Karina não podia acreditar de jeito nenhum no que viu. Ela afundava o rosto no travesseiro e gritava enquanto chorava. Ao ouvir o barulho da porta de casa sendo aberta, calou-se, cobriu-se com um cobertor e fingiu estar dormindo. A porta de seu quarto abriu-se e Bianca entrava, tentando ao máximo não fazer barulho. Karina estava morrendo de raiva, mas preferiu não discutir isso com ela naquele dia. Preferia pensar em um jeito de dar a volta por cima. K esperava a irmã ir ao banheiro pra poder se livrar das roupas molhadas, mas Bianca estava ocupada atendendo um telefonema no celular

– O que você quer, Duca? A gente acabou de se ver... Ai, seu fofo. Também tô morrendo de vontade de te ver amanhã... Du, a gente já conversou sobre isso. Hoje não. A K tá aqui em casa. Outro dia a gente pode tentar. Agora vou tomar um banho, ok? Boa noite, beijos.

Bianca dirigiu-se ao banheiro enquanto Karina tentava apagar o que tinha ouvido a pouco tempo. Como assim? Duca queria vir enquanto todos estavam fora? Será que eles iam...? A "Esquentadinha" preferiu não pensar nisso. Tirou as roupas molhadas e deixou-as jogadas ao lado da cama. Preferiu dormir de calcinha e sutiã. Não tinha disposição nem para sair da cama. Adormeceu ao som dos próprios soluços.

Karina acordou no dia seguinte bem tarde. Olhou para o próprio corpo e percebeu que estava apenas com as roupas íntimas, se dando conta de que não havia sido apenas um terrível pesadelo. Não pretendia ir à academia do pai. Estava até mesmo considerando não ir a escola. Colocou uma roupa qualquer que achou e saiu. Bete ainda não havia chegado, o pai trabalhava na academia e Bianca provavelmente estava na academia. Ela pegou uma maçã pra comer e, enquanto "assistia" TV, relembrava a noite anterior. Derramou muitas lágrimas, não querendo crer na traição que sofreu pela irmã, mas já tinha perdido grande parte da mágoa, tendo o sentimento substituído por ódio. Ela estava odiando Duca e Bianca com todas as forças dela. Como ele não percebeu que ela sempre foi apaixonada por ele? Como Bia pode ter feito isso com ela? Eles deveriam saber e rir das costas dela. Caçoar dos sentimentos da menina.

Karina ouviu um encaixe de chave na porta. Sabia que era Bete. Antes da porta abrir, a garota correu ao banheiro pra secar os olhos e fingir que não chorava. Após se arrumar, fingiu que não sabia que a empregada havia entrado na casa.

– Oi, Bete, tudo bem? Nem sabia que você tinha chegado

– Oi, Karina. Não se arrumou não, menina? Tá quase na hora da escola. Toma um banho aí enquanto eu faço um almoço pra você. Não foi a academia hoje não?

– É, eu me atrasei. Bete, não precisa fazer almoço não. Eu como um lanche lá na escola, beleza?

– Vai ficar comendo essas besterias na rua? Não vai mesmo. Toma logo esse banho pra você almoçar com a gente.

– Bete, eu realmente não tô afim. Acordei agora.

–Tá, tá, mas toma logo esse banho. A aula você não falta.

Isso era o que Bete pensava. Karina não iria à escola, mas ao mesmo tempo não podia nem queria ficar em casa. Teria que dar explicações e não queria olhar na cara de Bianca. Dirigiu-se ao banheiro, despiu-se, tomou seu banho, arrumou-se pra escola e saiu, mas logo desviou do caminho da escola. Ela não tinha tomado um café da manhã decente e nem almoçado. Morria de fome. O local mais próximo era o Perfeitão.

– Pelo menos aquele mala deve ter ido a escola e eu não preciso aturar ele- disse pra si mesma.

Karina entrou no Perfeitão, sentou-se, leu o cardápio e quando levantou os olhos encontrou Pedro a observando com aquele sorriso tosco de canto de boca dele e fez a pergunta:

–Não cansa de mim, né não, Esquentadinha?