I want this life escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 1
I want this life




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A luz do sol invadiu o quarto aos poucos, perpassando pelos vãos da cortina. O calor aqueceu os braços nus do homem, enquanto ele apertava mais os olhos para não sentir a claridade os irritando. Apertou mais a pessoa ao seu lado, ouvindo um riso rouco.

“Eu falei para colocar uma cortina mais grossa.” Resmungou sonolento.

“Ela não ia ficar tão bonita quanto essa.” Podia ouvir o riso na voz de Mari, enquanto ela abraçava seu pulso com as mãos, fazendo com que ele a envolvesse mais apertado.

“Mas não ia deixar o quarto claro assim que o sol nascesse.” Ele fez um biquinho que ela não podia ver. “Poxa, logo hoje que podemos dormir um pouco mais...”

“Podíamos, você quer dizer.” As palavras dela foram seguidas por pequenas passadinhas abafadas, acompanhadas de um risinho travesso.

“Melhor que um despertador.” Jeff riu, soltando a cantora e rolando sobre o colchão, para chegar à outra extremidade da cama. Acima da altura do colchão, eram visíveis apenas os cabelos castanhos e os olhos iguais aos de Mari. “Bom dia, minha princesa.”

Papai.” A voz delicada cantarolou, enquanto ele puxava a menininha para seus braços, sentando na cama. “Mama.”

“Bom dia meu amor. Dormiu bem?” Mari segurou a mãozinha gorducha, enchendo de beijinhos.

Fome. Lala, fome.” A criança fez um biquinho fofo, indicando a barriga. O casal riu, enquanto Jeff enchia a bochecha gorducha de beijos, fazendo-a rir.

“Então vamos encher a barriga da Lala.”

O dançarino se levantou com menininha em seus braços, deixando Mari se espreguiçando na cama. Passou pelas duas portas no corredor (o banheiro e o quarto da pequena), cruzou a pequena sala de estar (desviando dos diversos brinquedos espalhados) e entrou na minúscula cozinha.

“Muito bem, madame, o que quer para o café? Hoje o papai deixa você escolher.” Abriu o armário e analisou. “Temos cereal, cereal e... Cereal?”

Ceal.

“Cereal então.” Ele pegou a caixa colorida, colocando sobre a pia. Colocou a criança no cadeirão, antes de pegar uma tigelinha e encher de flocos coloridos. Despejou um pouco de leite e colocou a colher, entregando para ela. “Bom appetit, princesa.”

“Cereal, Jeff?” Mari o repreendeu assim que entrou na cozinha.

“É sábado, amor. Hoje pode.” Ele sorriu para ela, pegando o pacote de pão e a manteiga. “Já coloquei o café para passar, mas hoje vai ficar fraquinho.”

“Eu vou ao mercado a tarde com ela.” Avisou a cantora, pegando o bule e indo até a mesa.

“Melhor deixar ela com a minha mãe.” Ele comentou. “Ela adora pedir coisas no mercado, e esse mês tá meio apertado por causa do problema no carro.”

“Bem pensado. Vou ligar para a dona Rute, pedir se ela pode ficar um pouco com a Lala.”

“E minha mãe dispensa a chance de ficar com a netinha?” Riu Jeff, bebericando o café.

Vó, vó, vó.” A menininha começou a bater a colher no apoio, fazendo os cereais e leite se esparramarem, a encardindo.

“Vai um pijama por dia, assim não dou conta de lavar tudo.” A mulher bufou, enquanto pegava o guardanapo da pia e ia limpar a filha, toda suja.

“Ela só tem dois anos e meio, é óbvio que vai fazer uma sujeira enorme para comer.” Riu Jeff, enquanto limpava o cadeirão. “Quer dar banho nela enquanto eu ligo para a minha mãe?”

“Deixa ela na sala um pouco, para terminarmos de comer. Depois eu dou banho nela.” Ele apanhou a menina, colocando-a em meio aos brinquedos da sala e voltando para a bancada da cozinha, para terminar a refeição.

Às vezes se esquecia que ela não era sua filha de sangue, de tão natural e maravilhosa que era a relação de pai e filha entre os dois. Havia assumido o que outra pessoa havia chamado de erro. Ele chamava de benção.

Nunca duvidou, nem por um momento, do amor que Franz tinha por Mari. O problema é que esse amor não conseguira se estender para a criança que ela esperava e o rapaz a deixou sozinha e desamparada em uma cidade estranha. Sumiu na calada da noite, logo após a notícia, deixando para trás um bilhete de desculpas. Infelizmente, seu amor não era o bastante para passar por aquilo. Mas o de Jeff era, grande o bastante para passar por aquilo com Mari e para amar aquela pessoinha que logo chegaria.

Foi grande o bastante para enfrentar os pais dela e dizer que aquele bebê era dele. Grande o bastante para deixar de lado as aulas de dança na Ribalta e trabalhar o dia inteiro vendendo cachorro quente com a mãe, ajudando o pai no Perfeitão todas as noites, para poder pagar o aluguel de um quarto minúsculo de pensão, onde os dois passaram a viver depois que os pais da garota a deixaram à própria sorte.

O problema de quando os sonhos dos pais são maiores que os do filho, é que se esse sonho se quebra, a decepção e a reação é pior do que o esperado.

Mas isso não importou para ele. Claro que a princípio todos ficaram ressabidos, especialmente Lincoln, Rute e a própria Mari. O que Jeff estava fazendo era algo muito sério, movido por algo que talvez fosse apenas uma paixão. Era uma responsabilidade muito grande para alguém tão jovem. Porém, diante de todo o esforço e dedicação do jovem dançarino, as dúvidas de qualquer pessoa se esvaíram.

E quando a enfermeira entregara aquele pacotinho cor de rosa em seus braços, ainda dentro da sala de parto, qualquer duvida que ele tivesse se esvaiu. Ela era sua filha, e não era um exame de DNA que diria o contrário. Ela era Lara Noronha Oliveira, filha de Mariana Noronha e Jefferson Oliveira, e ai de quem ousasse contestar isso.

“Jeff, eu preciso ir até a Ribalta, conversar com a Dandara. Você leva ela para o Perfeitão?” Pediu Mari, enquanto terminava de se trocar.

“Achei que ela ia ficar com a minha mãe.”

“Ela pediu para deixar a Lala no restaurante, com seu pai e a Delma. Aparentemente teve algum problema lá em Marechal, e ela pediu para não levar a Lala para lá.” Explicou a moça. “Mas está tudo bem com a sua mãe, eu perguntei.”

“Mais tarde eu ligo para ela, porque eu estou atrasado.” Ele observou o relógio. “Vem com o papai, vem meu amor. E você, qualquer problema me avise.” Ele deu um selinho na namorada, antes de sair pela porta com a mochila da filha no ombro. Lara ia cantarolando alguma musiquinha infantil no colo do pai, que vez ou outra a acompanhava.

Depois que o bebê nasceu, os gastos triplicaram, e se o salário de Jeff já era ralo para viverem, passou a ser impossível. Apesar de ter deixado a Ribalta, permanecendo só como observadora nas aulas de canto de Dandara (a pedido da própria), Mari não havia trabalhado durante a gravidez, que havia sido um tanto complicada. Mas agora não havia mais como e, assim que Lara completou seu terceiro mês de vida, começaram a depender da ajuda dos amigos para que a garota pudesse trabalhar pelo menos o meio-período da manhã. Jeff também deixou o ramo alimentício e foi trabalhar com algo mais sério, que dava um salário um pouco melhor.

Ela trabalhava como recepcionista em um dentista, ele como caixa em um supermercado. Não eram grandes salários, mas permitiram que eles lidassem com as contas e, com o passar do tempo (quando Jeff passou a ser gerente no estabelecimento), alugassem um pequeno apartamento de dois quartos ali perto da Ribalta e do Perfeitão.

Seria mentira se ele dissesse que não sentia falta da dança, mas mais mentira ainda seria se ele dissesse que se arrependeu de abrir mão desse sonho pela realidade que tinha. Foi algo que Dandara lhe disse quando ele deixou a Ribalta.

“Todos nós temos sonhos, Jeff. Eles nem sempre se realizam, ou são como queremos. Mas quando um sonho morre, outro nasce no lugar. E o seu sonho, eu posso ver nos seus olhos, é a Mari e a filha de vocês.”

“Olha quem chegou.” Foi avistado assim que chegou ao Perfeitão, já de noite. Estava exausto, com o uniforme do mercado, mas sorriu assim que viu Lara pulando no caixa, junto de Tomtom. “A mocinha aqui ajudou no restaurante o dia todo, sabia Jefferson?”

“Ah é? Ajudou quem, o vovô ou a tia Tomtom?” Perguntou ele, pegando a menina.

Vô, Tom.” Era adorável ver o vocabulário ainda restrito dela. “Mama.”

“Oi meu amor.” Mari chegou no restaurante, indo até Jeff e Lara.

“Onde você estava?” Perguntou o rapaz.

“Acertando algumas coisas com a Dandara.” Sorriu ela, pegando a filha. “Mas fui no mercado, fica tranquilo. Trouxe até algo para a janta.”

“Que jantar, o que? Vocês vão comer aqui, já estou fazendo os pratos favoritos de vocês.” Avisou Lincoln. “E você, Lala, vem ajudar o vovô.”

“Pai, sem ficar com ela perto do fogão, por favor.” Pediu Jeff, enquanto ele e Mari iam sentar. “O que você estava acertando com a Dandara?”

“A Ribalta está com um novo projeto... Aula de violão para crianças.”

“Sério? Que legal.”

“É... E ela veio me convidar para ser professora.” Contou a garota, com um sorriso enorme. “O salário é maior do que eu ganho lá no consultório, e tem o bônus que não vou precisar deixar a Lala com ninguém. Ela vai poder inclusive fazer a aula.”

“Jura? Que ótimo, amor.” O rapaz puxou o rosto dela, dando um selinho. “E você vai continuar acompanhando as aulas de canto?”

“Vou, esse é o último ano, né?” Ela sorriu animada, mas de repente murchou.

“Hey, o que foi?” Ele perguntou preocupado, acariciando o rosto dela.

“É só que eu me sinto culpada, sabe? Falando assim, sem parar, fazendo o que eu gosto, enquanto você não dança há anos e trabalha naquele supermercado.”

“Mas não precisa se sentir.” Ele garantiu. “Lembra no Fame, o musical? O rapaz que queria ser dançarino não conseguiu, mas nem por isso foi infeliz. Mari, se todos nós realizássemos nossos sonhos, o mundo seria de artistas. Eu não realizei meu sonho de ser dançarino, mas realizei o sonho de ter uma família com a mulher que eu amo. Você e a Lala são as coisas mais importantes da minha vida, e ver você realizando seu sonho, da maneira que seja, já me faz sentir o cara mais feliz do mundo.”

“Você não existe, sabia?” Sorriu a garota, lhe dando um beijo carinhoso nos lábios. “Eu te amo tanto, Jeff.”

“Eu também te amo, Mari. Você e a nossa princesinha.”

“Nossa, minha e sua.” Garantiu a cantora, se aninhando a ele.

Mama, papai, Lala Fe papa.” Viram Pedro vir equilibrando a bandeja com os pratos, enquanto Lara saltitava à sua frente.

“A baixinha tem Duracel, só pode.” Comentou o guitarrista, colocando os pratos na mesa. “Bom apetite, família feliz.”

“Pronto Lala, pode comer e sujar o papai e a mamãe.” Brincou Mari, entregando o garfo a filha, que estava no colo de Jeff.

“Ainda bem que de domingo eu não trabalho.” Riu o rapaz, enquanto o macarrão se espalhava pela mesa inteira.

~M&J~

“Jeff? Jeff? Jeff, acorda.” Sentiu alguém balançando seu braço e acordou, piscando os olhos. “Desculpa, você estava dormindo tão profundamente, mas eu preciso ir para a Ribalta.”

“Claro, claro.” Ele coçou os olhos, observando em volta. Estavam no pensionato, no quarto de Mari. “Foi um sonho.”

“O quê?” Ela estava no espelho, penteando os cabelos.

“N-nada.” Ele levantou, pegando a jaqueta. “Quer que eu te espere?”

“Não precisa.” Ela sorriu agradecida. “Eu quero ligar para o Franz e conversar com ele. Preciso arranjar coragem de dar a notícia.”

“Claro, claro... O Franz.” Ele assentiu, enquanto Mari vinha abraçá-lo.

“Obrigada por tudo que você está fazendo, Jeff. Você está sendo um anjo.” Ela sorriu para ele, que sorriu de volta.

“Eu te amo.”

“O quê?”

“Isso que você ouviu, Mari. Eu te amo.” Ele repetiu, antes de puxar ela e dar um beijo. No início ela relutou, mas logo cedeu e correspondeu ao beijo.

Quando ele saiu de lá, alguns segundos depois, estava com a cabeça nas nuvens. Não sabia o que iria acontecer, mas sabia o que queria.

Queria aquele apartamento cheio de brinquedos, queria aquela criança linda o chamando de papai, queria aquela mulher o esperando todos os dias quando chegasse em casa.

Como Jeff queria aquela vida.


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Notas finais do capítulo

Hey peanuts, como vão?
Bom, eu amo Jeff e Mari, amo muito. E essa gravidez dela está me deixando aflita, porque eu quero meu casal junto. Então, eis o que eu bolei para tentar suprimir um pouco da ansiedade.
Muita gente vai falar sobre o Jeff ter desistido do sonho de dançarino, mas acho que isso é um ponto que a novela vai abordar. Nem todos no mundo conseguirão realizar os sonhos do jeito que querem, mas novos sonhos existem, e é importante sempre lembrarmos disso.
Espero que tenham gostado.