Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção escrita por Laura Machado


Capítulo 64
Capítulo 64: POV Sebastian Regen




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Já estava tudo pronto. O piloto estava já dentro do helicóptero, ligando o que precisava ligar, mexendo no que tinha que mexer. As malas de Nina também já estavam lá dentro. Três malas pesadas. Vai saber o que ela tinha tanto que levar para um dia longe dali.
Só faltava ela. Woodwork e Ridley estavam de pé do meu lado, vestidos em uniforme. Só precisávamos de mais dois guardas, que estavam vindo com ela. Enquanto eu estava nervoso demais, esperando ela chegar.
Eu só queria poder me despedir antes de ela ir. Eu sabia que não era necessário. Ela provavelmente nem iria querer ver meu rosto. Mas eu precisava ver o dela.
Eu sabia que era só um dia. Eu mesmo tinha preparado tudo. Eu tinha explicado para os meus pais, tinha conversado com todos que precisavam ir com ela. Eu sabia bem como tudo aconteceria, eu que tinha decidido tudo. Eu sabia até que horas ela sairia da sua província para voltar para cá. E ela voltaria para cá.
Tá, eu sabia de tudo isso, mas ainda assim eu estava nervoso com aquilo. Não sabia porquê, só tinha ainda um pouco de medo da pequena possibilidade de acontecer alguma coisa com ela enquanto estivesse fora, de talvez ela não voltar. E se ela não voltasse? E se eu nunca mais a visse?
Eu estava esfregando minhas mãos, andando de um lado para o outro, cada vez mais ansioso. Se ela pelo menos chegasse logo e fosse embora de uma vez, eu poderia simplesmente me ocupar de outra coisa, pensar em outra coisa.
Como na Amélie, que vinha me seguindo a semana inteira, enquanto eu adiava ter que explicar para ela que eu não a queria. Tinha pedido para os meus pais me deixarem falar com ela, explicar para ela porque eu não poderia me casar com ela. Achava que era o único jeito da França não tentar se vingar de nós depois, de Amélie não ficar ressentida.
Mas, para falar a verdade, eu não gostava nem de pensar em ter que falar sobre isso com ela. Não sabia por onde começar e nem o que falar. Então, enquanto eu não criava coragem para dispensá-la, eu fugia dela. Simples assim.
Quando Nina finalmente apareceu, ela estava claramente feliz. Seu rosto estava iluminado e ela praticamente saltitava até o helicóptero. Foi a primeira vez que eu percebi o quão importante essa viagem era para ela. Seu sorriso me acalmou e eu senti todos os músculos dos meus ombros relaxando, enquanto eu a observava andar até mim.
"Bom dia, Alteza," ela cantou para mim, seus olhos brilhando encantadoramente.
"Bom dia, Lady Nina," respondi, completamente hipnotizado pela energia que parecia sair de sua pele. "Pronta?" Perguntei.
"Pronta," ela disse e segurou na minha mão, quando eu a ofereci.
Ela subiu com cuidado no helicóptero, mas seu humor não mudou. Se sentou, colocou seu cinto e se virou para mim.
"Boa viagem, Nina," eu disse, sentindo um peso no meu peito de deixá-la partir.
"Oi?" Ela perguntou, sua expressão mudando completamente. "Espera, você não vem comigo?"
Eu olhei para baixo, pensando no que falar, enquanto Woodwork e Ridley entravam atrás dela.
"Não vou," falei, mas uma esperança tola cresceu dentro de mim. "Você quer que eu vá?"
Ela deu de ombros, parecendo não saber o que dizer.
Enquanto eu só precisava de uma palavra dela para deixar toda a realeza para trás.
"Eu gostaria de ter um amigo daqui comigo," ela disse, amassando seu vestido com as mãos. "Você não quer um dia de folga também?" Perguntou, virando seus grandes olhos para mim.
Eu respirei fundo e pensei naquilo por um segundo. Conhecer a família dela? Assustador. Passar um dia inteiro com ela? Bem assustador. Mas ter que entrar em um helicóptero e viajar por sei lá quanto tempo a sei lá quantos metros de altura? Era a coisa mais assustadora de todas.
Engoli em seco algumas vezes e depois levantei o rosto para sorrir para ela.
"Está bem," eu disse, me segurando na porta do helicóptero com bastante força.
Não, aquilo não me deixaria com menos medo. Mas era um jeito de tentar deixar meu nervosismo para trás.
Eu entrei e me sentei do lado dela, colocando o cinto como se fosse uma coisa que eu fizesse sempre. Meu olhar já estava perdido à minha frente e minhas mãos já estavam agarradas aos braços do meu assento.
Quando o piloto avisou que íamos decolar e Woodwork fechou a porta do meu lado, eu comecei a me arrepender de ter aceitado aquela proposta. Tá, legal, ela estava ali. Mas e se a gente caísse? Eu não sabia se valia a pena. Eu precisava sair dali, eu tinha que voltar para o chão firme.
Mas ela se virou para me olhar e tinha tanta esperança em seus olhos, que eu não conseguia simplesmente deixá-la. E a última coisa que eu queria era que ela me visse como um medroso que não conseguia só ficar sentado naquele helicóptero.
Fiquei repetindo para mim mesmo que tudo estava bem, tudo estava ótimo. O piloto sabia o que estava fazendo, ele tinha passado a vida inteira treinando para aquilo. E ele ainda estava vivo, o que provava que ele nunca tinha caído. Ele sabia o que estava fazendo, pensei. Ele sabia. Eu podia confiar.
Mas aí nós começamos a levantar voo e eu senti que estava caindo direto. Me desesperei por dentro, ainda tentando fingir que estava calmo. Meus dedos já estavam fracos de segurar os braços do meu assento, suando com o toque do plástico. Bati meus pés no chão do helicóptero algumas vezes de leve, tentando provar para mim mesmo que eu estava seguro, que não precisava ter medo. Mas dois segundos depois eu senti de novo que estava caindo e ficar tentando me provar que não estava não ajudava.
Fiz a besteira de olhar pela janela, achando que aquilo ia me mostrar que estávamos subindo e não descendo. Mas estar subindo não era melhor. Pelo contrário, quanto mais a gente se afastava do chão, mais eu entrava em pânico.
"Ei, você tá bem?" Ouvi Nina perguntando.
Mas eu não estava. Não estava nada bem. E estava enjoado demais para conseguir lhe responder.
"Alteza," Ridley se inclinou para mim na minha frente. "Você quer que eu te dê alguma coisa para te sedar?"
"Não," falei, levantando a minha mão só o suficiente para ele não pegar nenhum remédio.
Se ele me dopasse, eu ficaria desacordado por várias horas e isso não ajudaria em nada. Sem contar que eu não queria que ela me visse completamente jogado, dormindo, babando. Só de imaginar a cena, eu já ficava ainda mais enjoado.
"O que que tá acontecendo?" Nina perguntou, olhando de mim para os guardas.
Eu balancei minha cabeça para eles, quase implorando por dentro para eles não falarem nada. Mas não adiantou.
"Sua Alteza tem medo de altura," Ridley falou, me fazendo soltar o ar que eu prendia.
"É sério isso?" Nina perguntou, mas teve sua resposta quando olhou para mim.
Eu me abaixei, colocando a cabeça entre as pernas. Ótimo, pensei. Ela já me via como o fracote frágil que estava enlouquecendo com uma coisa que ela fazia sem problemas.
Como é que ela conseguia ficar ali sem problemas? Quase me dava vontade de rir de tudo aquilo, mas todas as minhas forças estavam concentradas nas minhas mãos, que mantinham meus dedos fechados em volta dos braços de plástico do assento. Meu peito estava rígido de medo e do ar que eu não conseguia soltar direito, segurando a respiração o máximo que podia, como se aquilo fosse me dar algum tipo de segurança.
Até que eu senti o toque da sua pele delicada em cima de uma mão minha. Levantei meu rosto para ver Nina deslizando seus dedos até que estivesse segurando-a. Soltei-me da cadeira para virar minha mão e segurar de volta a dela, tentando não apertar muito forte. Mas ela segurou tão firme, que parecia que queria amassar meus dedos, apesar que dava para ver que ela não tinha forças o suficiente para fazer aquilo, mesmo se quisesse.
Minha outra mão soltou também da cadeira e encontrou a outra dela junto já ao nosso aperto. Olhei nos seus olhos, sentindo os meus lacrimejando só o suficiente para eu já me sentir muito constrangido.
Mas seus olhos tinham uma doçura neles, como se naquele olhar ela já estive me consolando do melhor jeito possível e eu fiquei mais confortável do que envergonhado.
"Desculpa por ter te pedido para vir comigo," ela disse, quase sussurrando.
"Não," eu balancei a cabeça. "Obrigado por ter me chamado."
Ela sorriu para mim triste, como se estivesse sentindo mais culpa do meu medo do que eu o sentia propriamente. Me foquei nos seus olhos e na sua respiração, o que foi me acalmando e me fazendo recuperar o ar.
E logo nós estávamos pousando.


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