Chains escrita por Priy Taisho


Capítulo 48
Capítulo 46 - Sentido


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Sei que demorei um pouco, mas em compensação, esse capítulo ficou bemmmm grande hahaha Chains tem tantos detalhes que eu espero não ter esquecido/bagunçado nada enquanto escrevia esse aqui (então me perdoem, vou logo fazer a releitura) hahaha
No mais, obrigada por todos que leram o último capítulo ♥ vou responder todo mundo assim que possível...
Boa leitura!



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Sentido

O barulho da espada contra o chão fora alto, mas tinha sido abafado em meio ao grito da loba que debatia o próprio em busca de alívio.  

As garras ensanguentadas de Cassandra arranhavam o piso e seus olhos esbranquiçados, aos poucos, retornavam ao normal...Ao mesmo instante em que o grito cessava, como se a vida estivesse esvaindo de seu corpo. 

A mente turva e a dificuldade em nortear os próprios sentidos eram apenas alguns dos efeitos colaterais da dominação que seu corpo havia sido submetido. Ela sentia a garganta seca e dores tão intensas que pareciam penetrar seus ossos e não reconhecia o local em que estava. 

Um cômodo velho, com cheiro de mofo que impregnava as paredes e lençóis puídos por traças que cobriam os móveis. Ao lado do grande buraco na parede, do qual provinha a única fonte de luz do local, estava um espelho. 

A moldura que um dia tinha sido dourada era marcada pelo tempo. A tinta desgastada, exibiam sinais de ferrugens e velhice. O vidro trincado como se algo o tivesse atingido com força, um punho furioso que certamente tinha sido ferido pelos fragmentos de vidro. 

Aquele lugar... 

— Oi — Sakura murmurou atraindo a atenção da loba para si. Ela pressionava o braço esquerdo e tinha a mão direita ensanguentada. — Você deu trabalho — Ela sorriu sem humor e aproximou-se de Cassandra para estender-lhe uma mão. 

Cassandra encarou o gesto por incontáveis minutos. A mão estendida de Sakura, os dedos ensanguentados, o ferimento no braço esquerdo exposto pelo corte na manga da blusa que a Haruno trajava.  

O rasgo partia desde a gola até metade do braço, o tecido não serviria nem para trapos se a batalha continuasse por mais tempo.  

— Eu fiz isso? — A Valerius questionou com a voz quebradiça. Ela tinha sede, como se houvesse passado metade da vida em um deserto e ainda com o cenho confuso, aceitou a ajuda que Sakura oferecia. — O que aconteceu? 

Sakura olhou ao redor antes de respondê-la. Ela estava curiosa sobre o cômodo, agora que tinha tempo para observa-lo. 

— A Pedra da Lua foi destruída — ela respondeu. — Você estava... Não é hora para falarmos sobre isso. Precisamos sair desse lugar. — Ela encara ao redor, procurando por uma nova saída (além do buraco na parede). 

As janelas tinham sido cobertas com tijolos e não havia sinal algum de uma porta que oferecesse saída para qualquer outro lugar da sede.  

— É um costume — Cassandra murmurou antes de erguer-se do chão. — Quando alfas morrem, nossa tribo acredita que seus espíritos vagarão pela sede porque ainda existe uma porta para conecta-los até a alcateia. 

— A porta dos quartos? — Sakura desvia os olhos do espelho e fita a mulher com atenção. Cassandra tinha a pele pálida, os olhos nublados e parecia esforçar-se além do comum para respirar. 

— E as janelas — Cassandra arfa. Seus joelhos vacilam por um instante, mas ela recusa a ajuda de Sakura com o olhar. — O lugar de maior apego é vedado por pelo menos cinquenta anos. Assim os espíritos entendem que precisam descansar. 

Sakura aquiesceu e impediu que seus olhos perscrutassem mais do cômodo. A forma com que Cassandra se movimentava era preocupante, mas a Haruno não fez mais menção de ajuda-la. Ela própria tinha um ferimento incômodo que ardia em seu braço esquerdo e que certamente dificultaria movimentos bruscos. 

— Precisamos sair daqui — Sakura alertou indicando a passagem que as levara até ali.  

Cassandra aquiesceu. Inalou mais uma vez o ar repleto de mofo, sentindo que seu nariz ficava irritado em contato com a poeira e olhou mais uma vez para o cômodo, evitando lembranças que ela há muito tinha esquecido. 

O ancestral que era dono daquele cômodo era mais próximo de Cassandra do que Sakura jamais imaginaria. O antigo líder da alcatéia... Seu pai.  

A parte dela que acreditava na mitologia da própria família, torcia para que os espíritos estivessem, mesmo que de longe, olhando a favor daqueles que ainda lutavam.  

— Ela está bem — A voz de Neji atraiu a atenção da alfa que caminhava atrás de Sakura em passos lentos. — A proteção... Era pior do que imaginávamos. 

Havia muita terra no caminho, derivada da parede destruída e granitos que perfuraram as solas de seus pés, mas Cassandra ignorou a dor enquanto fitava a cena que se desenrolava em sua frente. 

O filho de Hiashi Hyuga era um velho conhecido das reuniões em que o conselho organizava de tempos em tempos. Os olhos perolados usualmente enrijecidos demonstravam preocupação, o vinco entre suas sobrancelhas era denso e suas mãos emitiam um brilho azulado, quente, em direção a garota que ressonava em seus braços. 

Cassandra tinha muitas dúvidas. Ela não reconhecia o cabelo castanho preso em um coque, muito menos o cheiro da menina que tinha mãos com um cheiro forte de sangue.  

Manteve a si mesma em silêncio, observando o cômodo em busca de perigos e de vestígios da Pedra da Lua que havia desaparecido do pequeno altar onde era orgulhosamente exibida.  

— O que aconteceu? — Sakura questionou aproximando-se do casal que permanecia ao chão. 

— Precisamos ir embora agora — Neji avisou com seriedade. — Tem algo de errado acontecendo. 

— Com a Tenten? 

O Hyuga manteve os olhos na Mitsashi por um longo instante antes de desvia-los na direção de Sakura. Ele não parecia surpreso com os ferimentos e nem importou-se em ser cordial com Cassandra que encarava a tudo com confusão e desconfiança. 

— Com este lugar. Tem alguma coisa acontecendo. 

X-X-X 

As escadarias escondidas próximo da área comum davam acesso à um andar subterrâneo mal iluminado, com corredores que possuíam lampiões quebrados e escuridão predominante em cantos onde a pouca luz das janelas não adentrava. 

Um cheiro pútrido queimou os narizes sensíveis, fazendo com que Sasuke cobrisse o nariz com o dorso de sua mão. Os olhos vermelhos esquadrinhavam o local, a medida que seus passos ecoavam em conjunto ao som das lutas que aconteciam no andar superior.  

A mesa de madeira estava quebrada e as cadeiras que lhe faziam conjunto tinham sido jogadas em cantos diferentes. As portas dos armários estavam escancaradas, algumas pendendo em seus últimos parafusos, prontas para cair a qualquer momento. 

— O que era esse lugar? — Sasuke perguntou em tom baixo, ouvindo a própria voz ecoar pelo cômodo em um breve eco. Ele olhou para Lucian e para a garota ao lado dele que exalava desconforto em cada um de seus movimentos. 

O ombro ferido por Neji permanecia com o ferimento exposto, algo atrapalhava a cicatrização de Emily. Sasuke tinha teorias sobre aquilo, a ligação enfraquecida com a própria alcateia, o vínculo que quase havia sido partido com a submissão da Alfa ao poder da Pedra da Lua... Algo que os Lobos manteriam escondido de alguém como ele. 

Um inimigo que havia sido transformado em um aliado. 

— Essa é apenas uma sala de transição — Emily respondeu, passando a mão direita pelo braço esquerdo e atendo-se a esse movimento enquanto reorganizava suas palavras com cuidado. — Para a esquerda está o nosso armazém de armas. — A voz baixa de Emily atraiu a atenção do Uchiha, embora a garota não tivesse os olhos do Uchiha sobre si.  

— E a direita? 

— Celas. Mantínhamos alguns dos nossos inimigos aqui, para interrogatório. — Ela explicou cautelosa. Não confiava no vampiro em sua frente. — Mas nós... 

— Há uma passagem escondida por ali — Lucian interrompeu apontando para frente deles. Era a região mais escura de todo o piso inferior. — Dá acesso ao anexo exterior.  

Sasuke olhou para Lucian com curiosidade, mas nada disse. Era claro que haviam segredos dentro daqueles cômodos que jamais seriam revelados a ele, mesmo que toda a construção da Sede dos lobos de Cassandra tivesse seus minutos contados. 

— E quanto aos túneis subterrâneos?  — A pergunta do Uchiha não foi respondida. 

Sasuke recuou ao encontrar a fonte do cheiro pútrido. Um corpo que há muito tinha sido esquecido na escuridão e que tinha sido responsável por um grito de espanto que Emily sufocou com esforço. 

— Era um dos nossos — Ela murmurou com a mão sobre a boca. Sasuke não olhava na direção dela, mas sabia que ela estava chorando. — Stefan... — Emily colocou uma mão sobre o peito e fechou os olhos em respeito por breves segundos. 

Sasuke não disse nada, mas olhou para a direita em busca da origem do som baixo que chamou sua atenção repentinamente. Um eco, baixo, diferente de qualquer coisa que eles haviam escutado desde que desceram ao segundo piso.  

Um rosnado que crescia ao instante em que a criatura se aproximava, o movimento de uma sombra indecisa que se projetava na direção deles, lentamente com garras que arranhavam o piso e presas que produziam um estalido mecânico a cada vez que sua mandíbula era contraída.   

Lucian apontou para a passagem que dava acesso ao anexo exterior, os movimentos ágeis, embora silenciosos. Ele olhou para Sasuke, que tinha uma das mãos sobre o punho da espada que estava presa à bainha de couro em sua cintura.  

Se fosse a mesma criatura que eles haviam encontrado horas antes, as chances de saírem daquele cubículo com poucos membros era grande.  

Emily foi na frente, os pés descalços pisavam no piso como pequenas plumas. O barulho era mínimo, mas parecia atrair a atenção da criatura que se projetava em direção a eles, ainda desorientada.  

A cauda com espinhos bateu contra a parede. Uma, duas, três vezes. Agora Sasuke conseguia vê-la com mais clareza, embora todo o ambiente contribuísse para que sua couraça escura se camuflasse na escuridão. 

Os olhos dela estavam fechados, feridos com linhas verticais que se assemelhavam a garras. A quimera tinha perdido a visão, mas seus ouvidos continuavam aguçados, a cabeça de serpente indo de um lado ao outro, procurando qualquer sinal que denunciasse a presença de inimigos ali. 

O Uchiha era o mais próximo do monstro. A postura defensiva era evidente, bem como seus olhos vermelhos atentos a qualquer movimento. O cheiro forte que emanava dela era ácido, como o veneno que escorria de sua boca mecânica guinchando, buscando por algo que pudesse abocanhar. 

Ele olhou para Lucian e ambos entenderam que a quimera não enxergava há muito tempo. Que os barulhos haviam atraído sua atenção, os cheiros ainda a deixavam confusa e que ela precisava de mais antes de atacar. 

Um movimento de Lucian atraiu a atenção de Sasuke. Com um de seus sorrisos ladinos, exibindo as presas brilhantes, o alfa ergueu o punho acima da cabeça, entre seus dedos estava a tampa prateada do cantil que ele carregava. 

Lucian mirou em um ponto acima da cabeça da quimera, e o barulho da tampa batendo contra o piso produziu um som alto o suficiente para atrair a atenção do monstro. 

A quimera paralisou como uma estátua de mármore. As pálpebras dos olhos feridos oscilaram, a cauda com ferrões parecia flutuar no ar sem muito esforço.  

— Merda! — Sasuke puxou Lucian para trás com velocidade, a tempo de impedir que o alfa fosse atingido pelos ferrões. — Achei que ia dar certo — Lucian ainda mantinha o sorriso nos lábios e passou as mãos pelo cabelo prateado e desgrenhado como se não houvesse cometido um erro quase fatal. 

— Precisaremos lidar com isso — Sasuke sibilou. A espada em sua mão pesava e ele ignorava todos os sentimentos que partiam de Sakura naquele instante. Ela também estava em um conflito. — O fragmento verde... 

— Já entendi, garoto — Lucian exibiu as garras e as presas antes de atacar a criatura. Ele estalou os ossos do pescoço e com um rosnado, avançou, desviando por pouco de uma das garras lançadas em sua direção. 

Sasuke se aproveitou da distração da quimera para atingi-la na lateral do pescoço, fazendo com que ela grunhisse em revolta. Ele conseguiu desviar das garras, mas foi atingido pela cauda com ferrões, sentindo que eles aprofundavam em sua pele enquanto suas mãos usavam a espada presa no pescoço da criatura como apoio. 

Emily avançou, correndo em forma de lobo branco na direção da quimera, abocanhando uma das carnes da perna do monstro com seus caninos. A pele era resistente, mas o aperto limitava os movimentos da pata direita, dando-lhes tempo o suficiente para que Lucian agarrasse o pescoço da criatura, puxando-o para baixo em uma tentativa de imobiliza-la.  

A quimera se contorceu, balançando todos os membros em uma dança furiosa enquanto sentia a própria pele sendo ferida. Ela atingiu Emily, arremessando o lobo branco no canto oposto da sala.  

Lucian a soltou de imediato, fugindo da fileira de dentes que tinham como objetivo seu pescoço. Ele rolou para longe, mas não escapou do momento em que o corpo de Sasuke foi arremessado contra o seu. 

— Que bela ideia — O Uchiha cuspiu as palavras para Lucian, levantando-se enquanto observava a criatura se debater. A espada fincada na base de pescoço era desconfortável e ela não conseguia identificar a localização dos inimigos, embora atacasse o vazio com empenho. — Vou atrai-la, arranque o pescoço. 

— Não recebo ordens, garoto — Lucian cuspiu o sangue de seus lábios e se levantou. 

Sasuke não respondeu. Sacando a arma que havia trazido do mundo humano, o Uchiha atirou contra a criatura, atraindo a atenção dela para si.  

Duas balas. Fora tudo o que restou desde o último combate e sem tempo para recarregar, o Uchiha desviou da cauda da criatura, para ser atingido no peito pela pata esquerda dela.  

As garras rasgam o ombro de Sasuke, que pressiona a mandíbula com força para conter um grito de dor, enquanto ele aproveita a aproximação, para agarrar o punho da espada e puxa-la para fora da quimera, rasgando a pele dela e sendo manchado pelo sangue escuro e lamacento que jorrou em sua direção antes que ele fosse atingido novamente.  

Um brilho azulado atraiu a atenção de Sasuke. Eram como chamas azuis, queimando nos orbes da quimera lentamente. A criatura havia aberto os olhos, ela era capaz de ver. 

Apesar de segurar o punho da espada e estar pronto para o próximo ataque, Sasuke sentiu que seu corpo não era capaz de se mover. O vampiro sentia que seu corpo estava sendo tomado por um peso que ele não reconhecia, os braços tinham dificuldade em sustentar o aço da espada, o ritmo de seu coração desacelerava enquanto ela se aproximava.  

Há medo dentro desse coração, meu jovem rapaz... Não é medo do perigo, mas medo da morte.  

A mulher que você ama... 

Ele quis gritar para que os outros tomassem cuidado com os olhos, com os malditos olhos. Mas seus lábios não se moveram, pois já não eram capazes de acompanhar o ritmo desenfreado de sua mente.  

Vai queimar mais uma vez... 

Com um rosnado alto, um lobo cinzento e grande atacou a quimera. As presas agarraram o ferimento já exposto na base do pescoço, e suas garras ficaram na pele ferida enquanto ele cortava a carne até que o monstro fosse decapitado.  

Sasuke acompanhou a cena com o rosto ilegível, paralisado. Os olhos vermelhos do vampiro estavam repletos de confusão, as mãos que seguravam a espada palpitavam e ele demorou para perceber que Lucian (agora em sua forma humana), o observava com curiosidade. 

— Qual o problema? — O Alfa questionou enquanto passava o antebraço pelos lábios em uma tentativa de livrar-se do sangue. — Não me diga que ficou com medo desse bichinho? — Ele sorriu, os dentes manchados de sangue ainda brilhavam, assim como as manchas em sua camisa outrora branca. 

— Qual a placa? — Sasuke perguntou em um tom baixo. Os olhos desviaram-se de Lucian para a escuridão atrás dele... Tinham motivo o suficiente para acreditar que aquela não era a última criatura que enfrentariam. — A identificação da quimera, Lucian... — Acrescentou com pouca paciência. 

— B35 — Lucian puxou uma pequena placa que estava cravada no dorso da criatura. — Quantos desses monstros ele criou? Será um problema... 

— São criaturas diferentes — Sasuke murmurou. O vinco entre suas sobrancelhas crescia e mesmo encarando os olhos brilhantes (e sem vida alguma) da quimera, ele sentia que ela ainda influenciava sua mente. 

— O que quer dizer com isso? — Lucian intercalou sua atenção entre o vampiro e a quimera, antes de limpar as mãos sujas em sua própria calça.  

— Ela podia ver, mas manteve os olhos fechados por quase todo o conflito — Sasuke contou guardando a espada novamente. Ele ainda sentia que suas mãos palpitavam e com surpresa, notou que não havia firmeza em seus dedos, que tremiam de uma maneira curiosa. — Tem algo de errado — Ele murmurou para si. — Nos leve até o laboratório, temos que ir embora o quanto antes. — Acrescentou olhando para Emily que levantava com dificuldade.  

— Você mentiu — Lucian disse enquanto se afastava da quimera. Ele não tinha tom de acusação em suas palavras, mas olhava para Sasuke com curiosidade latente. — Disse que iríamos procurar a minha irmã, mas seu objetivo aqui é apenas reconhecimento militar. 

— Cassandra é um recurso comprometido. Não podemos perder tempo. 

— O que Sakura vai dizer quando souber sobre isso? — Os olhos de Lucian faiscaram, mas ele logo direcionou sua atenção para Emily. — Leve-nos, pequena Emily. Logo este lugar se transformará em uma lembrança de fogo e cinzas.  

Sasuke refletiu sobre as palavras de Lucian, mas nada disse. Ele lidaria com Sakura depois. 

Emily indicou o caminho para o anexo, antes de pressionar o ombro ferido em uma falha tentativa de imobiliza-lo. Os homens atrás dela caminhavam com os olhos e ouvidos atentos, aguardando qualquer movimento suspeito que pudesse surgir em meio as sombras. 

A parede ao final do corredor não parecia ter saída. Haviam quadros com pinturas dos membros antigos da sede, cheiro de mofo e lampiões dourados presos às paredes com arabescos feridos pelo tempo.  

— Mais um segredo — Lucian murmurou ferindo a palma da mão com o auxílio das presas. — Isso faz de nós uma família? — O alfa arqueou as sobrancelhas na direção de Sasuke, antes de apontar a mão sangrenta para o Uchiha. — Significa que você terá que tomar do meu sangue em breve? — A provocação em suas palavras era falsamente disfarçada por um tom divertido.  

— Não me alimento de animais mortos — Sasuke manteve o tom de voz inflexível, enquanto Lucian sorria com satisfação antes de voltar-se para a parede em sua frente. 

Com a mão ensanguentada, Lucian puxou o lampião e um símbolo prateado surgiu na parede. Tudo começara com um pequeno ponto de luz, que transformou-se em um círculo onde Lucian apoiou a palma da mão. 

A marca cresceu ao redor do sangue, adquirindo uma tonalidade vermelha enquanto transformava-se em um lobo, com presas grandes e garras intimidantes. O sangue, no entanto, parecia fluir de Lucian para a parede, transformando-a em uma extensão de seu próprio corpo. 

Sasuke conseguia ver o líquido espesso passando por pequenas cavidades, encontrando-se em intersecções, formando arabescos ao redor da figura lupina como uma verdadeira porta. O cheiro de sangue, no entanto, era imperceptível. 

O Uchiha questionava a si mesmo que tipo de magia era usada pelos lobos em suas sedes e o que aconteceria caso alguém como ele resolvesse usá-las. Conhecendo o histórico de tensões entre as famílias, Sasuke tinha a teoria de que não seria uma experiência agradável. 

— Aperi de sanguine familiae sanctae — Lucian murmurou compenetrado. O lobo não fez nenhum gesto para avisá-los, mas quando a parede de concreto começou a se movimentar, Sasuke e Emily entenderam que era necessário recuar. — Fiquem atentos, a partir do momento em que entrarmos nesse lugar, só existirá uma saída. 

O cheiro através da parede era tão pútrido quanto o da sala em que eles estavam e as escadas que surgiram eram feitas de pedra escura que estava coberta por musgo.  

Lucian desceu primeiro, desaparecendo na primeira curva logo em seguida. Emily o seguiu prontamente, sem olhar para o vampiro que olhava curiosamente para a porta atrás de si.  

Sasuke que olhou para trás para acompanhar o instante em que a passagem seria fechada, foi surpreendido pela visão de olhos amarelos que logo desapareceram em meio a escuridão. 

X-X-X 

Tenten tossiu algumas vezes antes de abrir os olhos.  

O desconforto em sua garganta aos poucos diminuiu, mas a dor em seus olhos era ainda mais incomoda.  

— Devagar... — A voz de Neji chegou aos seus ouvidos em um tom aveludado. Não era preciso de muito para perceber que ele era o responsável pelas mãos quentes que a amparavam. — Acha que consegue levantar? 

— O que aconteceu? — Tenten engoliu em seco e fechou os olhos mais uma vez. Eles doíam como nunca antes e a luz incomodava. 

— Explicaremos tudo quando sairmos daqui — A voz séria de Sakura atraiu a atenção da Mitsashi. Ao abrir os olhos mais uma vez e olhar para a direita, Tenten foi capaz de vê-la. — Consegue levantar, Tenten? 

A cigana não respondeu de imediato. Apesar da dor em seu próprio corpo, da confusão mental e da dificuldade em manter os olhos abertos, Tenten não conseguiu revelar nenhum dos sintomas para Sakura. 

A Haruno estava apoiada em uma parede próximo da porta, o braço esquerdo exposto e um machucado extenso que certamente incomodava. Os olhos de Sakura brilhavam em vermelho, mas eram manchados por sombras de preocupação que causavam arrepios na Mitsashi.  

Apenas por isso, Tenten nada disse. Era um dos momentos em que sua mente entrava em conflito e que tornavam-se automáticas as comparações da vampira com a Sakura que praguejava contra o mundo ao lado dela dentro do colégio Senju.  

Enquanto Tenten levantava, com o apoio de Neji, ela notou a mulher encolhida no canto esquerdo da sala.  

Cassandra era tão silenciosa que facilmente podia ser confundida com uma estátua de mármore medonha e assustadora. Os pulsos marcados pelas correntes ainda tinham manchas arroxeadas, o cabelo desgrenhado tinha sido preso de qualquer jeito e seu olhar gélido acompanhava os movimentos da Mitsashi com atenção. 

— Não fomos apresentadas — Ao contrário do olhar frio, a voz de Cassandra tinha um tom morno, mesmo que algumas sílabas arranhassem sua garganta ao falar. — Sou Cassandra Valerius, agradeço sua ajuda. — Ela pronunciava cada palavra com lentidão, mas não parecia disposta a prolongar o assunto. — Quando eles retornarão? — A pergunta era direcionada à Sakura. 

— Ino está reunindo todos os que encontrar — A Haruno contou em um tom baixo. — Essa sala ainda é segura, não há muitas formas de entrar aqui além dessa porta — Ela indica a porta de madeira ao seu lado e movimenta a cabeça lentamente, provocando um estalo baixo em seu pescoço.  

— Acha que seus homens serão capazes de lidar com algum imprevisto? — Cassandra movimentou as mãos lentamente e Tenten, sem esconder a surpresa, notou o quão feridas elas estavam. Ao ver as unhas da loba ensanguentadas e quebradas, a Mitsashi desviou o olhar.  

— Todos os imprevistos foram resolvidos — Sakura declarou com seriedade. Ela e Cassandra trocaram um longo olhar antes que a Haruno acrescentasse: — A menos que fossem aliados.  

— Os que permaneceram aqui estão mortos desde o momento em que ousaram me trair — A alfa declarou. Mesmo com a aparência desgrenhada, as roupas manchadas e os pés descalços, Cassandra retomava sua posição dentro da alcateia sem ao menos ter saído de seu cativeiro. — Sinto minha família. Estão distantes daqui, mas agora consigo senti-los.  

— Não faça nada para atraí-los até aqui — Neji avisou atraindo os olhares para si. — É uma armadilha.  

Tenten quis perguntar mais sobre, contudo, a tensão na sala a impedia de proferir suas dúvidas. O medo dela, no entanto, era sufocante. 

Ela recuou um passo e buscou o olhar de Neji, mas ele, como Sakura e Cassandra estava atento ao movimento na porta. 

— Não encontramos Sasuke e o Lucian — Ino declarou entrando no cômodo sem olhar para Tenten. Ela tinha um corte no peito que seguia sua clavícula. — Buscamos por todo o perímetro.  

Os ombros de Sakura enrijeceram. Ela manteve os olhos sobre a Yamanaka, fitando-os com tamanha intensidade que Ino conseguia entender exatamente quais conflitos passavam sua mente.  

Ino entreabriu os lábios, mas foi cortada por um breve aceno de Sakura. Ela não tinham escolha: Deviam prosseguir. 

— Qual o status do caminho até os túneis? 

— Os lobos que vieram com o Lucian estão cuidando dos túneis agora.  Itachi e Gaara estão no primeiro andar — Ino respondeu com seriedade. — Naruto está averiguando os...Corpos — Os olhos azuis da Yamanka pousaram sob Cassandra antes de voltarem na direção da Haruno. — Receio dizer que alguns fugiram. 

— Não era nossa intenção inicial ter tantas mortes. — Sakura murmurou fechando os olhos por um instante. — Vamos levar Tenten até os túneis e de lá, nos dividiremos para escoltá-la em segurança até o Castelo Uchiha.  

— Você vai procurá-lo — Ino afirmou recebendo um aceno de cabeça como resposta. — Não acha que é perigoso se nos separarmos? 

— Faz quase vinte minutos que não consigo sentir a presença de Sasuke — Sakura confessou evitando olhar para Tenten que arregalou os olhos com espanto. — Sei que ele não está morto, mas... Não deixaremos ninguém para trás.  

Ino avaliou a Haruno em silêncio e neste momento, Tenten teve certeza de que não era a única que constantemente comparava a mulher em sua frente com a adolescente azarada que não podia dar um passo sem enfiar-se em uma tremenda confusão. 

Ino e Tenten não tinham conhecido aquela Sakura até poucas semanas atrás. Eles não eram acostumadas com a personalidade estrategista, com o domínio de todas as informações, nem mesmo com os olhos que possuíam uma sombra profunda (mesmo quando brilhavam em esmeralda). 

— Tudo bem, vamos — A Yamanaka declarou por fim. 

Todos saíram da sala, em formação estratégica para evitar qualquer ataque repentino (mesmo que Ino afirmasse que todos os inimigos haviam sido descartados).  

Sakura e a Yamanaka iam a frente, Tenten ao meio (ao lado de Neji, tão silencioso que se ela não o olhasse constantemente, teria esquecido de sua presença ali) e por fim, Cassandra por exigência da própria Alfa.  

Se a Mitsashi não tivesse visto o estrago que podia ser causado pela Alfa, não teria concordado em tê-la como responsável por cobrir a retaguarda — Não que a própria Tenten pudesse opinar em muito. 

Desceram as escadas em passos ainda mais cautelosos do que no início. Tenten sentia que seu coração fazia mais barulho do que devia e tinha certeza de que todos ao seu lado podiam ouvi-lo. 

— Suas emoções... São desconcertantes — Neji murmurou atraindo a atenção da Mitsashi. Ele repousou uma das mãos nos ombros dela, puxando-a delicadamente quando notou certa movimentação ao descerem para o terceiro andar. — Não será dificil notá-la assim. 

— Você não devia ficar em silêncio? — A Mitsashi ralhou tão baixo que mal conseguiu se escutar. 

Neji não respondeu, mas indicou com o queixo os corpos dos lobos caídos no chão. Eles ressonavam tranquilamente, como se estivessem em um sono profundo e pudessem acordar a qualquer instante.  

— Esses tiveram a sorte de lutar contra o Itachi — O Hyuga murmurou diante da confusão de Tenten. — Estão em um estado de confusão mental que os impedirá de acordar por muito tempo. 

— Ninguém terá sorte por aqui — Cassandra murmurou atraindo a atenção dos dois. Seu olhar frio passou pelos corpos dos antigos companheiros, e mesmo diante do brilho de reconhecimento, ela não esboçou nenhuma piedade. — Todos morrerão quando a sede for incendiada. 

— Não te incomoda? — Tenten perguntou em um sussurro. Ela tinha notado que nem mesmo durante o momento em que Sakura narrou os planos futuro da sede Cassandra havia ficado surpresa. — É o seu lar... 

— E nós devemos protegê-lo, mesmo que isso signifique destruí-lo. — Cassandra decretou. Não haviam mais sinais de que a conversa teria continuidade. 

Naruto, Gaara e Itachi se juntaram a eles, com exceção de alguns cortes na pele que já começavam a cicatrizar, todos pareciam em excelente estado.  

O Uzumaki acenou para Tenten antes de indicar que ela e Neji deviam segui-lo, para os túneis enquanto os outros se organizariam para continuar as buscas.  

— Tem certeza de que vai ficar bem? — A Mitsashi questionou olhando ao redor. — Esse lugar... — Ela não completou a própria frase. 

Era entendível que a antiga área do térreo da sede lobos tinha sido transformada em um campo de guerra. Os móveis tinham sido destruídos, sangue manchava as paredes e as portas e janelas que davam acesso à área externa da propriedade estavam em condições precárias para serem consideradas como algo que pudesse oferecer o mínimo de proteção. 

— O poder dele faz isso — Neji, mais uma vez, respondeu as dúvidas silenciosas de Tenten. — Corroí cada espaço em que ele permanece por muito tempo. Acontece isso com bruxos que fazem experiências com magia das trevas por longos momentos da vida... O rastro é a consequência. 

— Vamos encontrar o Sasuke e iremos até vocês — Sakura avisou e sorriu brevemente para Tenten. — Obrigada por nos ajudar, Tenten. Não teríamos conseguido sem você.  

— Eu só... — As palavras da Mitsashi foram interrompidas por seu próprio grito. Ela recuou, os olhos arregalados, a voz recusando-se a escapar de sua garganta enquanto a sombra que surgira da parede próxima da antiga lareira crescia como uma mancha de veneno que espalhava-se por todo ambiente. — SAIAM, SAIAM DAQUI! — Tenten quis gritar e esperou que seus sentimentos conflitantes fossem o suficiente para alertar Neji que a encarava com confusão. 

— Tenten, o que está acontecendo? — O Hyuga questionou olhando para a mesma direção que ela, mas sem encontrar nada. — O que está acontecendo?! — Ele gritou sentindo os dedos de Tenten gélidos como nunca antes. 

E então a sensação o atingiu como um soco. Repentina, densa, tão perturbadora que o Hyuga não teve tempo de processá-la corretamente. A mesma desconfiança que ele havia pressentido no andar superior, o mesmo mal estar que alertava cada um de seus sentidos de um perigo oculto. 

Algo agarrou Sakura e a jogou contra uma das janelas que davam para a área externa. O movimento fora tão rápido que a Haruno não teve tempo para puxar a espada e muito menos se defender do impacto que seu corpo recebeu ao bater contra o chão.  

— Olá, Sakura — A voz lenta pronunciou o nome da vampira em um sibilo, enquanto os olhos amarelos brilharam em perigo. — Estive esperando você por todo esse tempo. — Orochimaru sorriu, agarrando o pescoço da Haruno com seus dedos frios  


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Notas finais do capítulo

Continua...O que acharam? Mereço reviews? hahah
Beijo e até o próximo! ♥



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