O choro dos pássaros escrita por Amaranthine


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos!

Primeira one de Hetalia que escrevo. Haha E sem a classificação +18 para variar. Hehe
Então, como eu disse nas notas iniciais, a história é baseada no conto mega tristinho da garota dos fósforos, mas bem de leve(acho).
Aí vocês me perguntam, por que logo este casal? Culpa da Shiori que ficou me enchendo de imagens lindas do China com o Império Romano, dentre elas estava a da capa e aí surgiu a ideia da one. Pronto, falei.
E... ah sim. Os personagens da história estão meio OOC's. Optei por fazer isso para conseguir este resultado e não me arrependo nenhum pouco.
Espero que gostem, comentem e sejam felizes! YEY! Irei adorar responder cada review divoso.
Boa leitura a todos!



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O Natal enchia a cidade das mais variadas cores, as ruas sempre permaneciam lotadas e em cada esquina havia um Papai Noel para desejar a todos um “Feliz Natal!”. Em Nova Iorque, a cidade que nunca dorme, havia um sorriso no rosto de cada uma daquelas milhares de pessoas com as mãos cheias de sacolas e presentes.

Mas a única coisa em que Yao conseguia pensar era no frio. Fazia tanto frio! E a neve não parava de cair. Sozinho, perdido naquela cidade, não sabia para onde ir, não tinha a quem pedir ajuda.

Quando viajou para a América, estava cheio de expectativas e sonhos. O principal era conseguir sustentar a família, ajudar nos estudos da irmã e impedir a venda da casa dos pais. Sem o imóvel, seus irmãos não teriam para onde ir e doía imaginá-los desamparados. Arriscaria tudo, mas não viveria carregando culpa, teria cumprido seu dever. Por isso viajou, mas agora, depois de seis meses, era incapaz de conseguir dinheiro para pagar uma bala. Pelo menos, sua família não precisava mais de ajuda. O pequeno e brilhante Kiku conseguira salvar a todos chamando a atenção de uma multinacional interessada nas miniaturas que ele criava com tamanha perfeição.

Estavam todos bem, aparentemente. Então, por que não o procuravam, haviam perdido o contato? De toda forma, melhor deixar os questionamentos de lado, precisava encontrar um local para se aquecer.

Os abrigos já não possuíam vagas, chegara tarde demais para tentar a sorte nas filas e o subsolo era um perigo para ele. Tinha medo de encontrar aquele russo estranho novamente, de ser carregado para algum lugar medonho, onde sabe se lá o que aquele homem seria capaz de fazer com ele.

Preferia morrer de frio e de fome a se sujeitar a algo sujo, como vender seu corpo em troca de um punhado de dólares. Propostas sempre apareciam, pessoas maldosas choviam na cidade. Era um milagre permanecer inteiro e são em meio a tanta maldade. Viu pessoas sendo drogadas e levadas para longe, roubos; o mau uso de força bruta por parte de policiais. Tanto horror, mas ainda tinha esperança de voltar para casa.

Caminhou em meio às pessoas, para elas Yao não passava de um fantasma, oh estava sendo demasiado injusto com os fantasmas, pois na América eles tinham fama e muito reconhecimento. Diferente de um moribundo prestes a morrer no frio.

Quase foi atropelado por um carro ao atravessar a rua e com isso perdeu uma das sapatilhas, é certo que estar com ou sem ela não fazia muita diferença, a sola teria terminado de despregar alguns metros adiante. Porém, ficar descalço na neve era algo meio maluco, o gelo queimava a pele, às vezes parecia cola, grudava para não soltar e aquilo doía. Como doía.

Continuou a caminhar sem rumo, à procura de um lugar para passar o Natal relativamente seguro do frio, mas parou. A poucos metros da onde estava, via Kiku e Xiao. Os dois repletos de sacolas, alegres. Sem notar nenhuma falta, a menor adversidade. Queria poder correr na direção deles e abraçá-los, pedir por ajuda, mas não. Havia algo neles, na verdade na sua mente, dizendo para manter distância. Esquecê-los.

Mas como se esquece a própria família? Afinal, estavam na América fazendo compras, se preparando para o Natal e o Ano Novo, podiam estar procurando por ele. Sim, era o que faziam.

Aproximou-se. Xiao estava tão bela naquele sobretudo rosa curto. Contrastava perfeitamente com seu cabelo castanho escuro e ao mesmo tempo combinava com a tiara de flores. Kiku continuava o mesmo, sempre tentando se manter discreto. Não notaram sua presença, pareciam ignorar, apesar da garota vez ou outra voltar olhar em sua direção nervosamente.

O que estava acontecendo?

Kiku-san, Xiao Mei... — tropeçava nas próprias palavras, afoito — Sou eu, Yao, aru!

Kiku passou o braço pelo ombro da irmã e murmurou algo como “ignore”, antes de voltarem a caminhar como se nada tivesse acontecido. O olhar dele era tão frio. Yao ficou sem palavras, se sentiu perdido. O ar entrava com maior dificuldade nos pulmões e a garganta fechava, havia sido traído pela própria família.

Não estavam atrás dele, nunca estiveram. Não, não podia ser verdade, eles não fariam algo assim. Viajara para longe, só para mantê-los seguros, seria vergonha do seu fracasso, estariam com medo de que isso pegasse mal? Tantos questionamentos, queria gritar, chutar tudo o que via na frente, puxar Kiku pela gola do casaco e obrigá-lo a olhar para ele, ver em que estado estava, o quanto sofria, porém tudo o que lhe veio foram fracas e trêmulas palavras.

Po-Por que me ignoram, aru?

Novamente foi ignorado. Os olhos arderam junto com a pele quando as primeiras lágrimas teimaram em tentar escorrer pelo rosto; congelavam antes mesmo de alcançar as bochechas.

Não estava preparado para um golpe tão cruel. Nunca estivera.

Observou-os seguirem seu caminho, queria estar junto deles compartilhando da mesma alegria, ajudando a escolher os presentes, se preparando para fazer as orações, comprando os ingredientes para assar os biscoitinhos da sorte do Ano Novo. Por que merecia tanta ingratidão? Havia feito algo errado? Correria atrás deles para pedir satisfações, independente deles chamarem um guarda, queria saber o porquê. Contudo, as pernas vacilaram, bambearam, seu corpo o traía, na verdade o chamava para uma realidade bem mais dolorosa (ou quase). Estava congelando.

Caiu de joelhos no meio da calçada. Crispou os lábios e tentou encontrar forças para levantar, não percebia, na verdade ignorava o quanto se encontrava fraco. Era pele e osso. Os braços nunca estiveram tão finos.

Balançou a cabeça negativamente e levantou. Havia perdido Kiku e Xiao de vista. Talvez fosse melhor assim. Apesar de não ter mais a menor vontade de continuar lutando pela própria sobreviv... No que estava pensando? Não iria desistir assim! Continuou caminhando, cambaleante. Das janelas das casas e dos prédios chegava um cheiro delicioso de carne assada, de salgadinhos, tudo misturado, mas não para Yao. Conseguia distinguir cada aroma; antes de cair em desgraça era um excelente cozinheiro.

Os pés roxos pelo frio vacilaram mais uma vez, não dava mais para continuar andando. Escorou-se na parede e arrastou-se em direção à entrada do primeiro prédio que encontrou. Acomodou-se entre os degraus da escada e semicerrou os olhos.

Aos poucos, foi lembrando-se da casa dos pais na China, Yao costumava dormir na varanda todo fim de tarde, gostava da sensação gostosa dos raios solares aquecendo seu corpo aos poucos, embalando seu sono. Quando acordava, já havia escurecido e podia observar as estrelas no céu.

Fora um idiota em acreditar que viajando para uma terra repleta de oportunidades, seria feliz.

Fechou os olhos. Era tão difícil respirar, nem sabia se teria forças para voltar a abri-los. Deveria ter ido para o subsolo arranjar um lugar para passar a noite. Não, de jeito nenhum. Aquele russo medonho poderia estar lá, procurando-o, espreitando-se nas sombras e observando cada movimento seu. Imaginar algo assim era tão horrível que às vezes tinha a impressão de tremer ainda mais, se é que tinha como. Aliás, nem sabia se tremia. Perdera toda a noção do que acontecia ao redor.

Ah, mas seus irmãos iriam voltar, perceberiam o erro que haviam cometido e logo estaria em casa, dormindo em uma cama quentinha. Comendo carne assada e bebendo chá. Era só ter paciência e esperar.

Não tinha para onde ir mesmo, muito menos força. Ele estaria ali até o fim, eles saberiam onde procurar.

Logo, logo estaria em casa...

Ei, o que faz aqui? Não pode entrar na casa dos outros assim, aru!”, falou bravo, queria voltar a dormir e fora para a varanda uma última vez para observar o céu, mas qual não foi sua surpresa ao ver um mendigo por lá? Tinha medo de ser assaltado, dele entrar e fazer algum mau aos seus irmãos que dormiam tranquilamente em seus quartos. Não conheciam o perigo e nem precisavam ter noção dele tão cedo. Eram crianças ainda. Era seu dever como um bom irmão protegê-los.

A noite é fria, não tenho para onde ir.”, o homem falava com um sorriso meigo em seus lábios finos. Parecia ser uma pessoa de bem, porém não dava para confiar em um simples sorriso.

Procure outro lugar, aru.”, retrucou sem tirar os olhos daquele homem. Havia algo nele, além do fato de não ser um oriental que chamava a atenção.

Não peço muito, só uma noite aqui. De manhã já terei ido embora para beem longe!, falou apontando para o céu, em um ponto distante dali, Yao franziu o cenho, tentou imaginar o lugar que ele mostrava, mas essa era uma tarefa impossível. Só conseguia imaginar as estrelas. Cruzou os braços e respirou fundo, fazia muito frio. Sua cama o esperava, assim como uma boa noite de sono, era só o chá ficar pronto.

Por acaso é um pássaro, aru?”, perguntou debochado. A intenção nunca foi ser mal ou destratar o rapaz, mas o jeito dele falar era tão engraçado e estranho. O homem o encarou e começou a rir divertido.

Não falo difícil, nem sei filosofar. Só falo que estarei longe, até queria ser como um pássaro, mas não sei voar.”, respondeu despreocupado. Ele até não podia ser nenhum gênio, mas Yao gostou das palavras. Achou-as bonitas a seu próprio modo.

É, a noite está fria mesmo! Entre e beba um pouco de chá, pode passar a noite aqui, aru.”, agora era a sua vez de sorrir. O homem olhou-o surpreso, arregalando os olhos castanho-escuros, mas logo voltou ao normal e a sorrir. Levantou-se em um salto, o que deixou Yao sem jeito, como era alto. Se sentia um tampinha perto dele, indefeso e fraco. Em todo caso, se precisasse se defender, faria isso muito bem, pois era um dominador das artes marciais. “Aliás, qual o seu nome, aru?”

Nunca recuso comida, adoro artes, música, garotas bonitas, principalmente boa comida. Sem contar que o cheiro está bom!” falou animado e deixando Yao ainda mais constrangido. Começava a se arrepender da ideia de tê-lo chamado para beber chá. Ele era estranho, imprevisível, mas transmitia muita animação. “E meu nome não é aru, é Theodotus, mas pode me chamar de Theo, garotinha.”

Não sou uma garota, seu idiota!”, exclamou irritado. Confundi-lo com uma garota, infelizmente, era uma prática muito comum entre as pessoas e isso irritava-o profundamente, tinha vontade de socar quem fazia aquilo. “O que faz pensar que sou uma garota?!”

Fácil, é só...

Abriu os olhos com dificuldade, apesar de tudo vir embaçado. Não queria levantar, ainda mais quando sentia que estava em algo macio como uma cama e tudo ao redor parecia tão quente. Realmente, não iria levantar, mas o barulho irritante de algo fazendo um som semelhante a “hera, hera, hera, hera” começava a fazê-lo perder a paciência.

Ca... Cala a boca, aru... — murmurou cansado e tornando a fechar os olhos.

Acordou! Isso é tão bom!

Conhecia aquela voz. Escutara-a em algum lugar, mas onde? Sentiu seu rosto sendo afagado. Aquilo era bom...

Voltou a abrir os olhos e fitou aquele sorriso meigo. Ah, agora sabia de quem se tratava.

Theodotus...

É, sou eu. Acordou na hora certa. Terminei de fazer um ensopado e pode ter certeza de que irá gostar. Eu cozinho muito bem.

Só de ouvir falar em comida, levantou a cabeça. Pena que ainda não estava com força para terminar de se mover adequadamente. Estava com fome, muita fome. Independente de Theodotus estar falando a verdade ou não sobre seus dotes culinários, queria comer o mais rápido possível!

Serve logo a comida, aru! — falou ligeiramente agitado.

Ei, calma aí! — reclamou sem perceber que acabara de fazer bico.

Rápido!

***

E então, gostou da comida? — Theodotus perguntou cheio de expectativa.

Estava com fome, então estava bom, aru — retrucou voltando a se enrolar em meio às cobertas.

Você é cruel!

Yao começou a rir. Por dentro estava em pedaços, mas sabia que o tempo era sábio e cuidaria disso. Já tivera muita sorte sendo encontrado e levado para um lugar seguro e quentinho, onde não passaria fome.

Ainda mais quando estou ocupando a sua única cama, aru — comentou sem jeito. Pela aparência bem simples do imóvel, tinha quase certeza de que o lugar só possuía um quarto.

Não me preocupo com isso, desde que fique bem, posso dormir no chão sem o menor problema, mas não se preocupe, o sofá é confortável — falou alegre.

Por que me ajuda, aru?

Theodotus sentou na beirada da cama e encarou-o um pouco sem jeito, no que estaria pensando? Seria algo muito constrangedor?

Não fosse você ter me deixado dormir na sua casa naquele dia, eu teria morrido no frio. Você confiou em mim e eu nunca me esqueci disso. Queria reencontrá-lo, mas não tive mais dinheiro para uma segunda viagem à China, se tivesse um pedido de Natal a fazer, teria sido revê-lo. E não é que, o presente até chegou antes e na porta da onde moro? — falou dando uma risadinha nasalada. Parecia uma piada aquela história.

Fala como se eu fosse algo importante, aru — desdenhou melancólico.

Pode falar o que for, mas para mim, é o melhor presente que Deus me deu.

As bochechas de Yao queimaram violentamente, queria enfiar a cabeça debaixo de um travesseiro. Havia sido abandonado pela própria família, mas acolhido por um estranho que o considerava o maior presente de todos. A vida era estranha pregando peças tão maldosas.

Nã-Não fale assim, aru!

Por que não?

Porque... — por um momento as palavras perderam-se em meio a onda de pensamentos e memórias que o carregavam longe — Você pode voar, eu não.

Theodotus pareceu não entender de primeira, piscou várias vezes e entreabriu os lábios, pronto para dizer algo, mas as palavras não vieram. Yao ficou sem graça, fez um esforço extra para se sentar e ficou olhando para as cobertas, queria encontrar algo interessante nelas, não conseguiu. Voltou o olhar para Theodotus e espantou-se com a repentina proximidade dele. Ele era tão bonito, queria poder tocar a barba por fazer com a ponta dos dedos e senti-la espinhando sua pele. Um desejo estranho e infantil, chegava a ter vergonha dos próprios pensamentos.

Você pode. É só tentar — Theodotus falou, o rosto a poucos centímetros do de Yao.

Como, aru? — queria se afastar; não havia uma maneira de fazer isso.

Uma asa quebrada cura com o tempo, você me curou há dois anos atrás, me deixe fazer o mesmo agora — deixou os dedos deslizarem pelas longas mechas negras do chinês. O cabelo dele estava bem mal cuidado, mas nada que algumas semanas de cuidados não resolvesse.

Não sei se rec...

O italiano não o deixou terminar de falar e selou seus lábios no dele. Yao não protestou, muito pelo contrário, correspondeu. Gostava da sensação da barba espinhando sua pele, algo inteiramente novo. Fechou os olhos e deixou sua boca ter cada milímetro explorado, beijou-o como se fosse a última vez em que veria o italiano novamente.

Recupera, pode ter certeza disso — Theodotus falou cessando o beijo — E eu estarei ao seu lado para ajudá-lo. Sempre.

Yao sorriu como há muito tempo não sorria. Deixando-se envolver naquele abraço aconchegante. Poderia deixar, pelo menos por enquanto, os problemas de lado. Encontraria solução para eles mais tarde.

Afinal, também fora presenteado. Encontrara a asa que faltava para poder voar.


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Notas finais do capítulo

Então... Gostaram?
Espero que sim.
A escolha do nome do Vovô Roma foi bem difícil, escolhi Theodotus por significar "dom do Senhor", achei lindo, então... Já se viu o resultado. Kkk
Era para eu ter matado o Yao no final. Sério, fiquei com muita vontade de fazer isso, mas me contive para não fazer todo mundo chorar. Kkkkkkkk
Estarei aguardando a participação de vocês, meus lindos, seja favoritando, comentando e em casos de alegria extrema recomendando. XD

Beijos!



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