Say Something escrita por Rayflo


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente eu não gosto de escrever one-shots, tenho um bloqueio em resumir tudo que quero contar em apenas um capítulo, mas espero que gostem.
Segundamente, não era bem uma fic assim que eu queria fazer AmeCan, ainda quero fazer uma em que eles são irmãos, com saliência e tudo mais, mas fica pra próxima.
Leiam escutando a música Say Something - A Great Big World feat Cristina Aguilera, que é a música tema dessa fic :3
bja1 ♥



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Acho que todos têm lembranças boas para se orgulhar, o problema é quando essas boas lembranças se transformam em dores e arrependimentos. Sabe aquela frase: “você só dá valor depois que perde?”, bem, acho que isso resume bem a minha história.

É bom sentar para ler minha história.

***

Creio que, para começo de conversa, devo dizer que não sou a pessoa mais certa para gostar de alguém. Pra falar a verdade, costumo sempre gostar da pessoa errada, e machucar as pessoas que deveriam ser certas, o que é algo bem inconveniente se quer saber. Para que entenda, dessa vez as coisas saíram muito do meu controle.

Primeiro de tudo, eu sou um cara. Nunca tinha pensado em ser gay, sempre tive atração por garotas, então já deve imaginar que não pensei que as provocações dele eram verdadeiras, até porque ele sempre brincava com todo mundo. Agora você deve pensar: “Quem diabos é ele?”, “ele” é o responsável pela área da empresa onde trabalho. É como se fosse o coordenador, ou chefe. Não bem o “chefe”, já que temos o dono da empresa, que é o “chefe” geral, mas acho que deu pra perceber que ele está em um cargo acima do meu.

Alfred é o nome dele. Sempre muito animado e comunicativo, conseguiu transformar uma pequena revista de informação cientifica, em uma das maiores do país. É meu total oposto, já que prefiro ficar sentado, escrevendo, enquanto ele está saindo por aí, falando alto, se entupindo de comida gordurosa e tentando não fazer com venhamos a surtar com os prazos apertados para entregar as matérias. Ele é maior do que eu, usa sempre a mesma jaqueta de couro e roupas folgadas. Ele tem uma aparência relaxada mesmo, mais relaxada do que deveria, enquanto eu me esforço para estar apresentável e bem arrumado. Acho que o que deveria dar um ar mais sério a ele, seus óculos, só o deixa com mais cara de maluco. Antes que pense algo assim, não, ele não é o cara mais bonito que já conheci, mas depois de trocar algumas palavras com ele, e de vê-lo sorrir, a aparência não importa mais.

Tudo começou quando eu entrei na empresa como estagiário. Ainda estava na faculdade, perto de me formar, quando consegui entrar. Foi uma boa experiência, todo mundo me ajudava bastante, aprendi mais do que todos meus anos na faculdade, e principalmente ele me ajudava no que precisava. Na verdade ele ficou responsável por mim, como chefe do setor, era meio que a obrigação dele me dizer o que tinha que fazer e me orientar. As coisas iam bem até as pessoas começarem a falar que ele me tratava diferente, que mesmo sendo amigável com todos, ele era melhor comigo, e o pior, quando as indiretas começaram.

Devo dizer que isso não me afetava, mas sempre fui muito carente, e a cada vez que ele me falava uma coisa bonita e sorria, fazia com que sentisse algo apertar em meu coração. Alfred realmente parecia alegre a me ver, mas as coisas nunca foram tão boas para mim, devido a decepções passadas, sempre evitei em aproximar demais. O mais engraçado era saber que eu só me afastava das pessoas que me queriam bem, e as magoava, enquanto as que deveria manter distância, sempre me atraiam.

Quando finalmente decidi ceder um pouco, percebi que acabei totalmente envolvido por ele. Ainda continuava me incentivando e me dizendo coisas bonitas, mas eu não permitia nada além disso. Por duas vezes ele tentou ficar segurando minha mão, e acabei me afastando discretamente, o que o deixou meio cabisbaixo, mas logo sua animação voltou, então achei que havia superado.

Não sei o que me levava a ter medo, talvez o fato de não querer me machucar de novo, ou quem sabe o medo de me iludir, pode ser até a questão de que éramos dois homens. Várias vezes pensei que provavelmente eu só estava gostando da forma como ele me tratava, com atenção e carinho, e acabei pensando que eu sentia algo mais, mas que seria apenas uma ilusão. Só percebi o que era, quando foi tarde demais.

Lembro-me de um boato começar a rodar pela empresa, algo sobre uma grande revista internacional estar de olho em Alfred. Sempre que perguntavam sobre isso, ele apenas sorria e dizia que só sairia de lá em caso de vida ou morte, ou se ganhasse a mesma coisa que o presidente dos EUA. Fazia algum tempo também que eu sabia que o salário dele tinha aumentado, justamente para que ele não saísse, então eu tinha me acalmado em relação a perdê-lo. Não sei como dizer quando comecei a pensar em “perdê-lo”, já que tecnicamente nunca o tive, mas creio que a expressão para essa situação, seja exatamente essa.

As coisas continuavam tranquilas, mas as investidas começaram a ficar cada vez mais ousadas. Certa vez quase me permiti ser beijado por ele, o que me salvou foi o fato de um colega ter chegado na hora, fazendo com que ele recuasse. Tenho certeza de que, se aquele beijo acontecesse, muito provavelmente eu não teria conseguido evitar me apaixonar por ele. O único problema era que eu sempre dizia que talvez ele não devesse continuar a agir assim, já que eu não tinha certeza dos meus sentimentos. Percebi que isso o magoava, e a cada vez que ele me respondia um “tudo bem”, era com um sorriso triste e doloroso no rosto. Não tardou muito a que o pessoal começasse a falar que Alfred estava diferente, continuava a brincar e falar com todo mundo, mas estava frio e distante, como se algo o incomodasse. Aquilo me machucava bastante, mas não havia nada que eu pudesse fazer, eu tinha medo, estava confuso, e não queria abrir a caixa de sentimentos para tentar organizá-los, então acabei “empurrando com a barriga” tudo, até que as coisas ficassem cada vez mais tensas.

Tudo explodiu em minhas mãos, quando chegou meu aniversário.

Todos na empresa fingiram esquecer, mesmo com os avisos e notificações no Facebook, então eu realmente pensei que ninguém fosse me parabenizar, até que, algumas horas antes de encerrar o expediente, Alfred aparece com um bolo enorme, e todo mundo começa a bater parabéns. Bem, as coisas não pararam por aí. Em pouco tempo o refrigerante começou a ser substituído por bebidas, novos petiscos foram comprados, e já era de madrugada quando alguns moradores do prédio vizinho vieram pedir para abaixar a musica que confesso estar absurdamente alta. Toda a equipe ria alto, andava aos trôpegos, e até mesmo eu, que não possuo o costume de beber, estava mais solto. Alfred já estava com a camisa azul clara totalmente aberta, bochecha rosada pelo efeito do álcool, mas ainda parecia o mais sóbrio de todos.

Depois de sentir que se tomasse mais alguma coisa entraria em coma alcoólico, senti um braço me amparar e me segurar pela cintura, enquanto eu tentava me apoiar na mesa.

- Você precisa parar, Matthew, você não é tão bom com bebida – Alfred começou.

- E-E-Eu sei... – Consegui balbuciar, mesmo que o rosto dele parecesse estar muito perto do meu.

- Vou te levar pra casa.

- N-Não... p-precisa....

- Não vou ficar em paz deixando você se encher mais aqui.

- Mas você bebeu... E... Não pode dirigir.

- Tomarei cuidado – ele sorriu – Consigo dirigir melhor bêbado do que sóbrio, e nem estou tão tonto assim.

- Mas...

- Sem “mas”, vamos.

Fui puxado pela mão enquanto tentava desviar dos meus colegas que dançavam de todas as formas possíveis. Senti-o apertar minha mão de uma forma protetora e carinhosa, me fazendo ficar mais corado do que já estava por causa da bebida. Chegamos na minha casa sem muitos problemas, Alfred realmente dirigia bem mesmo bêbado. Não tão bem quanto deveria, já que teve que desviar de uns três postes que apareceram do nada no meio do caminho, mas chegamos inteiros, isso basta.

Saí do carro antes dele, que me seguiu pelas escadas até o segundo andar, onde ficava meu apartamento. Quando chegamos, ele parou enquanto eu segurava a porta aberta, pelo visto não pretendia ficar.

- Bem... N-Não vai entrar? – Comecei, entanto fingir que não o via ficar mais corado.

- Preciso... dizer algumas coisas.

- Tudo bem.

- Mas acho que você já sabe tudo, então não preciso ficar te lembrando...

- Já conversamos sobre isso... eu... não sei bem o que sentir... eu...

- Tudo bem – Alfred levantou o rosto e sorriu, daquela forma que fazia meu coração se partir, daquela forma que eu sabia que ele sofria por minha causa. Eu queria que ele me esquecesse, que ele parasse de se machucar por minha culpa, que me odiasse, mesmo sabendo que eu não estava sendo sincero com meus sentimentos.

E eu, vou tropeçar e cair

Eu ainda estou aprendendo a amar

Apenas começando a rastejar

- Por que você ainda insiste? Sabe que não te amo, sabe que não sinto o mesmo! – Eu precisava fazer aquilo, mesmo que meu coração estivesse em pedaços, acho que ele seria mais feliz se parasse de se mutilar aos poucos estando do meu lado.

- ...

- EU QUERO QUE VOCÊ PARE DE ME PERSEGUIR, DE ME AJUDAR, VOCÊ PODE TER QUEM QUISER, POR QUE EU? – A essa altura eu já estava gritando, não me importava mais em acordar os vizinhos.

- ...

– POR QUE NÃO SIMPLESMENTE DIZ QUE ME ODEIA?

- Mas por que falaria isso? Eu amo você.

- Estou te dizendo todas essas coisas... Sempre fujo das suas indiretas e cantadas – as lágrimas já começavam a correr pelo meu rosto. Um dos motivos pelos quais eu não gostava de beber, era porque sempre ficava sensível demais – Por... que...

Diga algo, estou desistindo de você

Eu serei o único, se você me quiser

Coloquei as mãos no rosto enquanto começava a chorar compulsivamente. Senti seus braços me envolverem, e apenas me deixei levar pela situação.

- Me perdoe – Alfred começou.

- Por quê?

- Por forçar você, por querer que retribua algo que não quer.

- Não é bem assim, eu apenas... – Levantei meu rosto para fitá-lo, quando ele depositou um beijo em minha testa.

- Feliz aniversário, Matthew.

- Me perdoe por ser tão estúpido, Alfred.

- Tudo bem.

Ouvi-lo falar essa frase de novo fez meu coração doer. Sem que eu pensasse sobre isso, segurei seu rosto e o beijei. Não sei de onde tirei coragem, nem como ele retribuiu o beijo e em poucos segundos estávamos entrando na minha casa, ainda nos beijando. Por mais incrível que pareça, mesmo bêbado, ainda lembro-me daquela sensação de estar nos braços dele, de sentir seu hálito quente em meu pescoço, seus beijos. Senti-lo lamber cada parte do meu corpo me fez tremer, mas de alguma forma eu confiava no que ele fazia. Era bom, mas eu sentia como se fosse algo triste e prazeroso ao mesmo tempo. Lembro-me de tentar gemer baixo enquanto ele me penetrava lentamente, para não me machucar. A noite acabou com seus braços envolvendo meu corpo suado depois de estarmos tão cansados que palavras eram desnecessárias naquela hora.

E eu, estou me sentindo tão pequeno

Foi muito pra minha cabeça

Eu não sei absolutamente nada

A noite teria sido perfeita se acabasse naquele momento e eu não precisasse encarar o dia seguinte. Quando acordei, ele não estava mais lá do meu lado. Levantei e encontrei um grande urso de pelúcia em cima da mesa, com um bilhete embaixo. Meus olhos se encheram de lágrimas novamente enquanto lia

Querido Matthew,

Bem, quando você acordar não estarei mais aqui, creio que não nos veremos mais, talvez por anos... Ou quem sabe não nos veremos nunca mais. Me perdoe por ser tão insistente, mesmo que você sempre falasse para que eu te desse mais espaço, que estava confuso e tudo mais. Sério, me perdoe. Esqueci de te dar esse urso ontem de noite, pode parecer meio besta, mas quando o vi na loja, só lembrei de você, espero que goste.

Até algum dia.

Com amor, Alfred.

Naquele momento senti como se meu mundo tivesse desabado, não podia estar acontecendo. Tomei um banho rápido, vesti minha roupa e fui correndo para o trabalho. Quando cheguei fiquei sabendo que Alfred tinha aceitado a oferta da outra empresa, e que estava apenas esperando passar minha festa de aniversário para ir embora. Muitos acharam que eu já sabia, mas descobrir aquilo daquela forma foi devastador para mim.

Diga algo, estou desistindo de você

Me desculpe por não conseguir te ter

Em qualquer lugar, eu teria te seguido

Diga algo, eu estou desistindo de você

Mesmo com todas as perguntas feitas pelos meus colegas, voltei para casa, não sei se conseguiria trabalhar sabendo que tudo tinha acabado, que eu tinha estragado tudo com meu medo besta, com meu receio de me machucar. Tentei ligar para o celular dele, mas sempre dava fora de área, durante dias tentei várias vezes algum contato, mas parecia que ele tinha simplesmente sumido. Tentei visitá-lo, mas quando cheguei onde ele morava, me avisaram que tinha se mudado.

Durante meses, quem sabe anos, fiquei sentindo sua falta. Mesmo que aparecesse pessoas parecidas com Alfred na minha vida, ninguém conseguiu substituí-lo, e isso sempre me fez sofrer, algo como um arrependimento, um pedido de desculpas antes de aceitar seus sentimentos que nunca pude fazer.

E eu vou engolir meu orgulho

Você é o único, que eu amo

E eu estou dizendo adeus


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Notas finais do capítulo

Podem chorar, eu deixo 3



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