Quando cheguei aquele sítio senti o meu corpo a arrepiar-se. Eu olhava para todos os lados mas era tudo igual, as árvores estavam mortas, o céu era cinzento, só se via cavalos deitados no chão com olhares tristes, as boxes eram vazias, não tinham bebedouro nem palha para eu me deitar, estava frio, só queria sair dali. Os tratadores foram-se embora e deixaram-me com o meu novo dono. Ele era muito bruto com os outros cavalos. A minha box ficava virada para uma janela do picadeiro, eu conseguia ver o sangue a escorrer dos pobres cavalos, que pena que senti naquele momento...Quando ele os trazia de volta para a box dava com aquele chicote na garupa dos pobres coitados. Eu tentei falar com os que estavam à minha beira mas tinham a boca tão magoada que já nem conseguiam falar. Eu sabia que o fim deles estava para chegar, estavam tão magros que parecia que a pele só servia para aquecer o esqueleto dentro deles. Tentei ser simpático e ofereci comida mas o King, um painthorse palomino, estava deitado sem se puder mexer e o Dipsy, um àrabe ruço, não conseguia mastigar, as machas do King perderam o seu brilho e a cauda do Dipsy já não tinha forças para andar no ar. Aqulio era um desepero para qualquer animal que ali vivesse. Eu nem tentei fugir porque as cercas eram eléctricas e de qualquer maneira eu já sabia o que o meu fim iria ser ali. Só queria que a Margarida não soubesse que eu estava ali, ia ser horrível para ela, por isso nem vou tentar sair daqui, espero que ela não me tente procurar...

Foi tarde de mais e nesse dia Valente repara que entra uma pessoa. Será essa a pessoa por quem Valente temia?