The Only Exception escrita por Tetchy


Capítulo 11
Capítulo 11




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Ele não falou comigo por nove meses.

No começo, o tempo parecia não passar e eu não conseguia me concentrar em outras coisas além de tudo que ele me disse. Mas depois de um tempo, minha vida voltou ao normal. Era quase como se eu nunca tivesse conhecido aquele menino lindo. Ninguém se importava com a ausência dele. O Ry também levou uma bronca por causa das reclamações da Julie, o Josh sabia que o David o considerava um "gay drogado", o Ian e o Anthony nunca foram muito amigos dele, então não fazia diferença nenhuma.

Nós não precisávamos mais dele para conseguir tocar em lugares e de repente, ninguém mais escrevia músicas deprimidas e tristes. Todo mundo estava feliz, eu ainda não gostava da Audrey, mas não me importava mais tanto com isso, meu pai parecia mais feliz e isso fez eu me acalmar um pouco, eu só temia que tudo chegasse ao fim e ele voltasse a ficar miserável como quando a minha mãe foi embora.

Eu e o Josh ainda ficávamos, mas todo mundo achava que não. Conseguíamos nos conter e sempre era em lugares que ninguém ia nos ver. A freqüência dependia do nosso humor, quando algo nos estressava ou nos deixava muito felizes, ficávamos. Quando tudo estava normal e sem graça, era raro.

O Anthony estava namorando uma menina, a Amy. Ela era extremamente legal e aceitava o fato de que o namorado teve uma queda não correspondida por mim, ele jurava ter superado e todos nós acreditávamos nele, era impossível negar os sentimentos dele por ela.

Meu coração ainda disparava todas as vezes que eu  via o Dave e a maioria das vezes que eu pensava demais nele, mas eu estava bem. Eu estava feliz.

Me sentei no sofá e pensei no que poderia fazer naquela tarde, não queria sair com o Josh. A mãe dele tinha voltado há pouco tempo e eu queria que ele ficasse com ela, não comigo. Todos os outros meninos estavam no cinema, meu pai estava trabalhando. A casa estava completamente vazia.

Passei rápido pelos canais, mas nada conseguiu prender minha atenção por muito tempo. Eu estava de férias, eu podia muito bem dormir. Embora não estivesse com sono, essa era a opção mais atraente. Desliguei a tevê e me deitei no sofá, para minha surpresa, adormeci rápido.

A campainha devia estar sendo tocada há muito tempo quando finalmente acordei, eu resmunguei e desejei que a pessoa parasse de tocá-la. Será que não percebia que ninguém ia abrir a porcaria da porta?

Levantei vagarosamente e segui para a porta.Depois desejei que não tivesse levantado, muito menos aberto a porta. Meu coração disparou e eu me senti tonta, precisei me segurar com praticamente todas as minhas forças para não desabar no chão.

-Oi! O que você está fazendo aqui?

O Dave levantou o olhar do chão e me encarou, ele parecia muito bravo com alguma coisa, mas não estava confuso a respeito do que o levara ali, dava para perceber que ele tinha certeza de tudo que queria me falar. Mentalmente comecei a pensar em tudo que tinha feito ou falado para ele da última vez que nos falamos, depois deduzi que a raiva não deveria ser contra mim, afinal, ele não viria brigar comigo por algo que aconteceu nove meses atrás.

-Quer dar uma volta?

-Olha... Eu acabei de acordar. E meu pai deve estar para chegar, eu não quero que...

-Por favor.

Eu concordei e abri um pouco mais a porta para ele entrar. Ele passou sem encostar em mim e seguiu para a sala, onde se sentou no sofá e ficou encarando a janela. Eu pensei em dizer que ele podia ligar a tevê ou sei lá enquanto me esperava. Mas algo me disse que era melhor não falar nada e me arrumar.

Tentei enrolar o menos possível, mas nenhuma roupa parecia apropriada para sair dar uma volta com o David. E eu não queria ofender ele ou algo do tipo, o humor dele não estava bom, isso era óbvio.

Coloquei uma calça jeans , uma camiseta preta lisa e um tênis qualquer. O espelho gritava “ridícula” para mim, mas ignorei. Eu já tinha perdido a luta para Julie de qualquer jeito. Se eu usasse saias, talvez eu conseguisse conquistar o David. Não entendi como nunca tinha pensado nisso antes.

Certo, quando meu pai chegasse em casa nós iríamos sair comprar saias, muitas saias.

Escovei os dentes, dei uma ajeitada no cabelo e desci.

Ele estava parado na mesma posição que eu o deixei e eu sabia que tinha levado mais de quinze minutos para me arrumar, eu ainda estava pensando no que falaria para atrair a atenção dele, mas ele levantou o olhar e me encarou por alguns segundos antes de murmurar algo que eu não entendi.

-Nós vamos aonde?

-Andar de bicicleta.

-Ah, ótimo! Que bom que eu não coloquei a saia então.

O olhar dele pareceu meio confuso e a boca dele se abriu, mas ele a fechou um segundo depois e seguiu para a porta. Eu apenas segui seus passos. Ele já tinha levado minha bicicleta para fora da garagem. Agradeci, mas ele não respondeu.

Ele andava na minha frente e eu apenas o seguia, depois de alguns minutos percebi para onde estávamos indo. O nosso antigo lugar secreto. Acertei. Não demorou muito para ele descer da bicicleta, a esconder no mato e me ajudar a fazer o mesmo.

A trilha parecia mais fechada hoje, mas Dave me ajudou, tirando plantas do meu caminho e me esticando a mão toda vez que achava necessário, seria mais fácil se tivéssemos feito o caminho inteiro de mãos dadas, mas ele não pareceu perceber isso.

O riacho estava um pouco mais alto hoje, acho que deve ter chovido na nascente dele ou algo do gênero, eu não consegui me lembrar se tinha chovido aqui também. O Dave se sentou e começou a atirar algumas pedras na água.

Eu me sentei ao lado dele e passei meu braço pelo pescoço dele e apoiei minha cabeça no ombro direito dele. Não consegui resistir, ele parecia tão sério e eu achei que talvez um abraço o ajudasse a relaxar.

-Dave... O que aconteceu?

-A Julie me acusou de algumas coisas hoje e nós terminamos.

-Sinto muito.

Ele levantou o olhar e afastou uma mecha do meu cabelo que estava cobrindo parte do meu olho. Então ele deu um meio sorriso que logo se apagou.

-Já estava quase acabado, só tornamos oficial. O que me irritou foi a acusação dela.

-O que ela disse?

Ele mordeu o lábio, eu senti meu rosto queimar quando percebi o quanto eu queria beijá-lo. E agora não tinha a Julie no meio do caminho. Mas eu não conseguia criar coragem para me inclinar um pouco para frente. Burra.

-Não quero falar disso. Outra hora te conto.

-Tudo bem.

Ele se livrou dos meus braços e passou os dele em volta de mim, então ele jogou o peso dele para trás e nós dois caímos deitados em uma das enormes pedras. Apoiei meu rosto no peito dele e fiquei escutando o coração dele. Estava absurdamente acelerado.

Os dedos dele passeavam pelas minhas costas e depois começaram a brincar com as pontas do meu cabelo.

Eu fechei os olhos e amei a sensação de só ficar ali, deitada com ele, sentindo o perfume dele, naquele momento parecia que o mundo se resumia a nós dois e que nunca tínhamos nos separado. Eu não queria estragar isso por nada. O sono começou a voltar e eu tentei lutar contra ele, mas não consegui ganhar...

-Phi, acorde. Acho que está meio tarde... É melhor nós voltarmos.

Eu abri os olhos e me levantei, mas não queria ir embora. Fiquei sentada alguns segundos apenas encarando o belo rosto distante do David, ele não estava me olhando de novo.

-Por favor, diga que eu não fui a única dormir.

Ele se virou para me olhar e abriu um sorriso encantador. Agora sim ele parecia o Dave que eu conhecia. Ele passou a mão no cabelo e deu os ombros.

-Eu acabei de acordar, não se preocupe.

Eu suspirei aliviada e me espreguicei. Então eu percebi que estava meio escuro, meu Deus, será que dormimos a tarde inteira? Em um pulo fiquei de pé, Dave percebeu a minha agitação e se levantou também.

Praticamente corremos durante o caminho a pé. Quando saímos do bosque, percebi que não estava escuro porque era noite, o céu apenas estava carregado de nuvens de chuva. Dave tirou nossas bicicletas do esconderijo e subiu na dele.

Eu o imitei e começamos o caminho de volta para casa. Ele, para variar, estava na frente e eu apenas o seguia. De repente, a chuva caiu. Sem nenhum avisinho, o céu apenas desmoronou sobre nossas cabeças.

Eu tentei imaginar como meu cabelo ficaria com isso. Eu estava me esforçando pelo menos nesse aspecto, não conseguia sair descabelada por aí. Não percebi quando o David desceu da bicicleta dele, mas senti o impacto quando as mãos deles se fecharam sobre o guidão da minha.

Eu fiquei só sentada ali, encarando ele. O cabelo molhado estava colado no rosto e algumas gotas se formaram na ponta do nariz dele. A camiseta branca estava colada ao corpo, revelando um corpo muito mais definido do que eu imaginava que fosse. E os olhos, aqueles olhos maravilhosos, tinham um brilho desconhecido.

Eu desci da minha bicicleta, talvez ele tivesse caído da dele ou precisasse de ajuda em algo. Quando coloquei os dois pés no chão ele largou o guidão e se aproximou de mim. Eu senti meu coração martelar contra o peito.

Ele se aproximou mais e colocou a mão na minha cintura, me puxando para cima. Ele me colocou sobre os pés dele e depois, com a mão esquerda, puxou minha cabeça para mais perto. Nossos lábios finalmente se encontraram.

Um encaixe perfeito, como se nossas bocas tivessem sido feitas uma para a outra. Passei meus dedos pelos cabelos loiros e lisos, por um segundo me lembrei do Josh e pensei se contaria para alguém sobre esse acontecimento.

A sensação na minha barriga parecia não querer ir embora, aquele era o melhor momento de toda a minha vida, eu nunca me sentira tão bem e tão feliz. Aquele era meu lugar no mundo. Senti vontade de rir, de chorar e também achei que fosse possível que eu desmaiasse ali mesmo, nos braços dele.

Não sei quanto tempo demorou para que ele me soltasse, mas quando ele fez isso, subiu na bicicleta dele e sem olhar nenhuma vez para trás, ele foi embora. Ele não seguiu o caminho para casa, ao invés disso, deu a volta e sumiu.

Fiquei parada, sentindo as gotas se espalharem pelo meu corpo e só quando pareceu passar uma hora desde que ele se fora, eu subi na minha bicicleta e fui para casa.

Quando eu abri a porta, encontrei o olhar do Josh. Ele abriu um imenso sorriso ao me ver, mas quando não recebeu um em troca, se aproximou. Meu pai e a Audrey apenas me deram oi, nem repararam que eu estava ensopada.

-Sophia. Você está bem?

-Precisamos conversar.

Ele concordou com a cabeça, pediu licença para o meu pai e seguiu para o quarto comigo, não me preocupei em tirar a roupa molhada quando me sentei no piso de madeira e encarei o Josh. Eu queria contar, mas tinha medo de como ele iria receber a notícia, não tinha certeza se o tinha traído.

-Sophia... O que aconteceu? Você está bem?

-Josh. O Dave.

A cara dele se fechou em uma expressão de pura raiva. Ele se aproximou e segurou o meu rosto entre as mãos, como se esperasse pelas minhas lágrimas. Era óbvio que o Josh achava que o David tinha feito algo de ruim comigo, mas a verdade estava tão, tão longe disso.

-Josh, eu... ele... nós nos... beijamos. Ele terminou com a Julie e veio aqui...Nós saímos... A chuva...

-Você o beijou?

Eu concordei com a cabeça. O Josh apenas desviou o olhar e apertou meu rosto, doeu um pouco, mas eu sabia que merecia e sabia que ele estava tentando se controlar para não me espancar por ter deixado que aquilo acontecesse.

Eu conhecia o Josh bem o suficiente para saber que eu tinha feito algo que ele desprezava. Tinha ficado com alguém que não me merecia, alguém que eu deveria odiar.

-Josh, me desculpe. Eu não consegui evitar. Eu queria muito aquilo.

-Tudo bem. Você faz o que você quiser, Sophia. Eu só acho que você deveria considerar tudo o que ele te fez passar e como ele te tratou antes de beijá-lo de novo.

Ele soltou meu rosto e acariciou minha bochecha com as costas da mão esquerda e abriu um sorrisinho fraco, mas sincero. Eu me atirei para cima ele e o abracei com a maior força possível, para mostrar que eu o queria ali comigo, mesmo eu sendo uma idiota.

-Não me abandone.

-Por que eu faria isso? Você ainda é um pouco minha.

Ele beijou a ponta do meu nariz e me afastou.

 


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