Dark Red escrita por miojo


Capítulo 1
Amor e morte


Notas iniciais do capítulo

Insinuação de sexo.



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Ardência

 

(Samarah)

 

Tudo estava escuro. Meu corpo tremia em reflexo do fogo que queimava cada centímetro do meu corpo. Estava absurdamente fora de controle, era impossível suportar essa dor por mais um segundo se quer. E já estavam se passando minutos, ou horas eu não sei ao certo. Minha mente esta tomada por algo surreal, por algo impossível. O vazio.

 

Meus lábios estão apertados, tentando prender o fogo em meu peito. Eu não sei o que esta acontecendo, eu não sei o por que eu estou em chamas e ninguém me ajuda. Meu corpo entrando em colapsos, agitando. Meus braços desgrudaram do meu lado e minhas mãos apertaram o que pareciam lençóis. Afundando meus dedos, suprimindo o fogo que crescia cada vez mais, cada vez queimava ainda com mais ardência o meu peito. Meu coração estava agindo como um vulcão, distribuindo lava pelas minhas artérias.

 

As batidas eram fortes e pulsantes, espalhando ainda mais o fogo. Tudo parecia estar chegando ao fim, porque meu frágil corpo não estava mais agüentado, estava se entregando. Mas ao em vez da dor sumir e a escuridão se fazer de vez, a dor aumentou. E meus lábios se abriram, dando passagem a um grito forte, mas que eu não pude ouvir, estava surda.

 

Sentia minha garganta se contorcer, deixando gritos e mais gritos escaparem. Meu corpo inteiro era apenas um colapso, se remexendo. Minha cabeça queimava, me impedindo de lembrar quem eu sou, o que eu estou fazendo aqui, o que esta acontecendo.

 

Eu era apenas o resto da dor, a conseqüência da ardência em meu corpo. Eu lutava para conseguir apagar esse fogo, era impossível. Os gritos não estavam tornando a dor mais suportavam, pelo contrario estava tornando ainda mais dolorosa. Mas eu já não tinha mais controle sobre meus lábios. Eles se negavam a se fechar. E então mais chamas escapavam pela minha garganta, criando vida própria e se propagando pelo ar.

 

Eu gemia, gritava, oscilava, e nada acontecia, a dor so se ampliava. Me tornando cada vez mais frágil, e mais vulnerável. Eu já não tentava mais impedir a queimação. Eu deseja a morte, que esse fogo acabace de vez comigo, que sugasse minha vida. Eu implorava pela escuridão, implorava para ser privada desse sofrimento, mas ninguém me ouvia.

 

Meu corpo já estava sendo massacrado pelo desejo da morte. Eu lutava para conseguir desprender minha mente desse corpo tomado pela dor, mas não conseguia. Era em vão todos os meus esforços, então eu sentia lagrimas de fogo escorrerem pela minha face. E eu continuava a berrar, e a me debater.

 

Eu estava sendo atendida, minhas preces estavam funcionando, porque meus pés começaram a queimar de uma forma humana, uma forma quase que suportável. Eu ainda gritava, mais agora era de dor real, a queimação começou a caminhar pelo meu corpo.

 

Eu sentia o fogo deixar minhas artérias, começando pelos pés e subindo, depois minhas pernas, meus braços. Mas o alivio em meus membros era quase insignificante  comparado a dor se ampliava em meu peito. Todo o fogo que antes era distribuído pelo meu corpo estava concentrado em meu peito. As batidas do meu coração estavam altas, ensurdecedoras.

 

Eu que pensei que não havia como a dor piorar, pirou. Meu peito estava sendo dilacerado, massacrado, queimado, esfaqueado, espremido, triturado, e eu so conseguia gritar. tudo parecia estar ainda mais forte. Meu corpo já não queimava, exceto pelo coração. Que era uma brasa que parecia crescer a cada segundo.

 

Eu já não conseguai pensar, era tudo fogo, tudo dor. Meu corpo estava relutando para amenizar essa aflição, mais não conseguia. Tudo ficou tingido de vermelho, onde antes era escuridão. E meu coração acelerou ainda mais. Meu corpo arqueou, tirando as costas do colchão. Minhas mãos alcançaram as laterais apertando ainda com mais força.

 

Um ultimo grito escapou pela minha garganta. todo o fogo que antes se encontrava no meu peito foi apagado de uma só vez com a ultima batida do meu coração. Toda a ardência foi transferida para a minha garganta, que agora estava em chamas. Meu corpo tocou o colchão, no momento em que meus olhos se abriram e eu inspirei com ansiedade, tentando apagar as chamas da minha garganta.

 

 

 

 

 

Novo mundo

 

(Samarah)

 

No primeiro momento em que meus olhos abriram, eu avistei um homem, pálido, com os cabelos cumpridos e negros, e olhos terrivelmente vermelhos. Eu pisquei e quando encarei o mesmo homem, pude ver cada poro de sua pela, cada milímetro de seu rosto. Cada ponto de sua ires vermelho sangue. Conseguia distinguir cada fio de cabelo, entre a cortina negra que deslizava sobre seus ombros.

 

Ele sorriu devagar, e eu me sentei, forçando meu corpo a me obedecer, esperava que meu corpo estivesse dolorido, queimado, mas não estava. Estava em perfeito estado. Minhas mãos vagaram com velocidade ate a minha garganta, que queimava ainda mais profundamente.

 

Alisava a minha garganta com ânsia, de saciar essa sede crescente. Meu organismo gritava por agua. E enquanto eu tentava fixar meus olhos em uma determinada imagem, o homem diante de mim sorria. Ele se aproximou, e eu me afastei. Não sabia se ele era meu anjo que me tirou das chamas, ou então o demônio que me afundou nelas.

 

“Deve estar sedenta.” Sua voz era doce e calma.

 

Balancei a cabeça, dizendo que sim. e então ele se sentou aos meus pés. Trajava roupas antigas, com cortes distintos. Tudo em tons de marrom. Sua pele era translúcida, pálida. E seus olhos de um vermelho intenso.

 

“Já iremos saciar essa sede.” Ele sorriu. “Mas primeiro, quero que tente lembrar de algo. De como tudo começou.”

 

E como se uma luz tivesse sido acesa, uma lembrança me atacou. Sem foco e confusa. Mas compreendia cada sentimento nela retratado.

 

Eu estava caminhando pelas ruas escuras da madrugada de Atessa, estava com pressa. Meus passos eram largos e rápidos, me sentia como se estivesse sendo seguida. O vento frio castigava meus cabelos, que eram jogados contra o casaco. Esfregava minhas mãos por dentro dos bolsos do casaco, tentando mande-las quente. O que parecia impossível.

 

Meus pés estavam encharcados com a água das poças. Entrei em um dos becos que levava ate meu apartamento. Ele era escuro e estava vazio, um arrepio me tomou. E eu apertei o passo. O som do salto da minha bota no chão de pedra era o único som na noite.

 

Havia alguns sacos de lixo encostados na parede,  um gato pulou sobre eles. Me fazendo gritar e parar. Vendo que não se passava se um gato assustado voltei a caminhar com ainda mais pressa. Me culpando por ter aceitado esse emprego de garçonete no outro lado da cidade.

 

Senti um vento ainda mais forte cortar minhas costas e então me virei bruscamente, e so encontrei o vazio. Respirei fundo e puxei ainda mais o casaco. Quando me virei, dei de cara com um homem ruivo, os cabelos chegavam na cintura. e ele estava so de bermudas, os olhos vermelhos como sangue, em contraste com a pele pálida. Essas características se juntavam formando um rosto prefeito, olhos grandes, nariz bem definido e queixo largo.

 

Ele estava a poucos centímetros de mim, e eu senti o medo me dominar. E então ele se aproximou ainda mais, cheirando meu pescoço. Eu estremeci. O medo fez com que as minhas pernas se movessem sem a minha autorizarão, e quando percebi já estava me desviando do homem e correndo.

 

Meu coração acelerado, minhas mãos tremendo. Eu estava em um beco vazio, cercada por um homem semi nu. Eu já conhecia meu  destino, leio nos jornais todos os dias, historias de mulheres ou garotas que são violentadas. Eu sabia que não conseguiria correr, e gritar não iria adiantar, mas a adrenalina em minhas veias me mandou tentar.

 

Senti sua mão se entranhar em meus cabelos antes do meu segundo passo, e então ele me puxou. Meu corpo inteiro pesando para trás, minhas pernas dobraram, e eu senti meu quadril tocar o chão, para logo em seguida minha cabeça bater com força nas pedras que calçavam a cidade.

 

Meu corpo estendido no chão úmido, minha cabeça doendo. Eu mal conseguia abrir os olhos, uma luta não existiria. Fechei os olhos e esperei para o meu agressor abusar de mim.

 

Novamente ele prende meus cabelos entre sues dedos, e me ergue do chão, a dor era intensa em meu couro cabeludo. Devido a pancada e ao peso do meu corpo. Senti suas mãos percorrerem meus pescoço, e então as lagrimas começaram a descer.

 

fechei meus olhos esperando o pior, esperando para aquele homem me invadi. Mas ao em vez de me possuir, ele avançou em meu pescoço, seus dentes rompendo minha pele, sua lingua invadindo meu interior. Eu tentei gritar, mas ele apertava meu pescoço, me impedindo. Ele abocanhava meu pescoço, e eu sentia meu sangue ser sugado de mim.

 

me debatia, em vão ele não parava. Comecei a parar de sentir minhas pernas, depois meus braços. Ambos eram simples enfeites jogados ao lado do meu corpo imóvel. Enquanto o homem me drenava. Eu sentia cada gota de vida que existia em mim ser extraída. E eu não conseguia mais impedir.

 

Um movimento bruto e senti minha cabeça tocar o chão com força. meus olhos se abriram fracamente, e eu avistei o homem ruivo nos braços de outro homem. E havia mais dois homens diante deles.  E então a escuridão se fez.

 

Quando a lembrança turva chegou ao fim, o homem diante de mim, tinha uma de suas mãos sobre uma das minhas. Eu a puxei. Reconheci os olhos e a pele. Ele também era um deles. Me afastei novamente, quase descendo da cama. Mas o homem ainda me encarava sorrindo.

 

“Não temas, eu não vou te machucar.” Ele disse calmo.

 

Eu já tinha ouvido lendas, eu já tinha visto filmes. Eu tinha certeza do que eles eram. Vampiros. E isso me fez gelar. Nunca imaginei que eles fossem reais, nunca imaginei encontrar com um, ser vitima de um. O medo me consumia.

 

Eu senti falta dos batimentos acelerados em meu peito. Senti falta das lagrimas em meus olhos. Me apertei em uma bola sobre a cama. Esperando o pior. Ele tinha me tirado das ruas, mas o que ele tinha feito comigo? Me queimado? Eu não sabia. Não sabia qual seria o meu destino, não sabia o que seria feito de mim.

 

“Samarah Villani, não é?” ele me perguntou se levantando.

 

Eu reconheci o nome, era o meu. E junto com ele veio mais lembranças, lembranças tristes.

 

Eu tinha seis anos e estava de frente a um caixão, chorando. Dentro do caixão havia um homem alto e magro. Meu pai.

 

Estava diante de um corpo pálido, e eu tentava trazer essa mulher de volta a vida, com beijos e pedidos. Eu tinha dose anos. e presenciei a morte de minha mãe.

 

Estava observando o por do sol pela janela do orfanato, e repeti esse ato por seis anos. ate ter idade para sair de lá. Me mudei para Atessa, a procura de um emprego.

 

“Calma criança, esta tudo bem. Eu não vou te fazer sofrer.”  Eu ouvia a voz doce dele, era uma tranquilidade esta ali diante dele. Mesmo sabendo o que ele era. A morte não é uma coisa estranha para mim, estou acostumada com ela, sempre levando quem eu amo. Agora era a minha vez.

 

Minha garganta ainda queimava, era como estar engolindo brasas, era como cuspir fogo. Escutei ao longe passos, uns eram leves, os outros dois eram mais pesados. A pessoa que estivesse vindo na frente era pequena, já os outros dois eram grandes e carregavam algo pesado.

 

Um cheiro doce me invadiu, seguido por um cheiro completamente fascinante. Pulei da cama, sentindo minha garganta queimar ainda mais. Não sabia que cheiro erra aquele, mais fez todas as celulas do meu corpo responder. Eu estava arqueada para a frente, minha garganta parecia estar sendo rasgada a cada vez que o cheiro se aproximava ainda mais.

 

O homem a minha frente, sorria. Se afastando aos poucos, ate que aporta se abriu. E uma garota de cabelos dourados entrou. Ela era linda, mais eu não consegui olhar para ela outra vez. meus olhos foram fechados e minhas mãos guiadas ate o cheiro delicioso que estava sendo trago ate mim.

 

Minhas mãos se fincaram em algo macio e quente, e logo meus lábios também encontraram essa superfície, para depois sentir um liquido grosso e quente escorrer pela minha língua, acalmando minha garganta. eu sugava com força, apertando o que fosse que estivesse me dando esse prazer.

 

O liquido acabou, mais a minha garganta ainda estava delicadamente queimando, e o cheiro ainda estava forte. Me virei, alcançando o outro cheiro, e novamente me fartando do liquido quente. Quando esse chegou ao fim, eu me afastei, a queimação em minha garganta acalmada, mais ainda existia a dor, no fundo da garganta.

 

Minha consciência foi voltando aos poucos, e eu me desesperei quando vi minhas mãos tingidas de um vermelho vivo,e os dois corpo jogados no chão, completamente sem vida. Um era de uma mulher, e o outro de um homem. Ambos aparentavam 40 anos. então eu me dei conta que eu havia feito isso a eles, era o sangue deles que a pouco deslizava pela minha garganta, amenizando a queimação.

 

Eu me afastei, olhando minhas mãos. Eu não tinha sido morta, e nem tinha sido salva. Eu tinha sido transformada em um monstro. Eu tentei chorar, mas não havia lagrimas, apenas soluços vazios. Levantei meus olhos, encarando o homem que tinha feito isso comigo.

 

“Por que? Porque não me deixou morrer?” eu gritei.

 

“Não fui eu que te encontrei minha pequena, meus homens estavam atrás de um desleal, e quando o encontraram ele estava se alimentando de você. Restava tão pouco sangue em seu corpo, que ficaram surpresos de ver o veneno fazendo efeito. Você desmaiou antes de se dar conta do que estava acontecendo, então te trouxeram ate mim.” ele disse fazendo sinal para que um homem loiro pegasse os corpos no chão.

 

“Eu quero ser humana.” Eu Gritei, limpando minha boca, que no momento estava repleta de sangue humano.

 

“Lamento minha pequena, não tem como reverter a transformação.” O homem disse, fechando o sorriso.

 

“Eu não quero ser isso.” Eu disse triste, me ajoelhando.

 

“Com o tempo, você vai aprender a gostar minha pequena.” Ele se aproximou, eu me encolhi.

 

“Por que não me deixou morrer?” Eu buscava as lagrimas e não encontrava.

 

“Nós não costumamos deixar ninguém sofrer a transformação desse modo. O veneno começou a fazer seu trabalho, e nós apenas te trouxemos para nossa casa.” Ele sorriu.

 

“Me mate agora então.” Eu implorei.

 

“Não concordo com desperdícios, e algo me diz que você é valiosa.” Ele se virou de costas para mim.

 

“Jane, querida, mostre a Samarah o quarto que será dela. E não hesite em usar de seu dom caso ela se altere.” Ele acena sorrindo para mim.

 

“Mas tarde eu irei voltar a conversar com você pequena.” Ele sai do cômodo.

 

A garota loira se aproxima de mim, os olhos vermelhos como a sangue em minhas mãos. Ela aparenta ter dezesseis ou dezessete anos. é linda como um anjo. Beleza infantil, sem duvidas a mas bela que já avistei. Ela para diante de mim.

 

“Vamos, não tenho o dia todo” a voz é delicada, mas possui um tom muito bruto para o pequena garota.

 

Eu me levantei, ainda atordoada como que estava acontecendo. A poucos dias ou horas, eu estava voltando para meu apartamento, agora estou me alimentando de sangue humano. Meu corpo era para estar dolorido pela queimação, mas esta normal, ou melhor estou e sentindo como nunca me senti antes.

 

Jane, começou a andar, e eu a segui. Ela tinha passos leves e rápidos. Eu tentava acompanha-la,mas ainda estava confusa. Mas um vampiro cruzou nosso caminho, cabelos brancos, a mesma pele porosa, parecendo papel.

 

“Não acha melhor chamar mais alguém?” ele perguntou a pequena Jane.

 

“Eu sei como acalma-la.” ela sorriu, eu abaixei a cabeça.

 

Voltamos a andar pelos corredores, enormes corredores, com portais e portas enormes. Tudo decorado em função do século xv. Um lindo castelo, habitados por vampiros. Não sabia se era realidade ou apenas minha cabeça.

 

“Quantos anos?” A voz bruta e angelical da Jane se referiu a mim.

 

“Dezoito.” Eu disse em um tom baixo.

 

“Argh.” Ela apertou o passo, não demorou ate que ela parasse diante de uma enorme porta marrom, com as bordas detalhadas em ouro.

 

“Fique aqui, não sai ate que o alguém velha lhe buscar.” Ela disse seria abrindo a porta, eu entrei.

 

Não tinha dado meu segundo passo e a porta se fechou atrás de mim, então me vi sozinha dentro de um quarto gigantesco. Minha mente ainda não aceitava as informações, eu não conseguia entender o que estava se passando ali. O que eles queriam de mim?  o que seria de mim?

 

Caminhei devagar ate a porta menor, provavelmente um banheiro. Eu estava coberta de sangue. minhas roupas ainda eram as mesmas de quando eu estava no beco. Entrei no banheiro amplo, uma banheira de mármore já estava cheia. Me despi rapidamente imergindo meu corpo na espuma. A água parecia tão quente.

 

Fiquei ali, vendo a água se tingir de vermelho. Eu tentava chorar, mas so soluços saiam da mim. sem pensar, afundei minha cabeça. Segurando a respiração. Esperaria ate meus pulmões gritarem por ar, e então engoliria a água vermelha, ate meu corpo ser totalmente incapaz de sobreviver.

 

Minutos se passaram, e eu ainda estava submergida. Não me vazia falta o ar, e isso me desesperava. Desisti de me suicidar, e sai da banheira. A água vermelha escorrendo pelo meu corpo, meus cabelos embaralhados sobre os ombros. Não conseguia nem da fim a minha própria existência.

 

Peguei uma toalha felpuda, e me enrolei nela. Minhas roupas ensangüentadas no chão, ao lado dos meus pés pálidos. Olhei em volta procurando um espelho, e então encontrei. Dei um passo tomado pelo medo na direção do reflexo.

 

Meus cabelos estavam desalinhados, mais o preto deles era como ônix, minhas pele antes levemente morena, agora estava pálida, eu tinha aparência de doente. As olheiras roxas tingiam minha face completamente sem cor. Meus olhos tinham o mesmo tom de vermelho dos olhos dos outros seres das trevas. A cor da morte.

 

Deixei a toalha escorregar, meu corpo estava igual ele era antes, so que de alguma forma estava completamente diferente. Eu estava magnífica, estava linda. Como nunca imaginei que poderia ser.

 

Movimentei minha cabeça, tirando os cabelos do meu pescoço, e então uma marca mais clara, possuía o lado do meu pescoço por inteiro, a marca da mordida. Eu acariciei, minha pele estava tão macia, tão serena. Apenas algumas ondas indicavam que os dentes haviam rasgado minha pele.

 

Meu reflexo, me cativou. Eu era em fim o que sempre sonhei ser. Mas para ser bela, eu tinha que me alimentar de outras vidas, outras pessoas. E isso me transtornou. Deixei meu corpo escorregar, e naquela posição eu permaneci. Tentando entender o que eu era afinal.

 

 (Alec)

 

Estava sentado em minha poltrona predileta, avistando o por do sol em Volterra. Os fracos raios que chegavam ate mim, faziam minha pele brilhar. O calor do sol me fazia relaxar, mesmo sabendo que eu ainda estaria gelado quando levantasse. minha mente vagava dolorosamente pelas lembranças.

 

Escutei os passos leves de Jane se aproximando, ela estava com pressa. Não demorou e invadiu meus aposentos. Não me virei, esperei ate ela parar ao meu lado. O sol refletindo em sua pele.

 

“Aro esta passando dos limites.” Ela reclamou.

 

Eu era grato ao Aro, ele nos salvou, nos deu uma oportunidade. Ainda me lembro da noite em que eles nos encontrou.

 

Tinha acabado de completar dezessete anos, trabalhava na lavoura junto com meu pai, e Jane ajudava minha mãe nas tarefas de casa. Éramos uma família feliz, pelo menos ate o dia em que meus pais foram mortos por homens buscando terras novas. Sangue derramado por causa de simples pedaços de terra.

 

Eles nos levaram com eles, eu tentei lutar, mas Jane estava nos braços de um deles, se eu fugisse teria que deixa-la para trás, então desisti e me rendi. Passamos por cima dos corpos de nossos pais. Eu prendia as lagrimas, não seria fraco.

 

Estavam todos comemorando a vitória sobre os fazendeiros. O homem que segurava Jane ,a levou para um das cabanas, eu já sabia o que aconteceria ali. Tentei me soltar, mas não consegui as algemas eram fortes, e me prendia a uma arvore.

 

Não, demorou e escutei os gritos de minha irmã. Dezessete anos, ela tinha dezessete anos, era linda, e pura, doce como nenhuma outra menina, e agora estava servindo ao homem sujo. O desespero e raiva me acertaram com flechas.

 

Os outros três homens, bebiam e riam, eu me concentrava em escapar das algemas, minha determinação sempre foi exemplar. E logo consegui. Os gritos de Jane já não existiam, esperei ate os três homens dormirem, e os ataquei. Com uma faca, massacrei os três, sem deixar um grito escapar das bocas imundas deles.

 

Meus corpo coberto de sangue, eu caminhei com a visão tingida de vermelho ate a cabana, entrei devagar, as tabuas chiando em baixo dos meus pés,  e então encontrei a Jane, chorando enrolada nos trapos que sobraram de seu vestido cor de rosa.

 

A peguei em meus braços, ela soluçando. Não escutei ele se aproximar,a penas escutei o gatilho, sentindo a bala perfurar meu peito. Eu estremeci, mais não cai. O sangue escorrendo sobre meu lado direito. Eu ainda consegui dar cinco ou seis passo para fora da cabana, com a Jane em meus braços antes dos meus joelho dobrarem e eu sucumbi.

 

Me engasgava com meu próprio sangue, e Jane acaricia minha face, tentando me confortar. Avistei três homens se aproximando, e minha única reação foi puxar minha irmã ate mim, a sujando com meu sangue. um dos homens se aproximou, cabelos negros, e pele pálida. Ele se ajoelhou ao nosso lado.

 

“Observei sua determinação, e eu posso te curar.” Ele se ofereceu.

 

“Então faça!” jane suplicou.

 

“Em troca terão que me seguir.” Jane concordou com a cabeça.

 

E então senti os dentes cravarem em minha garganta. três dias de dor insuportável, três dias que imaginei ser o inferno.

 

Minha irmã também pediu pela transformação, queria estar junto de mim. E desde que ela foi violentada, que ela não se deixa ser feliz, não se deixa sorrir sinceramente. A minha doce irmã não existe mais. Provocar dor em outros, e o que a deixa feliz. Como se em cada um que ela tortura, ela se vingassem do homem que a desonrou.

 

“O que Aro fez?” eu perguntei me virando para ela.

 

“Ela deixou a garota sobreviver, ele acha que ela será importante.” Ela desdenhou.

 

Me deixou intrigado o fato da garota ter sobreviver com tão pouco sangue, que tenha suportado a transformação. Ainda não vi quem é a nova integrante da guarda, Felix disse que ela é tão nova quanto nós. Isso não me preocupa.

 

“Logo Aro ira se enjoar dela, é só o tempo dele perceber que ela não passa de mais uma.” dei os ombros.

 

“Ela é mais velha do que nós um ano.” Ela disse entre os dentes.

 

Jane não suporta a idéia de não envelhecer. Ela não parece ter a idade que tem, é pequena é delicada, seus seios ainda  são pequenos, e suas curvas amenas. Isso a incomoda. Sou mais alto que ela, não muito, e também aparento ser mais velho, mesmo sendo gemios. Anos trabalhando nas plantações com meu pai, me proporcionou um corpo desenvolvido para um rapaz de dezessete anos.

 

“Ela pediu pela morte.” Jane riu, ela aceitou tão tranquilamente as condições dessa vida.

 

“Muitos se desesperam no inicio.” Eu concordei.

 

 

(Samarah)

 

Encontrei algumas roupas em uma cômoda, elas eram do meu numero e estavam com etiquetas. Roupas de luxo, um luxo antigo. Me vesti, penteie os cabelos e me sentei na cama. Esperando pelo sono. Ele não vinha, não me sentia cansada.

 

Os passos no corredor me alertaram, e eu reconheci o cheiro. Logo o homem entrou em meu quarto.

 

“Olá.” Ele sorriu.

 

“Acho que não me apresentei, Aro Volturi.” Ele se inclinou estendendo um dos braços, comprimento cordial.

 

Não respondi, não sabia se o odiava ou se o agradecia. Eu simplesmente me calei. Ele continuou com a mão estendida no ar, esperando pela minha. Algo me fez estender a mão, e então senti um pequeno choque pelo meu corpo. Ele fechou os olhos e depois me soltou, sorrindo.

 

“O que sabe sobre nós?” ele me perguntou se sentando em um das poltronas.

 

“Tomam sangue humano.” Eu falei baixo, me sentando na poltrona em frente a sua.

 

Ele sorriu gentilmente, ajeitando a calça, que havia erguido quando ele cruzou as pernas.

 

“Você não vai consegui se matar.” Não sei como ele conseguiu saber que eu tentei escapar desse destino.

 

“Então mate-me.” Eu implorei.

 

“Minha pequena, não farei, e não permitirei que nenhum outro faça. Eu tenho planos para você.” Não ousei perguntar que planos seriam esses.

 

“Eu não me afoguei.” Eu mexia em uma das mechas de meu cabelo.

 

“Nós não precisamos de ar, como também não precisamos comer.”

 

“O sangue.” eu disse seria, encarando os olhos vermelhos.

 

“Oh, certo, a sede. Ela não passa.” Ele enrugou a testa.

 

Minha garganta ainda queimava, mas lentamente. Como se fosse uma cosquinha, ou algo assim. Totalmente suportável comparada com a ardência de antes.

 

“Minha pele.’ Eu voltei a encarar meu cabelo.

 

“Além de pálida, é dura como granito, e fria comparada com as dos humanos.” Eu não era mais humana, essa era a realidade.

 

“O que mais?” Eu perguntei.

 

“O resto você aprendera com o tempo. O mais importante é que alguns de nós possuem dons.” Ele sorriu abertamente.

 

“Dons?” eu o encarei.

 

“Sim minha pequena, dons. Todos neste castelo possui algum, então não subestime ninguém.” Isso suou como uma advertência.

 

“Qual o seu?” me culpei pela curiosidade, mas já era tarde.

 

“vamos dizer que posso entrar em sua mente, ver tudo o que você já pensou, com apenas um toque.” Ele estendeu a mão para mim, e logo a recolheu.

 

“Suicídio.” Eu sussurrei, era assim que ele ficou sabendo. Lendo minha mente com um simples aperto de mãos.

 

“e os outros?” visto que ele não tinha se importado, de me responder, quis saber sobre os outros também.

 

“Isso não é educado de nossa parte, pergunte a eles.” Ele sorriu se levantando. “Jane e o irmão são meus preferidos.” Ele me advertiu, com certeza os mais poderosos.

 

Assenti com a cabeça. Ele esticou uma das mãos para mim, e estava tremula. Não peguei em sua mão, ele então sorriu.

 

“Não tenha medo criança”, levantei e deixei minha mão pousar sobre a sua.

 

Minha mente estava vazia, enquanto caminhávamos pelos corredores.

 

“Tinha me esquecido, temos algumas regras para seguir. A mais importante de todas, não podemos deixar que os humanos saibam que existimos, preferimos ser apenas personagens de historias.” Ele gargalhou levemente, e logo voltou a falar. “Não pode transformar ninguém sem a permissão de seu Clã. As outras com o tempo te ensino.” Ele apontou para um corredor amplo.

 

A primeira regra não tinha segredo para mim, porem a segunda eu não entendia ao certo.

 

“Transformar?”

 

“Todos nós possuímos um tipo de veneno na saliva, que em contado com o sangue humano começa a transformação. É por causa disso que temos que drenar todo o sangue dos corpos.” ele me explicava, sorrindo..

 

“Clã?” ele me olhou,  admirando minha curiosidade.

 

“Nós somos o seu.” Ele apontou para mais um dos corredores.

 

Eu o seguia em silencio, mas sem saber para onde ele estava me levando, os corredores estavam vazios. Tive uma vontade imensa de correr, mas ele segurou minha mão firmemente, como se me dissesse que não.

 

“Sua velocidade é incrivelmente alta, assim como sua força.” ele me contou, e a vontade de correr so aumentou. Queria poder conhecer meus limites.

 

“Talvez mais tarde, agora quero te apresentar aos outros.” E então começamos a caminhar em um salão enorme, com vários quadros e objetos históricos. Eu estava nervosa.

 

Paramos diante uma porta alta e com um escudo cravado na madeira escura, a porta se abriu e avistei vários seres pálidos sentados, diante de quatro seres, abaixei meu olhar, e deixei Aro me guiar. Ele me conduziu ate onde os quatros se encontravam duas mulheres dois homens.

 

Minhas costas queimavam com o peso dos olhares, mas eu me negava a erguer os olhos, me concentrava em dar um passo de cada vez. um dos homens sentado a nossa frente era o mesmo de hoje cedo, que encontrei no corredor. Os cabelos brancos perfeitamente alinhados, ao seu lado estava uma mulher linda, cabelos negros como a noite. Os traços eram finos, e definidos. A pele não era porosa como a do homem. Ela se vestia com um longo vestido vinho, com o corte antigo.

 

“Caius, e sua esposa Athenodora.” Aro os apresentou, me virando para o outro homem.

 

Esse possuía cabelos escuros, e a mesma pele fina. Parecia que iria rasgar a cada movimento de suas sobrancelhas. O seu lado estava vazio, o que me fez pensar que ele era solteiro.

 

“Viúvo na verdade, esse é Marcus.” Aro me apresentou. “Ambos são meus irmãos.” Ele afirmou virando para observar  a mulher que estava de pé ao lado da cadeira vazia.

 

A cadeira vazia pertencia a Aro, não era preciso que ele me dissesse isso. E a mulher ao lado dela era sua espoca. Ela era linda, os cabelos castanhos claros delicadamente presos em uma transa perfeita. O vestido verde deixava sua pele cor de oliva ainda mais bela. Os traços fortes a tornavam a mais bela ali presente.

 

“Sulpicia, minha esposa.” Ele a apresentou, em seguida me virou, me deixando de frente para os demais.

 

“Samarah Villani.” Ele me apresentou para os outros vampiros. “Espero que mostrem a ela como somos atenciosos.” Ele disse sorrindo.

 

Aro se afastou, me deixando sozinha no meio do grande salão. Ergui meus olhos devagar, buscando os olhos vermelhos a minha frente. E os encontrei. Todos presos a mim. eu não sabia se era algo bom ou ruim. Mas eu estava totalmente tomada pelo nervosismo.

 

“Felix.” Aro chamou, e então um homem alto deu um passo a frente.

 

“Demetri.” Percebi o que ele estava fazendo, me apresentando os outros aliados. Esse era loiro, tinha feições angelicais.

 

“Santiago” este era negro, e baixo.

 

“Renata.” A vampira com o cabelo cor de mel, longo e liso.

 

“Heid” Essa era formosa, um corpo escultural, cabelos longos. Suas roupas eram diferentes das dos demais, eram modernas e curtas.

 

“Corin.” Um pouco mais velho que os demais, com um olhar ameno.

 

“Chelsea” cabelos cor de fogo, era alta e esbelta.

 

“Afton.” O homem passou o braço por trás dos ombros da Chelsea, me mostrando que eles eram um casal.

 

“Jane.” A pequena loira se aproximou, sorrindo.

 

“Alec?” ele olhou para a Jane.

 

“Ele esta caçando.” Jane explicou.

 

“Este, é irmão gêmeo de Jane.” Aro me explicou, e a imagem de um menino pequeno e de cabelos loiros parou em minha mente.

 

O silencio de fez ouvir. So as respirações eram ouvidas, e todos ainda me encaram. Eu sentia meu corpo queimar, eu não estava acostumada a chamar atenção dos outros dessa forma. Isso me incomodava, era como ser vigiada.

 

O pensamento de quantas pessoas morriam para que todos esses seres se alimentassem me arrepiou. Era sangue inocente sendo derramado por todo o lado. Todos eram assassinos, todos matavam. E eu não seria diferente. Eu mataria para viver. Isso não me agradava.

 

“Jane, acompanhe A Samarah em uma corrida, ela quer testar as pernas.” Aro disse entre os risos, me tirando do pesadelo.

 

Jane acenou com a cabeça e deu um passo a frente, me esperando. eu comecei a caminhar em sua direção, eu tinha que e acostumar com a idéia de que aqueles olhos se refletem em mim, não tenho o por que me assustar com o brilho intenso do vermelho.

 

“Se não se importar, eu gostaria de acompanhá-las.” A voz doce me chamou atenção, e imediatamente eu me virei.

 

Sulpicia me olhava sorrindo, algo no olhar silencioso dela me fez confiar nela. Ela não parecia assustadora como os outros. Aro sorriu a encarando. Ela se curvou e tocou os lábios nos dele, e se ergueu dando um passo a frente.

 

“Jane, te confio Sulpicia.” Aro dise serio, e Jane concordou.

 

“Vamos criança?” era irônico como Sulpicia se referia a mim como criança, ela mesmo não aparentava passar dos vinte e cinco.

 

Sua mão tocou meu braço, me impulsionando para frente. Sua mão parecia quente e macia, mesmo eu sabendo que isso não era verdade. A  pele dela e como o gelo, mas eu não sinto assim.

 

Nos começamos a andar por um corredor menor. Sulpicia me tocava delicadamente, enquanto Jane nos vigiava por trás. Sentia seus olhos grudado em minhas costas. Mas não me incomodava tanto como quando tinha dezenas de olhos presos em mim. meus passos eram largos e rápidos, para conseguir acompanhar os passos de Sulpicia.

 

Paramos diante de uma porta pequena. E então Jane a abriu, mesmo não tendo tipo algum de iluminação eu conseguia ver claramente a escada em forma de caracol que nos esperava atrás da porta. Sulpicia me conduziu pela escada, que dava em um corredor estreito e sem janelas, como uma rede de esgotos.

 

Me senti estranha, me senti como um rato se escondendo. E sem perceber apertei meu corpo contra o dela. Ela simplesmente sorriu, percebendo que eu estava assustada.

 

“Geralmente nós só usamos esses túneis quando saímos a luz do dia. A noite usamos os portões, mas quase sempre encontramos com algum humano, o que poderia nós render alguns problemas já que você é uma recém criada.então preferimos passar por aqui.” Ela disse serena, acariciando minha mão que se encontrava em seu braço.

 

“Sem humanos?” perguntei sorrindo.

 

“Sem humanos, não queremos que você perca o controle cruzando com eles não é?” ela disse sorrindo, e a lembrança do cheiro do sangue de humanos fez minha garganta queimar.

 

Junto com a queimação veio a lembrança do descontrole que me atingiu. de como eu agi feito um fera devorando sua pressa, com certeza não queria que isso acontecesse com freqüência. Já era duro o bastante as lembranças.

 

Caminhamos por algum tempo, ate sairmos em uma pequena porta de ferro, Jane a abriu. Eu me impressionei, a porta parecia pesada e a pequena garota a abriu com facilidade, como se fosse de pano. Saímos em meio a uma floresta, não muito densa mais com certeza estava vazia, por so senti o cheiro de animais, plantas, e terra úmida. Não tinha nenhum humano por perto.

 

Sulpicia sorriu. Jane também elas deviam estar cansadas de se manterem trancadas dentro do castelo luxuoso. Sorri com meu pensamento infantil.

 

“Você não vai correr?” ela me perguntou apontando para as arvores.

 

“Não sei como fazer isso certo.” Eu assumi.

 

“Me siga.” Ela sorriu e começou a correr, aceleradamente para um humano. Mais ainda não era muito surpreendente.

 

Facilmente eu a alcançava e ela voltava a acelerar, quando dei por mim estávamos correndo lada a lado, as arvores passando rápido por nós. Mas eu conseguia ver ate as gotas de orvalho que caiam sobre as folhas. Meus pés quase não tocavam o chão, era como voar. Me senti livre, por um momento agradeci por ser o que eu era.

 

“Você consegui ir mais rápido.” Ela sorria.

 

“Vamos?” eu pedi.

 

“Eu não consigo, esse é meu limite. Recém criados correm mais rápido.” Ela me explicou, e então eu levei minhas pernas ao maximo, tocando o chão apenas de leve. Meu rosto sendo pressionado pelo vento, meus vestido sendo erguido. Eu estava voando.

 

Fugir. Isso passou pela minha cabeça. Mas para onde? Eu era uma aberração agora, não tinha para onde ir. Eu atacaria qualquer humano que cruzasse meu caminho. Eu perderia o controle. Respirei fundo e abandonei qualquer tipo de pensamente a respeito de fuga. Meus pés tocavam o chão de tempos em tempos, depois de me deliciar com a sensação maravilhosa que era a velocidade eu voltei. Alcançando Sulpicia e jane, que estava com um expressão preocupada.

 

“Ainda bem!” Jane bufou.

 

“Como se sentiu?” Sulpicia se aproximou de mim.

 

“Livre.” Eu sorri.

 

“Deve se sentir perdida diante de tantas coisas novas.” Ela disse recomeçando a correr, na direção da pequena porta.

 

“Eu não conhecia nada, eu não acreditava nesse mundo.”Eu assumi.

 

“Eu também não acreditava.” Ela suspirou.

 

“Como foi, para você?” eu perguntei, mordendo a lingua depois. Eu não tinha esse direito de invadir a vida de ninguém, mas a minha curiosidade era maior.

 

“Como me tornei?” ela disse seria.

 

“Desculpe..” Ela me interronpeu.

 

“Era noite de primavera, cheguei da sacada de minha casa para respirar ar fresco. Enquanto olhava a lua, avistei um homem passando pela rua. Imediatamente retornei para o meu quarto. Não era decente uma moça se postar na sacada de seu quarto com roupas de dormir.” Ela sorriu, mostrando que ela tinha muita mais idade do que aparentava. “me deitei, e fui dormir. Acordei com uma forte dor no pescoço, e depois a queimação. Quando tudo terminou, o homem que eu havia avistado na rua, estava ao meu lado. Me pedindo em casamento.” Ela sorriu.

 

“Aro.” Ele tinha se apaixonado por ela no momento em que a viu.

 

“Sim, meu Aro.” Ela disse sorridente.

 

E então já estávamos entrando no corredor estreito e úmido. Fiquei contente em saber que eu não era a única ser pega de surpresa, a ter minha vida arrancada de mim. senti as esperanças crescendo em mim, Sulpicia estava feliz agora, mesmo sendo um mito. Talvez eu me acostume em ser uma lenda.

 

Subimos a escada caracol. Eu deveria estar cansada, mais não estava, meu corpo estava como novo. Sulpicia parou diante de mim, me olhando carinhosamente.

 

“Vou me recolher, você pode ficar a vontade.” Ela disse sorrindo e se virando.

 

“Pode ficar em seus aposentos, ou em qualquer outra sala reservada. Só não tente sair.” Jane me advertiu se virando e caminhando.

 

Me vi sozinha naquele enorme castelo. Caminhei vagarosamente pelos corredores, não tinha o que fazer. Não estava com sono, então decidi explorar meu novo lar.

 

 

(Alec)

 

Caminhava tranquilamente por um dos vilarejos que cercavam Volterra, a procura de um homem sujo. È caçando esses que desonram as pobres garotas, que eu me sinto vingando a Jane. E é isso que faço quando estou delicadamente atordoado. Como hoje.

 

Mais uma transformada, mais uma obra do Aro. Mais uma garota que perdeu tudo, que esta sendo forçada a viver em um novo mundo. Eu respirei fundo ouvindo os gritos ao longe de alguma mulher. E então corri.

 

Ele estava a apertando em uma das paredes do lado de fora, um homem velho e gordo, com uma pequena adaga nas mãos. Eu me aproximei. Então ele soltou a garota. Que caiu e se levantou correndo. Ela chorava.e eu avistava as mesma lagrimas derramadas por minha irmã.

 

“Não se mete moleque.” O Homem falou, ajeitando as calças.

 

Eu não respondi apenas me aproximei, ele então segurou a adaga em minha direção.

 

“Eu to avisando!” Ele disse serio, eu dei mais um passo, e então senti a lamina da pequena adaga se espedaçar quando tocou meu peito. O homem se afastou, e em um pequeno movimento eu ouvi seu pescoço quebrar. Para depois me fartar com o sangue impuro.

 

Lancei o corpo vazio no rio, e corri ate Volterra. Assim que entrei no salão principal, encontrei Marcus, olhando os quadros velhos. Parei ao seu lado, ele ainda em silencio.

 

“já conheceu o novo brinquedo do Aro?” Ele perguntou.

 

“Não.” Eu respondi “O que ela faz?”

 

“Não sabemos.” Ele deu os ombros e começou caminhar em direção aos aposentos.

 

“Tenho pena dela, logo será descartada.” Eu comentei, também me direcionando para os aposentos.

 

“Creio que não, Sulpicia se alegrou com a presença dela.” Ele disse serio, enquanto ajeitava a gravata.

 

“Jane não esta contente.” Eu disse sorrindo.

 

“Ela nunca esta.” Ele constatou.

 

“Ela receia que a garota possa ser mais útil que ela.” Eu desabafei.

 

“Samarah. Eu não creio que isso aconteça, vocês são únicos. Sendo igualados apenas pelos Cullen.” Ele sorriu, parando diante de seu aposento.

 

“Ler?” Eu perguntei. Ele não tinha uma companheira, assim como eu. Dividíamos o prazer pela leitura.

 

“Creio que não.” Ele entrou e eu continuei seguindo para o meu aposento, livros. Minhas noites eram compostas por livros. Ou as vezes a Jane me fazia companhia.

 

O sol já estava se clareando, não ia demorar ate o sol nascer. Caminhei tranquilamente pelo corredor, ate sentir o cheiro novo, quente, doce. O cheiro era bom, sem duvidas era a  nova inquisição, pois não conhecia esse cheiro. Continuei meu caminho, e o cheiro ia ficando mais forte. Me desconcentrei quando parei diante do meu aposento, e senti o cheiro ainda mais forte. Ela estava em meu quarto.

 

Me irritei, não gosto que ninguém o invada. Abri a porta e avistei uma mulher olhando assustado para mim. ela estava amedrontada. Estava sentada no peitoral da janela, observando o horizonte.

 

Sua pele era levemente cor de mel, empalidecida. Os cabelos longos e levemente ondulados caindo sobre os ombros, da cor do ônix, mais lindo. Os traços únicos, e juvenis. Os olhos vermelhos sangues me fitando.

 

“Me desculpe, eu não sabia.” Ela disse se desculpando e descendo da janela.

 

“Procure não entrar nos quartos alheios.” Eu a advertir.

 

“è seu quarto?” ela se espantou.

 

“Exato.” Eu me conduzi ate a janela, sentando em minha poltrona de costume.

 

“Eu não achei... desculpe.. não tem cama?” ainda não conhecia seu próprio corpo.

 

“Nós não dormimos.” Eu disse serio.

 

 “Por isso a falta de sono.” Ela não se retirava, do meu aposento.

 

Sim ela era linda, mais todos eram. Não tinha nada de especial nela. A não ser o fato de não saber o que significa ser realmente um ser na noite. Eu não iria culpa-la, mais também não iria permitir que ela continuasse aqui. Queria a minha privacidade, meu sossego.

 

“Por que não podemos sair no sol?” ela perguntou se posicionando ao meu lado.

 

Ela era tão ingênua, e o sol já estava a segundos de aparecer no horizonte. Alguns minutos com ela aqui não iria me matar, ou melhor nada iria.

 

“O sol mesmo ira lhe responder.” Eu disse frio, e então ela se afastou, indo embora. Em reflexo minha mão segurou seu pulso.

 

“Aguarde.” Ela voltou a se posicionar ao meu lado. Observando o horizonte.

 

“Alec.” Eu me apresentei. Ela me olhou espantada.

 

“Eu já sabia.” Ela admitiu, não tinha medo. Isso era uma qualidade.

 

 

(Samarah)

 

Tive a certeza de quem ele era no momento em que ele entrou no cômodo. Mesmo sendo mais alto, e mais robusto. Ele ainda tinha a mesma face angelical e infantil da irmã. Os cabelo loiros caindo sobre a testa, a barba falha de um adolescente de dezessete anos, os olhos vermelhos, profundos.  Possuía a mesma altura que eu, ao apenas alguns centímetros mais altos. Não tenho certeza da minha altura.

 

O sol começou a brotar no horizonte, e alguns raios invadiram a sala escura, tocando a pele do rosto de Alec. Sua pele brilhava, como nunca tinha visto nada. O brilho me hipnotizava, me puxando para mais perto. Era como uma Miragem feita de diamantes. Estendi minha mão para tocar sua face, e quando um dos raios a atingiu, ela também brilhou. Me fazendo puxa-la de volta. Me assustando. Eu estava brilhando como ele. eu era linda como ele.

 

“Engraçado não?” ele me olhou sorrindo, enquanto eu encarava minha mão reluzente.

 

“Lindo.” Eu disse sussurrando.

 

“Agora se me permite, queria ter um pouco de privacidade.” Ele disse se levantando, e eu me toquei que estava ali a tempo de mais.

 

“Perdoa-me.” Eu me direcionei a porta, antes de sair me volte para ele que me observava sem expressão.

 

“Obrigada.” Eu agradeci e sai., indo para o meu quarto.

 

Meu quarto possuía um cama, engraçado já que eu não dormirei. Me deixei cair sobre ela. e comecei a lembrar de tudo que eu tinha passado ate agora, isso tomou algumas horas do meu dia. Ate que escutei passos se aproximando, e o cheiro delicado.

 

 

 

 

Lua

 

(Samarah)

 

Levantei-me, então a porta se abriu. Sulpicia sorria abertamente quanto entrava em meu aposento. Com um vestido vermelho sangue, ela estava linda. Os cabelos claros soltos, emoldurando sua face.

 

“Se arrume, quero lhe mostrar um lugar.” Ela sorria, e se sentou em uma das poltronas.

 

“Não posso sair do castelo.” Eu a lembrei.

 

“Não vamos sair.” Ela disse sorrindo. Peguei um vestido e me arrumei rapidamente.

 

“Podemos?” ela perguntou se levantando. Eu sorri a seguindo.

 

Estávamos passando pelos mesmos corredores largos. Ela me conduzia pela mão, como uma mãe conduz um filho.minha curiosidade sobre esses seres estava crescendo.

 

“O que você faz?” eu perguntei observando um quadro na parede.

 

“Como?” ela perguntou confusa.

 

“Seu Dom.”

 

“Eu não possuo.” Ela disse triste.

 

“Aro havia me dito que todos possuíam.” Eu falei sem pensar.

 

“Todos da guarda, não da realeza.” Ela sorriu, era isso que eu era uma segunda classe.

 

“Desculpe.” Eu pedi, mergulhando nos olhos vermelhos.

 

“Esta tudo bem. Tem mais alguma coisa que queira saber?” ela parou diante de uma porta pequena e estreita.

 

“Por que não há crianças aqui?”

 

“Não podemos ter filhos, nossos corpo não mudam. Consequentimente não suportaria uma gravidez.” Ela disse triste, o desejo de ser mãe estava presente nela.

 

Eu não me preocupei tanto com essa questão, afinal não tinha  a intenção ser mãe, e nem de permanecer nesse mundo por muito tempo. Eu já estava me acostumando com esse novo corpo, o que estava me dando menos tempo para pensar em como me matar.

 

“O corpo não muda?” eu tentei voltar ao assunto.

 

“Terá eternamente esse rosto lindo de dezoito anos.” ela disse sorrindo e abrindo a porta.

 

“Quantos anos?” eu perguntei envergonhada.

 

“Quantos acha?” ela sorriu.

 

“Vinte e cinco, mais sei que é mais.”

 

“Apenas duzentos e oitenta e sete a mais.” Ela sorriu,e  eu me calei, encantada com os números.

 

Juventude eterna, isso também me alegrava. Sulpicia abriu a porta, e eu avistei um cômodo grande e repleto de telas, e tintas. Era uma sala usada para pintar. Possuía grandes janelas, que davam para o Jardim interno. Eu entrei sorrindo, maravilhada com as pinturas a óleo.

 

“Aro me deixou encarregada para lhe ensinar as regrar, e o que mais você quiser saber.” Sulpicia sorria.

 

“De quem são os quadros?” eu perguntei maravilhada.

 

“Alguns meus, outros de Athenodora.” Sulpicia se posicionou em frente a uma tela ainda incompleta. Já havia um mar e algumas rochas detalhadamente desenhadas.

 

“Se importa?” ela apontou para a aquarela em sua mão.

 

“Não, fique a vontade”. Eu me sentei ao lado dela, adoraria observa-la pintar.

 

“sabe algo sobre o absolutismo?” Ela conduzia o pincel delicadamente sobre a tela.

 

“Todo o poder concentrado na mão do rei.” Eu respondi, observando a onda que ela criava com o azul e o branco.

 

“Só que aqui, o poder é concentrado na mão dos três reis. Então não importa o que eles mandarem, você tem que obedecer.” Ela dizia calmamente.

 

“Uma das leis?” ela já estava na secunda onda.

 

“Isso.” Ela sorriu.

 

Passamos a tarde ali, ela era adorável. Delicada como um rosa. Ela me ensinava tudo o que eu devia saber, com ela ao meu lado era mais fácil aceitar a nova condição.

 

 

(Alec)

 

“Outra vez lendo?” Jane interrompe o silencio que já durava algumas horas.

 

“Deseja algo?” fechei meu livro e me levantei, já estava na hora de procurar Aro.

 

“Heidi chegou com o jantar. Aro deseja que você os acalme, para facilitar para a novata.” Jane disse entre os dentes.

 

Acenei com a cabeça e me direcionei a sala de visitas, onde acontecia os banquetes. Heidi estava no salão, acompanhada de vinte e sete humanos. Todos empolgados coma mobília. Os olhares atentos em mim, quando cruzei o salão. Felix me deu o sinal, o que significava que todos já estavam prontos.

 

Fiz o que eu devia fazer, e logo o banquete começou. Aro mandou guardar três para a Samarah e a Sulpicia que viriam depois, Jane reclamou com os olhos, mas não disse uma palavra. Era um ordem, não podíamos reclamar.

 

O sangue novo correndo pela minha garganta, a sensação de fogo amenizada. Sutilmente limpei a boca. Mas antes que eu pudesse me retirar, Aro me mandou ficar. Junto com os outros três que foram guardados. Enquanto ele iria buscar a Sulpicia e a Samarah.

 

A sala já estava vazia, a não ser pelos três humanos e por mim. que os mantinha calmos. Eles choravam e rezavam. A fé humana as vezes me cativa, amar, devotar algo que não saber se é real? Mover sua vida de acordo com palavras que não sabe se são reais? A capacidade de admirar o que não se vê.

 

E então o cheiro doce dela me acertou, ela acelerou os passos.a a sede sem controle dos recém criados. Ela passou pela porta, seguida de perto pela sulpicia. Os olhos brilhando, as mãos transformada em garras, indo em direção aos humanos. Ela estava linda.

 

O vestido era de um branco puro, que entrava em contraste com a pele cor de mel. Os cabelos soltos, caindo sobre o corpo que ela sugava. Ela sugava com rapidez, com voracidade. Assim que terminou um corpo, passou para o outro. Sulpicia já estava saciada, abraçada ao Aro. Observando a pequena garota se fartar se sangue alheio.

 

Quando ela terminou, seu vestido estava tingido de vermelho. O desperdício comum dos sem experiência. Aos poucos ela começou a soluçar, abraçando os joelhos. Ainda não tinha se conformado com o que era. Sulpicia foi ate ela, a abraçando.

 

Marcus estava certo, Samarah tinha ganho uma aliada poderosa. Sulpicia. Elas se retiraram da sala, e então Aro veio ao meu encontro. Parando ao meu lado, estendendo a mão. Depositei minha mão sobre a dele, e senti o pequeno choque se espalhar.

 

“Não acha que ela terá serventia?” ele me perguntou sorrindo, já sabendo a resposta.

 

“Talvez como brinquedo de Sulpicia.” Eu disse frio.

 

“Ver Sulpicia Alegre me alegra.” Ele admitiu.

 

“Claro.” Eu concordei.

 

“Talvez devesse passar menos tempo lendo.” Ele se virou, saindo da sala.

 

Balancei a cabeça comecei a caminhar. Durante duas semanas, encontrava as vezes com a Samarah nos corredores, as vezes nas reuniões com o Aro, e nos banquetes. Ela não falava com muitos, sempre que eu a vai ela estava sozinha ou acompanhada de Sulpicia.

 

Ele tem o costume de passar as noites no Jardim interno, olhando a lua. E eu me pego deixando os livros de lado, e passando as madrugadas a obserfvando da minha janela, ela ainda não me viu fazendo isso, e espero que nunca veja.

 

Não me sinto bem a admirando, mas não consigo evitar. Os traços comuns a primeira vista, estão angelicais agora, demonstrando a inocência nos olhos tingidos de sangue. a beleza dela não é algo que posso se negar, de alguma forma ela é única.

 

Ela se move, voltando para o quarto e eu saio de minha janela, buscando um livro.ja sei todos de memória. Os passos em direção ao meu aposento, não me fizeram ter reação. E então aporta se abre, e Marcus entra.

 

“Desistiu dos livros?” Ele me pergunta.

 

“Como poderia?” Volto para a janela, e observo um jardim vazio.

 

“Já faz algumas noites que observo a criança no jardim, e ti a admirar da janela.” Ele diz sorrindo.

 

“Não posso negar, ela me cativa.” Eu assumo.

 

“Ela é realmente intrigante.” Ele começa a se mover em minha direção, parando ao meu lado, observando o jardim vazio.

 

Simpáticas feições, cintura breve

Graciosa postura, parte airoso,

Uma fita, uma flor entre os cabelos,

Um quê mal definido, acaso podem

Num engano d’amor arrebatar-nos.

Mas isso amor não é, isso é delírio,

Devaneio, ilusão, que se esvaece.”

 

Recito um dos tantos poemas que tenho guardados na memória, poema esse que atingi minha mente cada noite que a observo, apele reluzindo a luz prata as lua.

 

Amá-la, sem ousar dizer que amamos,

E, temendo roçar os seus vestidos,

Arder por afogá-la em mil abraços.

Isso é amor, e desse amor que se morre!”

 

Marcus joga contra mim, o final do mesmo poema que eu comecei a recitar. Odeio quando alguém tenta me dizer o que pensar ou como agir, mas dessa vez, não consegui odia-lo.

 

“O que queres dizer com isso?” perguntei com a voz bruta.

 

“O entendeste?”

 

“Que estais ficando louco.” Eu sorri, ele acompanhou meu sorriso.

 

“Felizes os loucos, que na verdade são sábios.” Ele disse saindo do meu aposento. Me virei com brutalidade, derrubando alguns livros no chão.

 

O som foi alto. E Jane entrou e meu aposento logo em seguida. Preocupada;

 

“O que foi?” ela se aproximou, trazendo as preocupações.

 

“Apenas um descuido.” Eu menti, e ela sabia que era mentira. Nenhum vampiro comete descuidos.

 

“O que te atormenta Alec?” ela coloca a mão pequena em minha face.

 

“Apenas alguns poemas.” Eu digo a verdade, que não passa de mais uma mentira.

 

“Poemas?” ela se acalma, mais ainda traz o olhar preocupado.

 

“Sobre morte, alma, amor.” Eu digo a abraçando, e então ela volta a ser a minha irmã, por alguns segundos, antes de me soltar e atender a um chamado de Caius.

 

Vejo a minha pequena irmã passar pela porta delicadamente.e saiu em seguida, buscando algo que prenda meus pensamentos. Me dirijo a biblioteca, talvez algum livro que eu so tenha lido uma vez. respirei fundo cruzando um dos corredores.

 

O cheiro doce no ar, e sem perceber sigo o rastro, chegando ao quarto de Samarah. A porta entreaberta me convida a entrar, e la esta ela. Sentada na penteadeira, alisando os cabelos ônix. Ela não se vira, me observa pelo espelho.

 

“Estão me chamando?” ela pergunta, ainda escorregando a escova prateada pelos cabelos.

 

“Não.” Eu digo ainda parado na porta, e então ela se vira, largando a escova sobre a penteadeira.

 

“O que queres?” não tinha sinal algum de desagrado em sua voz, apenas curiosidade.

 

“O que fazes no jardim toda noite?” ela apenas sorriu.

 

“Gosto da lua.” Ela voltou a se pentear, me dando as costas.

 

A vontade de estar junto estava esmagando meu ego, eu sentia a necessidade de me juntar a ela. de me tornar algo na vida dela. E as palavras atropelaram meus pensamentos, escapando pelos meus lábios como víboras, me traindo.

 

“Posso acompanhá-la?”  me culpo por ser fraco a esse ponto.

 

“Só irei voltar la quando o sol se por.” Ela disse prendendo os cabelos com uma fita de cetim branca.

 

“Não se importa se eu me juntar a ti?” eu estava queimando por dentro, queimando de ódio de não conseguir administrar as palavras que saiam pela minha língua.

 

“Sinta-se a vontade.” Ela sorriu, e se levantou vindo ao meu encontro.

 

“Pode me dar licença, Sulpicia  esta me esperando.” ela pediu graciosamente, e eu dei passagem a ela.

 

Acompanhei os movimentos do corpo dela enquanto ela caminhava. Me sentindo humano ridículo. Respirei fundo e retomei o caminho para a biblioteca.

 

 

(Samarah)

 

Alec não falava comigo desde o dia em que vimos o sol nascer. Não o culpo, eu não me sentia a vontade para conversar com mais ninguém além de Sulpicia e Renata. Os outros me dava medo.

 

A palavras do Alec ainda estavam me atingindo de leve. Por que ele estava querendo se juntar a mim a noite? Talvez quisesse descobrir como me sinto. Ou talvez era o uma ordem do Aro. Mas me senti feliz com as palavras.

 

Caminhei ate a sala onde Sulpicia estaria, mais o cheiro dela não estava la. ela não estava. Me virei voltando para o corredor principal, e então Renata surge ao meu lado. Correndo, ela estava com pressa.

 

“Samarah, vamos ter um julgamento.” Ela disse seria.

 

“Julgamento?” eu perguntei, não estava acostumada com isso.

 

“Siga-me.” Ela voltou a correr, e eu a segui.

 

Entramos na mesma sala onde eu fui apresentada aos demais. Aro, Caius e Marcos estavam em suas cadeiras. Procurei por Sulpicia, ela estava no lado direito da sala, ao lado de Athenodora. Caminhei ate lá, Sulpicia me chamou para ficar ao seu lado. Todos estavam presentes, com exceção de Jane e Felix.

 

Alec, estava ao lado de Aro. Olhando fixamente para a porta. Renata estava atrás de Aro, tocando seu ombro. Eu já sabia o que ela fazia, era uma espécie de escudo. Ela e aro eram os únicos que eu sabia. Os outros ainda são desconhecidos. Heidi eu suspeito que seja algo que tenha haver com sedução e atração, pois ela é sempre a encarregada de trazer os humanos.

 

A porta se abriu e jane entrou, coberta com uma capa cinza escura, quase preta e ao lado dela Feliz, com uma capa um pouco mais clara, trazendo uma mulher e um bebê com ele. ambos tinham os olhos vermelhos, mas vampiros não tem filhos. Me confundiu.

 

“Gelty, quanto tempo não?” Aro disse sorrindo, e se levantando.

 

“Aro, desculpe-me.” Ela se ajoelhou, com a criança vampira nos braços.

 

“Você sabia das regras.” Ele disse serio. “O que ter levou a criar uma criança imortal?”

 

“Ele era tão pequeno e fraquinho, estava morrendo de peste.” Ela soluçava, o nosso choro em silencio.

 

“Depois da transformação não consegui controlá-lo não é?” Aro fez um sinal, e Feliz e Demetri se aproximaram, arrancando a criança dos braços de mulher.

 

“Doze pessoas atacadas.” Ro disse triste.

 

Demetri segurou a cabeça da criança. Eu não fui a única notar o que ele pretendia, a mulher no chão, Gelty também percebeu e fez menção de ataca-lo, ela saltou. Mas o salto foi interrompido no ar, e ela caiu no chão, tremendo, gritando. Se contorcia violentamente. Procurei pelos vampiros que estavam por perto, e notei os olhos concentrados de Jane sobre a mulher. Era esse o dom dela, a dor.

 

Isso era um dom? provocar a dor em alguém? A idéia eu apertar meu peito, esse mundo a qual eu pertencia, era um mundo de dor e morte, nada mais. Estava situado entre a Terra e o inferno, entre a vida e morte. Eu me encolhi.

 

Fechei os olhos, não quis olhar. Mas escutei. O som de algo se rachando, se arrebentando. Os gritos, e depois o fogo. Quando dei por mim, Sulpicia estava me abraçando. Eu soluçava.

 

“Calma criança.” Ela acariciava meus cabelos.

 

“Por que?” eu perguntei segurando os soluços.

 

“Um criança imortal e muito perigosa, ela não controla a sede. Ela ataca todos que encontra. Entrega quem somos facilmente.” Ela disse com dor na voz.

 

“Mas era um bebê”

 

“Um bebê que levanta um carro” ela disse triste, era duro para ela não poder ser mãe.

 

As imagens ficaram vagando na minha cabeça o resto do dia. Estava assustada, exaltada. A punição era a morte. Me lembrando do olhar da Jane, e que me lembrei do meu primeiro dia como um ser das trevas.

 

. Mas um vampiro cruzou nosso caminho, cabelos brancos, a mesma pele porosa, parecendo papel.

 

“Não acha melhor chamar mais alguém?” ele perguntou a pequena Jane.

 

“Eu sei como acalma-la.” ela sorriu, eu abaixei a cabeça.

 

Era por isso que Aro sempre mandava a Jane me acompanhar, se eu tentasse algo ela me torturaria. A dor era insuportável, os gritos da mulher ainda ecoavam na minha cabeça. Me fazendo tremer. Não era atoua que Jane era a preferida do Aro, ela e Alec. O que Alec fazia? Ele também torturava, ou ele matava direto?

 

Me lembrando do Alec, me dei conta de que já havia se posto o sol. Tomei um banho e me troquei. Não tinha certeza se ele apareceria ou não no jardim. Mas me sentia cheia por algo desconhecido. Esperança, isso era o sentimento desconhecido. Acabei de me arrumar e fui ate o Jardim, me sentar na fonte, como eu fazia todos as noites. Ele não estava la, e nem tinha estado. Seu cheiro não restava la, nem de muito tempo atrás.

 

A lua estava minguante, o seu parcialmente encoberto pelas nuvens negras da noite. Minha mente começou a vagar, pelas estrelas. Para depois me perder na escultura de um beija-flor que existia sobre a fonte. Era lindo e pequeno, como os pássaros são.

 

“O beija-flor é o símbolo de Huitzilopochtli. Um feroz deus da guerra asteca. Diz a lenda que já nasceu vestindo uma armadura completa e imediatamente matou quatrocentos irmãos  e irmãs.” A voz  de Alec chegou como um sussurro ao meu ouvido, ao mesmo tempo que seu cheiro me alcançava.

 

“Prefiro ver apenas como um passara pequeno e delicado, que se alimenta de néctar.” Eu respondi sorrindo.

 

Era estranho como Alec via tudo de um modo histórico, um modo sem sentimentos. Me levantei, e ele se aproximou de mim, parando ao meu lado. A respiração estava calma, eu lutava para manter a minha igualmente calma.

 

“É a nossa lei.” Ele estava se desculpando pela cena que presenciei pela manha.

 

“Um novo mundo, uma nova lei.” Eu suspirei, ele tinha vindo me confortar.

 

O silencio reinou por pouco mais de uma hora, os dois observando a lua, sem ousar dizer uma palavra. Ate que Alec, sorriu.

 

“Sabes que dia é hoje?” ele se virou para mim, os olhos vermelhos me aquecendo.

 

“Segunda. Eu acho.” Eu sorri de volta, o vento jogando meus cabelos para frente, fazendo alguns fios tocarem minha face.

 

“Dia da lua em nórdico.” Ele disse sorrindo.

 

“Sabe de tantas coisas...”

 

“Sou conhecedor de muitas culturas.” Ele me complementou.

 

“Quantos anos?” perguntei envergonhada.

 

“Muitos mais do que você.” Ele não sorriu, ficou congelado, olhando a lua.

 

“Não parece.” Eu disse entre sussurros.

 

“Dezessete.” ele sorriu.

 

“Dezoito.” Ele não havia me perguntado, mais eu o informei.

 

“Sabes que sou mais velho que isso.” Ele disse triste.

 

“Duzentos?” eu apenas brinquei.

 

“Alguns mais.” Ele brincou,e então se sentou na fonte, onde eu costumava me sentar. Me sentei ao seu lado.

 

Mais uma vez o silencio, e junto com ele as lembranças dessa manha. Da tortura provocada pela Jane,e então mais uma vez pequei pela curiosidade. A minha vontade de saber mais sobre ele era insana. E eu não consegui prender as palavras.

 

“O que você faz?” perguntei o encarando, como não tinha feito ainda.

 

“Como?” ele não entendeu.

 

“Seu Dom.” eu me senti envergonhada, me encolhendo.

 

“Ainda não sabes?” ele ficou surpreso.

 

“Não.” Minha voz falhou um tom, demonstrando meu medo.

 

“Teme? Teme o que eu poça fazer?” ele me olhava sério, me fazendo mergulhar na escuridão vermelha.

 

“Receio.” Eu não mentiria, não precisava disso.

 

“Tens coragem?” ele me perguntou sorrindo.

 

“Sim.” eu respondi, acenando com a cabeça.

 

“Deixe que eu mostre-a.” ele me pediu.

 

O medo tomava metade do meu ser, enquanto a curiosidade a outra, foi preciso a intervenção de mais um sentimento para me fazer escolher, a confiança. De algum modo eu confiava nesse estranho, nesse vampiro.

 

“Faça.” Eu fechei os olhos, esperando por algo doloroso e doentio.

 

“Abra os olhos.” Ele pediu, e eu o fiz.

 

E então tudo sumiu. Ele sumiu, a lua sumiu, tudo. O vento se calou,  os cheiros desapareceram. Me vi no escuro, no vazio. O medo tomou conta de mim. fazendo minha respiração arfar. E então senti o toque quente e macio de sua mão em minha face, fazendo minha respiração se acalmar.  E então tudo voltou, aos poucos. Os sons, os cheiros, a lua. O Alec.

 

“Assustada?” ele me olhava serio, era esse o dom dele. Privar dos sentidos.

 

“Satisfeita.” Eu sorri, ele não matava ou torturava, não como a irmã.

 

“o que imaginavas?” Ele deixou a curiosidade rondar.

 

“Dor.” Eu desabafei.

 

“Se assustou com a minha irmã?” ele não desviava os olhos dos meus, me deixando desligada do mundo a nossa volta.

 

“Fiquei surpresa.” Eu sorri.

 

“Aro aposta muito em ti.” Ela se virou para a lua, me privando da escuridão vermelha.

 

“Não acho que tenha motivos.” Dei os ombros.

 

(Alec)

 

O silencio voltou a reinar, por horas. Ate que o negro da noite começou a ser balançado, pelos raios de luz da manha. A visão do amanhecer, a visão linda e ingênua do amanhecer. Se comparando a beleza reluzente do ser ao me lado, cujo perfume me invadia como veneno.

 

Me virei novamente, observando o rosto angelical. Sem duvidas era um ser divino, a beleza não era como a das outras tantas. Minhas mãos ansiavam por tocar a face mais uma vez, mais o medo me paralisava.

 

“Lindo.” Ela disse olhando o amanhecer.

 

Uma eletricidade correu por minhas veias, erguendo minha mão em direção a face serena, que se assustou com o meu toque. Para depois cair sobre minha palma. Olhando-me com os olhos medrosos.

 

“És o ser mais divino que cruzou minha vida.” As palavras buscavam sentidos no meio da confusão que estava meu coração.

 

“Não acho que quem mate seja divino.” Ela se afastou do meu toque, se erguendo.

 

Seu corpo delineado sendo conduzido pelos raios de sol para fora do jardim, sentia uma dor aguda dentro de mim. Queria ve-la outra vez, queria toca-la outra vez, não poderia deixar que ela fosse embora, mas já tinha deixado. Ela já estava subindo as escadas, e so me restava acabar de apreciar o amanhecer sem graça.

 

O amanhecer foi turvo e sem vida, e eu me vi parado no sol, observando o vazio. Meus passos foram leves e tranqüilos ate meu aposento. Não tive tempo de me sentar e Felix surgiu.

 

“Aro esta chamando por você.” Ele acabou de dar o recado e sai as pressas.

 

Voltei a caminhar na direção da sala de reuniões, encontrando com Corin no caminho.

 

“Sobre o que se trata?”

 

“Sobre a novata.” Senti um aperto forte nas costelas quando Corin disse que o assunto seria a Samarah, não estava preparado para ter que vê-la partir. Me aprecei para tentar impedir.

 

Passei pelos corredores com velocidade, chegando rapidamente ao portal. Jane estava me observando, sorrindo. O mesmo sorriso falso e sem vida que habitava os lábios rosados a tanto tempo.

 

“Demorou.” Ela disse seria, e me acompanhou para dentro da sala.

 

Todos estavam presentes, com exceção de Samarah e Sulpicia. Aro se mostrava alegre, mas não sabia se podia confiar na expressão em seu rosto. Me sentia nervoso e medroso, fraquezas que eu não possuía a muito tempo, e agora me atropelavam com ira.

 

“Estamos todos aqui.” Jane sorria, o que fazia achar que não seria um futuro desejável o de Samarah.

 

“Bem, o assunto e a nova inquisição. Eu sinto que ela é especial, porém ela não esta demonstrando nenhum Dom.” Aro começou o discurso.

 

“Esta pensando em eliminá-la irmão?” Caius se manifestou.

 

Senti um bolo dentro do meu peito, apertando minhas costelas. Sensações de dor, sensações ate agora desconhecidas por mim. queria gritar por ela, mas me mantive calado, com medo de gemidos saírem no lugar de palavras se eu abrisse a boca.

 

“Não seria capaz disso, ela é especial para Sulpicia.” Me tranqüilizei, senti o ar deslizar pelas minhas narinas com suavidade.

 

“Mas se ela não é útil...” não deixei Jane terminar.

 

“Ainda é muito nova, talvez com o tempo.” Me vi defendendo a Samarah, o que me fez prender as palavras atrás dos lábios.

 

“Talvez ela seja ainda mais importante.” Marcus sorriu, me fitando de um modo constrangedor.

 

“De qualquer forma, estou curioso. Penso se não seria uma boa idéia chamar Ateneu.” Aro se virou para os outros dois irmãos, mostrando que a decisão eram deles, nós so estávamos presentes para testemunhar.

 

“Colocaríamos um ponto final nessa duvida.” Caius concordou, e Marcus acenou com a cabeça.

 

“ Chelsea e Afton vão ate Roma e convide Ateneu para uma visita.” Aro sorriu, por pouco não deixei meus lábios se curvarem em um sorriso também.

 

Chelsea e Afton se apresaram para cumprir as ordens. Marcus ainda me olhava sorrindo, me fazendo ficar nervoso diante do olhar composto de julgamentos. Aro pareceu notar, e sorriu, dispensando todos nós. Jane caminhou bufando ao meu lado.

 

“Por que você a defendeu?” Ela me julgava.

 

“Acho que ela pode ser útil.” Eu menti.

 

“Útil? Ela tem pena dos humanos!” Jane esbravejou.

 

“Irmão, não me perturbe.” Fui rude e me afastei, buscando o refugio de meu quarto.

 

Tomei um banho e troquei as roupas, apanhando um livro logo em seguida e me sentando para ler. Corria os olhos pelas paginas, buscando algo que me prendesse e então encontrei, as letras formando palavras doces e humanas.

 

O coração se transforma em um corcel,

Galopando pelo escuro.

O ar vira um turbulento rio,

Indo de encontro ao mar,

Arranhando a garganta.

As mãos se banham de orvalho,

Com a aproximação do fruto divino.

A voz se falha,

O homem se cala,

E o Amor se faz presente.

 

A descrição do amor pelos olhos de um alemão. De um humano. Nesse momento invejei os humanos, invejei ter um coração batendo no peito, ou suor escorrendo das mãos. Mas a única coisa que eu tenho em mim, e a vontade de encontrar o meu anjo, que destruiu todo o meu peito.

 

“Entre.” Eu respondi antes que Marcus alcançasse minha porta.

 

“Sabes que não me engana.” Ela se aproximou de mim, passando por entre as pilhas de livros que existem no meu quarto.

 

“Sabes que não sei o que esta acontecendo.” Confessei fechando o livro que estava em minhas mãos.

 

“Confuso?” Marcus parou diante de mim.

 

“Já se apaixonou?”

 

“Já amei.” Ela sorriu. “Há um grande barreira que separa o amor da paixão, o amor aperta, a paixão sufoca.” Ele concluiu.

 

“Eu já me apaixonei?”

 

“Amando.” Ele sorriu.

 

“Como sabes? Não tenho coração para acelerar, não preciso do ar para notar que ele esta faltando!” exaltei minha voz, lançando o livro sobre a mesa, e minhas mãos ao lado dele.

 

“Não precisa o coração bater para falhar, é so deixar ele falar.” Marcus começou a caminhar para a porta.

 

“Ela corresponde?” me vi esperançoso, teria eu encontrado uma parceira?

 

“Fale com ela.” ela se foi, me deixando imerso em duvidas e desespero.

 

eu queria dizer a ela que a amava, mas eu não tinha certeza. Eu nunca tinha me envolvido com alguém. Como humano nunca conheci mulher, como vampiro me esquivei de todas. Não queria me render a mais um pecado. Meu coração nunca acelerou, nunca falhou.

 

 

Sentimentos

 

 

(Alec)

 

Entrei no aposento do Aro com delicadeza, ele estava olhando pela janela. Se virou sorrindo, e estendeu a mão para mim. deixei a minha repousar sobre a dele,  então a leve corrente se espalhando por mim, para depois Aro me soltar e sorrir.

 

“Marcus tinha razão.” Ele concluiu.

 

“Gostaria de levá-la comigo essa noite.” Eu o pedi permissão para sai do castelo com Samarah.

 

“Sei que tomará todos os cuidados necessários.” Ele sorriu e voltou a analisar a janela, e eu me retirei.

 

Indo na direção do cheiro da Samarah, que me tomava pelos corredores. O cheiro tão parecido com o meu se fez presente, e logo Jane surgiu em minha frente. Os olhos estreitos, me odiando.

 

“Onde vais?”  ela me fuzilava com o rosto de menina.

 

“Falar com a Samarah.” Eu disse firme, e ela apertou ainda mais os olhos.

 

“Você esta me trocando! Assim como o Aro!” ela gritou e agrediu meu peito com um murro, livre de força.

 

“Não diga blasfêmias! Sabes que te amo.” Eu a segurei pelos ombros.

 

“Amas? Então por que esta procurando por ela?” ela estava irritada.

 

“Você é minha família, minha irmã. Você sempre estará em minha vida Jane.” Eu abracei-a com força.

 

“Não és verdade, logo só terá olhos para ela, e esquecerá de mim.”  ela resmungava agarrada ao meu abraço.

 

“Sabes que nunca te deixarei.” Eu a assegurei disso, eu amava minha irmã mas que tudo, e ninguém mudaria isso.

 

“E se ela te pedisse?” o olhar de Jane era doentio, como se tivesse medo que eu não estivesse do lado dela do mesmo modo que não consegui esta naquela noite que ela fora violentada.

 

“Ela é como um anjo, nunca faria isso.” Eu assegurei. Então Jane me abraçou com força. para logo depois correr pelo corredor mau iluminado.

 

As memórias de quando Jane sorria, ou fazia bolos junto com a minha mãe me atormentavam, mas pior que isso é a certeza que ela nunca mais será essa menina doce que fora. Outro cheiro me abalou.

 

Os passos contidos e delicados, atravessando o silencio. Pude perceber que quando sentiu meu cheiro parou, para depois apertar os passos vindo ao meu encontro. Os cabelos transados de uma forma delicada. Uma fita branca de cetim prendia o final da trança.

 

“Me desculpe.” Ela pediu se aproximando.

 

“Eu entendo.” Eu sabia como era ser um recém criado, não iria julgá-la.

 

“Ainda não me acostumei.” Ela sorriu, o olhar baixo, fugindo do meu.

 

“Gostaria que você me acompanhasse essa noite.” Estendi minha mão em sua direção, ela a tocou receosa.

 

“Para onde?” a voz era tão doce e ao mesmo tempo sensual.

 

Seus olhos brincando com os meus, brilhando. Ela sorria levemente, enquanto eu usava meus dedos para acariciar os seus. Sua mão era tão delicada, tão quente. Meus olhos se prendiam nos dela, e o ar chegou a faltar em meu peito.

 

“Me encontre quando o sol de por.” Eu disse sorrindo.

 

“No jardim?” Ela perguntou curiosa.

 

“Em seus aposentos.” Tomei cuidado para que ela não interpretasse errado a minha intenção.

 

“Tudo bem.” Ela sorriu e soltou minha mão, saindo correndo pelo corredor que dava na sala onde Sulpicia pintava.

 

 

(Samarah)

 

Entrei sem bater, Sulpicia já sabia que eu estava me aproximando a segundos atrás. Ela largou o pincel e me olhou sorrindo.

 

“O que foi criança?” Ela se virou, largando também a aquarela.

 

Meu corpo parecia não responde as comandos certos, era para mim estar tremendo, o coração acelerado, mas eu estava calma e assustada. As cores dos quadros estavam mais vivas, e Sulpícia me olhava sorrindo, ou será que era o meu sorriso que refletia em sua face?

 

“Alec.” Eu disse tímida.

 

“Marcus não erra.” Ela disse para si mesma, sorrindo.

 

“Eu acho que estou gostando dele.” Eu confessei.

 

“Aro ficará feliz em saber que Alec enfim encontrou uma parceira.” Ela voltou a pintar.

 

“Não sou boa em compromisso.” Eu sorri, meus relacionamentos não sobreviveram a mais de dois meses.

 

“Agora é diferente, quando você ama é para a eternidade.” Sulpicia dizia serena.

 

“Tenho medo da eternidade” eu assumi.

 

(Alec)

 

Estava acabando de colher a única rosa vermelha rubi. O perfume era singelo, mas agradável. Subi os lances de escada ate o corredor do aposento de Samarah,depois caminhei apressadamente ate seu aposento. O perfume dela me alcançava tão rapidamente, e tão bruscamente.

 

Ela abriu a porta sorrindo, a beleza angelical me afundando em sentimentos desconhecidos. Um instante observando sua face, foi o suficiente para menosprezar a rosa em minhas mãos. Era tão pouco comparado a ela.

 

“Boa noite.” Estendi a rosa a ela, que pegou e cheirou, como se ainda fosse preciso.

 

“Obrigada, é linda.” Ela sorriu.

 

“Pronta?” estendi meu braço.

 

“Onde vamos?” Ela colocou a rosa no cabelo, encaixando seu braço no meu.

 

“Caminhar.” Eu sorri.

 

“Não posso sair do Castelo.” Ela se mostrou responsável.

 

“Já cuidei disso.” A conduzi para a janela, que dava na parte de trás do castelo, onde era deserto.

 

“Tem medo de altura?” perguntei afastando as grossas cortinas.

 

“Não.” Ela sorriu, pulando, eu a segui.

 

Peguei novamente em sua mão, quente e macia. Ela sorria. Sentia como se fosse humano outra vez, o nervosismo, a ansiedade. Sentimentos com os quais eu não sabia lidar. Estava acostumado com a dor, com o medo, com a vingança.

 

“O que vai acontecer se encontrarmos humanos?” ela perguntou amedrontada.

 

“Creio que isso não acontecerá,  de qualquer forma, eu de detenho.” Eu sorri.

 

“Onde vai me levar?” ela caminhava saltitando devagar, estava feliz de sair do castelo.

 

“Ainda não sei.” fui sincero, eu não sabia onde poderia levar meu anjo, só sabia que queria estar com ela.

 

Caminhamos por dentro da floresta por um bom tempo, ela sorria abertamente, o que me fazia sorrir junto com ela. Como consegui existir por tantos anos sem ter ela junto a mim? Era uma pergunta que eu não sabia responder.

 

Nós sentamos em uma pequena arvores que estava caída, as cigarras marcavam presença. O vento ruía entre os galhos, balançando as folhas ainda verdes. O cenário de um livro, presenciado por um anjo. Toda a beleza da noite não era nada comparado a  Samarah.

 

“Já se apaixonou?” Ela não me olhava nos olhos, enquanto pensava na resposta.

 

“Creio que sim.” ela sorriu, envergonhada.

 

“Meu coração nunca acelerou.” Eu confessei.

 

“E agora?” Ela perguntou se escondendo atrás dos cabelos, encarando a lua.

 

“Não tenho mais coração.” as palavras cortavam minha garganta, a verdade é difícil de ser dita.

 

“Não é verdade, é so você acreditar que vai senti-lo.” Ela se aproximou de mim, tocando minha mão.

 

“Consegue sentir o teu?” Segurei a face divina entre minhas mãos.

 

“Quando você me toca.” Ela admitiu.

 

“preciso de ti.” Eu admiti me aproximando.

 

“Não foi isso que imaginei ouvir.” Ela sorriu, desviando o olhar para baixo.

 

“Não tenho certeza se posso realmente estar amando.” Nunca tinha sido tão sincero comigo mesmo.

 

“Isso é o amor, a incerteza.” Ela ainda não me olhava nos olhos.

 

“Você me ama?” Perguntei serio, temendo a resposta.

 

 Os olhos vermelhos se ergueram encontrando os meus de uma forma única, jamais presenciada. Um calor se formava em meu peito, gritando para me aproximar cada vez mais dela. Eu tinha sede, tinha ânsia dela.

 

“Desde que me mostrou seu mundo.” Ela se referia ao dia que a mostrei porque não podíamos sair na luz do sol, o dia que pensei que ela não fosse bela.

 

“Te amo.” Foram as palavras mais duras, e mais difíceis que já saíram pelos meus lábios. Era a única verdade.

 

Os lábios se erguendo em um sorriso singelo, sua face refletindo o prateado da lua. Me aproximei vagarosamente, tomando seu corpo em meus braços e tocando seus lábios com os meus.

 

Se eu não soubesse que era impossível, juraria que meu coração deu uma leve e fraca batida quando senti o gosto divino desse anjo. Seus lábios acariciavam os meus com delicadeza, era claro que era sabia o que estava fazendo, não era como eu. Me vi perdido, mas de algum modo sabia o que fazer.

 

A tomava em meus braços, mas sem a forçar, sem a apertar demais. Ela era delicada e sutil, como uma rosa. Passamos horas perdidos nos lábios um do outro. Quando me dei conta já estava nascendo o sol,e parecia que estávamos ali a menos de uma hora. Enfim a eternidade seria justa.

 

“Temos que ir.” Acariciei sua face pálida.

 

“Claro.” Ela sorriu, me beijando outra vez e se levantando para irmos.

 

Corríamos de mãos dadas, como nunca imaginei fazer. Ela era minha. Essa era uma certeza plena em meus pensamentos confusos, assim que cruzamos os portões do castelo encontrei com Santiago.

 

“Vamos, Ateneu já chegou, e esta ansioso.” Aprecei os passos, conduzindo Samarah ao meu lado, ela estava assustada.

 

“O que teme?” Perguntei a ela enquanto andávamos.

 

“Que Aro me mande embora.” Ela abaixou os olhos.

 

“Ele não vai.” Eu tinha certeza disso.

 

Encontramos a sala cheia, todos estavam aqui em seus determinados lugares, meu lugar estava vago, ao lado de Jane. A indecisão me atingiu, não sabia se iria ate lá ou não, algo dentro de mim me mandava ficar ao lado de Samarah, mas eu sabia que meu lugar era ao lado de Jane, mostrando meu lugar na guarda.

 

Beijei a mão se Samarah, me afastando tomando meu lugar. Ela me olhava temendo, e isso me machucava. Ateneu estava sorrindo, olhando para Samarah, senti um monstro se formar dentro do meu peito, algo estranho, algo que mandava eu atacar nesse momento. Senti minhas narinas inflarem com a fúria, ela estava desejando ela.

 

 

 

Maldições

 

(Samarah)

 

Novamente tinha todos os olhos vermelhos presos em mim, pesando. Eu estava com medo, com muito medo. Eles não podiam me tirar daqui, não agora que eu tinha o Alec, eles não podiam. De todos os olhos, um par em especial me perseguia mais profundamente. Um homem alto, cabelos curtos, a pele era tão fina  como a de Aro. Aparentava uns trinta anos, usava roupas modernas, tinha um ar conquistador. E um sorriso lindo.

 

“Esse é Ateneu.” Aro nos apresentou.

 

“Samarah.” Aro fez as honras.

 

“Linda.” Ateneu sorriu, eu me assustei ainda mais.

 

“Permita-me.” Ele esticou uma das mãos ate mim, eu olhei para Aro, tentando entender o que estava acontecendo.

 

“Ele ´so ira descobrir se você tem ou não um dom.” Aro sorriu.

 

E se eu não tiver? E se eu não for boa o suficiente para continuar aqui? E se me separarem do Alec? Meu peito estava apertado, minha respiração curta. Fechei os olhos e estiquei minha mãe, tocando a pele de papel. E então uma pequena onda passou por mim.

 

“Hum, estou encantado.” Ateneu sorria abertamente.

 

“Ela possui o dom?” Marcus perguntou.

 

“Certamente que sim, e é algo que eu nunca vi nesses meus 1 056 anos de existência.” Ateneu se movimentou para o lado de Aro.

 

“É algo simplesmente único, sinto dizer mais o dom de nenhum vampiro dessa sala é do tamanho ou maior que o dela.” Senti os olhos de todos me perfurarem como balas, e um alivio brotou, eu seria expulsa.

 

“Como? O que ela faz?” Jane não tinha ficado contende com a noticia.

 

“Loira, isso eu não sei. Apenas sinto o potencial do dom, não que tipo de dom é.” Ateneu se desculpou com a Jane, que revirou os olhos.

 

“Por que ainda não se manifestou?” Caius parecia interessado.

 

“Alguns dons precisam de um estimulo.” Aro sorriu, se vangloriando por estar certo a meu respeito.

 

“Que tal um estimulo?” Ateneu encarou o Aro.

 

“Santiago, poderia manter Samarah em silencio?” Me assustei, o que estava acontecendo, o que eles viam como estimulo.

 

Alec me olhava temendo, eu sentia meu coração lutar para bater, mas era em vão ele estava transformado em pedra, senti  os braços de Santiago me envolverem, e tentei perguntar o que estava acontecendo, mas minhas garganta estava selada, eu não conseguia emitir som algum.

 

Uma arma bem eficaz quando se esta matando, evitar que os adversário escutem os gritos. O elemento surpresa.

 

Por um momento eu pensei ter visto Alec dar um passo, mas ele continuava parado. E eu não o culpava, ele era um soldado, tinha ordens para cumprir.

 

“Jane.” Aro disse calmo, e ela sorriu alegremente, ela estava feliz com isso.

 

E então uma dor aguda me atingiu, me fazendo tremer, e gritar em silencio. Parecia estar me quebrando, me estourando, me rasgando. Meu corpo tremia em reflexo a dor aguda.  E ela ia aumentando, cada vez mais. Era quase igual o inferno de se transformar. Na medida que aumentava, eu me contorcia. E comecei a explorar meu interior, buscando esse dom.

 

Encontrei uma porta trancada, que lutei para destrancar. Quando a dor chegou ao maximo, aporta se escancarou. Imediatamente os braços em volta se mim escorregaram e a dor parou, me fazendo cair de joelhos. Abri os olhos para encontrar Alec na minha frente, sendo detido de chegar ate mim por Ateneu, que sorria.

 

Todos os outros olhos não estavam em mim e sim atrás de mim, então me virei para encontrar um corpo em um avançado estado de decomposição, somente pele roxa e negra e ossos estavam ali. Eu me atirei para trás. Eu tinha feito isso a ele? eu tinha matado? E o pior um vampiro?

 

“Vampiros não morrem assim.” Alguém falou, mas não reconheci a voz, era como se minha cabeça estivesse atirada dentro de uma colméia, repletas de abelhas que me ferroavam.

 

“Ela é magnífica.”

 

“Ela não esta se sentindo bem.”

 

“Ela vai ficar bem.”

 

“Ela retira a vida,  mesmo de um vampiro.”

Tudo parecia rodar. Eu estava confusa, e tentei me levantar, mas não consegui. Eu queria poder desmaiar, me livrar disso tudo, mas não conseguia. O inferno parecia não ter fim. Então eu gritei.

 

“Para! Para com isso.” Eu comecei o soluçar, ate que as vozes se foram, e meus olhos se fecharam me imergindo em uma doce e calma escuridão. Passei algum tempo assim, ali sozinha, desmaiada.

 

Com o passar do tempo, eu percebi que eu não estava desmaiada, e nem poderia estar vampiros não desmaiam. Notei que estava pensando normalmente, so estava desligada do mundo. Alec. Eu queria agradecer mas esse não era o momento, não agora. Eu tinha que entender o que estava se passando comigo.

 

Mergulhei dentro de mim, encontrando a mesma porta de antes. Mas dessa fez ela estava aberta, eu tentei fechar, mas não consegui. O maximo que consegui foi encosta-la, e algo me dizia que isso não seria o bastante.

 

Eu tinha repulsa ao dom da Jane, e agora o meu era ainda pior. Eu carregava a morte em minha pele. Eu queria chorar diante disso, mas não podia. Ser um monstro me impedia. Eu tentava entender como isso estava acontecendo, quando tudo começou a clarear vagarosamente.

 

Entre as bordas ainda escuras da minha visão, a face delicada e preocupada do Alec aparecia, os olhos buscando os meus. Na media em que minha visão era ampliada, avistei Aro, Ateneu, Caius, Marcus e Sulpicia. Todos pareciam preocupados.

 

“Samarah, você esta bem? Ou prefere descansar mais um pouco.” Alec perguntou docemente.

 

“Estou bem.” Eu me sentei.

 

“Criança, você é divina.” Aro cantarolou.

 

“Divindade não tem nada haver com morte.” Eu disse ríspida.

 

“Calma.” Alec tocou meu rosto, mas seu toque me alegrou, fazendo a porta ser aberta outra vez.

 

Alec rapidamente retirou a mão de mim, seus dedos tingidos de preto levemente nas pontas, eu me assustei ainda mais. Me arrastando para trás.Todos olhavam a mão de Alec com curiosidade, eu já estava em soluços quando notei que ela já estava voltando ao branco pálido outra vez.

 

“Não é mortal.” Sulpicia disse, me olhando.

 

“Para ele foi.” Marcus balançou a cabeça na direção de Santiago.

 

“É como todos os dons, ela controla a intensidade.” Aro sorriu.

 

“Com um pouco de treinamento, ela saberá atacar.” Ateneu sorriu.

 

“Enquanto isso não toque em ninguém.” Ateneu brincou.

 

Eu não tocaria nem mesmo se quisesse, eu não queria provocar a morte. Eu não queria ter esse peso em minhas costas. Tentei não entrar novamente em colapso,  fechei meus olhos por alguns instantes buscando m esconder dessa realidade, escutei os passos das pessoas se afastando, mas um continuou ao meu lado, imóvel esperando eu reagir.

 

“Alec.” Eu disse entre os dentes, ainda traumatizada.

 

“Eu estou bem.” Ele garantiu, mas essas palavras não eram mais o bastante, não agora que eu poderia mata-lo somente com um toque.

 

“Não queria te machucar.” Eu abri meus olhos, encarando os dele.

 

“Você não vai.” Ele sorriu., eu tentei acreditar, mas era impossível.

 

 

Os dias se passavam rapidamente, eu não tocava em ninguém e evitava ao maximo que me tocavam, mas as vezes era inevitável, e eles se assustavam, mas nada de grava tinha ocorrido. Os treinamentos eram intensos e exaustivos, mas eu já conseguia manter a porta fechada.

 

Como sempre fui controlada pelas minhas emoções, e agora não esta sendo diferente, quando eu me exalto, me assusto, ou me alegro  aporta é imediatamente escancarada. O que esta me impedindo de tocar no Alec, e isso estava me deixando cada dia mais infeliz.

 

Acabei de me vesti e comecei a pentear os cabelos quando Alec entrou em meu quarto, a face preocupada.

 

“O que foi?” Me assustei. Agora não tinha mais o medo de ser explusa, eu era importante pata eles.

 

“Você vai a uma missão.” Alec não parecia contente.

 

“Como assim uma missão?” Acabei de transar meus cabelo, e me voltei na direção de Alec.

 

“Um Clã com três membros esta devastando uma aldeia no interior da Índia.” Ele não precisou completar, eu já sabia das regras, para saber que eles seriam punidos, mas eu nunca tinha ido em uma missão antes.

 

“Quando?”

 

“Saímos daqui a duas horas.” Alec me avisou, e beijou minha mão rapidamente, isso era o maximo que eu suportava sem deixar a porta ser escancarada e sugar toda a vida do único ser que eu realmente amei.

 

 

(Alec)

 

Era duro para mim ter que ver o sofrimento de Samarah.

 

Um dom tão infernal dentro de um corpo tão angelical.

 

Minhas mão brincavam com o barra da blusa que Samarah usava enquanto esperávamos o avião pousar, ela estava assustada. Nunca tinha vindo a uma missão. Aro estava contente em ter ela na frente da guarda, ao meu lado e de Jane, Sulpicia que não gostava, estava temendo pela vida de Samarah.

 

Samarah apreciava a vista da janela do avião, Jane estava inquieta, do meu esquerdo. ela não gostava de ter mais alguém na frente da guarda. Samarah se culpava por ter esse dom, e Jane a invejava.

 

A aeromoça vei conferir se todos estavam devidamente sentados e com o cinto de segurança, Samarah me olhou delicadamente e pos sua mão sobre a minha, tão cuidadosamente. Ela possuía mais medo do que qualquer outro.

 

O céu estava tingindo de um negro limpo, sem nuvens. Descemos do avião com cuidado, e logo colocamos nossos mantos, para iniciarmos nossa corrida ate a pequena vila. Renata estava ao lado de Aro como de costume, Marcus e Caius ao lado de Aro, com o resto da guarda em volta deles. Jane, eu e Samarah íamos um pouco a frente.

 

Não demorou ate que percorrêssemos todo o caminho, e o cheiro de sangue fresco estava no ar. Seguimos a trilha do aroma, ate chegarmos a uma pequena fazenda. O cheiro era claro, três vampiros, um mais maduro e dois recém criados.

 

Nos posicionamos, e ficamos a espera deles terminarem com os dois corpos que já estavam sugando, Samarah, fechava os olhos para não ver a cena, ela ainda se incomoda em tirar a vida dos humanos. Queria puxa-la e acalmá-la em meu peito, mas me contive.

 

Logo o vampiro desconhecido se aproximou.

 

“Devem ser os Volturi.” Ele disse sorrindo.

 

“Sim meu caro.” Aro sorriu cinicamente.

 

“Jims, meu nome é Jims.” O vampiro sorriu.

 

“Não conhece as regras?” Aro era firme.

 

“Regras, não passam de simples palavras...”

 

“O que achas que os humanos estão pensando diante dessa situação? Mas de vinte e cinco mortos.”

 

“Sabe como é, estava me sentindo muito solitário, e resolvi criar uma companheira e um filho.” Jims sorria, como se isso fosse totalmente perfeito.

 

“Estão fora de controle?” Aro perguntou.

 

“As vezes.” Ele sorriu.

 

Ele podia não perceber, mas tinha acabado de condena-los a morte, tinha sido mais fácil do muitas vezes, ele próprio tinha se entregado, admitido os crimes, não precisaria ser julgado. Eu estava pronto, a espera do sinal, e então veio.

 

“Se me permite, queria debater sua situação com meus irmãos.” Esse era o sinal, enquanto Aro se juntava a Caius e Marcus, eu atacava.

 

Deixei toda a nevoa que estava pressa em mim sair, e então a vampira de cabelos curtos e loiros se desorientou, o rapaz que não parecia ser mais velho do que eu tentou correr sem enxergar, Jane o deteve. Mas faltava um.

 

Entre os gritos de dor do jovem vampiro que a Jane sossegava, e os berros de desespero da vampira loira eu ouvi um passar de pernas, uma corrida rápida. Muito rápida para quem não tem sentidos, me aprecei e olhei para Aro que estava intacto, com Renata ao seu lado. Então os passos mudaram de dirrção fazendo Feliz ir atrás, enquanto isso eu ouvi o grito contraído de Samarah e me virei, vendo ela nos braços de Jims, nesse momento o desespero me encontrou.

 

“Eu sei sobre os dons de seus empregados.” Jims sorria. “Eu sei que a loirinha adora torturar” nesse momento Jane aumentou ainda mais a intensidade da dor. “Esse moleque ai tira nosso sentidos.” Ele se referiu a mim.

 

“Eu não sei o seu dom.” Aro sorriu.

 

“è um escudo, ele me protege dos ataques mentais e físicos.” Assim como o da nova Cullen, mas por que ele não usa o escudo nos outros?

 

“Uma defesa eficaz.” Foi por causa da Bella que não derrotamos os Cullen, nem ao menos batalhamos.

 

Eu me senti sozinho, Samarah não poderia ataca-lo, ela estava entregue a sorte. Se ela morresse, não sei o que seria de mim, não sei o que eu faria, não sei se viveria.

 

“Pena que não seja como da vampira dos EUA.” Ele se referia a Bella.

 

“Eu não posso abrir meu campo.” Ele disse encolhendo o sorriso.

 

Nesse momento me arrependi amargamente de ter deixado Samarah vir na frente da guarda, se ela estivesse atrás com os outros, ele não teria conseguido pega-la, mas ela estava sozinha, na estrema esquerda. Um peça fácil de ser pega.

 

Seus olhos borbulhavam medo, eu podia ver seus músculos tremerem, enquanto Jims acariciava seu pescoço, pronto para arrancar sua cabeça a qualquer momento. Era como se o ar estivesse me cortando, me arranhando pó dentro.

 

“Mas essa aqui é nova, eu não sei o que ela faz. Mas não é nada de  extraordinário, ela parece tão fraca.” Saarah fechou os olhos delicadamente, e Jims apertou seu pescoço, me cegando de ódio.

 

“Solte-a.” Eu disse baixo, mas ele ouviu.

 

“Então ela é so a parceira dele?” Nesse momento todos estavam em silencio, sabiam que um mexer de músculos podia acarretar na morte do mais novo objeto da coleção de Aro, o que o deixaria profundamente irritado.

 

“Não, ela é como uma filha.” Aro disse serio, e eu oscilei em saber se era verdade ou não o que ele dizia.

 

“Olhe o que você fez ao meu filho.” Ele apontou para o vampiro que se contorcia no chão.

 

E então ele se calou, e a pele começou a escurecer, sua carne definhando, como se fosse um simples humano. Ela tinha rompido a barreira do escudo dele. Eu estava tomado pela felicidade, ele desabou no chão, sem vida. E Samarah correu para a floresta em soluços, esperei Feliz alcançar vampira loira e corri atrás da Samarah.

 

Ela não estava longe, estava ajoelhada no meio da mata, soluçando fortemente, me posicionei atrás dela. Com medo de toca-la, eu me senti um péssimo por esta com medo de toca-la, mas eu sabia que ela ainda estava atacando, mesmo sem querer.

 

“O que foi que eu fiz? Eu sou um monstro.” Ela gritava, se virando na minha direção, os olhos dominados pela culpa.

 

“Você não é um monstro e sim um anjo. Meu anjo.” Eu tentei toca-la, me esquecendo do medo, mas ela desviou.

 

“Eu vi como você age, você não tem pena. Eles possuem sentimentos assim como nós.” Ela jogou na minha cara e se levantou, as palavras dela ecoando dentro de mim.

 

“Comigo você é doce, mas com eles é um monstro.” Ela tentava em vão conter os soluços.

 

“Afinal quem é você?” Ela me perguntou seria, e eu percebi que não sabia responder, tinha perdido essa resposta a tempos.

 

“Quem é você?” Eu retruquei.

 

“Alguém que não quer passar por cima de ninguém, alguém que ama, que odeia, mas que principalmente sabe diferenciar o certo do errado.” Ela disse ríspida e passou pór mim, me deixando sozinho.

 

Eu estava perdido, não fisicamente, mas mentalmente, como eu pude me esquecer quem eu sou?

 

Passei o resto da viagem de volta pensando em quem eu era. Encontrava mais perguntas do que respostas, mas uma coisa eu sabia, era era somente uma conseqüência de Samarah, uma dependência.

 

Não fui falar com ela e nem ela veio falar comigo, eu só iria procura-la quando soubesse a resposta, quando me encontrasse novamente. Jane não falou durante toda a viagem também, ela estava magoada.

 

Fui direto para meu quarto quando chegamos, a dor de não saber quem eu era ainda me sufocava.

 

 

Encontro

 

(Alec)

 

Já era tarde da noite, e eu ainda não tinha encontrado a resposta, ate que peguei um livro velho e pesado, e o abri., lendo o primeiro verso da página 236, o que me fez entender quem eu era.

 

Joguei o livro sobre a cama e comecei uma corrida para os aposentos de Samarah, minha boa educação escapou de mim, e eu entrei sem bater, observando uma figura pálida na janela. Ela não me encarou, continuou na mesma posição.

 

“Sou o sonho de tua esperança

Tua febre que nunca descansa

O delírio que te há de matar...”

 

 Eu disse sorrindo e então ela me olhou, o vazio de seus olhos me atingiram como uma cachoeira de palavras geladas.

 

“Isso não responde a minha pergunta.” E voz de anjo parecia tão triste.

 

“Eu sei, responde a minha.” Eu sorri, e ela me olhou confusa.

 

“Sua?” ela se virou me encarando, com a curiosidade nos olhos.

 

“De quem era você.” Eu sorri.

 

“Eu sou um delírio?” ela sorriu.

 

“Impossível um ser tão divino ser real.” Eu me aproximei.

 

“Mas quem é você” O sorriso em seus lábios morreu.

 

“Não sei, não me lembro ao certo. Mas nesse momento, sou um homem que ama incondicionalmente, e não tem medo.” Eu me lancei para mais perto, embriagado pelo seu perfume, tomado pela vontade de beija-la.

 

“Devia ter.” ela se afastou, abaixando a cabeça.

“Eu te amo.” Eu sorri, as palavras me atropelando.

 

“Eu te amo tanto.” Ela disse calma. “ e é por isso que não posso ficar, não posso te tocar.” Ela já começará a soluçar.

 

“Não tenho medo.” Eu repeti me aproximando ainda mais.

 

“Não faça isso...” ela deixou que eu me aproximasse, fechando os olhos.

 

“Me torne um homem completo.” Eu pedi, beijando vagarosamente seus lábios.

 

“Eu não posso.” Ela parecia aflita.

 

“Já vivi o suficiente, mas ainda não vivi a vida.” Eu disse a tomando em meus braços, não me importaria de morrer naquele momento.

 

Ela me beijou, com delicadeza e ardência, me tomando por completo com seu cheiro, eu me vi completamente nutrido pelo desejo. Minhas mãos percorrendo seu corpo, suas curvas. Meus lábios desceram pelo seu maxilar, alcançando a marcada mordia. Ela estremeceu ao toque de minha língua na cicatriz.

 

Eu me esquecia que poderia morrer a qualquer momento, e me entreguei a ela, por inteiro. A inexperiência me fez arrancar ao em vez de tirar o vestido de cetim que ela vestia, ela não pareceu se incomodar, ao menos se assustar. Ela continuou me beijando.

 

Minhas veias ardiam, como se estivessem composta por fogo como na noite da transformação, mas isso era apenas uma das sensações ate hoje desconhecidas por mim. o calor que subia e descia pela minha espinha, as ondas de choque que percorriam meu corpo com o toque sutil de Samarah.

 

Ela mordia os lábios, e fechava os olhos na medida que eu me via cada vez mais em seu interior, cercado  todos os lados por ela. eu me via completo, me via homem. Algo se formou dentro de mim, como uma corrente elétrica, que me fazia tremer levemente, parecia que eu perderia o controle, e eu não sabia o que estava me acontecendo.

 

Na media em eu Samarah me apertava ainda mais, a bola dentro de mim aumentava, ate que tudo se apagou, foi como se eu explodisse, deixando minha alma escapar de mim. não tenho como descrever o que acontecia em meu interior, eu estava sendo o que jamais fui, um homem. Meu corpo inteiro se contorceu, para depois desmoronar. Minha mente viajou para o paraíso.

 

Samarah me apertava ainda com mais força,  o que me fez voltar para ela. seu corpo inteiro tremeu, para depois ela relaxara, no apto do momento, eu senti como se tudo escorresse de mim, como se meu sangue estivesse sendo retirado de mim, os olhos vermelhos banhados pelo prazer me buscando... tudo escureceu.

 

Seria esse o preço a se pagar por estar com quem ama? Morrer. A morte de um imortal. As palavras tentavam me trazer do escuro, mas não conseguia, a escuridão era como um mar, me engolindo, me tragando. Sentia meu coração bater levemente, sentia meu corpo desalinhar.

 

A escuridão tinha tomado conta de tudo, e nos meus lábios ainda tinha o gosto de Samarah, o anjo que trouxe minha morte. Seu cheiro era o único que eu ainda conseguia sentir, seus olhos era a única coisa que eu ainda conseguia ver dentro da escuridão.

 

Um ar gelado me envolvia, e aos poucos eu me desprendia do meu corpo imóvel e frio. Meu peito parecia completo, cheio. A escuridão se aproximou ainda mais, me atingindo por inteiro. Eu estava mesmo morrendo, uma vida banhada de sangue, terminada com amor. Esse era o fim mais digno que eu poderia esperar.

 

A eternidade não tinha mais sentido, a morte era plena e satisfatória quando traga por um anjo. Não tenho como descrever a morte, a não ser que é a maior explicação para o amor. A escuridão se fez por completo.

 

 

 

( Samarah)

 

Meu corpo tremai em soluços. Minhas mãos acariciavam o corpo sem vida de Alec. O desespero me atingindo, eu tinha matado a única pessoa que eu realmente amei. Na media que eu me desesperava ainda mais, meu corpo começou a tremer.

 

Eu me deitei ao lado de Alec e desejei firmemente a morte, e não demorou ate ela aparecer. Meu corpo começou a queimar, e eu entendi. Me concentrei na porta aberta, e tentei abri-la ainda mais.

 

Meu olhos buscando os olhos já sem cor de Alec, eu beijava seis lábios. Eu fui a culpada. Meu sangue parecia escorrer de mim, tudo começou a escurecer. Um buraco dentro de mim se encolheu, e eu fechei os olhos, beijando pela ultima vez os lábios de Alec. Encontrando o vazio da morte em seguida.

 

 

 

 

O sol nascia gentilmente,

Invadindo as vidraças

Explorando as cortinas

E encontrando em meio a um abraço

Dois amantes,

Que encontraram na morte

O amor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

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