir a boca.

– É-é que... – Olhei para o copo de suco ao meu lado – Eu vou visitar um amigo.

Houve um pequeno silêncio em que meus pais pareciam assimilar o que eu havia acabado de falar.

– Amigo? – Papai quebrou o silêncio, dando ênfase no “o”.

– Amigo? – Max repetiu, dando a mesma ênfase.

Balancei a cabeça em afirmativa.

– Você o conheceu na viagem, querida? – Perguntou mamãe.

– Não – Logo respondi – Eu já o conhecia bem antes disso.

Olhei para cada um deles. Papai estava sério, mamãe normal. Já o Max, me encarava perversamente.

– Esse seu amigo por acaso seria o Drew? – Perguntou ele sorrindo divertido.

Estava até demorando para o Max atacar! Papai se virou em direção do filho mais novo.

– Drew? – Indagou – Está se referindo a...

– Aquele Top Coordenador? – Mamãe completou.

Em seguida, os três me encaravam esperando uma resposta. Com certeza devo estar vermelha como um tomate.

– S-sim – Gaguejei – E então? – Quebrei o silêncio – Posso ir?

– Você já viajou sozinha muitas vezes – Disse mamãe – Então por mim não tem problema nenhum. E já que é pra ver um garoto...

Ela não terminou a frase, apenas sorriu para mim, e eu como sempre corei, por causa da última coisa que ela havia dito.

– Tudo bem - Disse papai não tão animado quanto minha mãe.

Fui tudo o que ele disse. Pelo jeito não gostou muito da ideia de eu ir visitar um amigo, mas pelo menos não tentou impedir. Mamãe percebeu isso e logo iniciou outro assunto. Agradeci por isso, pois tinha certeza que o Max iria "atacar" de novo. Perdeu a sua chance!

Depois do almoço avisei para Drew que eu já havia falado com os meus pais sobre passar uns dias em LaRousse. Eu estava no meu quarto e após ter enviado a mensagem, ouvi batidas vindas da porta.

– Entre! - Exclamei.

Era o meu pai. Ele entrou no quarto e fechou a porta atrás de si. Estava sério, o que me possibilitou de imaginar o que queria.

– Podemos conversar? - Ele perguntou.

– Claro - Logo respondi.

Ele puxou a cadeira da escrivaninha em um dos cantos do quarto e se acomodou nela. Sentei em minha cama, de frente para meu pai.

– Então... - Começou ele - Vai visitar seu amigo, aquele Top Coordenador famoso...

Era sobre isso que eu havia imaginado que ele fosse falar.

– Ele que te convidou para a casa dele? - Perguntou.

– Sim - Respondi - Eu não apareceria lá sem ser convidada.

Papai pareceu pensar em outra pergunta.

– Vai ficar na casa dele então?

– Não - Disse rapidamente - Vou ficar em um hotel lá perto.

Mais silêncio enquanto ele preparava uma nova pergunta.

– Você o conhece desde quando?

– Desse quando viajei com o Ash.

– Então naquela época ele ainda não era Top Coordenador – Ele observou – O que você vai fazer na casa dele?

Que tipo de pergunta era aquela? Dessa vez meu pai exagerou.

– Vou visitar... – Disse, quase acrescentando um “não é óbvio?” – Pra que todas essas perguntas?

Pra que todas essas perguntas, pai?

– Eu não terminei - Disse ele - Quando ele ainda era Coordenador vocês eram rivais?

– Éramos rivais - Falei - Agora responda a minha pergunta.

Ele deu de ombros.

– Só fiquei curioso - Disse ele - Porque do nada você resolve viajar para visitar um amigo. Fiquei curioso sobre você e ele.

Sobre eu e ele? Será que papai está desconfiando de alguma coisa? Será que ele percebeu que eu e Drew não somos só amigos e que tem algo a mais nessa história? Se ele estiver, eu não sei como desconfiou. Até agora não mencionei nada do tipo.

– Você parece preocupado - Comentei.

– Eu? - Papai riu, o que me pareceu um pouco forçado - Não é nada, May. Só estive curioso mesmo.

Ao terminar, se levantou e colocou a cadeira da escrivaninha em seu devido lugar. Deve ter decidido parar de me fazer perguntas porque percebi que ele está preocupado. Bom, ele é meu pai... Deve ser normal ficar assim quando se trata de sua filha e um garoto.

– Desculpa se a incomodei - Disse ele - Agora tenho que voltar para o ginásio.

Papai se encaminhou até a porta do quarto.

– Você não me incomodou - Eu disse antes dele sair.

Depois disso ele não me perguntou mais nada, embora ainda agisse estranho sobre eu ir para LaRousse. Mas não me preocupei com isso, nem disse nada sobre sua preocupação com ele.

*****

LaRousse é uma cidade com tecnologia avançada. Passarelas que se movem, robôs, isso e muito mais. Eu já tinha vindo aqui uma vez, mas por incrível que pareça não lembrava dessas coisas. Fiquei impressionada quando cheguei lá e me deparei com isso.

Depois de deixar minhas coisas no hotel e fazer o check-in na recepção, saí para procurar a casa de Drew. De acordo com o mapa que eu tinha no meu celular, o endereço dele ficava a duas quadras de onde eu estava.

Segui direitinho pelo caminho indicado e não demorou muito para eu avistar de longe uma área enorme, com um imenso jardim e uma linda mansão. Um alto portão com dois seguranças de cada lado se estendia.

Ao chegar perto do portão, pude ver melhor o jardim e a mansão. Eram incríveis me muito bonitos! Tive certeza absoluta de que aquela era mesmo a “casa” de Drew.

– Senhorita? – Chamou o segurança de cabelo cacheado.

Deixei de apreciar a linda mansão e me virei em direção do segurança que falou comigo. Ele tinha uma expressão séria no rosto.

– Olá! – Cumprimentei – Eu sou amiga do Drew.

Os dois seguranças trocaram olhares.

– Ah, mas é claro – Disse o de barba em um tom sarcástico.

– Estou falando a verdade – Eu disse – Eu e o Drew somos amigos. Foi ele quem me convidou para vir aqui.

Os dois seguranças suspiraram.

– Todo dia é a mesma coisa – Reclamou o de barba – Essas fanáticas pelo Sr. Andrew vindo aqui alegando terem sido convidadas.

– E achando que acreditamos nela – Completou o outro – Queira se retirar, por gentileza. Ou você quer que eu chame autoridades para te expulsarem daqui?

Não me movi, tentando manter calma. Pensei em várias coisas para dizer que comprovassem que eu não era uma fanática por Drew, e que realmente estava falando a verdade. Porém, antes que eu dissesse algo do tipo, ouvi passos se aproximando.

Olhei em direção do portão e pude ver que ele estava chegando de braços cruzados, encarando um segurança de cada vez. Parou perto do portão e disse:

– Ninguém será expulso. Ela é minha convidada – Drew sorriu ao terminar de falar.