Ouvi James bufar mais uma vez enquanto eu sorria de canto apertando o botão do controle com a maior calma do mundo. Já fazia quinze minutos que eu estou escolhendo meu carro para começar a corrida e meu primo estava impaciente, o que era minha intenção. Deixa-lo nervoso para se desconcentrar do jogo.

_ Ok, você já passou as opções cinco vezes Dominique, escolhe logo algum! – ele exclama encostado no sofá. As meninas e os meninos soltavam risos baixinhos.

_ Com pressa para perder James? – pergunto sorrindo cinicamente para ele e recebo outra bufada.

_ Não. – ele responde avançando em mim e apertando meu botão com uma rapidez absurda e acabei escolhendo um carro bom, mas não o melhor. – Estou com pressa em vencer.

_ Idiota. – resmungo me endireitando para começar o jogo. Nossos primos e amigos estavam comendo pipoca, doces e cervejas amanteigadas como se estivessem vendo um espetáculo. Meu coração acelerou com a adrenalina quando o jogo começou. Eu queria vencer ele, mostrar que sou melhor, que não sou a patricinha que ele pensa, que ainda sou a Dominique que sempre ganha no videogame.

James claramente melhorou muito, seu carro fazia as curvas perfeitas e ele sabia truques que eu nem imagina como fazer. Fazia séculos que eu não jogava nada, em Beauxbatons eu tinha que me preocupar com minhas roupas, cabelo e ajudar nas discussões entre as alunas. Mas eu ainda era habilidosa, consegui ultrapassar James na última curva e estava quase lá.

_ Vai Domi! Vai Domi! Vaaai Domi! – Lily e Rox cantavam dançando de um jeito hilário, pena que eu não podia rir e me desconcentrar, então quando acelerei em linha reta o carro de James surgiu do nada na minha frente e venceu a corrida me deixando surpresa.

_ Como você... Você trapaceou! – exclama jogando meu controle com força no sofá e me virando para James enquanto ele comemorava com Fred e Aaron.

_ Não, eu só usei uns truques... Isso não é trapacear, é ter talento. – ele responde em uma pose irritante.

_ Não se ache, esse foi só o primeiro round. – digo emburrada e vejo ele rir ao meu lado. Enquanto o jogo se inicia mais uma vez eu vejo Rose sorrir de uma forma estranha para nós, mas logo me concentro no jogo.

Sinceramente eu nem percebi como James me venceu de novo, foi tudo extremamente rápido. Aquele garoto realmente melhorou nos últimos anos, deve ter passado todo esse tempo jogando.

Na última disputa eu me concentrei ainda mais, meus dedos estavam brancos de tanto apertar os botões, meu pulso doía mais não liguei e finalmente depois de conseguir passar por um atalho quase impossível meu carro cruzou a linha de chegada segundos antes de James.

_ Isso! – grito em um pulo animado. Logo Rox e Rose pulam em mim enquanto Lily e Lucy comemoram pulando. Molly apenas sorriu de canto e sussurrou algo com Louis.

_ Nossa, que incrível, você ganhou esse round... – James diz com uma falta empolgação que era hilária. – Mas como eu ganhei as duas primeiras eu sou o vencedor.

_ Bom, ainda faltam mais dois jogos... Então não cante vitória antes da hora Sirius. – digo sorrindo e por um instante vejo ele vacilar e voltar a prestar atenção nos jogos. Percebi que chamei ele de Sirius depois de anos, mas isso não fazia diferença. Fazia?

*

*

*

Já estava bem tarde da madrugada quando o último e decisivo duelo começou. Eu consegui vencer James no segundo jogo, o que resultou em um Potter boquiaberto e em minhas primas histéricas. Felizmente, James não era mal perdedor e aceitou numa boa continuar a disputa. O último jogo era da luta, coisa que eu não gostava e achava muito violento. James ganhou a primeira disputa, e eu a segunda e que resultou em um final decisivo.

Meus dedos nesse momento já estavam doloridos. Tentei descarregar toda raiva que já senti de James no jogo a fim de vencê-lo. As barras que mostravam o tempo de vida dos nossos personagens vacilavam muito parecidas, em um equilíbrio.

_ Vamos James, aceite que eu vou ganhar essa! – digo provocativa enquanto nos dois carregamos o poder máximo dos lutadores. O próximo golpe no jogo seria o fatal.

_ Não contaria com isso Nique. – James diz rindo.

Em poucos segundos me golpe estava pronto, repeti a sequencia de botões que eu aprendi a pouco tempo e mandei tudo em cima do seu avatar. O letreiro de vencedora brilhou na tela me fazendo abrir um enorme sorriso enquanto James ficava estático e boquiaberto.

Eu ganhei.

_ Isso! A gente que ganhou-ou, a gente que ganhou-ou... – as meninas começam um coro enquanto Rox me abraça. Os meninos parecem ter sido obrigados a engolirem espinhos, e estão surpresos, bastante surpresos.

_ Ok, ganharam, agora chega. – Alvo diz obrigando a irmã a se sentar no sofá.

_ Bom, agora que enfim ganhamos. – digo sorrindo para James que me responde com uma careta. – Vamos assistir ao filme.

_ Tem que ser de terror? – Lucy indaga com uma voz manhosa.

_ Sim, mas não se preocupe Lucy... Se você se assustar é só se agarrar ao Louis, acho que ele não vai se importar. – respondo procurando o filme e sinto uma almofada ser jogada na minha cabeça. – Ai!

_ Cala a boca Dominique. – meu irmão diz nervosinho. Eu o ignoro e coloco o filme para começar, alguém apaga as luzes e quando me viro todos estão sentados sobrando apenas um lugar entre Fred e James.

_ Senta logo Domi, o filme vai começar! – Lily diz me puxando e eu me sento contrariada.

_ O motivo de eu ter ganhado não era que os meninos iriam embora? – pergunto baixinho.

_ É mas ninguém quer ir, então fica quieta. – James diz revirando os olhos e eu me rendo assistindo o filme. É um filme de terror e suspense, com fantasmas de crianças que atacam as pessoas a noite.

_ Não vai no porão, nada de bom acontece no porão, então porque ir lá? – Hugo diz enquanto a personagem do filme vai de encontro a morte. Uma música sinistra começa a tocar e meu coração acelera em expectativa.

_ Ela vai morrer.... – Rose geme sentada no tapete. – A menina tá ali atrás, olha! Não, não, não...

_ Shiiu! – Molly diz tampando a boca de Rose. A música do filme se acelera, a mulher começa a se virar lentamente e....

_ Meninos! – alguém exclama atras de nós e todos gritamos assustados, nos agarrando uns aos outros. Meu coração parecia ter parado por um segundo e voltado a bater com força em seguida. – O que estão fazendo?

Abro os olhos focalizando em Tia Gina que nos olhava com um sorriso travesso na porta da sala.

_ Mãe, pelo amor de Merlin! – Alvo diz se jogando no chão ofegante. – Faz isso não!

_ Eu acho que tive um mini ataque cardíaco.- Rose diz segurando o peito. – E nem sei se é possível!

_ Mas não é esse o intuito de assistir filmes assim? Susto? – Tia Gina pergunta revirando os olhos. – Só abaixem um pouco o volume, eu quero dormir. – ela vai embora mandando um beijo para todos e um suspiro coletivo acontece.

Lily decide voltar o filme e só então percebo como eu estou, e sinto minhas bochechas corarem. Minhas pernas estão dobradas em cima das de James e eu estou praticamente abraçada a ele. Sua mão segurava forte minha cintura e quando nos entreolhamos percebi que ele estava tão confuso quando eu.

_ Me solta idiota. – digo me sentando de novo ao seu lado.

_ Você que me agarrou garota. – ele ralha alisando a blusa amarrotada por mim. – Acredite, eu não tenho a menor vontade de te abraçar.

_ Ótimo. – resmungo cruzando os braços.

_ Ótimo. – ele repete bufando.

_ Tá.

_ Tá.

_ Pare de me imitar! – exclamo irritada e ele revira os olhos.

_ Eu não estou te imitando porra! – James exclama de volta.

_ Dá para parar com a briguinha vocês dois? Eu quero ver a moça morrer logo. – Aaron diz em um tom divertido que me faz encará-lo. Ele me encara de volta e dá uma piscadela antes de voltar a ver o filme.

*

*

Acordei sentindo uma enorme dor nas costas, soltei um gemido e me espreguicei esbarrando em alguma pessoa ao meu lado. Abri os olhos e dei de cara com Fred, que babava em uma das almofadas. Me levantei confusa e percebi que todos tinham dormido na sala, todos tortos. Olhei pela janela e vi que ainda estava escuro, mas provavelmente amanheceria logo. Levantei com cuidado para não pisar em ninguém e fui para a cozinha beber água e procurar algo para comer. A luz da cozinha estava acessa e quando entrei eu o vi bebendo leite e encostado na pia.

_ É claro... – resmungo baixinho passando por ele em silencio e pegando a água. Sinto o olhar de James queimar em mim enquanto viro o copo. Eu o encaro de volta esperando envergonha-lo mas James continua me encarando fixamente. – O que foi?

_ Nada. – ele diz desviando o olhar e terminando o leite. – Porque acordou tão cedo?

_ Posso perguntar o mesmo. – digo cruzando os braços. – Mas acho que é porque minhas costas pediram socorro.

_ Entendo. – James rebate com a voz arrastada e só então percebo que ele está com um “bigodinho” de leite. – Tá rindo porque?

_ To rindo de você. – respondo apontando para seu rosto e ele se limpa meio confuso. Depois disso ficamos em silencio, eu encarando o chão da cozinha e ele o copo vazio de leite. E como sempre, quando eu fico assim, pensamentos começaram a se formular na minha mente. A lembrança de eu chamando ele de Sirius e ele me chamando de Nique mais cedo. Pode ser o sono ou a dor nas costas, mas de repente senti que podíamos voltar a ser amigos. – James...

_ É melhor você ir dormir. – ele me corta. – As patricinhas metidas como você sempre tem seu sono da beleza não é?

_ Porque você sempre faz isso? – indago nervosa e ele arqueia as sobrancelhas confuso. – Você é sempre grosso comigo, sem nenhuma razão! Eu já entendi que você não gostou deu ter ido para a França anos atrás, mas você também não foi um bom amigo naquela época, então pare de ser um estúpido comigo toda hora! Eu não sou uma patricinha metida, tanto é que te ganhei no videogame... Então... pare com isso!

_ Não. – ele diz sem demonstrar qualquer reação. – Porque se eu não for grosseiro eu vou acabar sendo legal com você. – James suspira e me encara por um instante. – E se eu for legal com você é possível que eu volte a ser seu amigo...

_ E o que há de errado nisso? – pergunto com um fio de esperança.

_ O caso é que eu não quero mais ser seu amigo. – James afirma com a voz fria. – Não quero... nunca mais!

_ Ótimo! – digo me xingando pela minha voz sair tremida. – Porque eu também não quero mais ser amiga desse estúpido que você se tornou.

_ Ótimo. – James diz colocando o copo na pia e indo embora, me deixando sozinha me perguntando se aquela conversa realmente aconteceu.