Dançando Com Lobos escrita por CarlaQueiróz


Capítulo 1
Green Eyes


Notas iniciais do capítulo

Acho que demorei quase uma semana pra escrever esse capítulo... Enfim, espero que gostem. E, ah, escutem Green Eyes do Coldplay. É a música do capítulo, por assim dizer.



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O gélido ar frio saía de seus pulmões como uma densa fumaça-fantasma. O chão, que outrora riscara de giz, pinicava levemente suas costas. A imensidão daquele mar de chocolate observava calmamente as teias de aranha em seu teto, com um vazio inexpressível. Havia algo a dizer sobre a complexidade com que as telhas emaranhavam-se umas nas outras? Ou sobre como a madeira parecia funcionar perfeitamente com a arquitetura pobre do local? Anna não saberia responder. Anna. Que nome comum para uma garota comum com uma expectativa de vida tão comum que o título parecia fazer eco em sua mente vasta de vácuo. Poderia haver algum sentido em contemplar o piar da chaleira sobre o fogo a vaporizar a água suja? Ali, deitada sobre o chão, a mulher de pele branca pouco sardenta perguntava-se onde foi que deixara o medo que dentro de si depositara. Não o sentia mais; tampouco o procurava, pois o deixara tempos atrás; quando ainda fazia círculos de giz em volta de si. E ali ele estava: no chão da cozinha marrom, circulando seu magro e torto corpo. Lembrava-se que quando criança gostava de pensar que nada no mundo seria capaz de feri-la ali dentro. Pobre criança tola, como diria o velho da quitanda na esquina com seu nada belo bafo matinal. Mas Anna não se importava em ser tola; não havia ninguém para rir de seus tropeços e constrangimentos. Todavia, não havia ninguém para levantá-la do chão. Com isso em mente — e claro, com a chaleira que não parava de regurgitar sua existência — ergueu lentamente o seu corpo e caminhou até o fogão enferrujado, depositando a água fervente numa caneca com um sachê de chá de camomila e dois cubinhos de açúcar, para logo depois observar a açúcar dissolver-se rapidamente no quase-chá. A caneca em suas mãos fazia parte de uma pequena herança que sua tia-avó a deixara, junto com a velha casa de madeira e uma civilização inteira de cupins. Pensando nisso, bebericou a bebida fumegante e andou até a sala à procura de um livro para ler. Estava lendo um cujo personagem principal se suicidava após constatar que não poderia desfrutar do amor enfurecido que sentia, era um bom livro vindo do Romantismo, apesar do clichê. Mas, ora, o que seria de nossas vidas sem o nosso tão amado clichê? Como diria um famoso dito de autoria desconhecida: “se não fosse bom, não seria clichê”.

Anna vasculhava a estante, já sem pó, mas não achava nada de interessante para ler. Decidira, ao terminar a bebida, ir à livraria e comprar algum livro. Saiu de casa do jeito que estava, parando apenas para colocar um casaco e pegar sua bolsa. A cartilagem do seu nariz arredondado doía a medida que o vento a chicoteava; deveria ter colocado um cachecol ou item similar, a noite estava fria. Forçando seu corpo a não se importar com isso e a continuar a andar, Anna finalmente chegara à livraria e bateu na porta com sua mão de unhas mal feitas. Era uma medida de segurança deixar a livraria trancada, então a morena aguardou de bom grado, apesar do frio. Após alguns segundos, que pareceram bem mais que isto, um homem barrigudo de cabelos brancos e rugas no rosto escancarou a porta.

— Anna! Não acredito! É você mesmo, menina? — indagou o velho, exultante, para logo depois puxá-la para um abraço com direito a tapinhas nas costas.

— Sim, sim, Toin! Sou eu! — esganiçou, ao mesmo tempo rindo e tossindo pelo pequeno sufocamento.

Antônio, acompanhado a risada que ecoava, separou-se da mulher e permitiu-se olhá-la devidamente. Anna estava mais alta, um pouco menos torta e com o cabelo maior e mais desgrenhado que da última vez que a vira. Tornara-se uma mulher com uma beleza escondida, sufocada pelo tempo e problemas. Todavia Antônio, um homem com um coração que resplandecia a beleza do sol, conseguia enxergar por trás daquele brilho fosco que havia em Anna.

— Anna, você cresceu tanto! E tá tão bonita, parece até uma mulher da classe média-alta! — exclamou, fazendo-a rir de sua bobagem.

A única mulher na livraria — aparentemente — tinha noção de sua beleza limitada. As palavras do bom velho a sua frente apenas a confortavam; sabia que ainda existiam pessoas gentis capazes de enxergar o melhor em alguém, e não apenas sua aparência.

— Tá certo... Humm... Como vai Clarice? — perguntou, tentando desvencilhar-se do elogio; não lidava muito bem com eles.

— Ahh, vai bem, vai bem. Entra, entra, sai desse frio! — foi puxando-a para dentro e continuou a gralhar: — Ela pegou um resfriado hoje. É que esse tempo frio faz ruim demais a ela, num sabe? Ela já tava querendo ficar meio assim, mas hoje foi que a gripe pegou ela de jeito. Eu fui até o posto pegar remédio pra ela, pena que o pneu da minha bicicleta acabou furando...

Anna fazia esforço para acompanhar o ritmo acelerado da voz do seu velho favorito, mas, como Antônio foi tagarelando sem parar, desistiu após certo tempo. Adentrou ainda mais na livraria e rolou seus olhos pelos vários títulos que ali estavam, havia romance, poesia, ação, terror e tantos outros. A procura poderia levar a noite toda, então resolveu pedir ajuda:

Toin, tu tem algum livro bom de aventura?

— Livro de aventura? Tem um por aqui que Clarice... ela gosta muito. Deixa eu pegar aqui... — disse, tateando uma seção de livros até achar o que buscava. Anna vasculhou o título.

— Desventuras em Série? Já ouvi falar. É bom?

— Éé, é muito bem escrito, num sabe? O autor, que é o nome que se dá pro dono da obra...

Anna riu enquanto Antônio continuava a falar sobre o livro. Adorava o jeito que o mesmo explicava as coisas mais simples existentes. Era engraçado e curioso ao mesmo tempo. Alguns se enraivavam, mas ela sabia que o homem rechonchudo não o fazia por mau... tinha memória fotográfica e era, sobre tudo, um pouco ignorante. Após a conversa terminar, tratou de recostar-se numa das poltronas pretas e confortáveis, levando o livro consigo. Começou a leitura e se surpreendeu com o jeito delicioso que o autor usava as palavras; dentre elas, a sua favorita seria infortúnio. O livro falava das Desventuras em Série de três jovens irmãos: Violet, Klaus e Sunny Baudelaire. Violet era a engenhosa, enquanto Klaus era o inteligente que gostava de ler. Sunny, muito pequena, tinha poucos, porém afiados, dentes que a ajudavam a morder e dilacerar qualquer coisa. Os irmãos Baudelaire haviam descoberto que seus pais morreram num trágico incêndio e, a partir desse fatídico episódio, iriam adentrar nas mais horríveis arapucas formadas pelo maligno e ambicioso Conde Olaf.

À medida que Anna mergulhava sua leitura, o tempo foi passando despercebido. Somente quando ouvira uma crise de tosse nervosa seguida de um aviso, deu-se conta da hora.

— Anna do céu! Acabei dormindo, olha a hora! Eu já devia ter fechado... — exclamava o velho, gesticulando.

De fato, estava tarde. Tarde demais para sair às ruas sozinha. Antônio insistiu em levá-la para casa, mas o mesmo estava com sua esposa, já velha, doente em casa. Por outro lado, Anna insistia que estava tudo bem em ir sozinha para casa, quando na verdade queria uma companhia — não era tola, sabia de suas forças limitadas e do perigo que corria. Logo mais, despediu-se de Seu Antônio e foi caminhando quarteirões afora. Como previra, estava tudo muito esquisito. Com o tempo frio, a névoa que dançava ao seu redor era inevitável. Adentrou na mais segura rua que poderia escolher, mas, para sua surpresa, a mesma já estava deserta. Abraçou seu corpo rígido e forçou suas pernas tortas a caminhar apressadamente. Sentiu que todos os seus pedidos foram ignorados quando ouviu um barulho esganiçado: “Ei!”. E foi isso. Tudo aconteceu em demasiada rapidez: o puxão forte em seu braço, o grito e o soco na cara que levara logo em seguida e que a desequilibrara para o chão.

— Cala a boca, porra! Tá querendo morrer? — rugiu o homem, indo para cima de Anna e apertando fortemente seu pescoço. — Me dá o celular!

A garota tremeu mais ainda quando percebeu o cheiro de álcool que o tosco homem emanava, tentou tirar seu celular o mais velozmente possível, todavia não fora rápida o suficiente. Recebeu outro soco, dessa vez na região da testa. Em resposta, esganiçou um grito — o que foi um erro; o homem largou seu pescoço e ergueu levemente o corpo, e então chutou o estômago desprotegido da jovem a sua frente.

— Por favor, para! Para, para! — e recebeu outro chute. Anna pensou em agarrar a perna do agressor e tentar se defender, mas sabia que ele era mais forte e temia pela sua vida. Por fim, o homem vasculhou sua bolsa e levou o que procurava, enquanto a mulher ensanguentada gemia jogada na rua. Sua mente estava vazia e cheia de pensamentos ao mesmo tempo, tudo nela era sensações e emoções abusivamente tenebrosas. Não soube dizer quanto tempo ficara ali, mas fora tempo o suficiente para que algum sangue coagulasse e grudasse em sua pele já macilenta. Não havia nada de poético na atitude impensada daquele homem, instintos de selvageria geralmente eram tratados como retrógrados por Anna. Como poderia uma espécie evoluída destruir seus iguais? Crimes bárbaros eram uma incógnita para Anna, e a mesma guardou o assunto em sua mente para pensar melhor num momento mais conveniente, um em que não estivesse engasgando-se com seu próprio sangue. No momento, estava focada em como conseguiria chegar a sua casa, já que mal aguentava o peso do seu corpo em pé. Tentou descansar o máximo que conseguia nos minutos seguintes, mas o estado em que se encontrava não era um dos melhores. Tateou a procura de seus pertences nada valiosos e foi reerguendo-se apoiada na parede, deu alguns passos e cuspiu o sangue que inundava sua boca. Desejava tanto que sua melhor amiga, Júlia, estivesse ali... Teve vontade de gritar por ajuda, mas o medo de que alguém pior a encontrasse soterrou sua vontade. Seus passos nunca foram mais lentos. Na medida em que chegava ao fim da rua, avistou uma casa simples de primeiro andar. Livrou-se do medo de encontrar um ser mais perigoso; não aguentaria andar a procura de algum conhecido que estivesse mais próximo, tampouco chegar a sua casa naquele estado. Sua esperança foi esvaindo-se quando percebeu que não tinha forças nem para subir o segundo degrau da entrada. Seu corpo foi de encontro ao chão lentamente, e, quase como um carinho, encostou seu rosto acima do terceiro degrau.

Um barulho a despertou de seu desespero. A tentativa de erguer sua cabeça foi em vão: sem corpo todo suplicava por energia. Um leve calor atingiu seu ombro, mas a mulher curvada não se deu o trabalho de procurar a fonte. Já estava decidindo entregar seu corpo ao sono, quando uma sacudida a fez abrir os olhos.

— Tu tá bem? — perguntou uma voz, num murmúrio. Era uma pergunta estúpida, pois o curioso muito bem que sangue minando não era sinal de saúde.

Anna achou graça na pergunta e tentou responder “maravilhosa” ironicamente, mas apenas um sussurro esganiçado saiu de sua boca.

— Vem, vou te levar pra dentro. — declarou, envolvendo sua cintura com certo constrangimento.

Um gemido de Anna foi o suficiente para o homem saber que aquele local estava machucado, então a pegou desastradamente pelos braços e os dois esforçaram-se para mantê-la erguida, mesmo que parcialmente. Lentamente, Anna apoiou-se em ombros másculos e, assim, seguiram para dentro da casa. Estava mal iluminada, e a visão da mulher suja era turva. Seu corpo fora levemente depositado num sofá e sua bolsa jogada num canto. O homem coçou a cabeça, desgrenhando ainda mais seus cabelos cacheados.

— Ok, ahmm... Eu vou... pegar um pano molhado — disse, incerto. — Fica aí. — Completou.

Como se eu pudesse ir pra algum lugar!”, pensou Anna aborrecidamente.

Logo o homem voltara, trazia um pano em suas mãos e um recipiente com água. Postou-se ao lado da enferma e começou o trabalho de limpar seus ferimentos em silêncio. No todo, eram mais marcas roxas que cortes abertos. Não demorando muito em acabar o que estava fazendo, foi outra vez embora deixando Anna, já parcialmente limpa, sozinha. Um leve cheiro de carne a inebriou. Seria sopa? Adorava sopa.

— Acho que tu deve tá querendo dormir, mas é melhor comer alguma coisa. Tu gosta de sopa?

— Unhum. — grasnou.

O rapaz murmurou um “ok” e desastrou-se mais uma vez tentando colocar a magricela sentada. Anna murmurou algo raivoso, mas, assim que conseguira sentar o mais confortavelmente possível, acalmou-se.

— A propósito, meu nome é...

Antes que pudesse dizer seu nome, uma crise de tosse vinda moça fragilizada o interrompeu. O próprio, compadecendo-se de sua situação, correu para cozinha buscar um copo d’água. Assim que a mulher bebeu e a tosse cessou, ele riu.

— Tu realmente não quer nada comigo, né? — brincou.

Foi uma piada inocente, mas que deixou Anna desconfortável.

— Tô brincando. — desculpou-se, encolhendo os ombros.

O rapaz preparou um prato de sopa e sentou-se ao lado de Anna confortavelmente. Deu colheradas de sopa na boca machucada, após assoprar. Alguns poderiam achar sua atitude impensada... trazer uma desconhecida para dentro da sua própria casa, mas ele sabia que a moça não poderia fazer nada de mau no estado em que se encontrava. Ao término da sopa, colocou o prato na mesinha de centro e deu-lhe um remédio para a dor, em seguida deitou Anna no sofá. Ajeitou as almoçadas para deixa-la aconchegada, mas tal proeza era difícil devido ao estado do seu corpo. Após subir as escadas para apanhar um grosso cobertor, cobriu-a com esmero.

— Eu não sei teu nome... — murmurou para Anna, que sussurrou algo inaudível. O rapaz aproximou-se para escutar melhor e percebeu que a mulher, encolhendo-se, se assustara com seu movimento repentino. Afastou-se o mais rápido que pôde. — Desculpa! — pediu. — Eu só tava tentando te ouvir melhor. Não vou te machucar.

Algo em suas palavras — ou talvez a intensidade de seus olhos verdes percebidos só agora por Anna — a acalmou. Sabia que as palavras proferidas pelo homem a sua frente não eram só uma afirmação, como também uma promessa. Focalizou no que ele queria ouvir e tentou novamente dizer seu nome. Fora em vão, sua voz ainda era inaudível. Ele, vendo que a mulher não estava mais encolhida, aproximou-se um pouco mais. A respiração quente de Anna fazia cócegas no pescoço nu do rapaz, um aroma natural emanava dos dois seres e misturavam-se na atmosfera da sala.

— Anna. — sussurrou, finalmente sendo ouvida.

O marmanjo a olhou e um pequeno sorriso brotou de seus lábios carnudos. Estava tão perto que seu hálito poderia ser facilmente sentido por ela.

— Bom, Anna — a palavra parecia brincar com ponta de sua língua —, espero que você possa me contar o que aconteceu hoje, mas no momento tudo o que eu lhe peço é para descansar. — logo após terminar sua frase, afastou-se.

A morena de pele branca franziu o cenho ao estranhar aquele vocabulário cortês do rapaz. Pelo pouquíssimo tempo em que estivera com ele, sabia que não era de seu feitio usar tais palavras moderadas. Cansada demais para pensar, resolveu seguir o conselho dado e aninhou-se mais ainda no cobertor. A dor ainda a queimava, mas já se sentia melhor devido ao analgésico. Os cuidados do rapaz certamente ajudaram.

— Eu vou ficar por aqui, caso tu precise de alguma coisa. — declarou, voltando ao seu vocabulário normal e indo deitar-se num outro sofá ainda menor.

Anna não soube — e nem poderia — responder nada, tudo em que pensava era o quanto estava farta desse dia. Apenas queria dormir e esquecer suas dores e medos, já tivera suficiente por um dia. Fechou os olhos lentamente para poder dormir, mas suas piores lembranças não paravam de assustá-la. Levantou-se rapidamente do sofá... Não sentia mais dor, tudo o que queria era correr e se esconder. Fugiu da casa descalça, mas voltou correndo quando a rua tomou proporções geométricas impossíveis. Entrou apressadamente na sala e subiu as escadas aos tropeços. Abriu a primeira porta que encontrara, mas tudo o que vira ao abrir fora uma imensidão negra, querendo engoli-la... sufocá-la... Anna gritou desesperada, não sabia mais para onde correr. À sua frente apenas o vácuo e à suas costas somente figuras e imagens distorcidas... Uma voz a chamava, mas a garota não conseguia encontrar o dono da voz, tampouco parar de gritar. Sentiu mãos em volta de si, mãos quentes. O alívio foi invadindo-a na medida em que escutava a voz desconhecida e sentia um calor que emanava de fora para dentro. Estava com medo de abrir os olhos, mas mesmo assim o fez. Encontrou o mais belo par de olhos preocupados que já vira na vida. Pensou em como pareciam uma linda e extensa floresta verde num dia quente de verão, com as folhas a dançar com o vento. Acalmou-se imediatamente e percebera que tudo não passara de um pesadelo. E, pela primeira vez desde que chegara ali, começou a chorar. Decidiu, mais tarde, que suas lágrimas foram definitivamente resultado de analgésicos.

— Você tá... — balbuciou o homem, temendo as lágrimas. — Não, não, não, não, não. Não chora. — pediu. Uma ideia percorreu sua mente, então checou a temperatura da moça. — Meu Deus, tu tá queimando de febre.

Correu para buscar um remédio e a fez engolir tudo. Resolveu pegar mais cobertores... sabia que era errado e que deveria colocá-la num chuveiro de água fria, mas a mulher estava batendo os dentes de tanto frio. Desejava fazer mais por ela, mas, por hora, tudo o que poderia fazer era esperar ao seu lado. Sentou-se no chão e recostou sua cabeça no sofá, próximo o suficiente para que a moça sentisse o cheiro inebriante de seus cachos.

— Q-quanto tempo... eu dormi? — Anna perguntou. Apesar do frio, a sopa lhe dera energias o suficiente para conseguir se comunicar melhor.

O rapaz ergueu a cabeça.

— Hmm... Cerca de duas horas, eu acho.

— E-e você?

Ele sorriu.

— Não consegui dormir muito bem, daí fiquei lendo um livro e escutando música. Foi por isso que demorei a te acordar... Não tinha escutado. — explicou.

Anna, percebendo que o rapaz pretendia falar algo ao abrir a boca, calou-o.

— Acho q-que... eu já p-perdi... a conta... de q-quantas vezes... tu se d-desculpou.

— Foram só duas, relaxa aí. — riu.

Ficaram olhando-se durante um tempo, até o constrangimento bater. Anna não parava de bater os dentes e o rapaz já estava agoniando-se a procura de algo que a ajudasse. Fizera menção de tocá-la uma vez, mas refreou sua mão... não queria assustá-la outra vez. Fora Anna quem tomara a dianteira: questionou, batendo os dentes, se a mão do mesmo estava quente. Ela não teria perguntado isso normalmente, mas a mulher já não aguentava o frio. O moço prontamente deu-lhe suas mãos quentes, aliviando-se por poder fazer algo a mais... Seu desejo era de abraçar a estranha, mas conteve-se. E então ficaram ali, de mãos dadas e um rosto a centímetro do outro. Anna não soube dizer quando exatamente dormira, mas certamente o calor que emanava do homem a ajudara nesse quesito. Não se lembrou pela manhã, mas sonhou durante a noite inteira que estava numa floresta quente e iluminada. Teve a leve impressão de que alguém enxugava suas lágrimas, mas a sensação de calor estava tão boa que a mulher não teve coragem de abrir os olhos. Sem perceber, apertou suas próprias mãos nas do desconhecido e dormiu, apesar das dores, o mais confortável sono. Não lembrava-se de calor maior há anos.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Deixem comentários pra eu poder postar o próximo capítulo. Vai ser um cap. por semana, eu acho. Caso eu conseguir, eu posto antes rs
Podem me dar dicas construtivas, ok? Juro a vocês! Bjs ;)



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