Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 12
Bônus | Os Serventes


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!!! Adiantando o dia de atualização ebaa (só nessa semana haha).
Abri vagas para nobres de outros países, então, se vocês quiserem, podem mandar uma ficha (Reino Unido, Império Soviético e Império Latino Americano indisponíveis, se vocês quiserem muito esses países, me mandem uma MP). Se tiver muita procura, vou aumentar o número de países.
Esse bônus é sobre a vida das criadas, espero que gostem!!!

[CAPÍTULO ATUALIZADO 27/10/2020 - LEIAM AS NOTAS FINAIS]



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O sino tocava cedo nas dependências dos serventes do Palácio. Todos os dias, às cinco horas em ponto, o som estridente já preenchia o silêncio dos corredores. O sol brilhava timidamente, anunciando um novo dia na capital dinamarquesa. Era hora de acordar.

Esther — a jovem filha ruiva de uma das criadas de Amalienborg — era sempre a primeira a acordar. Com um sorriso orgulhoso e desdentado, ela pulava da cama. A garotinha via a alegria em todos os lugares, até mesmo nos terríveis alojamentos em que moravam. Desde que nascera,  os porões do palácio eram sua casa. Mesmo morando abaixo da família mais rica do país, a pobreza era tudo o que conhecia. A vida fora dali, com a qual os serventes mais velhos, incluindo sua mãe, sempre sonhavam, estava fora de seu conhecimento.  A rotina desgastante dos serventes, para a menininha, era a única que existia.

— Mamãe! Mamãe! Hora de acordar! Um novo dia começou! As primeiras horas do dia sempre são as melhores! — Ela sacudiu a mãe, que dormia na cama ao lado. — Vamos, mamãe. Não queremos nos atrasar para as tarefas do dia, não é mesmo?

Com o vestidinho surrado mal colocado e os cabelos bagunçados, a menininha saiu do quarto sem esperar a permissão da mãe.  Antes mesmo de Beáta poder levantar, a filha já corria pelos corredores das dependências dos criados sem apresentar um pingo de discrição e delicadeza . Essas eram habilidades que apenas as princesas do andar de cima precisavam. Para uma menina como Esther, que crescera entre o amontoado de criados que trabalhavam dia e noite para servir a Família Real, a etiqueta era desnecessária. Afinal, ninguém se importaria com os modos de uma pobre e desconhecida filha de serventes. 

Com exceção de uma pessoa.  

— Esther! Quantas vezes eu já lhe disse para não correr? — Uma senhora mais velha com um quê de superioridade puxou o braço fino da menina. – Lembre-se do que eu lhe falei: não é apropriado. Além do mais, você pode se machucar.

— Desculpe-me, senhora Vikander. — A pequena menina abaixou a cabeça, fazendo que suas longas madeixas ruivas cobrissem seu rosto. — A senhora sabe que nunca sobra comida para mim.

Apesar de saber que o que a garota dissera era uma mentira — afinal, as cozinheiras sempre davam comida às crianças primeiro — a mais velha apenas riu, fazendo  um sinal para que ela continuasse seu caminho.Iara Vikander era a chefe das criadas e coordenava mais de cem delas, incluindo suas filhas em treinamento, como Esther. Trabalhava no Palácio há mais tempo do que se possa imaginar, tendo servido, inclusive como governanta da falecida Princesa Agnes, a irmã do Rei Christian. Por conta disso, algumas das serventes mais novas  a chamavam de “pré-histórica”, deboche, que, na cabeça delas, era segredo. Iara, porém,  sabia de tudo. Sabia os nomes de todos os funcionários. Decorara o horário de todos os moradores do local. E todas as fofocas chegavam aos seus ouvidos, por mais bem guardadas que elas fossem.

Naquele dia, a Senhora Vikander se preparava, junto a suas companheiras de trabalho, para a chegada das trinta e cinco pretendentes do Príncipe Alexander ao Palácio de Amalienborg. Durante todo aquele dia, as  criadas teriam de limpar cômodos da residência real que raramente eram utilizados e que, por isso, tomariam mais tempo e energia do que o normal — já que os locais mais frequentados, por serem limpados diariamente, requeriam apenas uma manutenção rápida. Seria um dia desgastante e, provavelmente, elas nunca seriam reconhecidas por seu esforço. Mas, mesmo assim, elas faziam seu trabalho com alegria, sempre tentando ver o lado bom de todas as situações. 

Apesar de ser cansativo e mal-remunerado, seu emprego como servente agradava Iara, principalmente por causa das pessoas com quem trabalhava. As famílias tinham amor verdadeiro em seus quartos apertados. Alguns homens eram até mais educados e bonitos que os ricos. Todos os dias pela manhã, passava pelos corredores das dependências dando bom dia a todos com quem cruzava. Por onde quer que andasse dentro dos limites de Amalienborg, sempre encontrava alguém conhecido que lhe ofereceria um sorriso simpático. Todos se conheciam e cuidavam um do outro da maneira que conseguiam — fosse trocando algum turno quando outro criado não estava se sentindo bem ou tomando conta das crianças quando algum outro dever chamava seus pais.  Todos trabalhavam em perfeita harmonia.

— Bom dia, Jeb — ela cumprimentou o jardineiro quando o encontrou já perto da cozinha. — Como vai hoje?

— Acabei de atropelar um dos meninos de Amélia — ele respondeu rindo. — Imagino que você tenha esbarrado em Esther. O quarto dela e de Beáta é perto do seu, não é?

— Sim, as duas são minhas vizinhas. Todas essas crianças são impossíveis! Ainda mais vivendo nesse lugar. — Ela sorriu para ele. — Se um dia tiver os seus, por favor, tire-os daqui.

Os dois se encararam por alguns instantes. Apesar de encontrá-lo todos os dias um pouco antes de sua jornada de trabalho começar, Iara nunca tivera oportunidade de verdadeiramente conhecer Jeb.  Seus horários eram muito diferentes, quando ele estava nos jardins externos, ela estava dentro do Palácio e quando ele está nos jardins internos, ela estava nos ambientes ao ar livre. Assim, raramente tinham tempo para estender uma conversa além de usuais e cordiais cumprimentos. Ela nunca descobriria a alegria escondida nos olhos verdes dele ou o que o fizera mudar para Amalienborg sem família e com tão pouca idade. Nunca conhecera sua verdadeira personalidade. E falar sobre filhos, com certeza, não era bom para duas pessoas com o nível de intimidade que os dois tinham.

— Assim espero — ele admitiu, um tanto triste. — Você terá que me dar licença, meu trabalho começa mais cedo hoje.

Ela observou Jeb se afastar. As roupas que ele trajava — provavelmente herdadas de criados mais velhos bem mais velhos e com corpos completamente diferentes do dele — ficavam extremamente largas  e balançavam a cada passo. Ele não podia ter mais de 20 anos, não passava de um garoto que, em circunstâncias normais, estaria estudando para em breve começar sua carreira profissional. Tinha tanta vida pela frente, não deveria estar ali, não deveria estar gastando sua juventude em um trabalho tão desgastante. Sair dali, porém,  era uma missão praticamente impossível, ainda mais quando não se tinha uma família na qual poderia se apoiar. Para Iara, sair dali significa casar-se com alguém influente que teria dinheiro suficiente para começar uma vida fora dos muros de Amalienborg. Ou candidatar-se a um trabalho para alguma família da alta sociedade, o que provavelmente a levaria a uma rotina solitária e ainda mais cansativa. É, talvez trabalhar no Palácio fosse mesmo a melhor opção para o jovem Jeb.

Acordando de seus devaneios, Iara seguiu seu caminho pelos intermináveis corredores do andar inferior de Amalienborg, finalmente chegando à cozinha. Ali, as cozinheiras já trabalhavam a todo vapor ao preparar a primeira refeição do dia para o andar superior. O barulho de talheres e panelas se chocando já era ouvido por todo o andar de baixo. O café da manhã da Família Real deveria ser servido em duas horas, às exatas 7 horas da manhã — por ordem da Rainha —  e o dos criados em apenas alguns minutos, já que estes começaram suas jornadas de trabalho muito antes de seus patrões. Assim, enquanto as cozinheiras mais novas esquentavam as sobras da refeição anterior para os serventes, as mais velhas preparavam uma fresca, que seria servida ao Rei e sua família. Todo o tempo era contado para que o cronograma do dia fosse cumprido, sem tempo para distrações.

— A comida já está quase pronta, Jade? — perguntou uma garotinha morena, Thisbe, esticando-se sobre o balcão.

Meia dúzia de crianças também já se amontoavam ao redor das cozinheiras, apressando-as para que terminassem de preparar o café da manhã. Seus olhinhos inocentes imploravam por um pedaço inteiro de pão, ou por um copo cheio de leite quente — os quais as cozinheiras sempre deveriam racionar se quisessem servir a todos. A vida das crianças no andar inferior de Amalienborg era quase mais difícil que a dos adultos. Elas, que tanto precisavam de todos os nutrientes para crescer saudáveis, eram as que mais sofriam com a pobreza do local. Era de cortar o coração ver os pequenos ali, implorando para comer. Mesmo assim, as cozinheiras tentavam manter uma atitude positiva, sempre sendo carinhosas e positivas com as crianças que as importunavam todas as manhãs.

— Alguns segundos, querida — respondeu Jade, passando a mão pelos cabelos da pequena Thisbe. — Aguentem mais um pouquinho, por favor.

A menininha virou-se para as crianças que se encontravam atrás dela, gesticulando algo tão rápido que só os pequenos compreendiam. Thisbe — que mal completara dez anos — era a líder tácita dos moradores mais novos do andar inferior. Todas concordavam com sua opinião e a seguiam como súditos seguindo as ordens de uma poderosa Rainha. Além do mais, como uma órfã, ela também era muito popular entre os adultos, o que ajudava nos seus assuntos diplomáticos. E,naquela manhã, como em todas as outras, ela tentava conseguir as melhores refeições para seus seguidores.

— Acho melhor nós sentarmos — disse ela em meio a tantas outras palavras incompreensíveis, recebendo como resposta algumas reclamações por parte das outras crianças. — Acreditem em mim, se fizermos isso,  elas sentirão pena de nós.

Depois de muitas cadeiras arrastadas descuidadamente, já que eram muito grandes para quem as empurrava, todas as crianças estavam sentadas. Os pezinhos, que ainda não alcançavam o chão, balançavam impacientemente. As cabeças deitadas sobre a mesa aumentavam a meiguice e a tristeza da cena.

— Bom dia! — Uma voz feminina jovem ainda um pouco sonolenta surgiu na cozinha.

Assim que parou ao lado da bancada com a filha nos braços, a dona da voz,   Ophelia fez uma expressão curiosa. Diferente de todos os outros dias, quando as crianças corriam por todos os cantos enquanto esperavam pela refeição, a cena naquele momento era de completo silêncio. Ver os pequenos assim, sentados comportadamente chamava a atenção da jovem servente. O que será que as cozinheiras fizeram para que todos aqueles pequenos furacões ficassem quietos?  

— Vocês estão comportados hoje — Ela comentou, encostando-se na bancada.

— Eles são uns interesseiros! — Jade, que ainda cozinhava, respondeu, apontando para as crianças com a colher que segurava. 

Ophelia deu uma risada discreta em resposta. Logo em seguida, deixou a filha em uma das cadeiras e pôs-se a beijar a testa de todos os seus jovens companheiros de alojamento. A carícia era como um ritual e, sem ele, o dia não seria bom, ou pelo menos era o que os pequenos pensavam. Somente após aquilo, ela poderia sentar-se com tranquilidade.

— Então, Lia, o que vai fazer hoje já que Saphira está no hospital? — perguntou Rada,  uma das cozinheiras mais velhas, quando Ophelia já estava sentada com a filha novamente no colo.

— É meu dia de folga! — disse ela, sorrindo e arrumando os cabelos de Esmeralda. — Levarei Thisbe, Esther, Elliot, Heverett e Bertha para a escola e depois vou passear um pouco com Esmie por Copenhague. Ela precisa sair um pouco do Palácio.

— Não posso ir junto? — perguntou um menininho de aproximadamente 4 anos de idade que estava sentado ao lado de Ophelia.

— Você é muito pequeno, precisa estar acompanhado da sua mãe — respondeu a criada carinhosamente.

— Mas a Esmie vai! —  o menininho retrucou, fechando o rosto em indignação.

Todos os presentes soltaram uma risada. O garoto era muito pequeno para saber o parentesco de todos os moradores. A maneira como se impora quanto a isso, porém, fora hilária.

— Eu vou com minha mamãe — replicou Esmeralda apontando para Lia, sentindo-se superior ao menino.

O menino pareceu entender.Após a pequena discussão, os presentes ficaram em silêncio, mas o sossego logo acabou. Em um piscar de olhos, todos chegam para o café. Para a alegria dos seguidores de Thisbe, eles foram os primeiros a receber a cota de comida individual.

A refeição foi animada, com muitas risadas que preenchiam todo o ambiente. A alegria entre os criados era nítida, mesmo sabendo o quão cansativo seria sua jornada de trabalho. Infelizmente, como em todos os outros dias, a mesa do desjejum não estava completa. Diversos membros da equipe precisavam deixar a mesa antes mesmo de conseguir terminar a refeição. Outros, um tanto atrasados e com rostos ainda inchados de sono, chegaram alguns minutos mais tarde, já tendo de se contentar com os restos mortais dos pratos servidos.  Até algumas famílias não estavam completas na refeição mais importante do dia — já que os pais geralmente precisavam deixar a mesa muito antes dos filhos.

As crianças, que eram as primeiras a chegar, também eram as últimas a sair. Elas permaneciam lá, observando seus pais começarem sua extensa jornada de trabalho no andar superior do Palácio. E continuavam lá até a hora de elas começarem seu próprio dia útil na escola.

—Vamos? — perguntou Ophelia depois que todos os adultos já haviam se retirado da mesa, levantando-se com Esmeralda nos braços.

En elefant kom marcherende

Hen ad edderkoppens fine spind,

Fandt at vejen var så int'ressant

At den byder op endnu en elefant.

Os pequenos cantavam enquanto pegavam suas mochilas escolares, posicionadas ao lado da porta dos fundos. Entretidos, eles fingiam marchar como os elefantes descritos pela música. Ophelia, que era espanhola, não conhecia aquela popular cantiga dinamarquesa, então apenas seguia a fila de crianças, marchando e rindo.

To elefanter kom marcherende

hen ad edderkoppens fine spind

fandt at vejen var så interessant,

at de byder op endnu en elefant.

Ao sair do Palácio, eles cumprimentaram os guardas como de costume. Mas, mesmo assim, não pararam de marchar e cantar, continuando com seus passos firmes e com a melodia contagiante.

Tre elefanter kom marcherende

hen ad edderkoppens fine spind

fandt at vejen var så interessant,

at de byder op endnu en elefant

Quem os olhava na rua pensava que eram alunos da Academia Militar. Na verdade, se não fosse pelas roupas desgastadas e o caminho para o lado oeste da cidade, eles realmente poderiam frequentar o colégio mais cobiçado do país. Sem sombra de dúvidas, o ensino na escola daquelas crianças não era tão rígido e prestigiado, mas pelo menos elas teriam algum estudo e poderiam sair do Palácio quando adultos.

Os herdeiros dos serventes podiam não ter uma vida de elite como a realeza, mas a alegria que tinham valia muito mais do que toda e qualquer riqueza material.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Gostaram? Ficou muito ruim?
Para quem quiser ouvir a música que as crianças cantam: https://www.youtube.com/watch?v=hoh_upRJYxk (acho que vou aprender dinamarquês até o final da fanfic) (fiquei viciada nessa música)
De qual servente vocês mais gostaram? (eu, particularmente, gosto da Esther, mas ela nem é uma servente ainda ashaushau)
Ah, eu criei também uma página no Facebook: www.facebook.com/rainhadoscoracoesoficial
Também criei um ask: http://ask.fm/casarealdinamarca
E o link da ficha da nobreza: https://docs.google.com/forms/d/1PJLurrG1R6Vb8EABEmzBg2lytkpm-eUtCqzLwhyBBXg/viewform?usp=send_form
Não se esqueçam do blog: http://rdccasareal.wix.com/fanfiction (tem um extra bem legal)

Eu estava inspirada!! Hahahahah

Até os comentários! (estou voltando a responder)

[ATUALIZAÇÃO 27/10/2020]

Mais uma atualização por aqui! Dessa vez, aproveitei as minhas curtas férias de outono (uma semaninha apenas) para revisar o segundo bônus dessa fanfic. Eu sempre tive um carinho muito grande por esse capítulo, já que ele retrata uma vida bem diferente da vida no núcleo principal da fanfic. Eu simplesmente AMO todas as crianças filhas dos criados e me diverti muito revisando. As mudanças não foram muito drásticas, apenas corrigi alguns erros gramaticais e adicionei mais detalhes. E, claro, ouvi novamente a musiquinha dos elefantes, que agora não quer sair de minha cabeça hahaha
Qualquer erro ou sugestão, me enviem uma MP!

xoxo ♥ ACE