República escrita por Larissa Gomes


Capítulo 23
Mentiras necessárias.


Notas iniciais do capítulo

Minhas lindas, nem tenho muito que dizer... enfim.
Aqui está...
Boa leitura!!



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Quando Ferdinando chegou à sala, apenas Cadu continuava a assistir, sozinho.

– Ora essa, mas cadê todo mundo?! – Ele pensou em voz alta. Obviamente não tinha a intenção de perguntar nada ao intrometido que o respondeu.

– A Juliana e o Zelão foram juntos conversando pra cozinha e eu tinha ficado aqui sozinho com a Gina, quando... – Ele não perderia a chance de provocar.

– Quando o que seu infeliz?! – Ferdinando disse já avançando na direção do rapaz. Não estava com paciência para ele.

– Quando ela ficou meio chateada por alguma coisa que eu falei, e resolveu ir pro quarto... Na verdade eu não sei com o que ela se chateou... Eu só respondi algo que ela mesma perguntou, oras. – O tom da voz de Cadu era de completo cinismo.

– Mas o que foi que ela havia te perguntado?! – Ferdinando não se aguentava de curiosidade. Também, queria saber logo, não aguentava conversar muito tempo com aquele ‘maldito’.

– Nada demais... Ela só perguntou por que seu apelido era ‘rei’ na sua época de faculdade... - Ele sorriu maliciosamente para Ferdinando. – E eu expliquei, oras...

Ferdinando não conseguiu nem formular uma resposta para Cadu, apenas saiu em disparada escada à cima. Ele precisava ver Gina, saber o que aquele um havia contado a ela, e explicar o necessário.

– Gina... – Ele bateu na porta sem transparecer estar nervoso.
Ela não demorou a abrir, com os olhos vermelhos, provavelmente tinha chorado, mas agora demonstrava apenas uma expressão fria. Seca.

– Oi Nando... – Ela abaixou o olhar ao perceber que ele havia notado o choro recém terminado. – Você me diz o que quer logo, por favor, que eu quero dormir.

– Como assim, Gina?! Você ia dormir sem nem falar comigo?! – Ele apoiou a mão no batente da porta tombando seu corpo mais a frente, próximo ao dela.

– Nando, eu não to muito a fim de conversar, você me desculpa. – Ela disse permanecendo com a cabeça baixa, começando a fechar a porta.

– Gina... – Ele segurou a porta com a mão. – Menininha, eu sei que aquele um andou te contando algumas coisas sobre o meu passado, mas eu te prometo que aquele Ferdinando ficou pra trás...

– Ferdinando, eu já te pedi pra não falar do Cadu assim, e eu não tenho o direito de pensar nada sobre o seu passado. Mas sei lá. Ninguém pode mudar tanto em pouco tempo... – Ela disse sincera, tendo coragem de encarar os olhos azuis.

– Mas menininha, eu lhe prometo que mudei... – Ele pegou nas mãos dela. Aquelas tão suas. – Gina, eu mudei porque te a...- Ele suspirou.- Porque a... porque a...paixonado, eu to por você.

Ele não conseguia dizer. “Droga”.

– Tá certo Nando... – Ela suspirou. – Eu acredito em você... – Não foi nada convincente, sua voz demonstrava a tristeza em seu peito.

– Gina, me deixa entrar, por favor. Quero conversar sério com você. – Ele começou a avançar para dentro do quarto, quando ela o barrou com o corpo.

– Eu acho melhor não, Nando. Quero mesmo dormir agora. – Ela foi direta. Realmente seca, apesar do apelido.

“É melhor amanhã.” Nando pensou, enquanto voltava os dois passos avançados.

–Tá certo menininha... Mas por favor, não perca a confiança que você disse que tinha em mim. – Ele viu os olhos dela marearem. Sentiu que o pedido, de certa forma, era em vão.

– Tá certo Nando. – Gina lhe deu um selinho extremamente casto. – Boa noite.

Ela fechou a porta. Não esperou ele responder.

Mas mesmo com a porta fechada, ele fez questão de dizer, assim como todas as noites.

– Boa noite menininha... – Foi apenas um sussurro de dor.

[...]

Gina, em sua cama, não sabia o que pensar sobre Ferdinando. Perdida nas palavras de Cadu.

Ferdinando, em sua cama, não sabia o que pensar sobre Gina. Perdido nas palavras de Cadu.

– Ele precisa saber que eu não vou ser só mais um brinquedo! – Ela pensava alto, com lágrimas.

–Ela deve estar pensando que é só um brinquedo pra mim. – Ele pensava alto, com lágrimas.

Gina, pelo choro incessante, logo pegou no sono.

Ferdinando, não.
Passou boa parte da noite perdido, entre choros e risos. Ele chorava pela tristeza que sentia em ver Gina perder a confiança nele. Pelo ‘boa noite’ nada carinhoso que havia recebido, pela frieza com que ela o tratava. Mas chorava de raiva também. Raiva daquele que, aparentemente, havia entrado na vida deles apenas para destruir o que estavam construindo. Para fazer mal. Mas não conseguia deixar de sorrir entre lágrimas quando se lembrava do quanto era bom estar com ela, da boca doce que ela tinha, das carícias que lhe fazia, do jeito difícil, mas deliciosamente instigante da ruiva. Ele a amava. Admirava nela agora, coisas que outros achariam serem defeitos. E isto era, sem dúvidas, amor. O mais verdadeiro possível.

– Ela precisa saber! – Ele sentou-se na cama com um pulo. Por um momento pensou em ir, naquele mesmo momento, no quarto da ruiva.
Mas pensou, e achou melhor conversarem pela manhã. Talvez a mágoa dela, até lá, estivesse mais branda.

Sendo assim, mesmo com dificuldades, Nando se rendeu ao sono.

[...]

Pela manhã, Nando acordou com o rosto um pouco inchado, nada que o deixasse menos animado. Tinha uma importantíssima missão à frente: Declarar seu amor por Gina, pedi-la em namoro.

Ficou feliz ao perceber que ela ainda não havia acordado e saiu rapidamente para a floricultura, queria lhe acordar com uma singela rosa.
Ele sabia que Gina era assim, ao fundo romântica, mas não gostava de exageros, um buquê não faria muito seu tipo.

Foi até a floricultura e voltou. No caminho, havia passado por uma mercearia na qual comprou uma também singela caixa de bombons.
Iria fazer. Estava pronto e seguro para isto.

Quando entrou na república, estranhou de imediato ver Juliana e Zelão colocando a mesa do café na cozinha (extremamente enamorados, por sinal), e risos da ruiva soando escada a cima.

“Só pode ser aquele um!” Nando respirou fundo. Não iria brigar. Não queria brigar.

Ao subir os primeiros degraus, percebeu alguns acordes de violão sendo tocados, o som vinha de dentro do quarto dela. O mesmo estava com a porta aberta.

“Dentre tudo, menos mal a porta estar aberta” Ele pensou consigo mesmo, recuperando a coragem, pois já previa que Cadu estaria lá dentro.

Ele mantinha ainda assim, a calma. Não podia brigar, e demonstrar insegurança. Não agora, que estava prestes a resolver boa parte das coisas, e ter Gina definitivamente comprometida com ele.

– Gina? – Ele disse se posicionando em frente à porta, cavalheiramente, com as mãos para trás. – Posso entrar?!

Ver Gina sorrindo, sentada em sua cama ao assistir Cadu tocar algumas notas, fazia o coração de Ferdinando doer. Mas ele não seria traído pelos próprios sentimentos. Não hoje.

Gina se levantou, sorrindo sinceramente para Ferdinando na porta, ela estava mais tranquila, mas não totalmente.

Cadu olhou com um sorriso de canto para Ferdinando. Sabia que ele, apesar de não admitir, tinha se doído pela cena. Ele não demorou a provocá-lo.

– Bom dia Nando! – O loiro disse colocando-se de pé. – Tava aqui cantando um pouco com a Gina, ela tem um voz linda.

Gina sorriu sem jeito.

O coração de Ferdinando gelou com a atitude. Ela já havia ficado assim com ele uma vez, quando aprovava seus galanteios.

Apesar de não ser o mesmo caso na mente de Gina, para Ferdinando era, e pensamentos não muito agradáveis já começavam a rondar distante em sua mente.

– É mentira dele Nando, eu não canto nada! – Ela deu um tapa no braço de Cadu.

“Por que diabos ela tinha relar nele?!” Ferdinando pensava ao observar enojado a tal cena, fazendo cara de paisagem.

– Gina, se você me permitir, eu queria muito falar com você, a sós... – Ele disse suavemente, porém, começando a transparecer sua aversão ao colega presente.

– Não pode ser depois Nando?! Nós estamos terminando de escolher algumas músicas pro Cadu tocar hoje à tarde... – Ela sugeriu olhando para o notebook aberto em cima da cama.

“NÓS?!” Aquilo foi demais para Nando.

– Não Gina, você me desculpe, mas precisa ser agora! – Ele mudou bruscamente o tom, não por opção, por simples instinto.

Gina o observou novamente começar a perder o controle. Ela o encarou novamente, decepcionada, e pediu para que Cadu se retirasse. Quando o mesmo bateu a porta, não vacilou e já começou a recriminar as atitudes de Ferdinando.

– Eu não acredito que você quase fez de novo Ferdinando! – Ela disse se virando de costas com uma mão na cintura e outra na testa. Estava nervosa.

– Gina, me desculpe, mas eu não podia esperar pra te dizer o que quero... – Ele disse suave, tentando se aproximar.

– Não tem desculpa Nando! Poxa! Depois de toda nossa conversa de ontem... Mais que isso, depois de tudo que eu fiquei sabendo sobre você ontem, e resolvi fingir que nem tinha me magoado, você nem pensa antes de me magoar... De novo! – Ela se virou novamente para ele, com aquele olhar de decepção que o destruía por dentro.

– Gina eu já disse, eu não podia esperar! – Ela disse já com a voz alta, se aproximando ainda mais dela, com as mãos ainda nas costas.

– E não podia esperar pra dizer o que, hem Ferdinando?! – Ela também já gritava em sua face. – O que você tem de tão importante pra me dizer, doutor?! – Ela estava sendo grossa. Demais.

– Eu vim aqui dizer que TE MO Gina! – Ele gritou com os olhos marejados.

Ela se afastou e permaneceu parada. Estática.

– Será que você nunca vai conseguir me ouvir sem brigar Gina?... – Ele suspirou e levou a mão que segurava a rosa a frente. – Eu lhe amo, menininha. –Ele repetiu suave.

Gina engoliu seco. Não conseguia formar um pensamento. Apenas se lembrava repetidamente de uma fala de sua amiga Juliana, na conversa que haviam tido a alguns dias sobre o tal ‘ficar’:

{...}

– Ora, você gosta dele e ele, pelo que você me disse, está apaixonado por você. Não disse que lhe ama. Então, se vocês se permitirem sei lá... “ficar” alguns dias, poderiam descobrir se vale a pena tentar algo mais sério ou não. Ninguém vai sair ferido, já que nenhum dos dois está de fato amando.

{...}

Tais palavras ressoavam na cabeça de Gina. Aquilo não estava sendo justo. Como assim AMANDO?! Ela não queria magoar Ferdinando, como a amiga lhe havia alertado. Então, tomou a decisão que para ela, era a mais correta no momento.

– Nando, eu acho que agente tem que parar. – Ela pontuou ainda meio perdida nas palavras.

Ferdinando não entendeu. Na verdade, não quis entender.

– Como assim Gina?! – Ela abaixou levemente a rosa que tinha na mão, seu corpo estava mole. Ele começou a se sentir mal.

– Parar, Ferdinando, parar. – Ela já tinha a voz embargada pelo choro. – Eu não quero mais ficar com você... Eu não quero...!

– Mas Gina, como assim... Se for pelo que você soube ontem, minha cara foi tudo coisa de faculdade, eu juro que já passou... – Ele tentou conversar com ela, já com as lágrimas lhe escorrendo livremente.

Era em vão.

– Não Ferdinando, não é nada disso... – Ela respirou pesado, teria que mentir para fazê-lo parar. – Eu não to gostando de você do jeito que e pensava Ferdinando. Eu descobri que não gosto de você! – Ela foi dura. Precisava ser convincente.

Ferdinando morreu. Ele podia jurar que sentiu seu coração parar junto com sua respiração.

– Gina... - Ele ainda tentou entre lágrimas e respirações forçadas. – Mas ontem...

– Ontem foi ontem. Hoje eu descobri que não gosto de você. – Ela enxugava grosseiramente as lágrimas de seu rosto. Fazendo tudo parecer ainda mais real.

Ferdinando não sabia o que pensar, estava aos pedaços ali. Não mais.
Balançou a cabeça, admitindo entender. E se virou em direção à porta. Depositou, antes de sair a caixa de bombons até então escondida em cima da escrivaninha, juntamente com a rosa. E fechou a porta, sem olhar pra trás. Não tinha forças.

Gina estava igual. Assim que Ferdinando fechou a porta se afogou em sua cama e chorou. Chorou com uma vontade e dor que ela desconhecia.

Algumas portas adiante, um certo engenheiro fazia o mesmo, desolado em seu quarto.


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Notas finais do capítulo

Começamos a fase triste... Mas necessária para algumas descobertas.
Beeeijos menininhas! s2