Isso não é normal - Perina escrita por Pipoca


Capítulo 20
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Notas iniciais do capítulo

Estou de voltaaaa! E NÃO, eu não tinha um nome melhor pro capítulo anterior! Eu tinha escrito sobre a K dizendo que tinha que sair do casulo e acabei colocando borboleta no google e saiu a música da Miley... Enfim, foi isso. Esse capítulo está CHEIO de narrativas, vocês vão entender porque... E o próximo capítulo já vai dar início a uma loucura que eu idealizei para a fic, isso deve dar um final muuuito melhor do que eu tinha imaginado nos primeiros capítulos



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No dia da viagem, Karina não sabia o que fazer e dessa vez não ia dar para acalmar o pai com o papo de “vai passar rápido” porque não ia. Ela já estava com tudo pronto, prestes a sair de casa e sua chegada estava toda resolvida, assim como o ano letivo. Ela tinha se inscrevido na Universidade Santa Cecília para cursar bacharelado em Educação Física, junto com Larissa que tinha se inscrevido para cursar bacharelado em Fisioterapia. A faculdade era a mais ou menos 45 minutos da casa da tia da lutadora, se elas fossem de ônibus. Sueli já tinha providenciado uma bicama para o quarto de Larissa e não tinha mais nada “incerto” com relação a sua estadia lá, porém sua cabeça estava confusa e a sua vontade era de largar tudo e ir atrás de Pedro.

...

O voo já estava pertinho de ser chamado, Karina já havia se despedido das suas amigas e apenas sua “família” estava lá no aeroporto, Gael tinha pensado em ir para se certificar de tudo, mas o torneio estadual entre academias estava perto e ele não podia se ausentar.

Dessa vez não eram férias, eram anos. O voo foi chamado e ela decolou deixando para trás o seu sonho de ser lutadora, sua família, amigos e um músico descabelado e desesperado que chegou atrasado para impedir que o amor da sua vida fosse embora. Chegou tarde, uma pena.

...

Pedro viu que o voo já tinha saído e viu de longe Gael entrando no carro com Dandara, Bianca e João, ele se sentiu vazio, sozinho. Olhou para todos os lados do aeroporto, completamente perdido e se pudesse teria ido até a pista e impedido o avião de decolar, mas ele ainda não tinha superpoderes e o destino parecia estar indisposto a cooperar. Ele saiu do aeroporto por fim e quando chegou em casa apenas se trancou no quarto sem nada dizer, sem nada sentir, sem nada pensar. Ele era um “nada”, um corpo oco. Horas depois ele tentou ligar para Duda, para tirar Karina de vez da cabeça, mas não conseguiu, acabava sempre teclando o número da lutadora. Pegou seu caderno e leu suas composições, 3 músicas feitas e alguns poemas soltos, tudo falava de Karina. Quem tivesse o mínimo de inteligência e lesse alguma das suas composições lembraria dela com toda certeza, ele não poderia mostrar as músicas para a banda sem que ficasse claro que ele não a esqueceu e a ama como nunca amaria Duda.

_*_

O garoto tratou de transformar a tristeza em música e continuou a compor, escondido, ninguém podia saber que ele ainda escrevia para a ex, parecia errado, mas ela era sua fonte inesgotável de inspiração.

“Eu sinto sua falta

Não posso esperar tanto tempo assim

O nosso amor é novo

É o velho amor ainda e sempre

Não diga que não vem me ver

De noite eu quero descansar

Ir ao cinema com você

Um filme à toa no pathé

Que culpa a gente tem de ser feliz?

Que culpa a gente tem, meu bem?

O mundo bem diante do nariz

Feliz aqui e não além...

Me sinto só, me sinto só

Eu me sinto tão seu...

Me sinto tão, me sinto só

E sou teu

Me sinto só, me sinto só

Eu me sinto tão seu

Me sinto tão, me sinto só

E sou teu

Eu faço tanta coisa

Pensando no momento de te ver

A minha casa sem você é triste

A espera arde sem me aquecer

Não diga que você não volta

Eu não vou conseguir dormir

À noite eu quero descansar

Sair à toa por aí...

Me sinto só, me sinto só

Eu me sinto tão seu...

Me sinto tão, me sinto só

E sou teu

Me sinto só, me sinto só

Eu me sinto tão seu

Me sinto tão, me sinto só

E sou teu

Sinto sua falta

Não posso esperar tanto tempo assim

O nosso amor é novo

É velho amor ainda e sempre

Que culpa a gente têm de ser feliz ?

Eu digo eles ou nós dois

O mundo bem diante do nariz

Feliz agora e não depois...

Me sinto só, me sinto só

Eu me sinto tão seu...

Me sinto tão, me sinto só

E sou teu

Me sinto só, me sinto só

Eu me sinto tão seu

Me sinto tão, me sinto só

E sou teu”

_*_

... 2 ANOS DEPOIS DA VIAGEM...

A vida da lutadora finalmente parecia estar no rumo certo, só parecia na verdade, porque ela estava completamente perdida. Em SP as coisas iam bem, a faculdade era ótima e ela fazia algo que gostava, sua tia e sua prima eram pessoas incríveis e Laura, por mais estranha que fosse, era até legal, mas lhe faltava algo, alguém pra ser mais precisa: Pedro. Tudo o remetia a ele e todas as vezes no período das férias era a mesma agonia, frio na barriga e no final, nunca encontrava ele. Tomtom ligava todos os dias para contar as novidades, mas elas tinham concordado em não falar sobre o músico. Fabi, Pri e Ju, ligavam sempre que dava e a distância não havia afetado a amizade, nas férias era a maior festa, elas sempre iam com Gael busca-la no aeroporto, com João é claro. O “irmão” tinha se tornado seu melhor amigo e, como dizem, através de uma tela é sempre mais fácil de se soltar, mas nada de tocar no “assunto proibido”. João aliás tinha assumido um namoro com Júlia meses depois de Karina ir embora.

A banda “galera da ribalta” tinha acabado por causa da ânsia de Sol pelo sucesso, alimentada pelas propostas de Santiago. Pedro, que estava cursando música na UFRJ, viu seu sonho cada vez mais distante, assim como o amor da sua vida. Era estranho se referir a Karina assim, já que ele estava namorando Duda, um namoro que cada vez mais parecia uma espécie de “amizade colorida”, só que um pouco mais insosa, assim como a vida dele estava por isso achou coerente permanecer com aquilo tudo.

... 3 ANOS DEPOIS DA VIAGEM...

Sol tinha se tornado uma espécie de meteoro, mas como dizem, tudo o que vem rápido, vai rápido. Ela começou a flopar e sua tentativa de fazer um “meet e greet” para voltar a mídia fracassou, só tinham 6 pessoas confirmadas e apenas 2 foram no dia. As fotos do encontro nem apareceram na mídia, que só tinha olhos para o “MC ratatouille” e seu novo sucesso: “A dança do maxixe”

“É a dança do maxixe, é a dança do maxixe

É um homem no meio com duas mulheres fazendo sanduiche”

Sol estava sem saber onde enfiar a cara e cancelou tudo com Santiago, o que só aumentou suas dívidas e a fez abandonar o condomínio de luxo nas Laranjeiras e voltar para Marechal Hermes.

Duca e Bianca tinham noivado e a atriz só falava coisas relacionadas a casamento mesmo não tendo nada marcado e como o lutador nunca teve tanta vontade de virar profissional acabou virando sócio na academia de Gael.

...

Pedro finalmente terminou o namoro “água de salsicha” com Duda, mas não mostrou a ninguém suas composições, eram tão íntimas que lhe davam uma certa insegurança e medo, mas afinal para quem ele mostraria? Nem banda tinha mais.

Cada vez mais ele pensava em Karina, já havia tentando meio mundo de garotas mas nenhuma era assim... Tão... “Ela”.

— Meu filho, toca alguma coisa pra gente? — Disse Delma no restaurante, na tentativa de entreter os clientes.

— Tá certo mãe. O que vai ser? — Disse Pedro e Marcelo apareceu correndo da cozinha.

— Nada de cantar! — Disse para o filho num sussuro desesperado, com medo de que a voz do rapaz espantasse os clientes.

— Relaxa pai, eu melhorei um pouco com as aulas da tia Dandara... —Disse Pedro que de fato tinha conseguido achar um tom que combinava com a sua voz rouca e a deixava agradável aos ouvidos. Mesmo a contragosto o pai permitiu e o rapaz sentou no banco do “palco” e pegou o microfone. — Boa noite a todos, eu vou tocar um pouco pra vocês então queria saber o que vocês sugerem que eu toque.

— Toca Caetano meu filho! “Sozinho” ! — Disse uma senhora que frequentava o local.

— Caetano então! — Disse o músico preparando os acordes e iniciando a música.

“Às vezes no silêncio da noite

Eu fico imaginando nós dois

Eu fico ali sonhando acordado

Juntando o antes, o agora e o depois

Por que você me deixa tão solto?

Por que você não cola em mim?

Tô me sentindo muito sozinho

Não sou nem quero ser o seu dono

É que um carinho às vezes cai bem

Eu tenho os meus desejos e planos secretos

Só abro pra você, mais ninguém

Por que você me esquece e some?

E se eu me interessar por alguém?

E se ela de repente me ganha?

Quando a gente gosta

É claro que a gente cuida

Fala que me ama

Só que é da boca pra fora

Ou você me engana

Ou não está madura

Onde está você agora?”

No final da música ele foi retirado do transe pelos aplausos dos clientes e o pai ficou surpreso com a melhora na voz do filho. Ele mergulhou na música, cantou como se a música tivesse sido dedicada para Karina, e era.

... 4 ANOS DEPOIS DA VIAGEM...

Pedro já estava no começo do sexto período da faculdade e Nando o deixou trabalhar como estagiário na Ribalta, “Professor de música” com salário e tudo mais. Ele estava feliz porque era algo que ele amava e poder conviver com aquilo seria um lazer e não um trabalho, ainda mais se é com Nando. Ele passou todos os anos, meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos... Pensando em Karina e mesmo não a tendo esquecido ele estava tentando se convencer que era apenas saudade de ter alguém por perto, estava tentando se desvencilhar dela mas não dava, ainda mais quando ele abria o caderno azul das composições e só dava ela em todas as letras. Entre as músicas tinha uma que ele escreveu em uma tarde qualquer equanto pensava como ela estaria vivendo, ele apenas imaginou ela feliz. Era assim que ele queria que ela estivesse, mesmo que com outro cara, “que ela esteja feliz” ele repetia como um mantra. O músico tinha vontade de procura-la, mas sempre que a noticia de que ela estava por chegar para passar as férias pairava sobre o ar ele fugia, para não ter que encarar aqueles olhos e vê-los partir novamente para perto de outra pessoa. Ele queria dizer a ela que mesmo com a distancia e a separação, ainda tinha todo amor do mundo dentro do peito e que mesmo que ela não voltasse ainda desejaria que ela encontrasse alguém que a fizesse feliz, como ele não conseguiu fazer.

“Eu te desejo não parar tão cedo

Pois toda idade tem prazer e medo

E com os que erram feio e bastante

Que você consiga ser tolerante

Quando você ficar triste

Que seja por um dia, e não o ano inteiro

E que você descubra que rir é bom,

mas que rir de tudo é desespero

Desejo que você tenha a quem amar

E quando estiver bem cansado

Ainda, exista amor pra recomeçar

Pra recomeçar

Eu te desejo, muitos amigos

Mas que em um você possa confiar

E que tenha até inimigos

Pra você não deixar de duvidar

Quando você ficar triste

Que seja por um dia, e não o ano inteiro

E que você descubra que rir é bom,

mas que rir de tudo é desespero

Desejo que você tenha quem amar

E quando estiver bem cansado

Ainda, exista amor pra recomeçar

Pra recomeçar

Eu desejo que você ganhe dinheiro

Pois é preciso viver também

E que você diga a ele, pelo menos uma vez,

Quem é mesmo o dono de quem

Desejo que você tenha a quem amar

E quando estiver bem cansado

Ainda, exista amor pra recomeçar

Pra recomeçar

Pra recomeçar.”

Essa foi uma espécie de canção de despedida, porque logo depois ele jogou o caderninho no lixo. “Tenho que recomeçar.” Pensou enquanto deixava suas composições na lata de lixo, achando que assim , enfim, se livraria daquele amor. Poderia até funcionar, porém Tomtom viu quando ele jogou o “caderno secreto” fora e o pegou, devorando cada música com brilho nos olhos. Ela sabia que ele não tinha esquecido Karina, sabia que de alguma forma ele tinha alimentado o amor por todos aqueles anos.

...

Parecia impossível, mas Karina não havia “conhecido” ninguém especial, ficou com uns 5 rapazes em relacionamentos curtos e festas em que Lari a levava, mas nada arrebatador. Nada de frio na barriga, nada de formigamentos, nada de nervosismo, nada de paixão, nada. Ela já havia desistido de tentar esquecer Pedro, mas também procurava não alimentar mais ainda aquele amor, acabava por ficar sofrendo por um cara que muito provavelmente já havia namorado meio mundo e já tinha esquecido dela.

...

Bianca ligou para Karina que não acreditou na notícia: a irmã estava grávida de Duca. Também, se quando Karina morava lá Bianca já vivia dormindo na casa de Duca imagina só agora que só tinha ela no quarto. Era muito mais fácil sair escondida e voltar de fininho sem ninguém perceber. Gael fez uma confusão imensa, mas no final acabou se acalmando, seu genro era um rapaz responsável, tinha emprego fixo, uma base familiar... Essas coisas. O casal acabou tendo que adiar a data do casamento para depois do parto, que viria em outubro ou novembro e começou a providenciar um apartamento.

...

O tempo foi passando e Sol estava tentando restabelecer o contato com o pessoal da “ex-banda”, mas estava difícil...

Pedro já estava no último período da faculdade, em semana de provas, assim como Karina que iria adiantar sua viagem ao RJ para ver a irmã ter a filha. Sim era uma menina e todos já imaginavam qual seria o nome, Ana, assim como a mãe das duas. Ela não sabia se estava mais ansiosa para ver a sobrinha, para concluir a faculdade ou para ver um certo alguém que estava evitando o encontro com a mesma a quase cinco anos. A sua maior curiosidade era saber como ele estava, fisicamente, já que ela tinha bloqueado ele de suas redes sociais e por isso não recebia nenhuma informação relacionada a ele e nem ele dela. Ela não estava se achando muito diferente, o mais alarmante era o cabelo que estava bem comprido, ela tinha ficado sem tempo de cortar e foi deixando, deixando até que quando viu, gostou mais do que como era antes. Ela se sentia mais “coberta” e se fizesse um rabo de cavalo era como se estivesse de cabelos curtos novamente. Fora o cabelo, continuava a mesma, talvez um pouco mais vaidosa, mas nada de muita maquiagem e roupas a lá Bianca, ela permaneceu com seu jeito de sempre.

Já o músico começou a frequentar uma academia desde que Duda havia comentado que ele deveria definir mais o “tanquinho”, por mais que ele tivesse preguiça e vivesse comendo besteira ele passou a ir treinar, não ficou como o Duca, mas ficou como Guta apelidou: “No ponto”. O cabelo era seu “charme”, mas depois Lucrécia comentou que ele deveria cortar e por conta da insistência da mãe ele acabou cedendo e gostou do corte mais “prático”.

Por mais que o tempo e as circunstâncias tivessem mudado tanto um como o outro fisicamente, por dentro ainda era o moleque (numa versão 2.0 mais responsável) e a esquentadinha (um pouquinho mais paciente, só um pouquinho).

...

“Formada” era estranho pensar assim, mas esse era a atual circunstância de Karina. Agora ela poderia trabalhar em diversos locais, mas o que mais lhe agradou foi a possibilidade de se tornar preparadora física de algum atleta de muay thai. Ela arrumou as malas e dessa vez veio com a tia e com a prima para o RJ, todas queriam ver o bebê que nasceria dias depois da chegada delas, através de uma cesariana.

Pedro também concluiu o curso, mas não participou da festa de formatura, seria muito caro para Marcelo pagar e mesmo que ele ajudasse, seu salário de estagiário não era muita coisa. Tomtom faria quinze anos no final do ano, mas não quis festa, ela preferiu uma viagem, nas férias e fez questão de convidar Karina que disse que ia pensar, pois ficou relutante com o fato de viajar com Pedro, fora que o preço não devia ser nada “amigável”.

...

Assim que Karina chegou em casa com a tia e a prima, formou-se a festa. Bianca com uma barriga imensa, Dandara que de tão feliz parecia que era a avó, Duca todo bobo, João num grude com Júlia, Fabi e Pri histéricas com a vinda da amiga e Karina por mais que estivesse morrendo de saudades de toda aquela bagunça, só sabia pensar em Pedro e em quando o veria. Bianca estava morando com o pai mas o apartamento estava pronto e assim que ela divesse a filha eles se mudariam. Estavam todos felizes até Bianca soltar um grito do banheiro e Duca sair correndo ao lado de Gael, a bolsa havia estourado e a bagunça se transformou numa correria sem fim, foram Gael, Duca, Dandara e Karina para o hospital enquanto os outros ficaram em casa apenas esperando notícias.

...

— Família da paciente Bianca Duarte? — Chamou o médico horas depois causando preocupação em todos.

— É a gente! Aqui doutor! Eu sou o pai, como é que a minha filha tá? — Perguntou Gael nervoso e Duca estava pálido e morrendo de medo de alguma coisa ter acontecido.

—Podem ficar tranquilos que a mamãe está bem e quer ver todos, a pequena, Ana, não é mesmo? Bem, ela está ótima, nasceu saudável e está mamando agora. Podem ir lá no quarto 209. — Disse o médico sendo chamado por uma enfermeira. Eles foram as pressas para o quarto e quando chegaram lá, Bianca estava com um sorriso enorme amamentando uma coisinha gordinha e bem branquinha em seus braços.

— Oi meu amor, você tá bem? — Disse Gael enquanto Duca só sabia chorar de felicidade.

—Eu tô ótima, estamos, na verdade. Vem ver sua filha “papai” ela é a sua cara. — Disse Bianca e de fato a menina tinha traços do pai, mas tinha os mesmos olhos da mãe.

—Onw meu amor, ela é linda! Esse é o dia mais feliz da minha vida! — Disse Duca acariciando o rosto gorducho da pequena.

— Bi, eu tô tão feliz! Tô me sentindo avó! — Disse Dandara com os olhos marejados e a nova “mamãe” ficou emocionada com o afeto da ‘boadrasta’.

— Ai Bi, ela é uma fofura! Nem acredito que minha sobrinha tava tão ansiosa pra me ver que nem esperou eu desfazer as malas! — Brincou Karina e todos sorriram, depois eles resolveram dar privacidade para a nova família.

...

Dias depois Bianca já havia se mudado para o seu apartamento, Duca e Dandara ficaram cuidando dela e o mestre ficou sozinho dando conta da academia. A data de volta de Karina para SP estava um pouco distante mas mesmo assim ela não sabia se ia continuar a morar lá.

— Filha eu tenho pensado em algumas coisas ultimamente. Olha só, você já terminou a faculdade e sua irmã já até saiu de casa, você vai continuar morando lá com sua tia? — Perguntou o mestre equanto os dois preparavam um X-Gael.

—Pai eu não sei... Eu tô pensando em voltar. — Disse a lutadora e o pai largou os ingredientes no balcão e abraçou a filha que ficou sem entender nada.

—Eu vou adorar ter você aqui de novo! — Disse o mestre com um sorriso enorme.

— Pai, é que eu tô pensando em voltar pro RIO DE JANEIRO, mas eu tenho 20 anos, não posso ficar aqui para sempre, nessa casa... Eu tô pensando em arranjar um emprego e alugar um apê Num bairro pertinho daqui. — Disse a lutadora e o sorriso se desfez.

— Tudo bem, mas essa sempre vai ser a SUA casa. Fique o tempo que quiser! Pode demorar eu não me importo... — Disse Gael tentando fazer a filha ficar o maior tempo possível morando com ele.

— Tá eu já entendi pai, vamos falar de outra coisa? — Disse a lutadora e eles começaram a conversar sobre o torneio mundial de muay thai que teria no mês seguinte.

...

Depois de passar 10 dias no RJ, Karina voltou para SP para organizar suas coisas. Ela separou o que era seu, se despediu da sua tia e da sua prima, além de alguns amigos que ela tinha feito lá. Ela estava disposta a dizer um “olá” ao passado e encarar Pedro, depois 4 anos sem se ver. Quatro longos anos tão cheios de “talvez” e de saudade.

...

Pedro ficou sabendo através de uma conversa dos pais que ele escutou, onde eles disseram que Karina voltaria a morar no RJ. Ele explodiu de feliciade e depois de medo. Muito medo dela o ter esquecido, medo do que ele diria ao reencontra-la, medo de ter sofrido por ela por todos esses anos e encontra-la com um anel de compromisso no dedo. Medo.

...

Quando Karina chegou no aeroporto cheia de malas e encontrou o pai foi como se ela estivesse retomando sua vida de volta. Ela chegou em casa e lá estava sua “família torta” e seus amigos mais próximos, comemoraram a volta dela com pizza e depois ela foi guardar suas coisas. Era estranho o quarto sem Bianca. Não tinha mais as coisas cheias de frufru dela, mas a metade de Karina estava um pouco parecida como o que era antes, exceto pela sua cama que estava onde era a de Bianca. Ela guardou as coisas e aproveitou para colocar sua cama no lugar onde ficava antes e quando terminou de empurrar e foi varrer o local onde a cama estava ela viu um anel, cheio de poeira e teias de aranha. Ela assoprou e quando colocou próximo aos olhos pode ver uma frase bem pequenininha “ Esquentadinha do moleque”. Era o anel que Pedro havia lhe dado anos atrás e que ela havia jogado em algum lugar do quarto. Ela pensou em jogar no lixo, mas resolveu guardar entre as suas coisas.

Depois de arrumar o quarto e guardar suas coisas, Karina estava esgotada. Se jogou na cama e depois foi tomar banho. Ela estava querendo descançar pois no dia seguinte ela iria começar a procurar emprego.

_*_

Pedro estava com muita vontade de bater na porta da casa de Karina e ver como ela estava, a saudade o fazia sentir o coração pular pela boca, ele queria ir logo vê-la e acabar com aquela distancia mas o medo de ter sido substituído o fez ficar por anos fugindo dela. Agora ele estava reunindo coragem para encara-la e tinha decidido fazer isso assim que largasse do trabalho na ribalta, assim teria tempo suficiente para pensar no que diria para ela.

_*_

— Bom dia pai! Bom dia Dandara, cadê o João? — Disse Karina se sentando para tomar café.

— Tô aqui! Bom dia, ô mãe cê vai me levar pra agência hoje? —Disse João que já estava pronto para ir ao trabalho. Ele tinha se formado em desinger gráfico no Instituto Infnet, que ficava a 15 minutos do bairro do Catete e tinha conseguido um estágio numa agência de criação de jogos, estava quase sendo efetivado.

— Não sei filho, acho que só se você correr! A gente vai se atrasar! Meu amor eu vou ter que chegar mais cedo na ribalta hoje pra poder sair mais cedo e dar uma força pra Bi, então eu já vou! K, tchau, beijo! Corre João! O Pão tá na sanduicheira, vamos! — Disse Dandara dando um beijo em Gael e um beijo na testa de Karina, ela pegou a bolsa, as chaves e acompanhou João até a porta, ele estava segurando o misto e deu tchau quando a mãe fechou a porta.

— Pai, eu acho que já vou indo também, é que eu vou procurar emprego numa escola a uns vinte minutos daqui, eles estão precisando de professor de educação física e eu vou procurar saber como faço a entrevista... — Disse Karina tomando o suco rapidamente.

— Nada disso! Você vai trabalhar lá na academia! Onde já se viu, minha filha ir procurar emprego em outro lugar- — Gael ia completar mas Karina o interrompeu.

— Pai, eu tenho que ganhar dinheiro pra poder alugar meu apê, a gente já conversou sobre isso! — Disse Karina um pouco irritada.

— Deixa eu terminar! Onde já se viu, minha filha ir procurar emprego em outro lugar quando na minha academia eu tô precisando de uma professora de muay thai que tenha formação e goste de esporte? — Disse Gael e o sorriso da menina se alargou.

— Pai eu vou adorar, mas eu só vou poder depois de conseguir algo remunerado... — Disse Karina e o mestre logo completou.

— E quem disse que eu não vou pagar? Karina o Panda está pra sair, ele está na idade de se aposentar e só está lá enquanto eu não acho ninguém, quem é boa o suficiente pra ensinar muay thai na minha academia a não ser você? — Disse Gael e ela o abraçou forte, não via a hora de voltar a treinar e sempre quis sentir o gostinho de ensinar.

— Quando eu começo?? — Disse a lutadora toda animada.

— Hoje, agora! Estamos atrasados! Vamos! — Disse Gael quando olhou o relógio e viu que já tinha passado da hora de abrir a academia. Sem Bianca lá, ele que teria que ficar no setor administrativo.

— Tá vamos! — Disse Karina e os dois se levantaram para ir para a academia.

_*_
— Pedro o que é que deu em você hoje? — Falou Tomtom observando o irmão andar de um lado para o outro, nervoso.

— Você tinha razão. Como sempre, tinha razão. — Disse o músico aparentemente feliz.

— Do que cê tá falando maluco? — Disse a garota já pronta para ir para a escola. O ensino médio não tava nada fácil...

— Eu vou falar com ela hoje! Ai, eu acho que nunca senti isso na vida! Tomtom eu tô pirando! Ihh eu tô atrasado, já vou! Mais tarde te conto tudo! — Disse Pedro dando um beijo na testa da irmã e saindo rumo a ribalta.

— Maluco. — Disse a garota sem entender nada.

_*_

Karina chegou na academia e foi arrumar os materiais para o treino, quando terminou foi para os vestiários se trocar.

Pedro chegou e subiu correndo para a ribalta, ele estava atrasado e Nando tinha dito qua queria dizer a ele uma coisa importante. Quando o músico chegou na sala de Nando, ele ouviu o “chefe” dizer que precisaria sair e que ele daria as aulas de música do dia, ele também aproveitou para efetivar de vez o músico. O rapaz ficou feliz pela confiança depositada nele e foi para a sala, arrumou as partituras e os instrumentos e os alunos chegaram.

Karina ficou feliz em rever os antigos alunos do seu pai que ainda treinavam lá, e como era professora, começou a se apresentar para os alunos.

—Bom dia pessoal, meu nome é Karina e eu tô aqui pra substituir o mestre Panda. Perguntas? — Disse Karina de frente para a turma.

— Qual é o seu telefone? — Pergutou um dos alunos do fundão fazendo muitos dos alunos rirem.

— O que é que tá acontecendo aqui? — Disse Gael chegando por trás de Karina e pondo a mão no seu ombro, os alunos ficaram todos em silêncio mortal.

— Nada pai, é só que a turma tá animada em me conhecer, você! — disse apontando para o garoto que tinha falado a gracinha — Vem cá, já que você tá tão empolgado, sobe no ringue. Agora! — Disse a lutadora e Gael ficou apenas observando o que ela iria fazer. Ela jogou as proteções para ele, colocou as dela e subiu no ringue. — Me ataca. — Disse e o garoto obedeceu, em seguida abriu a guarda e ele lhe depositou uma sequência de socos e depois uma rasteira. — Eu acho que vocês entenderam que eu não tô de brincadeira aqui. Vamos! Todo mundo colocando o equipamento! — Disse Karina saindo do ringue e tirando suas proteções.

— Desculpe professora. — Disse o aluno indo para perto dos outros, Karina sorriu ao ver que o pai estava feliz com a postura dela e com o respeito que ela tinha adquirido dos alunos, talvez fosse medo também...

— Bora galera, primeiro vamos na sequência: Jab, direto, chute com a perna esquerda. Vamos! Logo! — Disse Karina e logo todos estavam executando os golpes que ela havia dito. — Vocês aí atrás, vão treinar ou vão ser figurantes? — Gael não conseguiu conter o riso, ela era uma cópia sua de um metro e 67 de altura e com um rostinho que, quem vê, pensa que ela é dócil.

_*_

O primeiro dia de Pedro como professor na ribalta foi ótimo, mas ele esqueceu de um detalhe: Quando os professores acabavam as aulas ele arrumava tudo equanto eles preparavam as aulas do dia seguinte e como agora ele era professor E ajudante, ele teve que organizar tudo na escola e ainda preparar a aula. Resultado: Ele saiu as pressas de 23:40 da escola de artes na expectativa de ir na casa de Karina e encontra-la acordada.

...

Karina terminou de dar as aulas das três turmas da academia e ainda ficou para arrumar os materiais das aulas, já eram 23:40 e ela saiu com uma pilha de luvas nos braços em direção ao armário da academia e não viu quando alguém desceu as escadas da ribalta de repente e acabou esbarrando nela.

— Que isso?? Tá cego?? — Disse Karina recolhendo as luvas jogadas no chão em meio a um monte de partituras e um violão.

— Você que devia ter mais cuidado sua- — A voz de Pedro travou quando ele olhou no fundo daqueles olhos azuis e reconheceu sua esquentadinha. Ele passou os 4 anos ensaiando o que diria para Karina quando encontrasse ela e quando aconteceu ele esqueceu de tudo. Ela também não sabia o que fazer, passou 4 anos longe de Pedro e a primeira coisa que fez ao reencontra-lo foi brigar com ele.

— Me desculpa. — Disse ela olhando para o chão recolhendo as partituras dele.

— Me desculpa também. —Disse ele sem conseguir tirar os olhos dos cabelos compridos dela, ele começou a recolher as luvas e quando levantaram-se devolveram os objetos.

— E-eu... Eu queria falar pra você que... — Disse Pedro tentando escolher as palavras certas para dizer a ela tudo o que estava entalado na garganta dele a anos.

— Pedro, eu sei que você tá com outra e eu já te esqueci, então se me der licença eu vou indo. Já tá tarde e eu tenho uma aula pra dar amanhã cedo. — Disse Karina tentando ser forte, mas estava difícil ser forte com Pedro na sua frente a encarando com aqueles olhos castanhos que ela tanto amava, e depois de tantos anos ele tinha ficado ainda mais bonito. “Minha nossa ele tá gato pra cacete... Karina acorda!” Pensou a lutadora tentando desviar o olhar.

— Que bom que você sabe. Eu também tenho aula amanhã cedo. Então, tchau. — Disse Pedro saindo da academia com as partituras na mão, esquecendo o violão.

— Que ótimo Karina! Você passa 4 anos sem ver o cara e quando volta parece que nunca foi! — Disse Karina para si mesma num tom de voz irônico.

— Falando sozinha esquentadinha? — Disse Pedro sorrindo da cara de boba que ela fez ao vê-lo ali parado na porta da academia. Ele não ouviu nada comprometedor mas viu que ela estava falando sozinha.

— Claro que não! E se eu estiver não é da sua conta! E não me chama assim! ARGH! — Disse Karina tendo uma crise de raiva.

— Calma esquentadinha, você mudou bastante, mas parece que ainda tem 16... — Disse Pedro chegando perto dela para pegar o violão. Ela sentiu o corpo inteiro tremer ao ficar a centímetros dele, e ele estava se segurando para não agarra-la ali mesmo.

— Eu não tenho tempo vadio Pedro. Vaza. — Disse Karina se afastando antes que pulasse no pescoço dele.

—E você acha que eu tenho? Só voltei pra buscar meu violão. — Disse Pedro saindo.

— É bom mesmo! Eu não te dei liberdade pra ficar meu ‘amiguinho’ não devia nem estar falando contigo. — Disse Karina e o músico deu meia volta e chegou perto dela com um ar de agressividade.

— Já que você não quer ser minha ‘amiguinha’, então eu acho que não vai se importar se eu fizer isso. — Disse Pedro beijando Karina com muito desejo, ela retribuiu sem pestanejar. Ele passou suas mãos pela cintura da lutadora trazendo-a para mais perto do seu corpo sem interromper o beijo que ambos tinham esperado tanto tempo para dar.

— O que foi isso?? — Disse Karina ofegante quando Pedro a soltou.

— Um beijo. E nem me venha com essa de “eu não queria” porque tá estampado na sua testa. — Disse Pedro com um sorrisinho safado no rosto.

— Há-há-há faz me rir Pedro Ramos. Esse beijo não significou nada. Agora que você já pegou seu violão e já fez sua “idiotice diária”, será que dá pra ir embora logo? — Disse Karina tentando acalmar o coração que batia acelerado e controlar sua respiração que estava descompassada.

— Depois de um pedido gentil desse... Boa noite esquentadinha. — Disse Pedro saindo com um sorriso que não iria embora nem tão cedo.

— Boa noite seu moleque mala. — Karina disse baixinho com um sorriso bobo no rosto. Ela terminou de guardar as luvas e foi para casa. Gael já tinha ido dormir com Dandara e João tinha feito o mesmo. O mestre tinha feito uma faxina com Bete num quarto onde ele guardava várias coisas inúteis e brinquedos de Bianca desde a época da infância e tinha ajeitado para que João não ficasse dormindo no sofá. O quarto acabou ficando com a cara dele e era melhor do que ficar no sofá, com certeza.

_*_

Pedro chegou em casa e sua irmã já tinha ido dormir, assim como seus pais, então ele foi para o seu quarto e depois de tomar banho tentou dormir, mas o beijo o deixou tão elétrico que ele não conseguiu, deitou-se na cama e ficou imaginando como agiria perto dela no dia seguinte. Ela tinha se mostrado difícil, mas pelo beijo ele sentiu que ela ainda o amava, ou pelo menos o desejava, o que já seria meio caminho andado para reconquista-la.

Ela estava tão linda... Cabelos assanhados presos num rabo de cavalo desajeitado, roupa de academia, sandálias no pé e seu mais belo acessório: Um belo par de mar nos olhos.

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Karina deitou na cama e ficou imaginando como iria falar com Pedro no dia seguinte, aquele beijo entregou demais os dois, ela teve certeza que ele não estava namorando, ou queria ter, ser a “outra” ia ser demais pra ela aguentar. Ela fechou os olhos e vencida pelo cansaço, dormiu, mas Pedro era tão ‘folgado’ que invadiu seu sonho sem pedir licença e ainda a beijou novamente. O beijo que eles deram, fora do sonho, tinha sido algo tão mágico que ela precisava de um ‘replay’.

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Notas finais do capítulo

Genteee tive um surto de inspiração e vocês não tem ideia do que eu tô planejando pros próximos capítulos *-* Eu espero que tenham gostado e eu ameei ler e responder cada comentário do capítulo anterior, espero que esse esteja merecendo os comentários de vocês e que a fic esteja agradando!
PS: Spoiler do day- A galera da ribalta NÃO vai acabar! Relaxem o coração!