Eu fiquei parada olhando para ele e pensando se tinha ouvido bem.

_ Você acha que foi a única que sofreu com o fim da nossa amizade? – ele pergunta abrindo os braços. – Eu voltei de viajem e minha mãe me disse que você tinha ido embora, sem se despedir ou se explicar! Nem uma carta você deixou. Eu passei semanas pensando no que tinha acontecido, não acreditava naquela história da sua avó doente. Eu fiquei com raiva de você, muita raiva... Porque você foi embora, você me deixou. Era minha melhor amiga.

_ Pois não parecia. – respondo forçando minha voz a não tremer por conta do frio. – Você era meu melhor amigo também. E me deixou sozinha no nosso primeiro ano de escola! Você tinha feito grandes amigos no primeiro dia, mas e eu? Sabe se eu fiz amigos? Sabe o que os mais idiotas diziam de mim por ir para outra casa senão a Grifinória? Sabe? NÃO! Porque você não ligava para mim!

_ EU SEI! Eu. Sei! – ele diz se aproximando mais de mim. – Eu sei de tudo isso Dominique! E me sinto horrível por ter sido esse canalha de amigo com você... Mas a culpa de tudo que aconteceu conosco também é sua. Você podia ter conversado comigo, contado tudo que sentia, ter aberto meus olhos. E ao invés disso você fugiu para outro país sem falar nada!

_ Eu tentei, mas você não me ouvia. Dei-lhe muitas chances e você acabava com cada uma delas. – digo sentindo minha voz ficar embargada. – Quando você viajou no Natal logo depois de prometer passar o feriado comigo foi o fim James! Eu era uma criança! Precisava da sua amizade!

_ Também era uma criança, quando Aaron me chamou para viajar eu fiquei super animado. Nem pensei... – a voz de James falhou no fim e ele olhou em direção ao lago atrás de mim. – Nem pensei que ia te magoar.

_ Esse foi o problema. Você não pensou. – digo respirando fundo. – Mas, olha James... Eu não ligo mais para isso, sinceramente. Eu só queria que você parasse de me tratar como uma criminosa, sempre jogando comentários maldosos. Porque podemos não ser mais amigos, mas somos primos.

_ Prometo tentar não te tratar tão mal, ok? – ele diz junto de um suspiro cansado. – Agora podemos entrar? Vamos acabar pegando um resfriado, você está tremendo de frio.

_ Eu estou bem. – respondo, mas meu corpo estava tremendo e me denunciando. James girou os calcanhares para ir pro castelo e eu o segui meio hesitante. Tudo que houve hoje foi tão... estranho. Meu dia começou com eu dando uma ideia para Jack, depois a confusão com Rox e Fred, o acordo entre mim e Anthony, que conheci hoje. E por fim James. Aquele momento no lago me deu esperanças e agora minha cabeça girava com tudo que ele disse. James me culpava pelo fim da nossa amizade, e por mais que soubesse que tinha culpa também, não parecia a fim de parar de me culpar. Ele era muito difícil... bipolar.

Agora ele caminhava calado ao meu lado, talvez pensando na nossa conversa ou talvez pensando em um jogo qualquer de quadribol, quem sabe... James era maluco.

Abraçei meu corpo para me esquentar e dei uma fungada. É, talvez eu fiquei resfriada. As portas do Salão Principal estavam fechadas por conta do vento, mas dava para sentir o cheiro da comida e o som das conversas. Não estava com vontade de entrar lá, e sim tomar um banho quente.

Mas como minha vida nunca está de acordo com minhas vontades, assim que James e eu chegamos no hall demos de cara com um casal que saia de uma das salinhas ali perto. A menina era loira e tinha os uniformes da Sonserina, com a blusa aberta nos primeiros botões e os cabelos bagunçados. Já o menino, também loiro, arrumava o zíper da calça e nos encarou abrindo um sorriso sarcástico.

_ Até mais querida. – Nicholas diz puxando a menina para um último beijo e então a empurrando para longe e vindo em nossa direção. – Olhem só, James e Dominique chegando a essa hora no castelo...

_ Não estou com paciência para você hoje Nicholas... – James diz com uma careta e passando para o lado da escada, mas McLaggen o segura pelo braço. Alguma parte do meu cérebro gritava “ Vá embora, não é da sua conta, vocÊ precisa de uma banho quente!”, mas é claro que eu não dei atenção para isso. A briga entre aqueles dois ainda me surpreendia às vezes.

_ Para que a pressa Jamie? – Nicholas pergunta sorrindo e me dando ânsias de vomito. – Porque não me conta como foi sua noite com a priminha querida, hm?

_ Vá se fuder McLaggen! – exclamo sem paciência e ele me responde com uma risada idiota.

_ Vai embora Dominique. – James murmura olhando de um jeito superior para Nicholas.

_ Wow! Pegou a loirinha e agora está mandando ela embora! Que feio Jamie! – Nicholas diz com falta repreensão. – Não pensei que o perfeitinho seria capaz de algo assim.

_ E mais uma vez temos uma típica demonstração de inveja senhoras e senhores! – James diz engrossando a voz para parecer um apresentador de TV. – Mas cuidado! Inveja em excesso pode causar calvície prematura e sérios casos de diarreia!

Eu não consegui segurar uma risada com a interpretação de James. Ele me mandou uma piscadela e eu acenei positivamente.

_ James Potter o piadista! – Nicholas exclama entre dentes e então se vira para mim. – Pensei que vocês estavam brigados, mas não está parecendo ser verdade...

_ Minha situação com James não é de sua conta. – respondo cruzando os braços.

_ Não, não é... – ele diz se aproximando de mim. – Mas eu ia gostar de saber porque está assim tão molhada. Devo admitir que adorei você assim... Toda essa roupa colada mexeu com a minha imaginação Nique!

_ Não me chame de Nique!

_ Não a chame de Nique! – James disse junto comigo e puxou Nicholas bruscamente para longe de mim. – E eu já estou perdendo a paciência Nicholas! Já passou anos! Supere que eu sou melhor que você e tente viver uma vida que não seja focada no seu ódio por mim!

_ Sempre egocêntrico. – Nicholas diz se soltando a ajeitando a roupa. – Minha vida não gira em torno da sua, Jamie! – eu discordava fortemente disso, mas ook... – Mas não se preocupe, tenho coisa melhor para fazer. – Nicholas me lançou um sorriso e começou a ir embora. – Ah! E dê um beijo na Kate por mim!

James revirou os olhos e passou as mãos nos cabelos molhados que ficaram todo arrepiados para cima, feito um porco espinho preto. Nós nos entreolhamos e eu dei de ombros.

_ Eu te avisei que eles eram maus amigos. – digo categórica e James solta uma risada pelo nariz. O barulho no salão estava mais alto que o normal e logo as pessoas iam começar a ir embora. Meu corpo ainda tremia de frio. – Eu... vou embora...

_ Ok. – James diz dando alguns passos em direção a escada. – E Dominique... Fique longe do Nicholas.

_ Do seu amiguinho? – pergunto para implicar. – Não se preocupe Jamie ... Eu sei me cuidar muito bem sozinha.

_ Foi só um conselho. – ele rebate. – Boa noite Dominique.

_ Boa noite? – repito surpresa. James bateu com a cabeça e eu não vi ou nossa conversa tinha realmente tido algum resultado?

_ Ficou surda agora? – James pergunta franzindo a testa e indo embora.

_ E o modo grosseiro foi ligado novamente. – resmungo dando meia volta e indo para minha Sala Comunal.

*

*

_ Me parece que se resolveram.

_ Não, você não conhece James. Ele é... estranho. – respondo andando ao lado de Jack para a biblioteca. Ele parecia cansado. Seus cabelos estavam meio atiçados e tinha olheiras embaixo dos seus olhos. Eu não estava muito melhor. Depois de tudo que aconteceu no fim de semana não consegui dormir direito. – Porque está tão cansado?

_ Fiquei pensando na sua ideia, de me tornar capitão. – Jack diz fazendo uma careta para a planta a nossa frente. – Não dormi muito bem.

_ Também não dormi direito. – comento suspirando.

_ É, mas quando eu não durmo fico terrível, parecendo um zumbi. Agora você continua parecendo uma modelo internacional. – ele diz bufando e logo em seguida vejo sua bochecha corar levemente me fazendo rir.

_ Ownt! Obrigada pelo elogio Sr. Pierce! – exclamo abraçando seus ombros com certa dificuldade, porque ele era mais alto que eu. – Minha auto-estima foi lá para cima!

_ Não me chame disso! – ele resmunga. – E cala a boca.

_ Estressadinho. – digo rindo e Jack revira os olhos. Chegamos na biblioteca já recebendo um olhar feio de Madame Pirce. Aquela velha era centenária naquela biblioteca. Não me surpreenderia se ela um dia morresse e o fantasma simplesmente se levantasse e fosse trabalhar como o Prof. Binns. Nós escolhemos uma mesa perto das janelas para nos sentarmos e fazermos o trabalho de Poções, ou pelo menos tentar fazer.

_ Mas... Jack? – o chamo enquanto ele já começa a pegar seus materiais. – Porque não gosta do seu sobrenome? – perguntei cautelosa. Algo me dizia que aquele assunto era no mínimo delicado, afinal tinha haver com nome, e consequentemente, com família.

_ Porque quer saber? – Jack pergunta franzindo a testa. Mas assim que abri a boca um furacão loiro chegou jogando milhares de pastas sobre a mesa. Alice Longbottom não parecia diferente de nós, talvez até pior. Seu rosto mostrava fadiga e seus olhos estavam cansados, mas ainda assim ela sorriu quando nos viu.

_ Boa tarde pessoal, estudando muito? – ela pergunta mexendo naquele tanto de pastas e livros. – Eu estou cheia de coisas! Pensei que o sexto ano fosse mais tranquilo sabe? Sem NOM’S ou NIEM’S... Mas é terrível! Tenho que entregar dois rolos de pergaminho sobre patronos e isso só em DCAT.

_ Eu queria dizer que com o tempo melhora. – Jack diz desanimado. – Mas é feio contar mentiras...

_ O pior nem são os deveres sabe? – Alice diz suspirando. – Eu consigo dar conta deles, mas tem todas as atividades extracurriculares! Eu que organizo as rondas de monitoria de todos os monitores, assim como os horários das reuniões e as pautas... Fui eleita para presidir o clube de xadrez e as pessoas estão querendo organizar um clube de duelos também... E ainda tem as aulas de reforço que eu dou para alguns alunos mais novos!

_ Você não acha que faz coisas demais? – pergunto meio que retoricamente. – Meu Merlin! Acho que se fizesse tudo isso iria explodir!

_ Porque não larga algumas coisas? Tipo o clube de xadrez... Ninguém liga para aquilo! – Jack exclama.

_ Claro que não! Nosso clube nunca teve tantos adeptos! – Alice rebate. – E por mais que eu esteja cansada, me sinto mal com a ideia de largar qualquer um desses. – ela respira fundo e começa a mexer nas suas pastas. – Ah não! Eu trouxe os papéis errados! Esses são os relatórios dos monitores e não as atividades de reforço. – depois de um longo suspiro Alice reúne todos os papéis e se levanta rapidamente. – Vou lá no quarto trocar tudo isso rapidinho.

Aceno para ela, mas segundos depois Alice solta um grito, seguido de um estrondo e um gemido. Não consegui ver muito bem o que houve porque seus papéis voaram para todo lado cobrindo o chão da biblioteca.

_ Que isso? – Jack pergunta tirando um papel da sua cabeça. Ao lado da nossa mesa Alice estava caída no chão encima de um menino de cabelos pretos. Alvo gemeu jogando papéis para longe da sua cara enquanto Alice ficava rubra como um pimentão e tentava se levantar. Mas quando mais ela tentava mais desastrada parecia ficar.

_ Desculpe... E-eu sou... uma desastrada..! – ela disse finalmente conseguindo se levantar. – Desculpe.. A-Alvo..! Eu não... não devia...

_ Está tudo bem, a culpa é minha por não prestar atenção enquanto andava. Na verdade eu nem te vi! – Alvo diz despreocupado arrumando a roupa. Percebi que Alice deu um sorriso triste que parecia mais uma careta. – Se machucou?

_ Não, eu estou bem. – ela responde baixinho.

_ Ok, então... – ele murmura franzindo a testa e se virando para mim. – Hey, Domi. Foi bom te achar! As meninas estão todas na sala comunal da Grifinória... Parece que minha irmã e Hugo brigaram feio.

_ E você diz isso nessa calma? – pergunto confusa.

_ Não vejo porque ficar nervoso. – ele dá de ombros. –Se Hugo fez algo horrível como trair minha irmã ou xingá-la, aí sim ele vai ter que se resolver comigo e James. Mas ninguém sabe ainda o motivo da briga então... Não vou me estressar antes da hora.

_ Bela filosofia. – comento impressionada.

_ Lily deve estar arrasada, vamos Domi! – Alice diz afobada puxando minha mão.

_ Mas e essa bagunça? – Jack pergunta apontando pro chão coberto de papéis.

_ Deixe aí! Minha melhor amiga está precisando mim, isso é mais importante do que... relatórios! – Alice exclama.

_ Você é amiga da minha irmã? – Alvo pergunta curioso e Alice segura um suspiro.

_ Sou. – ela diz brevemente e saí me puxando da biblioteca e mais rápido possível. – Francamente! Eu estive na casa dele por anos, todo Natal nós nos vemos e ainda pergunta isso! Eu sou invisível por acaso? – ela disse em um tom baixo como se estivesse discutindo consigo mesma.

_ Alvo é meio desatento às vezes. – comento fazendo ela me olhar. – Você gosta dele?

_ De quem? Alvo! Humpf! Claro que não. Porque eu ir gostar de um menino que nem sabe que eu existo? – ela responde em um tom sarcástico mas com os ombros caídos. – Um menino que nunca vai me dar atenção... Você viu! Ele precisa tropeçar em mim para me ver!

_ Talvez ele só esteja precisando de óculos. – digo andando apressada para acompanhar Alice, ela andava super rápido me deixando ofegante. – Você sabe que a família dele tem um histórico de problemas oculares.