Naruto acorda na marra naquele dia. Ele tivera a péssima ideia de passar a noite jogando com Sasuke online e acabou indo dormir no meio da madrugada, o que lhe dava por volta de seis horas de sono, no máximo. Considerando que já eram nove horas quando o garoto acordou e precisava estar as dez na biblioteca, ele já está atrasado.

— Valeu a pena – pensa alto, com a voz rouca e os olhos semiabertos.

O problema de ser um dos amigos que pegava recuperação era esse: enquanto todos estavam de férias, você ainda tinha umas semanas adicionais de estudos para passar nas provas que não conseguiu ao longo do período regular.

Com dificuldade, se levanta e segue para o banheiro.

[...]

Graças ao banho, seu estado de sonolência passara e agora ele estava com disposição para correr uma maratona.

O garoto sai do banheiro escovando os dentes após ouvir um bip de seu celular.

Vestia uma bermuda laranja e preta, tinha os pés descalços, estava sem camisa e com a toalha caindo pelos ombros para que o excesso de água do cabelo molhado fosse absorvido ao escorrer.

O loiro se aproxima e pega o celular antes de se jogar sobre a cama. O bip era uma notificação de mensagem recém recebida.

“Ohayo, Naruto-kun! Estarei esperando na entrada da biblioteca, já que não marcamos um ponto de encontro.”

Um sorriso de orelha a orelha estampa a cara do Uzumaki.

Logo em seguida, ele olha o horário.

— NOVE E QUARENTA? – ele grita, num escândalo ao perceber que perdeu tempo demais.

Ele levanta num pulo e vai para a pia do banheiro, termina sua higiene bucal rapidamente. Veste a primeira camisa que encontra pela frente – uma branca de manga curta, sem estampa – e joga a toalha sobre o box do banheiro. O cabelo ainda estava – e continuaria – úmido.

Ele se senta na beirada da cama e começa a calçar os tênis quando sua cabeça tomba para frente e ele sente uma dor em sua nuca.

Ele leva a mão para o local que acabou de levar um tapa e olha para o lado, encontrando sua irmã mais nova. Ela ainda vestia o pijama e está com uma expressão de desagrado tremendo.

— Dattebayo, Menma! Precisa chegar na agressão? – ele diz, emburrado.

Sua mão está esfregando a cabeça onde, provavelmente, surgiria um galo mais tarde.

— Você me acordou, seu bastardo. Tem sorte que não soquei seu nariz.

Naruto podia jurar que tinha uma veia saltando da têmpora da irmã.

— Gomensai, gomenasai... é que eu me assustei por estar atrasado – o loiro levanta as mãos em rendimento, e sua irmã revira os olhos.

— Pra onde você vai? – ela se mostra curiosa e interessada.

Assim como Naruto, Menma tinha uma capacidade grande de mudar repentinamente de humor. Ela se senta na cama ao lado do irmão e cruza as pernas sobre o edredom.

— Na biblioteca, estudar com a Hinata-chan. – tenta soar natural, mas acaba mostrando sua empolgação.

— Ah, a irmã da Hanabi-chan.

— Como você conhece a...

— A gente estuda na mesma escola e no mesmo período, bocó – ela o interrompe, soando a informação como algo muito óbvio.

Às vezes, Naruto se esquece de que Konoha High School não é apenas ensino médio. KHS é só uma das filiais para o ensino médio. Também tinha a Konoha Elementary School (KES) e a Konoha Middle School (KMS).

Inclusive, a maioria dos que estudavam com ele vieram de KMS, alguns até mesmo de KES, como é o caso de Sasuke e Sakura, que estudavam com o moreno desde os nove ou dez anos.

Faz total sentido Hanabi e Menma estudarem na mesma rede que seus irmãos.

— Oh – o garoto deixa escapar – Vocês são amigas?

— Você não estava atrasado?

— CACETE – ele grita novamente e fica de pé.

Só que, dessa vez, uma voz do andar debaixo o responde.

— OLHA A BOCA – era Kushina.

— DESCULPA, MÃE.

Atrapalhado, ele termina de calçar o segundo par do tênis. Perto de sua cômoda, joga algumas coisas dentro da mochila, antes de fechá-la e jogá-la sobre as costas, colocando apenas uma das alças ao redor de seu ombro.

Menma apenas ri e deita de barriga na cama do irmão. Ela adorava roubar a cama de casal do irmão, já que tem mais espaço. Nromalmente, a garota faz isso quando seu irmão não estará em casa durante o período.

Naruto vai até a porta, mas, antes de descer, olha pra sua irmã:

— Vai ficar ai?

— Vou. Você me deve isso por ter me acordado com seus gritos.

O garoto dá de ombros e não discute, até porque, ele está careca de saber que Menma rouba sua cama.

Naruto deixa a caçula para trás e desce as escadas correndo.

Só dá tempo de roubar um lanche pronto da cozinha e sair de casa na disparada.

[...]

Naruto não se lembrava de ter pisado dentro da biblioteca pública de Konoha durante toda a sua vida. Entretanto, não podia negar que era um edifício que chamava atenção. Suas paredes são brancas e há arbustos embaixo das janelas, dando um aspecto mais vivo ao lugar. Além disso, a porta dupla de madeira da entrada está completamente aberta, permitindo que o sol iluminasse o balcão de acesso, logo no átrio.

Ali, havia uma garota apoiada, de costas para a entrada. Seus cabelos estão soltos pelas costas, mas é possível observar uma faixa lilás no topo de sua cabeça. Ela veste uma calça jeans azul justa e uma camiseta é lilás com detalhes em branco, similares a galhos de árvore com folhas. Há uma pulseira prateada em seu pulso esquerdo e ela calça sandálias igualmente prateadas. A morena está distraída, segurando seu celular e rolando a tela enquanto espera alguém.

Naruto sorri enquanto caminha em sua direção.

Ele se atrasou apenas dez minutos, no fim das contas.

— Ohayo, Hina-chan. Desculpa a demora.

O loiro se aproxima e a cumprimenta, fazendo com que o olhar dela fosse direcionado a ele e ela se desencostasse do balcão. As bochechas da menina estão levemente rosadas, mas o que mais chamou atenção do Uzumaki foi o fato de que todo o rosto de Hinata estava visível. Era incomum vê-la dessa forma. A beleza da garota é ressaltada quando seu rosto está à mostra, e talvez por isso ela evitasse.

Chama muita atenção. Muita atenção.

Ele não pode deixar de se lembrar do episódio na casa dela, onde ela se encontrava de cabelos presos e de kimono, treinando tão suavemente.

— O-ohayo, Naruto-kun. Não tem problema – refere-se ao atraso.

A Hyuuga bloqueia a tela de seu celular e o guarda dentro da bolsa que está sobre o balcão – e não fora antes percebida pelo loiro. Em seguida, vira o corpo em direção a ele, o encarando.

— Como está o seu nariz?

Naruto tem um estalo, como se tivesse lembrado apenas agora sobre o incidente de dois dias atrás. Ficara muito distraído com a beleza de Hinata.

— Ah, está bem melhor. Olha só. – ele se inclina na direção da Hyuuga, abaixando um pouco para que ela tivesse a visão de seu nariz ainda vermelho.

Internamente, o garoto torcia para que ela tocasse seu nariz. Ele ansiava por sentir os dedos delicados novamente sobre a sua pele. A memória muscular era tão recente que só a lembrança o fazia arrepiar.

Contudo, isso não aconteceu. Ela apenas hesitou um instante antes de focar a atenção nos dois sinos maxilares. Não demorou muito até ela voltar a respondê-lo.

— Que bom que já melhorou – sua sinceridade vem acompanhada de um sorriso tímido e uma feição ruborizada.

Naruto se afasta e endireita as costas, colocando a mão na sua nuca e sorrindo de orelha a orelha. Ele solta um “hehehe” de olhos fechados.

Não apareceu nenhum galo em sua nuca – ainda.

Ambos se voltam para a mulher que está atrás do balcão, que digita em um computador. Ela cuidava dos registros de entrada e saída da biblioteca e, principalmente, dos empréstimos de livros. Tinha aparência de alguém por volta dos quarenta anos e usava um vestido de mangas compridas de tecido fino, cores pastéis e estampado com flores.

Após pegarem seus cartões de visita, Naruto e Hinata adentram a biblioteca e seguem por um corredor cercado de várias estantes. O loiro olha para tudo, encantando com a quantidade de coisas. Não havia apenas livros, mas também filmes, CD’s, quadrinhos e coisas que ele não sabia identificar, porém poderia jurar serem discos de vinil.

Enquanto isso, a Hyuuga toma a frente e o guia até o final das estantes, onde se encontram mesas individuais, mesas circulares para grupos, dois sofás e três poltronas. É o local destinado a estudos, possíveis trabalhos em grupo, ou só reservado para leitura. Ali, era possível pegar algum item das estantes e utilizá-lo sem necessidade de adquirir o empréstimo por sete dias.

A morena escolhe uma mesa circular com três cadeiras, sendo que uma ela puxa e se senta e a outra ela utiliza para apoiar sua bolsa.

O Uzumaki a acompanha, tomando lugar na outra cadeira e deixando sua mochila ao lado dos pertences de Hinata. Ele tira um caderno, um estojo e uma apostila e os põe sobre a mesa, enquanto Hinata retira um bloco de folhas de fichário de sua bolsa e um pequeno estojo que continha duas canetas – uma preta e uma azul –, uma lapiseira e uma borracha.

— Quais provas você vai fazer essa semana? – Hinata direciona seu olhar para o garoto, pronta para começar suas anotações.

Agora, eles conversavam baixo para não atrapalhar os demais ao redor deles.

— Acho que... Física, matemática, química e história. – ele está com uma expressão pensativa – Mas em física eu preciso de menos, porque como estudamos mais, eu consegui melhorar minhas notas na prova surpresa, dattebayo!

A morena dá uma risadinha e concorda com a cabeça.

— Você se esforçou bem, Naruto-kun. – sua atenção está voltada para o bloco de folhas de fichário agora.

O garoto acompanha a escrita da menina. Ela parece redigir tópicos a serem estudados sobre cada uma das matérias, então ele a espera terminar para não atrapalhá-la.

A Hyuuga era muito organizada, ele tinha que admitir. Talvez ele pudesse aprender um pouco isso. Uma vez, ela lhe dissera que se ele continuasse escrevendo as coisas de forma bagunçada, ele iria se perder na hora de estudar, e foi exatamente o que aconteceu, no final das contas. Ela não era somente uma ótima professora particular, como também percebia detalhes que ele sequer iria imaginar.

Não que seja muito difícil, ele pensa e faz uma careta. Eu sou burro.

— Pronto – ela anuncia, tirando-o de seus devaneios.

Agora, a folha está completa com a caligrafia da garota. Como ela escreveu tão rápido?

— Qual a sequência das suas provas? – ela volta a questionar.

— Química, física... História e matemática. – ele responde, com um pequena pausa em sua fala. – Não, não. É primeiro a de física, depois a de química...

— Aqui. – ela puxa um papel da bolsa, lendo-o – Química, história, matemática e física.

— Hina-chan, por que você tem isso ai?

— Er... Achei que você pudesse se confundir ou esquecer, então... eu só... me preveni – ela diz, incerta e um pouco sem graça.

Ela tinha passado tempo o suficiente com ele para perceber isso também.

Ele pisca os olhos duas vezes e dá risada, chamando a atenção de outros que murmuram um “shh”, cortando o entusiasmo do Uzumaki – ele esboça uma careta, contrariado.

— Dattebayo, faltou só um pouco pra eu acertar. – um sorriso substitui a expressão no rosto e o garoto encara a Hyuuga.

Ela retribui o sorriso e eles começam a estudar.

[...]

— Aaah... Estou cansado, Hina-chan – Naruto se escora no encosto da cadeira e joga a cabeça para trás, encarando o teto.

Já passou do meio-dia. Os dois estão há mais de duas horas ali e revisaram os pontos principais e mais confusos de todas as matérias. No momento, o garoto está apenas tirando dúvidas pontuais.

Entretanto, não aguentava mais. Em parte, ele se culpava por não ter tido uma noite de sono adequada. O resto da culpa era devido a sua dificuldade.

Naruto fica de pé e se alonga, estralando suas costas e seu pescoço. Passa os olhos pelo ambiente mais uma vez, percebendo que metade das pessoas já saíra, provavelmente devido ao horário de almoço.

Algo na estante mais próxima – por volta de três metros de distância – lhe chama a atenção. Era uma capa de CD com uma boca na frente. Naruto, então, tem uma ideia idiota e anda em direção à estante. Enquanto isso, a morena está sentada terminando de guardar seu material – diferente dele, que deixou tudo solto sobre a mesa mesmo.

Com as suas costas viradas para a garota, ele pega o CD em sua mão, ajeita a capa em seu rosto e vira 180º, se mostrando para Hinata com uma careta que combinava com a estampa de boca aberta.  

A Hyuuga coloca sua mão sobre a boca e solta uma risada nasal.

Visto que a reação foi positiva, o loiro se vira novamente pra estante, procurando uma nova capa de filme, livro ou até mesmo outro CD para repetir sua ideia. Ele escolhe a capa de um livro com um óculos, e cobre do seu nariz para cima.

Ela ri novamente e ele abaixa o livro ao ouvi-la mais próxima.

Hinata se aproximara dele e agora está ao seu lado, igualmente procurando por alguma coisa na estante. Ela retira um livro, da última prateleira, cuja capa apresenta metade de um rosto numa expressão séria. A morena coloca sobre o próprio rosto e imita a expressão para completá-la.

Inicialmente, o loiro ri. Em seguida, pisca algumas vezes, encantado.

Hinata sempre foi uma pessoa mais tímida, reclusa. Ele não a conhecia tão bem quanto deveria. Apesar de ter certa convivência com ela desde o ensino fundamental, eles eram de salas diferentes e acabavam por se encontrar em aulas de educação física conjuntas ou mesmo nos intervalos. Só isso.

Agora, em KHS, era a primeira vez que estava na mesma sala de aula, passando pela mesma situação todos os dias, mesmos professores, ouvindo as mesmas palavras.

Mas ele nunca tinha reparado isso.

Até agora.

Naruto adorou o fato de a garota rir de sua bobagem, mas ficou muito mais surpreso com ela ter aderido à ideia e participar. Ele achou que se sentiria envergonhado por fazer algo tão estúpido perto de uma garota tão inteligente, mas jamais esperou que ela replicasse a brincadeira.

 Ele não conseguiu conter o sorriso de orelha a orelha, e muito menos a alegria que invadiu deu coração naquele momento.

O Uzumaki segura, com delicadeza, o pulso direito da garota e a puxa para o corredor, em busca de mais livros com capas ainda mais interessantes.

A risada dela era música para seus ouvidos.

— Hina-chan, olha isso aqui.

Naruto a solta e entra em uma das seções do corredor. Ele pega um livro sobre beisebol que possui, em sua capa, uma bola sendo arremessada. Naruto simula como se ele fosse arremessar o livro como um lançador.

Hinata, por sua vez, escolhe uma capa com uma xícara e a finge segurar enquanto “assiste ao jogo” criado pelo loiro.

Ambos guardam o livro em seus respectivos lugares e atravessam o corredor, indo pra mesma seção, só que do lado oposto.

Dessa vez, a Hyuuga decide primeiro. Ela segura um filme e coloca de perfil em seu rosto, como se tivessem várias emoções dentro de sua cabeça, controlando-a. Já o Uzumaki coloca um livro – com um coração na capa – sobre eu peito e finge os batimentos mexendo o livro num ritmo de “tum tum”.

Mal sabia ele que Hinata quem estava se sentindo com o coração acelerado.

Ela desvia o olhar e começa a procurar mais algum livro em uma das prateleiras. Naruto aproveita para dar a volta na mesma estante. Ele encontra um livro com um símbolo de um grande olho logo no início da seção e localiza a morena através da terceira prateleira de cima para baixo. Escolhendo uma área vazia e de visão livre entre as prateleiras, o loiro coloca o livro todo em frente ao seu rosto quando ela se aproxima.

— Ei, Hina-chan. Estou de olho em você. – segundos depois, ele passa o livro para o lado e sorri.

A garota solta uma risada e sente seu rosto queimar. Naruto percebe que suas bochechas adquirem um tom avermelhado e isso lhe dá um gatilho de memória sobre o aniversário de Neji e, consequentemente, sobre seu sonho.

Ele leva a mão direita até sua nuca pela terceira vez naquele dia e solta uma risada sem graça. Ele também sentiu-se ruborizar.

Ambos desviam o olhar e voltam a andar em novos setores do corredor.

Kami-sama, tire esse sonho da minha cabeça.

Alguns minutos se passam e ambos se recuperam da vermelhidão.

Naruto encontra o livro perfeito, mas não tem tempo de usá-lo, porque escuta a voz de Hinata logo atrás de si.

— Naruto-kun.

Ele vira para encará-la.

A garota segurava um livro que dizia “Van Gogh Letter” ao lado de sua orelha esquerda. A princípio, ele demora a entender. Entretanto, após alguns segundos de processamento, Naruto relembra o que estudaram naquele dia sobre história da arte: Van Gogh sofria de depressão e cortou a própria orelha.

O constrangimento de minutos atrás some completamente e ele começa a rir alto. A morena não deixa de sorrir, ao perceber que ele compreendeu a piada implícita e que alguma coisa ele tinha fixado dos estudos.

Naruto aproveita para inciar sua encenação.

Mudando de humor e de forma repentina, ele se mexe, virando de lado para se apoiar na estante e segurando um livro sobre a barriga. Entretanto, sua expressão agora muda de rindo-pra-caralho para estou-com-dor-de-estômago.

— Hina-chan... acho que estou passando mal...

A garota sente sua pressão baixar um pouco e se aproxima do garoto, aflita. Deu tempo de andar dois passos até que ele se virasse e o livro sobre sua barriga mostrar uma imagem de um buraco negro.

— Acho que eu... to morrendo de fome, dattebayo.

Os músculos da menina relaxam e ela começa a rir genuinamente.

Mais uma vez, Naruto está encantado e rindo.

Além de a brincadeira funcionar, ele também reparou que Hinata se mostrou preocupada com seu suposto mal estar.

— É proibido fazer barulho na biblioteca – uma voz feminina familiar os interrompe, cortando o riso de ambos.

Era a balconista, com a típica expressão severa direcionada a baderneiros.

— Gomenasai – Naruto responde, falando baixo dessa vez.

A mulher sai dali e ambos adolescentes trocam olhares. Era melhor parar.

Após devolverem os livros para seus respectivos lugares, eles retornam à mesa que estavam para Naruto guardar todos os seus pertences. Enquanto isso, Hinata o espera, com a bolsa já ajeitada e pendurada em seu ombro.

O silêncio permeia entre eles até que estejam foram da biblioteca. Agora, o sol está mais forte e intenso, devido ao horário. Já são 13h.

— Naruto-kun, eu preciso voltar – a morena anuncia, trazendo a atenção do loiro para si.

O Uzumaki não queria que a manhã terminasse daquele jeito. Além de estudarem, se divertiram muito e, caramba, ele está realmente surpreso por Hinata ser uma pessoa muito mais interessante do que ele pensava.

— Eu te acompanho.

— N-não é necessário, eu...

Mas ele ignorou e começou a andar.

A morena desistiu de fazer objeções por que começou a rir.

— É pro outro lado. – ela anuncia.

Naruto dá meia volta e solta uma risada como um “hehehe”.

— Eu já sabia.

Ela sorri, mas não diz nada.

Ambos caminham lado a lado. A casa de Hinata não ficava tão longe dali. Levariam apenas dez minutos a pé.

[...]

Naruto esteve ali há dois dias.

Ele recorda do selinho acidental com Sasuke.

Sua cara feia seria perceptível, caso Hinata estivesse olhando.

Ele não veria a morena tão cedo novamente, o que o fez questionar mais uma vez como ele poderia agradecê-la pela ajuda sem que isso implicasse no acordo entre eles.

Sua primeira ideia de comprar algo de presente falhou, pois ele não teve nenhuma ideia excepcional. Sequer teve alguma ideia.

Sua chance de sugerir uma compensação estava chegando ao fim.

A garota retira a chave da bolsa e coloca na porta, destrancando-a. O loiro apenas espera, com as mãos nos bolsos da calça, o rosto virado para o lado, os olhos fixos no chão, e um beicinho de descontentamento.

Ela volta para trás e ele ajeita a postura e a expressão, fingindo que nada aconteceu.

— Se precisar de alguma coisa antes das provas, pode me-...

— Hina-chan – as palavras fluem de sua boca, sem filtro – Quer sair comigo depois das provas? – uma pausa.

Ele pode jurar que a garota começou a ficar vermelha gradativamente dos pés à cabeça durante os segundos de silêncio que se seguiram.

Ele foi inocente demais ao não reparar que era um convite de encontro.

Sua única interpretação foi: ela não deve ter entendido, pois só saímos para estudar.

— Hum...pode s-ser e...

— Beleza! – Naruto se anima e solta sua risada “hehehe” – Minha última prova é na sexta, então a gente pode se encontrar na saída por volta das... 15h?

Hinata concorda com a cabeça, e o garoto sorri de orelha a orelha.

Seu lado impulsivo podia o ferrar muitas vezes, mas em outras ele saia no lucro. Se não fosse sua impulsividade, ele não poderia colocar seu plano em ação tão cedo.

— Ja ne, Hina-chan – o garoto gesticula um “tchau” enquanto sai andando, deixando uma Hyuuga muito envergonhada e confusa para trás.

~

Hinata fecha a porta atrás de si e se encosta. Ela encara o chão da casa, perplexa, quase sem piscar.

Hanabi, que estava na cozinha e ouve o barulho da porta, se dirige até a entrada com um pano de prato nas mãos e encontra sua irmã ali, estática. Se não fosse pelo rubor em suas bochechas, a caçula acharia que a irmã estava com a pressão baixa e precisou se apoiar.

— O que foi, Hina-nee-san? – ela tomba a cabeça para o lado, numa expressão de interrogação.

— Ele me chamou pra sair – sua voz é tão baixa e sem ar que Hanabi não entende.

— O que?

— O Naruto me chamou pra sair – ela repete, um pouco mais firme, e ergue a cabeça para encarar Hanabi.

A menina joga o pano para o alto e começa a falar alto, animada.

— Até que enfim! – ela está rodando, numa dancinha improvisada.

Mais alguém emerge da cozinha e segura o pano antes dele cair no chão.

— O que está havendo? – Neji questiona, confuso com a cena à sua frente de uma garota muito animada e sua irmã mais velha escorada na porta.

— O Naruto chamou da Hina-nee-chan pra sair! – a caçula está sorrindo de orelha a orelha.

— O que?! – agora era a vez do primo ficar perplexo.

— É incrível, não é?! – Hana grita e arranca o pano da mão de Neji para jogá-lo no ar mais uma vez.

— Isso foi agora? – ele questiona.

— Foi – Hinata se pronuncia pela primeira vez ao primo.

Ela desencosta da porta ao sentir que sua tontura, fruto da surpresa, está desaparecendo – diferente de seu rubor.

— Mas... do nada?

— Sim. Ele só falou pra sairmos depois das provas, então não é nenhum encontro de estudos.

Neji se vê extremamente intrigado com a situação. Naruto se dizia amar a Sakura e estava chamando Hinata para sair?

Inconscientemente, surge uma pequena desconfiança acerca do Uzumaki. E se ele tivesse descoberto que ela era apaixonada por ele? E se ele quisesse se aproveitar disso? E se o objetivo dele fosse fazer ciúmes para Sakura usando sua prima?

Neji sempre se preocupou muito com suas primas. Ele era um primo mais velho com instintos superprotetores.

Deixou a desconfiança engavetada por hora, lembrando o quanto Naruto é bobão. Porém, ainda ficaria atento e com um pé atrás, apenas por cautela.

Por fim, Neji dá de ombros levemente.

— Só nos resta esperar.

Hanabi para de saltitar pra lá e pra cá e corre pra cozinha, se lembrando de um detalhe muito importante.

— Eu deixei os cookies no fogo! – e desaparece pela porta.

Hinata se junta a Neji, caminhando até a cozinha, mas não sem antes de deixar sua bolsa sobre a pequena mesinha ao lado da porta de entrada.

A garota prende o cabelo em um coque, sem tirar a faixa que prende sua franja para trás. Evitar que o cabelo caísse sobre seu rosto seria muito importante, já que eles iriam cozinhar.

Como os três Hyuugas estão de férias e seus pais, trabalhando, eles se juntavam na cozinha para preparar o almoço.

Neji e Hinata focavam no prato principal enquanto Hanabi preparava doces para sobremesa. Ela costumava gostar de fazer cookies ou dorayaki. Às vezes, mudava para o salgado só para preparar os famosos takoyakis.

— Já está quase tudo pronto – informa o primo.

Ela confirma com a cabeça e puxa uma das cadeiras para se sentar. Ela ficou mais tempo do que o previsto na biblioteca.

— Eu vi o tou-san conversando com o Itachi quando o Sasuke tava indo embora do aniversário.

Hanabi tira os cookies do forno e deixa sobre o balcão. Neji e Hinata olham para ela, curiosos para saber o que a pequena teria ouvido dessa conversa. Se não fosse intrigante, Hanabi não teria mencionado.

— Ele parecia preocupado com alguma coisa atrapalhar a festa. – ela continua.

Hanabi abre a geladeira e pega a calda de chocolate, a fim de jogar em cima dos cookies. Ela gostava de fazer desenhos neles.

— E o que seria? – Neji franze o cenho.

— Não sei. Ele só disse que eles precisavam descobrir os “novos planos” – ela faz aspas com as mãos – Mas não mencionou mais nada. – Hanabi dá de ombros e volta a fazer corações sobre os cookies.

Hinata e Neji trocam olhares preocupados.

[...]

Hinata e Hanabi estavam sentadas no sofá da sala e, seu primo, voltara a seu quarto para jogar videogame. Já era noite.

Hanabi está deitada com as pernas por cima do braço do sofá e Hinata está na mesma posição, só que virada para o lado oposto. Hanabi está com a cabeça na almofada e Hinata, com a cabeça apoiada na mão, sustentando a posição com o cotovelo sobre o sofá.

As garotas escutam uma buzina, indicando a chegada de Mitsuo, seu pai e seu tio.

Era raro Mitsuo anunciar a chegada com a buzina, então elas já ficaram atentas com a possibilidade de alguma coisa nova. Assim, se ajeitam e se sentam no sofá de forma correta, esperando seu pai entrar na casa.

Ouve-se um click e a maçaneta gira. Hiashi entra empurrado a porta com as costas.

— Tadaima.

Ele segurava duas grandes caixas.

As Hyuugas se levantam, prontamente se dirigindo até a porta para ajudá-lo. Hinata segura uma das caixas, aliviando o peso, enquanto que Hanabi fecha e tranca a porta da casa.

A mais velha segue o pai até a sala e também coloca a caixa sobre o tapete, imitando-o.

Ele está com um sorriso no rosto, animado como nunca.

— São pra vocês – anuncia – Eu encomendei tem uma semana. Espero que gostem.

Prestando mais atenção, Hinata repara que a lateral de cada caixa apresenta uma pequena etiqueta, sendo que cada uma tem um nome diferente. A que indicava “Hinata” é uma caixa branca e lilás.

Ela senta-se ao lado da caixa e abre com cuidado. Ali dentro, há um vestido lindo, majoritariamente preto, na altura dos joelhos e com bojo interno quase imperceptível. A cintura apresenta um detalhe de flor num tom de roxo bem forte e escuro, misturado com contornos brancos que se espalham por todo o tecido. O centro da flor é brilhante, prateada e com pedrinhas. Além disso, a borda da saia rodada apresenta detalhes no tom roxo da flor, harmonizando a peça. Há apenas uma alça – para o ombro direito –, a qual apresenta um broche pequeno redondo bem simples, como um detalhe final.

Acompanhado do vestido, uma echarpe em tons degrade de roxo e preto.

— Pai, é lindo! – Hinata exclama, fascinada.

Hiashi sorri, feliz que sua filha admirou a peça que ele escolheu e pediu para fazer especialmente para ela.

— Hina-nee-san, olha o meu! – Hanabi fica de pé e estica o vestido por completo.

O de sua irmã era azul marino, de mangas curtas. A gola em V é discreta e possui pedrinhas brancas. Há um laço branco na cintura do vestido. Tanto a saia quanto as mangas apresentam detalhes em listras brancas e azul royal. A saia é igualmente rodada e na altura dos joelhos, como a peça de Hinata. O vestido da caçula é mais simples, mas tão lindo quanto.

Hinata sorri e ambas as garotas agradecem ao pai em uníssono, se aproximando dele e dando um abraço em trio.

A mais velha sabe o quanto o pai tem se dedicado à festa que ocorrerá no próximo final de semana. Ela sabe o peso para ele e sente que seu coração se aquece todas as vezes que Hiashi está bem e feliz.

— Vem, Hana-nee-chan. Vamos guardar os vestidos. – elas já haviam se afastado de Hiashi.

Ambas colocam as peças de volta na caixa e cada uma leva a sua para o andar de cima, em direção ao quarto, deixando para trás um pai sorridente.

~

“Mamãe,

Nem sei como começar a explicar o dia de hoje.

Eu esperava que fosse uma manhã de estudos normais, como as outras vezes que ajudei o Naruto. Entretanto, assim que terminamos os estudos, ele se levantou e começamos a brincar com as capas de livros e filmes da estante da biblioteca – pelo menos, até a balconista nos repreender pelo barulho. Fiquei com muita vergonha no momento que ele disse que estava de olho em mim, principalmente depois dele fingir estar com o coração palpitando. Ele disse na inocência, eu sei, mas não consegui não corar.

Além disso, ele me chamou pra sair. Eu nunca imaginei que ele fosse me chamar para sair, ainda mais agora sem ter um motivo. Eu achei a atitude muito estranha, mas eu aceitei o convite. Ele estava super feliz quando foi embora e, agora, só de lembrar, eu já fico com vergonha.

Eu nunca fui a um encontro.

E eu não sei se isso é realmente um encontro, porque ele gosta da Sakura-chan.

De tarde, eu e a Hanabi assistimos uma série policial que nos interessou tanto que nem percebemos o tempo passar depois do almoço.

O papai também estava radiante hoje. Trouxe-nos os vestidos que usaremos nas festas e, mamãe, você ficaria muito feliz em descobrir o quanto ele aprendeu sobre elegância com a senhora.

Tivemos uma noite agradável, jantamos todos juntos – Neji e o tio Hizashi conosco - e conseguimos conversar sobre planos do que podemos fazer em família durante as nossas férias. Cogitamos uma noite de jogos e, também, uma comemoração especial só nossa, caso a festa de união das empresas dê tudo certo.

A senhora também estava presente conosco hoje. Não fisicamente, mas em nossos corações. Sentimos sua falta!

PS: acho que o papai sabe de alguma ameaça pra empresa, visto que Hanabi o ouviu falando com o Itachi sobre a festa. Fico me perguntando o que possa ser, até porque ele tem estado de muito bom humor nos últimos dias.

Beijos com muito amor e carinho,

Hinata Hyuuga”