O Infinito de Joseph Weeks escrita por Vitor Matheus


Capítulo 5
A Nova Família de Joseph Weeks


Notas iniciais do capítulo

Agora é que os leitores da 1ª versão perceberão as diferenças. Anexei o capítulo "Os Irmãos Morgan" ao "A Nova Casa", formando assim este capítulo que nada mais é do que a junção desses dois anteriores. A fic está levemente mais curta agora, mas lá pelo final devo esticá-la!

Neste capítulo, Joe conhecerá a irmã do novo pai adotivo, Lucy, e começará a desenvolver uma relação de afeto com Adam. Boa leitura :)



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Peguei a última carta, e logo nas primeiras linhas percebi que era de Darren Thomas. Foi a maior carta das três, e nela haviam muitas lembranças de quando éramos crianças e aprontávamos pra caralho com a Ali, tanto é que ficamos sem o direito às nossas regalias por uma semana, sendo tratados igualmente às outras crianças. Ele reforçou os dias em que eu bancava o paciente e ele o psicólogo; sessões que resultaram em muitas coisas boas em minha vida. Para finalizar, disse que mesmo sendo apenas um amigo, ele gostava de mim mais do que qualquer outra pessoa poderia gostar. E no final acrescentou um P.S.: “Lembre-se de que eu estarei aqui para me vingar do Adam Morgan caso ele seja mau com você.”

Depois de uns 20 minutos, o carro estacionou numa das vagas do Edifício Saint James, ainda em Los Angeles. Adam destravou as portas e só então pude pisar em terra firme, pegando minha única mala logo em seguida. Após travar o carro, ele fez sinal para que eu o seguisse até o elevador do bloco 4. Entramos e ele selecionou um apartamento aleatório cujo número eu não preciso decorar de cara.

— Eu sei que pode parecer estranho, mas… É que eu não limpei meu apartamento completamente para poder te receber. — Um bipe pode ser ouvido. Havíamos chegado ao andar selecionado antes.

— Dependendo do estado em que esteja, talvez não seja pior que o meu quarto. — Falei, puxando minha mala junto comigo e andando até ao apartamento 304. O adulto retirou um maço de chaves do bolso esquerdo, selecionou uma delas e a encaixou na trava.

— Preparado para conhecer a zona que é o meu lar?

— É, acho que sim.

— Tem certeza? — Arqueou uma das sobrancelhas, como se não tivesse sentido confiança na minha resposta.

— Tá, você me convenceu, Adam. Tenho sim.

Girou a maçaneta e empurrou a porta para dentro. Logo percebi que o que ele chamava de zona, eu chamava de paraíso: um apartamento nem tão pequeno, nem tão grande. À esquerda, um batente feito de granito separava o pequeno corredor de entrada da cozinha; logo à frente, a sala de estar, com uma televisão grande na parede esquerda e um sofá-cama do lado direito; ainda mais à frente, uma sacada com vista para metade de L.A.; e à direita da sala de estar, um corredor onde haviam três portas: uma para o banheiro, outra para o quarto de Adam e a última para o quarto que provavelmente seria o meu.

— Nossa, é tão…

— Maravilhoso? — Ele surgiu por trás de mim, enquanto eu admirava a sacada.

— Eu ia dizer “impressionante”, mas isso também serve. — Dei espaço para que ele pusesse os braços na madeira que nos impedia de cair.

— Por enquanto é o meu lar. Quando eu crescer economicamente, pretendo comprar um apartamento maior que esse.

— Já é um bom começo.

— Assim como nossa relação de pai e filho. — Virou sua cabeça para mim. — Receio que você ainda não tenha coragem para me chamar de pai, então vou permitir que me chame de Adam por enquanto. Só mude a forma de me chamar quando realmente sentir que pode dizer isso, certo?

— OK. — Voltei meus olhos à enorme vista da sacada, enquanto o sol tentava atrapalhar meu campo de visão. De acordo com o meu relógio biológico – ou seja, o meu estômago – já era hora de almoçar.

— Está com fome?

— Se eu disser que não, vou mentir. — Ele riu do meu comentário.

— Não estou com a mínima coragem de pedir comida chinesa para almoçar. — Ergueu os olhos, como se estivesse pensando em algo. — Já sei! Tive uma ideia que com certeza vai te agradar logo de cara. Mas… é bom você ir tomar um banho. Teremos uma visita hoje.

— Visita? — Tirei meus braços da madeira.

— Não é bem uma visita. Vou pedir para a minha irmã Lucy vir preparar um prato para nós hoje. Garanto que você vai adorar, mas só se limpar seu corpo.

— Deixe-me adivinhar: ela não gosta muito de sujeira. — Voltamos para a sala de estar.

— Exato. Então, vou te apresentar o seu quarto e depois você vai ao banheiro. Vamos? — Apresentou sua mão direita, e eu fui até a direção onde ela apontava.

Como eu já havia pensado, meu quarto era depois do de Adam, então ele levou minha mala até a cama, abriu a janela para mim e avisou que qualquer coisa que eu quisesse, bastava apenas chamá-lo pelo nome. Agradeci com um sorriso, e parti para o meu primeiro banho na minha nova casa.

.::.

Depois do meu banho relaxante, voltei para meu quarto e peguei uma roupa qualquer dentro da mala. Logo pensei em colocar todas as peças dentro do guarda-roupa, mas quando o abri, encontrei… Umas mil roupas novas.

— Adam, preciso de explicações! — Exclamei, e ele rapidamente veio até o quarto. Quando me virei para olhá-lo como se eu fosse um detetive, não controlei as risadas quando o vi com um sorriso maléfico e o rosto inteiramente molhado.

— Antes que você venha me interrogar, eu estava indo tomar banho também.

— Mas você ainda está de roupa.

— Vesti-a de novo. — Saí da frente do móvel, para que ele o visse abarrotado de coisas novas.

— Vai me explicar o que é isso?

— São vestimentas novas. Para você. Liguei para a Alison e descobri o tamanho que você veste, depois saí com a Lucy e fomos comprando as melhores roupas que víamos pela frente.

Eu não cairia naquela de “sou um homem prestativo e fui comprar roupas”.

— Sua irmã comprou isso tudo sozinha, não foi?

— Tá, foi exatamente isso que aconteceu. Como sabia?

— Homens podem até serem modernos, mas nunca vão passar mais de cinco minutos comprando roupas novas. Uma das leis da vida.

O toque da campainha ecoou pelo ambiente.

— Deve ser a Lucy. Vou atender, fique admirando seu guarda-roupa novo aí.

Fiz cara de nojo, enquanto ele foi direto para a porta atender a irmã. Depois de uns dez segundos analisando a situação, resolvi encontrar a minha nova “tia”. Curiosamente ou não, ela tinha os cabelos da mesma cor que Adam: loiros com pequeninas pontas de preto. Paranoia minha, talvez. Mas seu corpo escultural deixava bem claro que ela fazia academia. Nem percebi quando ela me chamou.

— Alô, Terra chamando Joe! — O mais velho mexeu a mão na minha cara, esperando alguma reação. Saí de meus pensamentos e respondi:

— Ah, oi. Prazer, sou Joseph Weeks. Mas obrigatoriamente me chame de Joe.

— Ele não gosta de ser chamado de Joseph para não ser comparado com o Joseph Morgan. — Ele sussurrou no ouvido dela, que riu na hora.

— Prazer, Joe. Sou Lucy Morgan. — Estendeu a mão e eu a cumprimentei. Depois ela se virou para o irmão. — E então, me chamou para conhecer este jovem rapaz?

— Não só para isso. Preciso que você faça um almoço bem especial para o meu novo filho adotivo.

— Com orgulho! — Arregalei os olhos. Geralmente irmãos se odeiam, mas isto não se repete com esses dois.

No final das contas, Adam tinha razão. Lucy sabia preparar um bom prato, e por um segundo pensei que a comida do orfanato nunca superaria a dos Morgan, mas logo me lembrei dos pratos da noite anterior e repeli esta ideia. Durante o almoço, a loira me contou que tinha 23 anos e que já era uma escritora de considerável sucesso, devido ao seu best-seller composto de três livros cuja sinopse eu não fiz questão de decorar por ser – aparentemente – feminina demais.

Descobri também que ela é a única da família a seguir carreira independente, pois todos os outros seguem trabalhos distintos: Adam é empresário de uma rede de supermercados. “Comida nunca faltará para mim”, pensei na hora, abrindo um sorriso tímido. O pai dos dois era um renomado advogado, mas era contra a ideia do filho adotar um órfão. “Querido Deus, lembre-me de não ir com a cara dele quando nos conhecermos um dia”, anotei em minha mente. Já a mãe dos Morgan também era empresária, mas de uma cantora pop cujo nome eu prefiro não comentar, e curiosamente ela também é uma defensora pública da adoção. “Sra. Morgan, eu te amo desde já”, ironizei mentalmente.

Em seguida, Adam e Lucy começaram a conversar sobre um assunto aleatório, o qual não prestei atenção. Estava ocupado demais me lembrando do momento em que encontrei mil e uma roupas novas no guarda-roupa, e em como usar cada uma em um único dia do ano. Sei que sou exagerado, mas pelas minhas contas, lá devem ter 365 peças, ou então mais do que isso.

— Pensando no guarda-roupa? — Adam interrompeu meus pensamentos.

— Se eu disser que sim, vai me criticar?

Lucy riu. Provavelmente nunca ouvira essas palavras de um jovem ex-órfão de quinze anos.

— Não. Mas eu estou imaginando que você vai passar a tarde inteira sentado, analisando todas as roupas e escolhendo um dia do ano para vestir cada uma delas.

— Eca, isso é muito feminino. Mas eu meio que estava pensando nisso mesmo.

— Joseph… — A mais nova ia dizer alguma coisa, mas o irmão a interrompeu.

— É melhor chamá-lo de Joe. Ele prefere evitar comparações com o Joseph Morgan.

— Se bem que você é um cosplay completo dele, querido irmão. — Ela comentou, dessa vez me fazendo rir.

— Vou ter que concordar com a sua irmã, Adam. Além da aparência ainda tem o sobrenome.

— Aí já não é culpa minha. Converse com os meus pais se quiser que eu troque o Morgan.

— Um dia ainda farei isso. Mas só quando eu me der bem com eles. — Falei.

— Com a mamãe é muito fácil. Basta dizer que conhece a cliente dela e pronto, vocês viram amigos. — Lucy falou.

— Já com o pai é bem mais difícil. Nunca acuse um cliente dele, ou então ele nunca mais olhará para a sua cara. — O mais velho completou.

— Obrigado pelas dicas. Mas agora eu vou dar uma de garotinha e analisar as roupas. — Levantei-me da pequena mesa circular que havia entre a cozinha e a sala de estar, quando a voz da loira me parou.

— Joe, eu sei que pode parecer loucura, mas… Por que você não experimenta todas e mostra para nós?

— Adam, você devia ter adotado uma menina, não eu. — Ironizei em voz alta, causando risadas histéricas nos dois. — Mas eu acho que posso vestir algumas. Só algumas.

— Gostei desse garoto. — Ela finalizou.

.::.

— E essa foi a última. — Expirei, como se fosse um alívio enorme saindo de minhas entranhas.

— Ah, mas você ficou bem em todas. Valeu a pena. — Lucy Morgan disse. Olhei pra cara dela com uma expressão de “Claro, não foi você que trocou de roupa mil vezes até perder o fôlego”.

— Acho melhor você ir embora antes que o Joe tenha um ataque de feminismo. — O maior aconselhou, apontando para a porta de entrada.

A irmã tentou dar um soco nele, que desviou instantaneamente e se escondeu atrás de mim. Ri alto com a situação, e depois fui para atrás dele, instigando a loira a atiçar um travesseiro na região estomacal do cidadão. Antes que eu sofresse o impacto também, corri para o sofá, onde preparei minhas “armas” (lê-se os outros travesseiros e o meu par esquerdo dos sapatos All Star quase decompostos) e atirei todas contra Adam. Sem munições, eu e Lucy pusemos nossos braços na frente, quando ele revidou e fez todos os travesseiros voltarem voando. Ainda continuamos naquela brincadeira de criança por uns cinco minutos, até ela finalmente ir embora de vez. Já eram 17h53 no relógio digital posto na bancada de mármore.

— Bom, acho melhor eu ir tomar meu banho. Daqui a pouco é hora do jantar.

— Ah, quase ia me esquecendo… Sairemos esta noite. Jantar especial para você.

— Adam, eu não preciso… — Me interrompeu.

— Sim, você precisa. Vamos conviver juntos até que a morte nos separe, então é bom se acostumar com essas coisas.

— Ainda é o meu primeiro dia como filho adotivo.

— O primeiro de muitos, Joe. Agora vai tomar um banho.

.::.

— Então isso é o que você chama de “jantar especial”? Nem quero imaginar como é um jantar normal com Adam Morgan.

Falei, quando olhei através da janela um ponto da McDonald's se aproximando mais das vistas do carro.

— Acredite, eu quase nunca venho comer aqui. Só em ocasiões especiais.

— Geralmente as ocasiões especiais servem para serem comemoradas num restaurante VIP.

— Eu não sou tão VIP assim. Sou empresário de uma rede de supermercados? Sim, eu sou. Sei cozinhar? Não e nem quero. Sou rico? O bastante para manter aquele apartamento de terceira qualidade.

— Eu diria que é de primeira. — Estacionamos numa vaga próxima à entrada de pessoas na lanchonete.

— Você não sabe o que é um apartamento de primeira qualidade. Vamos descer.

Abrimos as portas, descemos o carro e começamos nosso pequeno trajeto a passos até a porta. Quando entramos, só observei milhares de tentações: crianças de seis, sete anos mordendo seus sanduíches como se fosse o último dia de suas vidas; adultos rindo histericamente e bebendo meio copo de refrigerante por minuto; os atendentes segurando sorrisos bem falsos no rosto para disfarçarem as gorduras trans da comida que vendem.

— Eu definitivamente não fui com a cara desse lugar. — Comentei.

— Se você ficar olhando as nojeiras dos outros clientes, vai odiar o McDonald's tanto quanto eu.

— Então por que ainda vem comer aqui? — Falei, quando entramos na fila.

— Eu peço um hambúrguer especial feito com produtos que os supermercados administrados por mim vendem. E coisas supervisionadas por mim não matam ninguém.

— Tá explicado.

Quando chegou a nossa vez, fizemos o pedido. Bem, Adam fez o pedido, porque eu quis o mesmo que ele: um hambúrguer especial cujo nome eu também não fiz questão de decorar. Procuramos uma mesa dentre as centenas que haviam no estabelecimento, porém só encontramos uma do lado de fora, num lado onde não havia quase ninguém. Optamos por sentar ali mesmo.

— Espero que esse sanduíche venha a calhar. Estou sofrendo por causa da minha fome. — Falei.

— Não precisa ser tão exagerado, Joe. Não viremos comer aqui todo dia.

— Nossa, estou morrendo de curiosidade para saber quais são os pratos de jantar dos próximos dias. — Esbravejei, de forma irônica.

— São coisas adequadas à minha dieta.

— Dieta? Não acho que você precise emagrecer. Está na medida certa.

— Não é bem esse tipo de dieta. Tenho um problema no estômago, daí algumas coisas precisam ser rigidamente controladas.

— Ah, então foi por isso que você pediu um suco em vez de um refrigerante. E eu entrei na onda.

— Bom para você!

Alguns minutos depois, em meio às conversas sobre as questões completamente idiotas que as crianças de hoje em dia perguntam aos pais, o pedido chegou em nossa mesa. Sem perder tempo, dei uma mordida no hambúrguer.

— Esplêndido. Não tenho outra palavra. — Elogiei, quando engoli o pedaço.

— Eu disse que você iria acabar gostando. Tudo o que é vendido pelos supermercados de Adam Morgan não deixa a desejar. — Respondeu, dando uma mordida em seu sanduíche.

— Tão jovem, tão atencioso e tão narcisista… Acho que somos parecidos nisso. — Bebi um pouco de meu suco de laranja.

— Era o que estava na sua “ficha”. Foi um dos motivos pelos quais eu quis entrevistar você naquele dia.

— Por que eu sou parecido com você? — Arqueei as sobrancelhas.

— É. Conversar com pessoas de gostos parecidos é muito mais interessante do que ficar discutindo com alguém sobre aquele milho de pipoca prejudicial à saúde.

— Se bem que falar com pessoas diferentes é o que te torna mais amigável. — Acrescentei.

— Vejam só, temos uma Clarice Lispector na versão masculina e ainda mais em solo americano.

— Gosta de Clarice Lispector? Pensei que eu fosse o único no país inteiro a admirar seus trabalhos. — Dei outra mordida.

— Outro motivo para ter escolhido você.

— Espertinho. Temos mais coisas em comum do que imaginamos.


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Notas finais do capítulo

Admitam: eles conseguem ser engraçados de vez em quando :P

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