O Infinito de Joseph Weeks escrita por Vitor Matheus


Capítulo 11
Iniciando o Tratamento, por Joseph Weeks


Notas iniciais do capítulo

A partir de hoje, vou postar novos capítulos às quintas, só para lembrar ;)
Ainda quero ver os comentários de todo mundo, então quero ver a chuva de opiniões hoje, pode ser? Eu sei que pode.

Não há muito o que dizer, já que o título explica basicamente o que vai ter no capítulo de hoje. Então, #partiu #BoaLeitura



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Morrer nunca fora um problema para mim. Convivia com a possibilidade de mofar naquele orfanato até ser entregue à própria sorte nas ruas todo dia. Mas depois que o Adam Morgan (eca, “Morgan” ainda me dá arrepios) me adotou, espantei essa possibilidade juntamente a um breve “Rala, sua mandada” mentalmente. Infelizmente, ela resolveu me atormentar e em forma de câncer seguido de metástase, que nada mais é do que outro câncer que resolveu se espalhar pelo meu organismo de praxe.

Chorar: esse sempre foi o meu problema. O que vinha de baixo não me atingia, como alguém que não estivesse disposto a me tirar do lugar ou uma virose. Porém, saber que daqui a seis ou sete meses posso estar enterrado debaixo do solo devido a uma maldita doença terminal realmente abalou minhas forças a ponto de desabar em lágrimas na frente do Darren Thomas. Foi difícil, mas ele é meu amigo e eu não podia esconder nada dele.

Tive um intervalo de uma semana para ajeitar minha vida no mundo real antes de me confinar num hospital pelos próximos meses com direito de saída apenas quando meu “pai” autorizasse. Então, tudo o que fiz foi fixar os conteúdos das matérias escolares e obriguei história a entrar na minha cabeça à força, já que precisava dar esse privilégio a Srtª Beleza-Que-Me-Faz-Desmaiar Holiday. Além disso, também visitei a “Tia” Alison e o Darren algumas poucas vezes no orfanato, e acabei descobrindo que a mesma pretendia se demitir do lugar e procurar um emprego que realmente a fizesse se sentir à vontade com as crianças.

Uau! Você tem certeza de que quer tomar essa decisão?

Estou quase certa disso, Joe. Trabalhar com crianças e jovens como você é algo muito prazeroso, mas aqui no orfanato existem muitos limites. Talvez eu funcione como professora de creche ou algo parecido.

Tudo bem. Vou acatar isso. Mas somente se você levar o Darren Thomas junto.

Esse já é outro assunto, querido. Um dia eu pensarei em tirá-lo daqui, mas não sei se esse é o momento certo.

Ali, você precisa dar uma chance ao garoto. Eu já saí. Agora é a vez dele.

.::.

— Está preparado, Joseph? — Adam me perguntou pela décima vez desde que chegamos a sala de espera.

— Por favor, eu sou Joe para você. — Bufei. — E eu já ouvi essa pergunta muitas vezes, e adivinha a resposta para todas elas?

— Sim.

— Exatamente. Estou começando a achar que você é o medroso daqui. — Passei meu braço por seus ombros, me inclinando para ficar ajustado à sua altura, mesmo sentado. Para piorar o meu desconforto, ele ainda estava com o braço enfaixado, resultado da série de cortes feitos nas crises que presenciei. — Eu não vou morrer hoje. Pelo contrário, ainda vou te atormentar por um bom tempo.

— Joe, você nunca vai me atormentar. É meu filho, não é? E filhos não atormentam os pais, por mais que eles causem alguns estresses às vezes.

— Então fique calmo e não seja o nervoso da situação. Se até aquele médico de araque chamado Ryan Hudson garantiu que o tratamento contra câncer duplo não é tão invasivo quanto todos pensam, então eu acho que devemos apenas esperar pelo melhor disso.

O loiro-quase-moreno ainda pensou por alguns segundos até que abriu um sorriso e passou seus braços em volta de mim, puxando-me para um dos milhares de abraços que ele já havia me oferecido desde a descoberta da(s) doença(s).

— Vou confiar em você, Weeks. Mas se algo der errado, nunca mais confio em sua palavra.

— Quer parar com esse nervosismo? — Sussurrei em seu ouvido, fazendo-o rir. Nos separamos bem no momento em que o Dr. “Recalque” Ryan Hudson apareceu.

— Está pronto, Joseph?

— Joe.

— Tô nem aí. — Recalque, você por aqui de novo? — Bom, nós vamos começar com a quimioterapia, que é o melhor método para o seu caso…

— E blá, blá, blá. Pode levá-lo logo? — Surpreendi-me com as palavras proferidas por Adam.

— Se quer se livrar de mim, pode falar na minha cara. — Ironizei.

— Vamos? — O médico se intrometeu no meio. Chato…

— Tudo bem. Te vejo daqui a pouco. — Falei para o mais velho dali, e fui com o Ryan até a sala indicada.

Ao chegarmos lá, percebi que era apenas uma daquelas salas pequenas onde os enfermeiros aplicam injeções nas pessoas para alguma coisa.

— Como eu já havia explicado antes a você, Joe… — Até que enfim ele me chamou de Joe. Só faltava ele para completar. — …Nós vamos fazer dois tipos de aplicação em você, já que o câncer atingiu o estômago e o intestino delgado, que ficam em lugares diferentes. Então eu espero que você não chore com as duas injeções.

— Pode aplicar. Eu aguento. — Falei, mais para mim mesmo do que para o Doutor Recalcado Hudson.

— As duas injeções são do mesmo tipo, que é a intravenosa. Ou seja, vão ser na veia.

— Nunca vou decorar esses nomes.

— Faça como eu sempre digo: chame de “injeções Hudson”.

— Não conte com isso.

O Dr. Ryan preparou a seringa com o coquetel de remédios que seriam aplicados nas áreas afetadas e eu logo olhei para a ponta da coisa. Foi aí que o medo resolveu aparecer, então repeti mentalmente a mesma frase dezenas de vezes: “Joseph Weeks, você consegue. Você aguenta, eu sei que você vai suportar isso. Já viu coisas piores diante de você.” Repeti o “você” todas as vezes, para reforçar o pensamento positivo.

Ergui minha camisa de mangas longas e segurei-me nos braços da cadeira, já me preparando para o desastre. E logo veio a primeira picada, na veia do braço esquerdo. Soltei um breve “ai” por fora e transpareci calma, porém estava enlouquecendo de medo e dor por dentro. Minha vontade era de mandar aquela doença infeliz para o lugar mais incorreto do mundo, mas aguentei mentalmente esta decisão. O médico terminou de injetar os remédios e em seguida apertou um algodão contra a pele invadida, para estancar o sangue.

— Eu sei que doeu, não adianta esconder. — Ele disse.

— Se você está achando que isso aqui é um jogo onde quem gritar de dor primeiro perde, te digo uma coisa: o jogo não acaba até eu dizer que acabou.

— Ou até seu câncer duplo dizer que acabou.

Olhei para sua cara de cínico. É, aquele palerma estava com a razão quanto a isso. Mas eu não deixaria que os dois – Ryan e o câncer – vencessem tão rápido assim. Ah, não mesmo.

— Vai aplicar a segunda injeção ou não? — Resmunguei.

— Corajoso.

— Eu sei disso, obrigado por reforçar. — Mostrei as cartas que tinha “na manga”, enviando seu recalque precioso para… Tá, vou parar.

.::.

— E então? Correu tudo bem?

— Foram apenas umas injeções normais. Não parecia um tratamento contra o câncer onde se usa um coquetel de remédios e quimioterapia ao mesmo tempo. — Respondi à pergunta de Adam, enquanto eu retornava numa cadeira de rodas para o quarto onde eu passava 23 das 24 horas do dia.

— Você não sabe o que eu passei do lado de fora enquanto você sofria lá dentro.

— Qual é, você tem uma faixa enrolada no seu braço quase que por inteiro e fica sofrendo por mim? — Retruquei, quando entramos no quarto.

— Você é meu filho, Joe. Pais fazem isso; se preocupam mais com seus filhos do que com eles mesmos.

— Assim eu choro, cara. — Fingi uma expressão de emocionado, que o fez rir.

— O papo está muito bom, mas eu preciso ir conversar com a Lucy lá fora. Vai querer ir para a cama ou vai ficar admirando a cidade pela janela?

— Prefiro a janela.

— OK, te vejo daqui a pouco. — Beijou minha cabeça e em seguida saiu do quarto.

Fiquei admirando as estrelas que começavam a aparecer no céu. O sol se despedia das minhas vistas com um breve “Amanhã eu te atormento de novo, Joe Weeks”, enquanto a lua chegava para dominar a visão quase perfeita do lado de fora do hospital. Milhares de carros praticamente parados na enorme avenida que se estendia lá no chão, enquanto eu, aqui no 5º andar de um hospital, imploro para sair daqui o mais rápido possível.

Por que eu, Senhor? Por que eu? Não existe ninguém de qualidade pior que possa receber tudo de ruim que eu tenho? Sei que não mereço isso, Deus. Eu sei muito bem disso. Não posso me defender e dizer que sempre O segui, porque houve alguns momentos em que eu mandei o planeta para aquele canto. E quer saber disso? Estou quase considerando em fazer isso de novo. Poxa, o mundo inteiro está sendo injusto comigo! O que foi que eu fiz para merecer todo esse sofrimento?” Conversar com Deus era algo que eu fazia desde criança, porém nos últimos tempos, quando havia deixado de acreditar na minha adoção, acabei me afastando dEle também. Falar com ele foi um hábito que aprendi com a Ali quando tinha apenas seis anos e desde então nunca me esqueci. Sentia-me mais seguro quando fazia isso.

De repente, ouvi pequenos burburinhos vindos do outro lado da porta. Como eu ainda estava na cadeira de rodas, optei por conduzi-la até a coisa de madeira e ver, disfarçadamente, o que estava havendo. Abri a porta de leve, deixando apenas metade da minha cabeça para fora. Com um olho, percebi que os barulhinhos vinham de Adam e Lucy. Ele estava chorando novamente – uma cena difícil de se ver para mim – enquanto ela o consolava e parecia acalmá-lo com palavras. Atentei-me ao que estava sendo dito, e me arrependi segundos depois.


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Notas finais do capítulo

É raro eu manter um suspense desse jeito no fim dos capítulos, então considerem-se privilegiados. O que será que o Joe ouviu? Só na próxima semana, meus caros :)

Lembrem-se dos comentários/favoritos/recomendações em último caso.