Elas estavam perto demais. Um passo, e a pequena distância entre seus lábios acabaria. Regina não precisou pensar duas vezes antes de sorrir brevemente e dar esse passo.

Emma havia desviado sua atenção dos olhos castanhos para a boca de Regina e sentiu seu coração parar por uns segundos quando viu seu sorriso. Mas antes mesmo que a loira pudesse sorrir de volta, os lábios da prefeita já estavam nos seus.

Completamente surpresa pela atitude de Regina, Emma demorou para reagir. A loira que antes poderia jurar que seu coração havia parado de bater, agora poderia jurar que a qualquer momento teria um ataque cardíaco. A forma como seus batimentos aceleravam só de sentir a boca de Regina na sua, era algo assustador. E bom. Algo assustadoramente bom. E não era fácil processar tudo aquilo.

Tentando não pensar na falta de reação da xerife, a morena passou uma das mãos pelos cabelos dela, trazendo-a mais para perto.Foi o suficiente para que Emma se rendesse.

Regina sentiu as mãos de Emma repousarem em sua cintura, enquanto a loira correspondia o beijo. Naquele momento, parecia que nada mais existia, nada mais importava. Ela poderia ficar ali para sempre, só precisava não pensar no resto. E ela tentou. Tentou se concentrar em como Emma beijava bem, em como seus lábios se encaixavam perfeitamente, em como seria mais fácil se elas não fossem... Bem, elas. Mas eram. Subitamente tomada pela razão, Regina interrompeu o beijo, mas não se afastou da loira um centímetro sequer.

– Emma, eu... - a morena gaguejou ofegante, os olhos castanhos vidrados nos verdes de Emma. - Me desculpe. Isso foi...

– Loucura? - completou com a respiração também entrecortada. Fez que sim com a cabeça de forma ansiosa. - Sim, eu também acho.- Emma concordou, antes de afundar as mãos nos cabelos escuros de Regina e beijá-la novamente, um beijo mais urgente dessa vez.

Emma sabia que chegaria o momento em que teriam que se separar e ficaria um clima estranho entre elas, e a xerife não queria que fosse aquela hora. Se antes ela não fazia ideia do quanto queria Regina, agora ela só queria aproveitar que a tinha.

Regina não esperava esse comportamento da xerife . Uma coisa é ela ser impulsiva e começar um beijo. Outra coisa bem diferente seria assumir que a senhorita Swan permitiria que aquilo acontecesse. Regina já estava preparada para lidar com a rejeição de Emma. Ela se sentira vulnerável com a as palavras da loira, iniciara o beijo e então a felicidade duraria alguns segundos antes de tudo dar errado - como sempre. Pelo menos ela achou que seria assim. Ela esperou que Emma gritasse, brigasse, usasse a magia recém-controlada para jogá-la pela janela. A ultima coisa que ela esperava de Emma era que a xerife deslizasse a mão pelas suas costas e a puxasse pelo quadril, colando ainda mais seus corpos. Ela também não esperava que fosse tão bom. Regina arfou e se separou de Emma por um milésimo de segundo, apenas para tomarem fôlego antes de a loira voltar a beija-la enquanto a empurrava até a parede.

– Porque estamos fazendo isso? - Regina murmurou contra os lábios de Emma e, mesmo de olhos fechados, sentiu a loira sorrir. A morena deu alguns passos para trás, guiada pela outra que não a soltava.

– Não sei. Foi você quem começou. - a prefeita sentiu suas costas se chocarem contra a parede e deu uma risada baixa, a risada rouca que Emma adorava. Aquele som provocou arrepios na xerife.

Se aproveitando do momento de fraqueza dela, Regina a agarrou pela jaqueta e inverteu as posições, sorrindo triunfante ao ver a loira encostada na parede. Era quase uma presa. A rainha adorou aquilo.

Emma sentiu a garganta secar ao ver o brilho de excitação nos olhos castanhos. Fechou os olhos e ficou imóvel enquanto sentia os dedos de Regina traçarem lentamente o caminho de seus lábios até seu pescoço. Podia sentir o coração pulsar no corpo todo, já estava completamente rendida ao toque da morena, mas no instante em que sentiu os dedos de Regina no zíper de sua jaqueta, Emma simplesmente travou.

Regina não conseguiu disfarçar a frustração quando Emma segurou suas mãos e delicadamente as afastou do zíper. Os olhos castanhos transbordavam confusão quando encontraram os verdes.

– Regina... - Emma tentou se explicar, mas foi interrompida pela morena.

– Não precisa dizer nada. - a prefeita disse quase num sussurro e então deu um sorriso fraco, recuando alguns passos. - Você tem razão, desculpe.

Emma quis gritar. Quis dizer que não precisava se desculpar, que estava gostando, que era uma idiota por ter parado. Mas ao invés disso, ela respirou fundo antes de fazer o que sempre fazia quando se sentia vulnerável demais: fugir.

Regina fechou os olhos ao escutar a porta bater com força. Se jogou de costas na cama, se perguntando o que havia acontecido ali.

– Eu estragando tudo. Que novidade. - disse com sarcasmo.

Controlar seus impulsos sempre fora um problema para Regina, isso não era novidade para ninguém. Mas ela sabia que dessa vez havia ido longe demais. Beijar Emma Swan? A Salvadora, filha de Snow White e - ela não sabia se era bom ou ruim- a pessoa com a qual ela estaria ligada para sempre por duas crianças? Genial, Regina. Porque não atirou fogo em si mesma? Seria uma maneira mais fácil e rápida de se torturar, pensou com uma risada sem humor.

A morena suspirou, se afundando nos travesseiros. Sentiu o perfume de Emma em um deles e, contrariando seus conflitos internos, ela sorriu. Se perguntou o que a loira estaria pensando naquele momento. Se teria alguma ideia de como agir dali pra frente, porque Regina não tinha.

==================================================================================

Emma era boa em muitas coisas, ela sabia disso. Mas dentre todas as coisas em que era boa, havia uma exceção: sentimentos. Sempre que começava a sentir algo pela pessoa, a xerife terminava tudo a tempo de sair ilesa da relação. E era exatamente isso que ela faria: terminaria tudo com Regina. Como as duas não estavam de fato em um relacionamento, seria ainda mais fácil, pensou. Bastava evitar a morena.

Claro que aquilo ia contra aquela conversa de "não vou desistir de você", mas isso foi antes. Antes de beijar Regina. Antes de saber que ter a morena em seus braços era viciante. Antes de se dar conta do rumo que as coisas entre elas estavam tomando.

Por isso, Emma bolou um plano: se trancar no quarto e não sair dali nunca mais. Quer dizer, óbvio que teria que sair pra comer, mas se programaria para fazê-lo quando Regina não estivesse em casa. A ideia era evitar contato com a morena.

=================================================================================

Não fazia muito tempo que Emma estava em seu quarto, planejando não ver Regina, quando escutou um choro de criança. Ela demorou um pouco para se situar no espaço e no tempo e se dar conta de que era Elsa. Assim que o fez, foi até o quarto de Henry, onde a menina estava.

– Hey, Els! O que foi? - perguntou preocupada ao ver o estado da menina. Ela chorava tanto que Emma se perguntou como Henry conseguia dormir.

A xerife se abaixou para ficar da altura de Elsa que correu até ela. Emma a abraçou enquanto ela soluçava e balbuciava palavras sem sentido.

– Foi só um sonho, já passou. - disse carinhosa, se levantando com ela no colo e indo até a porta. - Vem, vamos dormir no seu quarto.

Elsa se aninhou no colo de Emma, mas ao passar pela porta do quarto de Regina, ela começou a chorar de novo. Emma parou subitamente, entendendo o que ela queria. Elsa queria Regina. Aquilo acabaria com seu plano de fugir da prefeita para sempre.

Emma pensou em deixar ela ali e sair correndo depois de bater na porta, como faziam em filmes. Mas chegou a conclusão que seria ridículo demais, até mesmo para ela. Assim, a loira respirou fundo para tomar coragem antes de bater na porta. Quando Regina abriu, Emma tentou não olhá-la nos olhos.

– O que houve? - perguntou ao ver Elsa chorando. Sua voz alerta fez Emma se perguntar se ela tambem nao conseguia dormir. A xerife passou a menina para o colo dela.

– Pesadelo. - ela deu de ombros. - Ela quer dormir com você.

Emma se virou para sair, não dando tempo de Regina responder. Havia se afastado um passo quando ouviu a voz de Elsa.

– Não! - a menina choramingou. Emma parou onde estava e ainda de costas, fechou os olhos com força. Por favor, não faz isso. Suplicou mentalmente, prevendo o que viria em seguir.

– Fica aqui, mamãe Em. - Elsa choramingou. Regina esperu enquanto Emma parecia decidir se ficaria ou não. Pareceu uma eternidade. A prefeita sentiu seu coração acelerar ao ver Emma soltar um suspiro antes de se virar para elas e dar de ombros.

– Parece que não tenho escolha, né? - brincou, tentando disfarçar o nervosismo de ter que estar perto de Regina. Seu plano havia ido por água abaixo.

==================================================================================

Regina colocou Elsa no meio da cama e se sentou ao seu lado. A morena ficou em silêncio enquanto observava Emma fechar a porta e juntar-se a elas na cama, sentando do outro lado de Elsa, claramente desconfortável.

– Está mais calma, querida? - Regina perguntou, sua atenção agora voltada a menina que assentiu, esfregando os olhos de forma manhosa. Emma continuou quieta, não sabendo ao certo o que fazer. Resolveu fazer como Regina e se focar em Elsa, assim não precisaria se dirigir à morena.

– Ótimo, Els. - a loira, disse se deitando na beirada da cama, tentando agir o mais naturalmente possível. Ela sentia os olhos de Regina sobre si. - Então agora deita pra gente dormir, tá bom?

Elsa continuou sentada e fez que não com a cabeça. Regina suspirou ao se deitar, prevendo que aquilo iria demorar.

– Eu qué bincá.

– Eu quero brincar. - Regina corrigiu paciente. Elsa olhou para ela e depois sorriu ao virar-se para Emma.

– A mamãe Gi qué bincá também. - argumentou, fazendo Emma e Regina explodirem em uma gargalhada. Era incrível como Elsa podia acabar com qualquer tensão existente entre as duas. Seus olhares se cruzaram rapidamente e Regina abaixou a cabeça, sorrindo.

– Não, meu amor. O que eu quis dizer é que a forma certa de falar é "eu quero brincar", não "eu quer". - explicou, se divertindo com a confusão no rosto da menina. Então acrescentou: - A mamãe Gi quer dormir, não brincar.

Elsa fez bico, numa tentativa frustrada de convencer as duas. Emma deu um tapinha na cama, indicando que era para ela se deitar e a menina o fez, resignada.

– O céu já mimiu, né? - Elsa perguntou, a voz um pouco sonolenta. - Tá muito esculo.

– Mas a gente tá aqui, pequena. Não precisa se preocupar com o escuro, pode dormir. - Emma disse, entendendo que ela estava com medo de voltar a dormir. Ela viu Regina assentir e sorrir. Seu coração se aqueceu ao ver aquele sorriso.

– Não tô com sono. - a garotinha argumentou, esfregando os olhinhos que já quase se fechavam. Emma tentou não rir. Ela se virou na cama, ficando de frente para Elsa e, consequentemente, para Regina.

– Histólia, mamãe Gi. - Elsa pediu com a voz arrastada de sono. Regina se levantou um pouco, apoiando a cabeça nas mãos para olhar a menina. - A da rainha e da pincesa.

– Era uma vez uma Rainha e uma Princesa que moravam na mesma cidade. - Regina começou. Sentindo que Emma a olhava, a morena se concentrou em fazer carinho no cabelo de Elsa que brincava com o botão de seu pijama enquanto ouvia a história.

– Apesar de fazer parte da mesma família e de trabalharem sempre juntas, a Rainha e a Princesa não se davam bem e brigavam muito.

– Sempre brigavam por culpa da rainha. - Emma sussurrou, ao que Regina revirou os olhos e lançou um olhar que claramente gritava: Sério, Swan? Elsa se virou para Emma.

– Mamãe Em não pode atapalhá a mamãe Gi. - reclamou, fazendo Regina reprimir uma risada. Emma deu de ombros.

– Como eu dizia. - A prefeita voltou a falar. - A Rainha e a Princesa brigavam muito. Um dia, a rainha estava muito zangada com a princesa e elas discutiram feio. No meio da discussão, viram uma coisa estranha no céu e foram ver o que era. Quando chegaram lá, as duas viram uma menininha chorando. Ela era tão linda que só podia ser uma princesinha.

– Ela eu. - Elsa murmurou numa voz quase inaudível. Faltava pouco para se render ao sono. Regina assentiu.

– Sim, era você. - ela sorriu. - Então as duas foram procurar um homem que podia ajudá-las, porque ele sabia de tudo. E ele disse que a Rainha e a Princesa teriam que cuidar juntas da princesinha, que ela era um presente pra as duas. No início, elas não queriam trabalhar juntas. Brigavam muito. Mas elas já amavam a princesinha então se esforçaram para cuidar bem dela. Elas tiveram ajuda do pequeno príncipe, filho delas, que também já amava a princesinha que mexia no video game dele. Aos poucos, a linda princesinha fez a Rainha e a Princesa pararem de brigar e elas ficaram amigas. E mesmo com muita gente chata querendo perturbar elas...

– Tipo o ladrão. - Emma interrompeu, revirando os olhos. Regina arqueou uma sobrancelha para ela.

– Gente chata tipo um certo pirata. - explicou, fazendo Emma segurar o sorriso. Era engraçado ver Regina com ciúmes. A morena franziu testa sem entender porque a loira sorria, mas depois sorriu de volta antes de continuar.

– Mesmo com toda essa gente chata em volta, os quatro eram uma linda família: A Rainha, a Princesa, o Pequeno Príncipe e a Princesinha...

Regina parou de falar ao ver que Elsa já havia adormecido. Ela puxou um cobertor e o colocou sobre a menina, que se aninhou confortavelmente entre a prefeita e a xerife.

– Eu queria ouvir o resto da história. - Emma sussurrou, deitada de frente para a morena. Regina esboçou um sorriso.

– Mas eu não sei como continua. - confessou, tentando encarar Emma com a luz fraca do abajur. O silêncio que se seguiu foi perturbador. Tanta coisa para dizer, mas nenhuma das duas sabia como começar. Emma arriscou.

– Me desculpe. - Regina arregalou os olhos, surpresa pelo pedido. Esperou Emma continuar. - Me desculpe por ter saído daquele jeito, eu não sabia o que fazer.

Regina sorriu ao assentir, uma forma silenciosa de mostrar que estava tudo bem. Ela pensou em se desculpar também, em dizer que não sabia o porquê de ter começado o beijo, mas seria mentira. Ela sabia. O discurso de Emma voltou a martelar em sua cabeça e ao invés de pedir desculpas, falou:

– Você acha mesmo que eu sou especial? - a pergunta saiu antes mesmo que ela percebesse e ela tentou amenizar: - Quer dizer, nós. Acha que somos especiais?

Por um momento, Regina quis se estapear por se mostrar tão idiota e vulnerável na frente de Emma, mas o sorriso contido que a loira deu ao encolher os ombros roubou sua atenção.

– Como você acha que vai ser o resto da história? - Emma insistiu, fugindo da pergunta de Regina. Sim, ela achava Regina especial. E a morena sabia disso, qualquer pessoa que olhasse para ela saberia também. Não conseguia disfarçar o quanto se importava com Regina. O quanto gostava dela.

– Acho que vamos ter esperar ela se desenrolar. - sugeriu, seu olhar sustentando o de Emma. - É como o livro de Henry, não dá pra saber o que vai acontecer. Temos apenas que ir vivendo a história.

– Certo. - Emma sussurrou. Aquilo era bom. Elas podiam ir vivendo um dia após o outro, deixando a história se desenrolar por si mesma. A Rainha e a Princesa. Emma sorriu, seu sono finalmente chegando.

As duas ficaram se olhando por um bom tempo e ao ver que a conversa havia acabado, Regina apagou a luz do abajur.

– Boa noite, Emma. Até amanhã. - a prefeita disse, como se precisasse ter certeza de que a loira realmente estaria alia quando ela acordasse.

– Boa noite, Regina. Até amanhã. - respondeu, antes de bocejar. Regina se ajeitou nos travesseiros e fechou os olhos, mas ouviu Emma chamar.

– Regina?

– Sim?

– Eu sei o próximo capítulo da história. - a loira disse num tom divertido. Regina esperou. - Almoço com a Família Charming e tarde no parque. Amanhã é sábado.

– Argh. - Regina resmungou fingidamente, se aproveitando que na escuridão do quarto Emma não podia ver o sorriso gigante que ela tinha no rosto.