O Infinito de Joseph Weeks escrita por Vitor Matheus


Capítulo 9
Um Novo Trauma Para Joseph Weeks


Notas iniciais do capítulo

"Que a tragédia comece e a morte não esteja ao favor de Joe Weeks." - LISPECTOR, André S.

Causei medo em vocês com a frase filosófica acima, não é mesmo? Gostaria de agradecer a Zoe pelos comentários e pelos favoritos de Joseph Falks (a tragédia chegou, eu avisei!) e Clara Blanco (lembra quando eu dizimei Demi e Ludmila em Código de Amizade?). Vocês me fazem feliz com isso. Agradeço também aos que acompanham e nunca comentam, já que ficam tão impressionados com a fic que não encontram palavras para comentar. É assim que eu imagino como sendo os leitores fantasmas.

Boa/trágica leitura! ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/537046/chapter/9

Estava com medo de abrir os olhos. “E se eu já estivesse morto e estivesse no céu? Vale tudo no mundo da imaginação”, pensei comigo mesmo, enquanto decidia se abriria ou não ao menos meu olho esquerdo. Deixei meus pensamentos de lado e resolvi acabar logo com aquilo; abri os dois olhos de uma só vez. Tudo o que enxerguei foi um quarto branco, com algumas cores diversas “voando” no ambiente. Só depois que pisquei duas vezes, é que tudo foi esclarecido: as cores voando eram apenas a camiseta verde com o casaco xadrez de Adam e a blusa azul-marinho de Lucy. Como era de se esperar, estavam visivelmente nervosos, e sorriram imediatamente quando me viram mexer meus braços em sinal de vida.

— Oi, Lucy. — Falei primeiramente, vendo-a colocar as mãos na região do coração. Depois, inclinei minha cabeça para Adam. — Desculpe se te assustei.

— Não vou mentir que você me assustou mesmo, malandrinho. — Ele veio até mim e bagunçou meu cabelo, sabendo que odeio quando fazem isso comigo.

— Você ainda me paga pelo meu cabelo desgrenhado.

— Só não te pago hoje por conta da sua situação. — Estalou os dedos, como se fosse lembrar de algo. — Ah, quase esqueci de falar. A Alison e o Darren estão aí fora esperando. Quer falar com eles?

— Rápido, mande-os entrar. Sinto falta deles.

— OK, vou avisar a enfermeira que você acordou e depois volto. Lucy, faria o favor de vir comigo?

— Ah, que seja. — A loira deu de ombros e saiu do quarto com o irmão.

Em seguida, Ali e Darren irromperam o quarto, quase gritando “Aleluia, Deus é pai” enquanto se aproximavam de mim.

— Vocês são bem discretos, não? — Ironia, que prazer te ver novamente!

— Mil desculpas por isso, mas é que nós precisávamos ver você. Especialmente o Darren. — Ali apontou para o garoto, que revirou os olhos e deu um tapa em minha perna.

— Quer me matar do coração, Weeks?

— Bem que eu queria que isso fosse possível, mas o mundo não permite. — Revidei.

— Você nos deve explicações pelo seu desmaio, mocinho. — A mais velha dali resmungou.

— Alison Knight, que bom te ver também! — Devolvi.

— Engraçadinho. Estamos com saudades, sabia?

— Eu também sinto falta de conviver com vocês dois e todos do orfanato também. Quando eu melhorar e sair dessa cama, na qual vim parar por algo que ainda é uma incógnita X, prometo que irei visitá-los por lá. — Emocionei-me com minhas próprias palavras.

— É bom que você vá mesmo. Ou então não me responsabilizarei pelos meus próprios atos. — Darren ameaçou, me fazendo rir descontroladamente.

— Tá bom, Darren Thomas. Sabemos o quanto você é perigoso.

— Só uma pergunta que me incomoda desde que cheguei aqui: como você conseguiu chegar nesse estado crítico, jovem? — O garoto perguntou.

— Você sabe muito bem. Começou com aquele vômito no dia da adoção…

— Opa, como é que é? Por que não me contaram isso? — Alison interrompeu.

— Posso continuar? — Exclamei, quase gritando.

— Ah, tá, desculpa. — Ela se conteve.

— Então, onde é que eu estava mesmo? Ah, no dia da adoção. Enfim, ali foi a primeira vez que senti um mal-estar, mas não achei que fosse acontecer mais vezes. Poderia ser uma virose ou algo assim. Mas mesmo depois que fui morar com o Adam, essas vontades de vomitar continuavam vindo sem a permissão do meu cérebro, e eu não queria contar para ninguém. Adam sabia, mas eu pedi para que ele não fizesse nada. — Os dois ficavam cada vez mais impressionados com os detalhes. — Hoje de manhã, a vontade veio de novo e aí eu resolvi controlar. Talvez não viesse mais se eu lutasse contra. Mas eu estava errado.

— Pra variar. — O menor ironizou.

Dei um peteleco na cabeça do idiota e depois voltei a falar:

— Quando eu voltei para casa depois do meu primeiro dia de aula na minha nova escola, quis vomitar de novo. E não consegui nem chegar ao quarto para me controlar; já fui direto para o vaso sanitário. Aí Adam perguntou se eu realmente estava bem, e eu ia dizer alguma coisa quando desmaiei.

— Tomara que não seja algo tão sério. Nem sei o que seria de mim sem o garoto que fez parte de 15 anos da minha vida. — Ali desabafou, logo começando a chorar.

— Hey, eu não vou morrer. Ainda vou continuar aqui no planeta Terra até que você vire uma velha caduca com Mal de Alzheimer, entendeu? — Passei meus dedos por seu rosto, enxugando suas lágrimas. Darren Thomas só olhava a situação.

— Eu também não quero que você morra. — Ele disse, logo escondendo o rosto nas mãos.

— Garoto, venha aqui. — Chamei-o, e ele se aproximou mais. — Eu já falei que não vou morrer tão cedo, OK? Isso tudo deve ser apenas um problema com o meu sistema digestório ou algo assim.

De repente, o médico – que curiosamente era o mesmo que atendeu a ex-esposa de meu pai adotivo e era muito amigo do casal – adentrou o quarto com Adam e Lucy logo atrás. Os dois, que antes estavam nervosos, agora pareciam duas criancinhas assustadas com o clipe do Michael Jackson em 1983.

— Olá, Joseph. — O Dr. Ryan Hudson disse, quebrando o silêncio outrora dominante.

— Por favor, me chame de Joe. Quero evitar comparações. — Corrigi.

— Tudo bem, Joe… Eu tenho duas notícias, uma boa e outra ruim. Qual você quer ouvir primeiro?

— A boa, claro.

— A notícia boa é que ainda hoje você terá alta do hospital.

Suspiros de alívio preencheram o ambiente, deixando-o mais descontraído.

— Tá, mas e agora? Qual é a notícia ruim?

— A notícia ruim é que você vai ter de voltar para cá ainda amanhã. Para ser internado.

.::.

— Tem certeza de que você não quer nada para comer?

— Adam, eu já disse quatro vezes e vou dizer pela quinta vez: eu não estou com fome.

— Tudo bem, seu arrogante. Estarei na sala de estar se precisar de algo.

Depois que o Dr. Ryan Hudson estragou o resto do meu dia só com a notícia de que eu teria de voltar ao hospital no dia seguinte, e consequentemente perder o segundo dia de aula com direito a conversas paralelas com Rachel Smith, ele me deu alta e eu voltei para casa com Adam e Lucy, que foi embora assim que entramos no apartamento. A verdade é que eu não queria trazer todas aquelas memórias de vômitos novamente, e por isso não quis comer. Mas a “mentira” de que eu não estava com fome era parcialmente verdade. Aquela gororoba do hospital pode até ser horrível, mas preenche o estômago mais do que qualquer alimentação saudável e menos feia.

Estava em meu quarto, tentando dormir às 9:30 da noite e filosofando acerca de minha própria vida. Por que o mundo resolveu conspirar logo contra eu, um garoto sem muitas chances de ter uma rotina completamente normal, enfiando um raio de doença misteriosa no meu organismo? Afinal de contas, o que o meu corpo estava suportando até hoje? E por qual motivo o Ryan Hudson não disse o que eu tinha, e preferiu que eu voltasse a ficar confinado num quarto de hospital com direito a quatro paredes me cercando e uma janela do lado de minha cama nada confortável? POR QUÊ, MEU DEUS? POR QUÊ? Estes foram apenas alguns de meus longos pensamentos que me fizeram dormir naquela noite.

Como era de se esperar, acordei com uma vontade de comer igual ao tamanho de Tony Soprano: enorme. Levantei-me, fiz minha higiene matinal e fui até a sala. Ele não estava lá. Na cozinha também não, e devido ao fato de que suas chaves do escritório estavam penduradas num pequeno gancho da parede, dava para saber que ele ainda não havia saído de casa. Só pude concluir que ele estaria em seu quarto, e então fui até lá. Preciso descrever outra vez sobre a cena que encontrei?

E a resposta é: sim, eu preciso descrever. Pois agora era pior: havia sangue por todos os lados, enquanto um Adam Morgan de olhos fechados estava estirado no chão, com a cabeça virada para o lado da cama e suas pernas exageradamente tortas. Garanto que o mais velho parecia estar mais morto do que o Michael Jackson em sua fase mais branca e reluzente, mas seus movimentos na região do tronco indicavam que estava vivo. Não consegui telefonar para Lucy com uma sanidade mental aparentemente normal, então tive de recorrer à ambulância. Chamei-a e uns quatro minutos depois eles chegaram com uma maca, aparelhos respiratórios e uma gaze para estancar qualquer indício de sangue. Como eu era o único que estava em casa naquele momento – e além do mais, sou filho de um Morgan pela lei e menor de idade, pra variar – me permitiram acompanhá-los no caminho para o hospital.

Foi a primeira vez em que percebi o risco de ficar órfão novamente.

.::.

— Joseph Weeks? — O Dr. Ryan apareceu novamente para mim. — Pensei que viria se internar com o Adam hoje.

— Por algum acaso você já analisou a ficha de seu paciente em emergência?

— Na verdade, é só mais um caso de mutilação que quase custou a vida e… — Só quando analisou bem o prontuário é que ele constatou quem era a vítima. — Meu Deus, é o Adam.

— Agora você pode me explicar a situação dele?

— Eu só posso falar sobre isso para um maior de idade.

— Eu tenho 23 anos e exijo que o filho adotivo de Adam saiba de tudo. — Milagrosamente, Lucy adentrou o pequeno corredor já permitindo que eu soubesse de toda a situação. Querida irmã Morgan, eu te amo.

— Tudo bem. — Respirou fundo antes de começar a explicar. — O Sr. Morgan perdeu muito sangue com seu ataque de mutilação, e também constatei que o paciente sofreu uma convulsão antes de entrar em estado de sono profundo. Daqui a alguns minutos ele deve acordar. — Respiramos aliviados, até que ele se virou para mim. — E eu quero falar com você agora, Joseph.

— É Joe para você.

Acabamos nos dirigindo rumo à sua sala. Ao chegarmos, ele se sentou em sua cadeira de direito e eu no meu lugar de paciente. Ryan ainda ficou me analisando por alguns segundos, e enquanto isso eu demonstrava olhares de “Fala logo ou você morre aqui e agora”, de tanto nervosismo. Finalmente, ele quebrou o silêncio.

— Joe, sua situação é um tanto quanto complicada.

— Mais do que a do Adam?

— Nem tanto. Ele tem gastrite e agora essa enorme perda de sangue, junto com a convulsão. Digamos que você tenha apenas a gastrite estomacal.

— E qual a complicação nisso? Eu terei restrições alimentares?

— Acontece que o seu problema não é alimentar. Tem algo a mais que está causando seus vômitos involuntários e eu quero saber o que está causando as alterações drásticas em seu organismo, porque isso definitivamente não é normal.

— Eu nunca fui normal, então dizer isso para mim já não é mais novidade. — Ironizei.

— Enfim… Por isso eu quero que você fique internado hoje. Faremos alguns exames e só então poderei comprovar as minhas suspeitas.

— E do que você suspeita?

— É difícil contar isso para um garoto de 15 anos. — Fechou os olhos e respirou fundo. — Desconfio de uma doença terminal.

.::.

— Joe? — Lucy me cutucou enquanto eu descansava em minha cama de hospital nada confortável. Espera, eu já disse isso.

— Roxy é como um Puma! — Foram minhas primeiras palavras ao acordar. Quando vi a loira, pus as mãos na região do coração e expirei em sinal de alívio. — Ah, é só você.

— Nossa, obrigado por essa última frase. Eu sou “só eu”?

— Não foi isso que eu quis dizer. Enfim, aconteceu alguma coisa?

— Sim. O Adam acordou.

Sem nem esperar a permissão do médico, saí do quarto e fui direto para o do mais velho. Lucy me autorizou a abrir a porta, e quando fiz isso, o encontrei em sua cama dura igual a minha. Sua expressão de decepção com a própria vida rapidamente se transformou quando me viu.

— O-oi, Joe. — Falou, ainda com dificuldade.

— Você quase me mata do coração e depois de tudo o que me fez passar ainda diz só “Oi”? Realmente, não dá para entender um Morgan. — Resmunguei, aproximando-me mais dele.

— Desculpe se te causei algum mal.

— Lucy… — Virei-me para ela e arqueei as sobrancelhas, fazendo-a entender que queria ficar a sós com meu pai adotivo. — Obrigado desde já.

Ela saiu, me deixando ali, sozinho com Adam. Ainda ficamos nos encarando por alguns segundos até que ele mesmo quebrou o silêncio.

— Então você já está internado.

— É. O Dr. Ryan Hudson suspeita de uma doença terminal e quer fazer uns exames comigo.

— É tão sério assim?

— Você está falando como se fosse eu. Os papéis se inverteram aqui, não acha?

— Interessante. — Bateu a mão esquerda na cama, pedindo para que eu me sentasse ali. Então fui até lá. — Eu realmente quero te pedir desculpas. Por tudo de ruim que te fiz ver sobre mim até agora.

— Eu sei que a culpa não é minha, obrigado por ressaltar. — Abri um sorriso irônico, mas percebi a seriedade em seu olhar. — Adam, eu sei que naquele momento a única maneira de aliviar sua “culpa” acerca de tudo à sua volta era fazendo isso. Mas você tem noção do que fez com isso? — Ficou em silêncio, então continuei. — Quase acabou com a sua vida! E eu ficaria sem pai novamente, não aguentaria a pressão e faria o mesmo que você. Uma escolha leva à outra.

— Eu… Eu me sinto impotente diante de tudo isso, Joe. Tudo está acontecendo simultaneamente e eu não consigo fazer nada. A culpa é minha. Destruí a vida que tenho.

— Adam Morgan, será preciso que eu terei de repetir outra vez que a culpa não é sua? Meus problemas de saúde não são sua culpa. Eu é que não me cuidei direito durante todos esses anos e agora estou sofrendo as consequências. Dianna e seu filho não morreram por sua causa. Mas os seus novos problemas de saúde são consequência de seu pensamento errado que insistia em culpar a si mesmo.

E quando eu havia falado antes que os papéis tinham se invertido, não estava mentindo. Nos casos gerais, o pai dá um sermão de vida no filho por algum problema que ele resolveu ter ou involuntariamente contraiu, enquanto o garoto apenas ouve e diz que vai obedecer. Mas como a maravilhosa vida de Joseph Weeks (ou seja, eu) é bastante diferente de um clichê normal, era eu quem estava jogando a realidade na cara de meu pai adotivo, enquanto ele apenas ouvia e de vez em quando sorria. Eu acho que a perda de sangue veio do cérebro, só pode. Como ele poderia sorrir durante toda aquela reclamação vinda de mim?

— Sempre imaginei que fosse acontecer o contrário. — O loiro (que na minha visão tinha traços de cabelos pretos, mas minha visão não é das mais perfeitas) disse, enquanto abria mais um de seus sorrisos. Repito: depois do ataque ele adquiriu uma doença mental, só pode.

— Então por que está sorrindo? — Cruzei meus braços.

— Porque agora estou recebendo um sermão de meu próprio filho. Pensei que eu iria te ensinar as ironias da vida real, mas pelo jeito é você que está me ensinando o verdadeiro significado de viver.

— Não mude de assunto, estamos falando de… — Paralisei quando processei todas aquelas palavras. — Está querendo dizer que eu sou uma espécie de “pai” pra você?

— E se eu estiver?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu sei que o fim é muito 'fófis' e aquela conversinha com o Dr. Ryan foi um pouco assustadora, mas vocês só descobrirão o final disso tudo aí no próximo capítulo.
Aproveitando a deixa, quero que comentem respondendo a seguinte pergunta: vocês querem que eu faça um dreamcast para a fic? Tipo, querem que eu deixe aqui um link com fotos de quem EU imagino que seja cada personagem? A resposta é importante para mim :)

Até o próximo sábado, caros leitores!