Luke segurou firme a mão de Alice, assustado com o que viria a seguir.

E, quando o pai apareceu diante dele, ele sentiu que vomitaria.

Adam Jones era magro, alto e careca. Luke temeu ter esse mesmo fim, e não queria perder os cabelos porque gostava deles. Os olhos eram iguais ao de Luke, verdes e brilhantes. E tinha aparência de fumante.

– Você cresceu, garoto.

Luke soltou a respiração que nem percebera prender. Então respirou fundo.

– Você mudou.

Ele não se lembrava da aparência do pai, e vira pouquíssimas fotos. Antes, Adam tinha uma aparência mais saudável, pelo que Luke lembrava.

– Quem é a garota? – perguntou, apontando Alice com o queixo. Confirmando as suspeitas de Luke, ele puxou um maço e um isqueiro e acendeu a ponta de um cigarro, voltando a guardar o maço no bolso .

– Sou Alice – disse ela.

Adam deu uma tragada e soltou a fumaça.

– Vocês não vão entrar? – convidou, jogando o cigarro na grama. Foi estranho, porque ele não fumara praticamente nada.

Será que todos os fumantes faziam isso?

Luke deixou a mão na cintura de Alice, e conduziu-a pela casa logo atrás de Adam. Era pequena e simples, com pintura clara e alegre.

– Sentem-se – sugeriu o pai de Luke. – Querem beber alguma coisa? Chá?

– Chá está ótimo – Alice concordou, sentando-se. E, quando Adam saiu da sala, ela sussurrou:

– Você está tremendo muito. Está tudo bem.

Luke abriu a boca para responder, mas Adam surgiu na porta da cozinha novamente.

– Luke, vai querer algo?

– Não, senhor, obrigado.

Adam voltou para a cozinha e Luke disse:

– Não está tudo bem! – o que dizia era quase inaudível. – Ele nos abandonou e agora está agindo como se nada tivesse acontecido!

Alice baixou os olhos e apertou a mão de Luke, deixando-o mais tranquilo. Não queria vê-lo chorar.

Não demorou muito para que Adam surgisse novamente com uma bandeja e três canecas. Colocou a bandeja na mesa.

– Podem pegar o açúcar aqu…

– O que você quer? – perguntou Luke de supetão.

O pai olhou para ele e sorriu.

– Direto ao ponto – avaliou. – Gosto disso.

Alice puxou o ar sem fazer som e observou.

– Por que me chamou aqui?

– Luke, você é meu filho. Estou de volta à cidade e quis vê-lo. O que há de errado nisso?

– Você está agindo como se não houvesse abandonado a família quando eu tinha um ano! – Luke explodiu, ficando de pé. – É isso que está errado!

Adam suspirou e levantou-se também.

– Garoto, eu sei o que fiz e me arrependo amargamente – começou ele, evitando o olhar de Luke. – Sei que nunca deveria ter feito aquilo.

Luke arriscou um olhar para Alice, e viu que ela estava vermelha. E também com cara de choro. Imaginou que ela se manteria firme e não choraria.

– Então só me chamou aqui para me conhecer melhor? – perguntou Luke com amargura.

– É claro! – Adam sentou-se. – Quais são seus hobbies?

Alice segurou o braço de Luke, e ele sentou-se novamente ao seu lado.

–Gosto de surfar – ele pareceu um pouco inseguro, mas continuou. – Participo de campeonatos e coisas assim. Mas ainda sou amador.

– Ele é muito bom – completou Alice, fazendo o pai de Luke sorrir.

– E você, quem é? – Adam quis saber. – A namorada dele?

– Sou a namorada dele – respondeu Alice, olhando para Luke com o rosto vermelho.

Ele sorriu. Não sabia se ela estava dizendo aquilo somente para agradar a Adam, mas era o que Luke queria. Que Alice fosse sua namorada.

– Como está a sua mãe?

– Ela está namorando outro cara – Luke soou meio seco. – Ele e a filha foram morar em casa.

– Não parece gostar disso – Adam observou.

– É porque não gosto mesmo – Luke concordou, ainda um pouco temeroso em conversar abertamente com o pai. Não estava confortável naquela situação, já que vivera a vida inteira tentando se consolar que não tinha um pai, e ali estava ele. – De nenhum dos dois.

– Alice é de Onset?

– Não, ela está passando férias aqui – Luke murmurou, envergonhado por Adam querer saber tanto sobre ela.

– E como vocês são namorados?

– Estamos pensando sobre isso – disse ela, fazendo Adam rir. – Nós estamos curtindo o tempo que temos juntos, por enquanto.

Ela sorriu, e não olhou para Luke. Estaria constrangida com a história de serem namorados que ela começara?

Os três conversaram mais e mais, e por bastante tempo. Luke estava satisfeito porque o pai parecia sinceramente arrependido. Não confiaria em Adam tão cedo, mas por enquanto não hesitaria em encontrá-lo para conhecê-lo melhor.

– Quero vê-lo mais vezes, filho - Adam falou, apertando a mão de Luke com firmeza.

Ao ouvir a palavra filho, e ver a expressão com que Adam olhava para Luke, Alice começou a chorar.

Luke segurou a mão dela e puxou-a para um abraço, o rosto dela molhando a camiseta na altura do peito.

– Ei... – Luke sussurrou. – Por que você está chorando?

Alice soltou-se do abraço e limpou o rosto. Adam estendeu a mão a ela, meio incerto, para se despedir, e Alice abraçou-o.

– Não o decepcione mais – sussurrou ela no ouvido dele.

Ao se afastar, Alice encarou-o e então pegou a mão de Luke.

– Foi ótimo ver vocês – disse Adam Jones, parado à porta. Despedira-se dos dois e observava-os indo embora.

Quando entraram no carro, Luke olhou para Alice.

– Você foi muito bem – falou, sem saber realmente o que dizer.

– Desculpe-me por chorar, Luke – pediu ela, envergonhada. – Eu não sei o que aconteceu e...

Ela olhou para baixo. Luke ergueu o rosto de Alice, obrigando-a a encará-lo.

– Obrigado, de verdade – falava sinceramente, queria que ela soubesse o quanto ele estava feliz por tê-la ao lado. – Não teria conseguido conhecê-lo sem você. Obrigado por fazer isso por mim.

Em vez de responder, Alice inclinou-se e abraçou-o. Luke fechou os olhos e sorriu. E depois de soltar-se do abraço, beijou-a. Um beijo de verdade.

– Então quer dizer que você é minha namorada? – ele quis saber, erguendo as sobrancelhas.

Alice ficou com vergonha, ele tinha certeza.

– Você não negou! – exclamou ele. – Isso pode ser um “sim”!

– É, pode ser um “sim”.

Satisfeito, Luke girou a chave e ligou o carro. Seguiu por todo o caminho pensando naquele “sim”, mas sem coragem de dizer em voz alta.