Hinata e Neji haviam terminado a última prova fazia dez minutos.

Enquanto o restante da sala terminava, a professora ia corrigindo as provas e chamando à mesa as duplas para mostrar a nota.

Os primos estavam conversando baixinho sobre assuntos banais, de forma a não atrapalhar.

— Neji-nii-san, a Kurenai-sensei já voltou de viagem? – pergunta Hinata, num sussurro.

A menina estava sem treinar a uns bons dias, pois sua sensei viajara a fim de celebrar o aniversário de algum parente. Estava previsto que ela voltasse antes do aniversário do Neji, o qual seria sábado.

— Hai, Hinata-san – ele murmura com um sorriso. – Ela disse que passará lá hoje e que trouxe algumas lembranças para nós.

A Hyuuga apoiou o cotovelo na mesa e o queixo na mão, passando a olhar para a janela à sua esquerda.

Não estava sol. O céu estava nublado e era perceptível o vento forte. Provavelmente choveria daqui algumas horas.

— Eu sinto que seu pai está preocupado ultimamente – ele comentou repentinamente, fazendo-a fitá-lo novamente. – Por mais que em momentos ele pareça estar bem e feliz, são sentimentos momentâneos.

Desde quando Neji estava prestando atenção em Hiashi? Hinata decidiu não perguntar.

— Ele realmente está... inconstante. – concordou – Hizashi comentou sobre isso? – ponderou ela.

— Meu pai não está diferente do normal, mas escutei esses dias ele resmungando para si mesmo sobre o estado do tio Hiashi. Então percebi que não era apenas eu que estava o achando estranho.

Alguns segundos de silêncio se procederam, como se ambos estivessem pensando.

— Eu também escutei seu pai ao telefone, um tempo atrás. – Neji continuou – Não sei com quem ele estava conversando, mas ele citou a palavra “acidente” antes de desligar. Acho que conversava sobre a tia Hiromi.

Aquilo realmente a espantou. Não era seu pai que não gostava de falar no assunto? Por que falaria disso com alguém ao telefone?

Além do mais depois de esquecer do dia de falecimento de sua mãe, como havia acontecido esse ano.

Hiromi falecera quase duas semanas antes do aniversário de Neji, cuja data estaria sendo comemorada em dois dias.

E eles não foram ao cemitério. Não levaram flores, não ficaram em silêncio absoluto por quase todo o dia. Hiashi não falara nada e nem demonstrara uma mudança de humor como aconteceu no ano anterior.

Ele ficara normal, na medida do seu possível.

E, novamente, ela ficou quieta. Nem escrever em seu diário sobre essa desconfiança, o fizera. Ela somente deixou a ideia de lado.

— Hinata? – Neji a tira de seu devaneio.

— Desculpa – responde e suspira – Eu só fiquei surpresa.

— Não foi a única – ele murmurou para si mesmo.

O sinal tocou, indicando o término da aula.

De agora em diante, só iriam para a escola aqueles que estivessem de recuperação, que duraria um período de uma semana.

Ou seja, férias.

— Finalmente acabou. – Tenten suspirou aliviada. Estava na cadeira atrás.

A Hyuuga teve a leve impressão de ver um sorriso, mínimo e passageiro, no rosto de Neji.

As últimas pessoas que estavam com a prova, entregaram e foram embora. Teriam de esperar o boletim para ver suas notas, levando em conta que a professora não corrigiria mais em sala.

Neji foi o primeiro a se levantar, dando passagem para Hinata.

— Vamos sair nas férias! – declarou Ino – E nenhuma de vocês vai escapar de mim desta vez.

Sakura, Tenten e Hina riram.

— Sim, senhorita Yamanaka – ironizou a rosada.

A Hyuuga se despediu das amigas e foi até Neji, que conversava com Naruto e Sasuke do lado de fora, próximos da porta.

— ...eles normalmente colocam as notas no mesmo dia ou no seguinte no portal – dizia seu primo – Assim, os alunos que estão de recuperação sabem que estão...bem, de recuperação.

Ele conversava mais diretamente com Naruto, pois Sasuke nem parecia estar prestando atenção.

Hinata encara o loiro. Ele parecia aflito, como se estivesse inseguro.

— O que foi, Naruto-kun? – pergunta, com as bochechas rosadas.

— Eu não sei se eu fui bem – ele dá uma risada sem graça e coloca um dos braços atrás da cabeça.

Seguiu-se alguns segundos de silêncio antes de Neji se pronunciar.

— Estamos indo – avisou. – Até mais.

Sasuke mexeu a cabeça, indicando que tinha escutado e Naruto deu um tchauzinho com a mão.

Quando a morena correspondeu o tchau, movimentando a mão da mesma forma, o loiro sorriu de orelha a orelha.

Não deu tempo de ele vê-la corar, pois os Hyuugas viraram o corredor.

Caminharam em silêncio até a saída e entraram no carro.

— Kon’nichuwa*, Mitsuo-san – ela cumprimentou o motorista.

— Kon’nichuwa – respondeu, antes de dar a partida e seguir o caminho até a mansão Hyuuga.

~

— Naruto, você cantando é um ótimo ator. – comenta Sakura sobre a voz afinadíssima do loiro.

— O que você quer dizer com isso? – ele faz um careta.

Os dois e Sasuke estavam voltando a pé para casa.

Sim, a Haruno morava perto do moreno a ponto de ter que seguir metade do caminho na mesma direção e, agora, como consequência, aguentar Naruto também, que dormiria na casa do Uchiha.

É. Uma morte terrível.

— Pelo menos uma vez eu concordo com a rosada. – diz o moreno.

— Já disse que eu não quero que você me chame de rosada, Sasuke. – ela reclama.

Ela estava andando um metro na frente dos dois.

— Eu não ligo – ele retruca e dá um leve chute no pé de Sakura, a fazendo tropicar.

“Respira fundo, Sakura”, se repreende mentalmente, e volta a caminhar.

Não passam nem dois minutos e o moreno faz de novo.

— Naruto, dá para fazer o Sasuke parar com isso? – diz, parando e olhando para trás, encontrando um Naruto distraído com o outro lado da rua. – Naruto?

Silêncio.

— NARUTO – grita.

— Dattebayo, Sakura-chan. Que susto.

A garota arqueia uma sobrancelha. “Ele está esquisito”, pensou.

— Naruto, está tudo bem? – questiona.

— Está, Sakura-chan. – ele se mostra animado, do nada, como se gostasse muito da ideia de ela parecer preocupada com ele – Por quê?

A Haruno revira os olhos. “Não está não”, repensa.

— Por nada – e os três voltam a andar.

~

— Está tudo pronto para a festa surpresa do Neji. – diz Hizashi, entrando no escritório do irmão – Precisa de ajuda com a festa da empresa?

Hiashi levanta o olhar, parando de analisar os papéis e solta um sorriso involuntário.

— Não, já está tudo pronto. Acho que trabalhei tanto nisso que terminei muito antes do previsto. Acabei de enviar tudo para o senhor Fugaku. Só falta sua aprovação final. – ele faz uma pausa e estende o papel para o irmão.

Hizashi se aproxima e senta na cadeira em frente à mesa de Hiashi e pega a folha de sua mão.

Não demora muito até ele terminar de ler.

— Ficou impressionante. – comenta - Arrisco a dizer que é um dos seus melhores planejamentos.

Hiashi continua sorrindo, não conseguindo impedir tamanha felicidade.

— Fico muito agradecido, irmão. De verdade.

Há um momento de silêncio.

— Você ainda pretende... usar sua filha para impressionar os Uchihas? – Hizashi pergunta sem mais delongas.

O irmão franze o cenho. “Usar” não era a palavra mais adequada, ele só queria que sua filha mostrasse o quão boa foi sua criação, sua educação, gentileza e bondade. Queria que os investidores da empresa se impressionassem com o fato de ela ter sido e continuar sendo uma pessoa incrível e adepta a assumir a empresa no futuro.

— Não estou a usando. – Hiashi só conseguiu dizer isso.

Hizashi suspira, deixando o papel com o planejamento final na mesa do irmão, mas não faz mais nenhum comentário sobre, dando o assunto como encerrado.

— Combinei com Hinata e Hanabi para que elas levem Neji nesse sábado à uma padaria para comprar o bolo à escolha dele, dando a entender que será uma comemoração entre a família. – começa Hizashi.

Hiashi escuta com atenção enquanto o irmão fala.

— Depois, na volta, Naruto e Sasuke o abordam na entrada, como se estivessem batendo na porta e ninguém estivesse atendendo. – antes de concluir, ele faz uma pausa – Assim, quando entrarem, todos aparecem parabenizando meu filho enquanto Hinata e Hanabi ajeitam o bolo para o parabéns.

— Parece-me um bom plano. Só espero que esse Naruto não abra a boca e conte. Ele parece ser meio... hiperativo e impulsivo. – Hiashi comenta ao se lembrar do loiro com risquinhos nas bochechas.

Hizashi ri, concordando com a cabeça como quem diz “eu também espero que ele fique calado”.

— Ele é um bom menino. Qualquer coisa, Hinata ou Sasuke o farão ficar quieto. Eles mesmos me avisaram dessa possibilidade.

— Você falou com eles quando?

— Não faz muito tempo. Pedi que não comentassem nada até eu conversar com todos de forma devida, por isso estou te avisando somente agora.

Hiashi faz um gesto com a mão.

— Eu faria do mesmo jeito – conclui.

Hizashi dá um sorriso e se levanta da cadeira.

— Estou indo e aconselho você a fazer o mesmo. Você anda passando muito tempo no escritório.

Hiashi desliga o computador e se levanta na mesma hora, pegando suas coisas.

— Tem razão. Acho que estou precisando passar um fim de tarde em casa.

~

Se a cabeça do loiro já estava avoada desde que terminara a prova, agora então ela não deveria mais ser considerada como “cérebro do Naruto”, pois pensar em três coisas ao mesmo tempo era algo meio surreal até para ele mesmo.

Tudo começou quando ele percebeu que havia confundido algumas informações na hora de responder as questões dissertativas da prova (bem que Hinata o avisara que ele ficaria confuso com aquelas anotações bagunçadas dele), o fazendo crer que também poderia ter cometido esses erros nas questões testes e começando a ficar preocupado com sua nota.

Depois, quando ia para casa de Sasuke, ficou distraído lembrando de todo o tempo que passou estudando com a Hyuuga. E se ele tirasse uma nota baixa, ela se sentiria culpada?

E por último, mas não menos importante, no crepúsculo daquele dia, sua mãe e seu pai o ligaram parabenizando seu desempenho na avaliação escolar. E o mais incrível de tudo é que ele estava de recuperação. Seus pais disseram que ele aumentou a nota e isso era importante, logo ele devia continuar se empenhando.

Quando ele desligou a ligação, foi direto para o computador ver o boletim online no portal.

Para sua surpresa, nenhuma das matérias precisavam mais do que um ponto para atingirem a nota azul.

Aquilo foi um marco histórico na vida do Uzumaki. Normalmente, ele precisava dois pontos para passar nas matérias que tinha ficado de recuperação e, se conseguia atingir a quantidade de pontos naquele bimestre, ele já gritava de alegria.

Agora, precisando de um ponto apenas – levando em consideração que em algumas matérias era apenas meio ponto –, só faltava o loiro fazer uma festa.

— Mas que diabos, Dobe. Pare de gritar feito uma garota. – Sasuke reclama assim que morre no jogo.

Naruto não havia percebido que estava gritando.

— Teme, eu fiquei de recuperação! – ele berra novamente.

— Não vejo nenhuma novidade e nenhum motivo para essa euforia.

“Estraga prazeres, como sempre”, Naruto pensa e esquece de responder o moreno ao lembrar de algo muito importante.

— Preciso avisar a Hinata – ele declara correndo até o celular que ele tinha largado na cama.

O Uzumaki procura o número dela nos contatos e clica para ligar.

Enquanto isso, Sasuke assiste a cena, incrivelmente curioso com as reações e tiques do amigo.

O telefone toca uma, duas, três vezes antes de ele escutar a voz do outro lado da linha.

— Moshi moshi? Naruto-kun?

Naruto fica alguns segundos pensando no que vai falar.

— Hinata! Eu fiquei de recuperação, mas fui bem nas provas! – ele para alguns segundos novamente, ao ver que disse uma coisa estúpida – Quer dizer, eu aumentei minhas notas. Continuo de recuperação, mas eu preciso de menos pontos para passar! E essa semana já vão ser as avaliações e eu queria saber se a gente pode marcar de estudar todos os dias até que as provas acabem e... – ele para de tagarelar.

Definitivamente, a fala dele ficou confusa e, dado o tempo que a Hyuuga demorou para dizer algo. Talvez ela estivesse tentando absorver todas as informações e, ao mesmo tempo, pensando numa resposta para a pergunta – que nem ele sabia que faria até as palavras lhe saltarem da boca.

Será que ele pareceu desesperado ao dizer “todos os dias”?

— Que bom, Naruto-kun! – ela diz alegre, como se estivesse segurando o riso, do outro lado da linha – Isso significa que você está melhorando. Tenho certeza de que se continuar assim, vai conseguir ótimas notas. Eu falo com meu pai sobre ajudar você e depois eu te mando uma mensagem avisando.

— Está bem! – ele responde até rápido demais – Arigatou, Hina-chan!

Ela ri timidamente do outro lado da linha, fazendo o loiro sorrir.

— Douitashimashite*. Ja ne, Naruto-kun.

— Ja ne. – e ele escuta ela desligar a ligação e em seguida faz o mesmo.

Sasuke pigarreia duas vezes para chamar atenção de Naruto.

— Não vai contar para sua amada Sakura sobre seu progresso sem a ajuda dela? – provoca.

O Uzumaki se joga nas almofadas ao lado do moreno, se apossando de um dos controles do videogame.

— Não – responde, após poucos segundos, e dá de ombros – Vou ganhar de você antes.

— Até parece – o Uchiha se sente desafiado e dá um sorriso torto, iniciando a partida.

~

Hinata desliga o telefone e olha a irmã.

Hanabi estava deitada com a barriga para baixo em sua cama, apoiando a cabeça em uma das mãos e mexendo as pernas de forma animada.

— Ele te ligou por quê? – ela pergunta, curiosa.

— Falar sobre os resultados deles nas avaliações – a mais velha coloca uma mecha do cabelo para trás, sorrindo de forma fofa.

— E que história é essa de “eu falo com meu pai”? – ela arqueia uma sobrancelha, divertindo-se com a situação.

— Ele pediu para eu ajuda-lo a estudar de novo, já que ele ficou de recuperação – Hinata revira os olhos, sorrindo, e bagunça o cabelo da pequena.

A caçula ri.

— Acha que ele está ficando a fim de você?

— Claro que não, Hana – ela ruboriza um pouco – Ele ama a Sakura desde que se entende por gente. Ele só pediu ajuda para mim porque ela sempre nega. Eu já te falei isso.

— Ah – pronuncia, deitando com a barriga para cima e olhando o teto – Mas e se ele parar de gostar dela? Uma hora ele vai cansar da Sakura. Ainda mais depois de vocês estarem passando tanto tempo juntos. – pondera.

— Hanabi, acho que você anda assistindo muito filmes de romance ultimamente – a Hyuuga se aproxima da irmã e começa a fazer cócegas na mais nova.

— Para.... Hina... Não faz.... Isso... – ela tentava dizer em meio aos risos. – Está bem, eu desisto! – ela finalmente consegue falar, ao se afastar e tomar fôlego.

Elas riem juntas mais um pouco antes de descerem para jantar.

(...)

“Mamãe,

As férias finalmente chegaram. É um alívio ter uma pausa da escola para dar uma relaxada, por mais que quando chega a metade do mês, já cansei de fazer as mesmas coisas.

Quando cheguei em casa, treinei com a Kurenai-sensei, já que ela acabara de voltar de viagem. Após o treino, ela entregou algumas lembrancinhas: um tênis para Neji, um colar banhado a ouro para Hanabi e uma pulseira para mim com “Hinata” grafado.

Papai chegou em casa mais cedo e isso foi maravilhoso! Depois de vermos um filme nós três, Neji e o tio Hizashi, eu e Hanabi subimos para o quarto para escolher a roupa que usaríamos na festa do Neji desse sábado.

Quando terminamos e passamos a conversar, meu celular tocou e era o Naruto-kun falando sobre as notas e pedindo ajuda com a recuperação. Ele está realmente empenhado para não sair do time de basquete, o que aconteceria se as notas continuassem baixas.

Fico feliz que eu esteja conseguindo ajudá-lo e deixá-lo feliz. É algo gratificante, eu diria.

A propósito, Naruto vai nos ajudar com o segredo da festa surpresa do meu primo... Eu, Hanabi e Sasuke já estamos bolando planos para impedir que ele abra a boca nos últimos minutos. Mas acredito que vá dar tudo certo.

Agora... nos resta aguardar até sábado!

Beijos com muito amor e carinho

Hinata Hyuuga”