Luke precisava surfar de verdade, e Alice estava distraindo-o.

Ele adorava a companhia dela, e passaria o tempo todo com ela se lhe fosse possível. Mas o campeonato se aproximava e, se ele não treinasse, perderia de lavada.

E a primeira coisa que fez quando acordou foi ver que horas eram. E não se surpreendeu ao ver mensagens de Alice chamando-o para fazer algo. Infelizmente, Luke ignorou-as.

— Vai ignorar a namoradinha, é?

Como aquela garota sabia de tudo o que estava acontecendo? Como?

— Isso é problema meu, Carol – disse ele, e ela revirou os olhos.

— Como foi o cinema ontem?

Luke arregalou os olhos, pensando em qual superpoder ela possuiria. Ler mentes? Ficar invisível, talvez. Mas ela adivinhava todas as coisas.

— Como você sabe que fui ao cinema ontem? – Luke quis saber, franzindo a testa.

— Você deixou o comprovante que eles entregam junto com o ingresso sobre a cômoda.

Que burro.

Luke deixou o quarto e começou a pensar para onde iria no dia seguinte. Alguma praia boa o bastante. Chegou à conclusão de que uma das praias a que não ia havia muito tempo serviria, pois a competição já ocorrera lá algumas vezes.

Depois de correr na praia, Luke nadou e surfou bastante. Praticou as manobras que lhe foram possíveis com as ondas de tamanho limitado. Precisava estar preparado.

Na manhã seguinte, Luke estava de pé. Ou melhor, na madrugada seguinte. Eram quatro da manhã, e ele vestiu a roupa de proteção térmica para surf. Escreveu um bilhete e deixou-o sobre a mesa da cozinha, avisando à mãe que voltaria um pouco tarde.

Luke preparou um almoço – que consistia em sanduíches e uma caixa de suco – e não se esqueceu de pegar chocolates. Ele adorava chocolate.

O garoto dirigiu por meia hora para chegar onde queria. Ele gostava da sensação de estar sozinho, de correr perigo em meio às ondas altas e saber que, se morresse ali, morreria fazendo o que gostava.

E, no fim de um dia exaustivo e inacreditavelmente agradável para Luke, ele voltou para casa. Notou que havia uma carta na caixa de correio, e apanhou-a sem muito interesse. Só quando deixou a prancha na garagem viu que a carta era endereçada para ele.

Foi estranho, porque Luke nunca recebia correspondência. Tratou de abrir, e surpreendeu-se ainda mais com o conteúdo.

“Luke Jones,
Fico realmente feliz em saber que ainda usa meu sobrenome. E também foi fácil achá-lo, já que ainda mora na mesma casa desde que me afastei.
Gostaria de pedir desculpas por isso. Não pude vê-lo crescer, e quero conhecê-lo agora, cobrir todo o tempo que perdi. Aviso que estou de volta a Onset, e deixo abaixo meu endereço para que possa me visitar. Venha, por favor.
54 Nanumett St, bairro Warehan.
Espero-o ansiosamente. Seu pai,
Adam Jones.”

Luke respirou fundo, tomou banho e deitou-se na cama, o corpo cansado e dolorido. Chorou durante a noite toda.